sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

TODAS AS QUADRAS DA BARÃO - 3

 

TODAS AS QUADRAS DA BARÃO - 3











Esse trecho da Barão entre a Marechal Deodoro e José Loureiro é muito rico. Começa com um prédio modernista e depois, uma sequência incrível de pequenos prédios ecléticos, vários com elementos art déco. 

A maioria desses pequenos prédios foram restaurados e ocupados por lojas. Dois deles, como mostrei na semana passada, estão à venda e precisam muito de restauro/reforma. 

TODAS AS QUADRAS DA BARÃO - 4

 

TODAS AS QUADRAS DA BARÃO - 4









Mais um conjunto sensacional de pequenos prédios na Barão do Rio Branco, dessa vez entre as ruas José Loureiro e André de Barros. 

Tendo mais uma série de prédios baixinhos com detalhes lindos em vários deles, podemos destacar pelo menos dois, o prédio do Hotel Johnscher, que com muito charme funciona na Barão desde 1917 e a sede do MIS - Museu da Imagem do Som, também conhecido como Palácio da Liberdade, que já foi sede do governo do estado e é tombado pelo patrimônio estadual. Para ver fotos do interior do MIS e conhecer mais da sua história, clique aqui.

TODAS AS QUADRAS DA BARÃO - 5

 

TODAS AS QUADRAS DA BARÃO - 5














De todas as quadras da rua Barão do Rio Branco creio que a única da qual não me recordo de ter passado à pé com o objetivo de observar as edificações é essa entre a André de Barros e Visconde de Guarapuava.

Que bom ter feito esse passeio para fotografar todas as quadras da Barão na semana passada, pois pude nessa quadra descobrir diversos prédios muito lindos, com detalhes incríveis.

Graças à um comentário numa postagem que fiz no FB por Christian de Oliveira e uma amiga arquiteta (Iwilyn Weigert), descobri que num dos prédios dessa quadra, nasceu e viveu o saudoso Jaime Lerner com seus pais e irmãos. O prédio onde é o de número 593 na Barão e está à venda.

TODAS AS QUADRAS DA BARÃO - 6

 

TODAS AS QUADRAS DA BARÃO - 6

http://www.circulandoporcuritiba.com.br/2021/06/todas-as-quadras-da-barao-6.html





E chegamos ao final da Barão do Rio Branco numa quadra não muito longa, mas bastante relevante. Ali temos a Praça Eufrásio Correia, alguns sobrados meio que em ruínas, a casca do antigo Hotel Tassi (que tem uma história muito bonita), a Câmera Municipal (palácio Rio Branco) e a antiga estação ferroviária, que era a porta de entrada de Curitiba por muitos e muitos anos. 

A Barão é uma rua incrível, com dezenas de prédios maravilhosos e muita história. Penso que as áreas do patrimônio histórico municipal e estadual deveriam seriamente considerar o tombamento de toda a rua.

Histórias de Curitiba - A caninha Seu Gaspar

 

Histórias de Curitiba - A caninha Seu Gaspar

A caninha Seu Gaspar
Mauro Goulart (in memorian)

O Salsicho Bettega, o Mareei e o Amadeu Beduschi constituíram uma empresa para comercialização de uma pinga fabricada pelo pai do último, na cidade de origem, a cachaça foi batizada como "Caninha Seu Gaspar", e de todos que dela beberam sempre ouvi elogios.
Contudo, este empreendimento estava fadado ao fracasso do ponto de vista capitalista. Vários seriam os motivos.
Para começar, quem conhecia os tres sócios sabia muito bem que nenhum deles tinha pendores gerenciais, que mesmo as micro-empre-sas necessitam. O Salsicho Bettega, radialista, tinha um programa radiofônico sobre turfe e variedades; o Mareei, conhecido boêmio (provavelmente o único verdadeiro boêmio que Curitiba jamais teve), foi convidado para o negócio pois era hábil em esvaziar copos e garrafas; o Amadeu Beduschi, médico, pioneiro na aneste-siologia no Estado, até hoje em atividade, entrou para o negócio pois, como se dizia, "seu pai ti-nha a mina do produto".
Além desta fatal debilidade que os três possuíam para o mundo dos negócios, acrescentou-se outro fator, tão importante quanto o anterior, para gerar uma situação falimentar. Às sextas-feiras reuniam-se na sede da empresa os tres sócios e vários convidados para uma alegre churrascada.
Isto era a verdadeira catástrofe empresarial.
Pois, por mais que os funcionários se esforçassem durante a semana, não eram capazes de engarrafar tanta pinga quanto era consumida na sexta-feira.
Mas se lucros monetários não existiram, o empreendimento valeu pelas fabulosas churras-cadas e os homéricos porres que os comensais tomavam, de tal sorte que participar de um destes eventos de sexta-feira era algo dis-putadíssimo.
Ser convidado para uma das churrascadas da Caninha Seu Gaspar era a verdadeira glória.
Existiam alguns habituais, como era o caso de um cidadão que tinha uma das pernas amputada e usava uma perna de pau e que, à boca pequena, era chamado por uns de "Pirata"e por outros de "Perninha". Tais como ele, haviam outros que não careciam convite, iam quando queriam e eram bem recebidos e se serviam de carne e, principalmente, do "branco líquido catarinense", sem poupar a generosidade.
Normalmente, depois de uma certa hora, a sede da Caninha Seu Gaspar transformava-se em algo semelhante aos campos de batalha imortalizados pelo cinema neo-realista italiano, tal o número de corpos espalhados pelo chão.
Certa ocasião, depois de "abater um boi grande", de "desen-garrafar toda a produção engarrafada na semana", todos os participantes foram ao solo.
Pairou o silêncio e pouco a pouco o brasi-do da churrasqueira foi cedendo lugar às cinzas.
Lá pelas tantas, o Marcel acordou sentindo sede e uma enorme vontade de comei mais um naco de carne. Saciou a sede e, notando que a brasa era insuficiente para assar qualquer coisa, saiu à cata de carvão ou lenha
para avivar o fogo.
Infrutífera busca. Não havia nem carvão, nem lenha.
Foi quando seus olhos pousaram na plácida figura do "Perninha"que, graças aos efeitos da Caninha Seu Gaspar, dormia candidamente, como que embalado por anjos.
Todos foram acordados pelos gritos que quase geraram tumulto e ninguém conseguia entender exatamente o que estava acontecendo: "Cadê minha perna, cadê minha perna!"e de outro, o Mareei com olhar espantado comendo um belo, e bem assado, pedaço de picanha.
Devia estar pensando: "Quem pode dar tanta importância para um pedaço de madeira?"

Mauro Goulart, era médico.

Histórias de Curitiba - A grande quermesse

 

Histórias de Curitiba - A grande quermesse

A grande quermesse
Pedro Franco Cruz

Afinal, Curitiba tem 300 ou 325 anos?" A pergunta, feita para lembrar a discussão do momento entre historiadores
e outros estudiosos, veio acompanhada de uma oportuna observação: a resposta, se um dia chegarmos a ela, deve demandar
mais uns 300 ou 325 anos de discussão.
Faltou esclarecer, entretanto, a origem dessa momentosa discussão.
Vamos a ela, portanto, ainda que sucintamente.
O debate atual sobre os 300 ou 325 anos de idade desta outrora feliz Vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais
foi levantado pelo fotógrafo e pesquisador Cid Destefani: o nosso pelourinho, ficando onde hoje é a Praça Tiradentes,
traz como data de seu levantamento o dia 4 de novembro de 1668, portanto 325 anos atrás.
E como todo mundo sabe, argumentou Destefani, o levantamento do pelourinho marcava a fundação de toda a vila no Brasil Colônia.
Mais que um tótem de pedra usado para castigar escravos, o pelourinho significava organização política,
autoridade constituída, padrão de posse e mando.
Porque em Curitiba haveria de ser diferente?
Simplesmente porque sua excelência o alcaide atual, Rafael Valdomiro Greca de Macedo, assim o quer,
apontam ironicamente os defensores dos 325 anos.
Por essa explicação, o que sucede é que o prefeito Rafael Valdomiro não abre mão do privilégio de comandar a grande
quermesse do tricentenário, mesmo que com 25 anos e alguns meses de atraso.
Sua excelência o prefeito, em todo caso, também tem alguns pesos pesados que o defendem nessa discussão,
além dele próprio - sem trocadilho.
Certos historiadores e historiadoras, alguns até isentos, professam a mesma tese de que, em suma, Curitiba é uma exceção.
Aqui, a fundação da cidade se deu apenas 25 anos após o levantamento do pelourinho, quando tivemos a primeira eleição
para a Câmara Municipal (eleição por sinal indireta, em que mulher não votava).
Mas o que era a Vila Nossa Senhora da Luz entre uma coisa e outra, nesse interregno de 25 anos, nem os historiadores assalariados da prefeitura conseguem explicar.
Se já tínhamos um número razoável de moradores - para os padrões da época -, tínhamos até capitão povoador,
tínhamos pelourinho, igreja e padre, mais ainda não éramos vila, o que éramos então? Sei lá, respondem alguns.
Ora, ora, respondem outros, é que Curitiba, mesmo alguns séculos antes de Jaime Lerner, já era o Brasil diferente.
Para complicar mais as coisas, uns bisbilhoteiros do passado foram descobrir que o atual prefeito Rafael Valdomiro,
em seus tempos de vereador pelo PDS, em candente discurso na Câmara Municipal em 31 de janeiro de 1984,
duvidou da idade atribuída a Curitiba e que lhe daria hoje 300 anos.
Para o vereador Rafael, na época, Curitiba era bem mais velhinha.
Como se não bastasse, o mesmo Rafael Valdomiro prefaciou com fartos elogios, em 1984, o livro "Curitiba, essa Velha de Guerra".
Seu autor, João Marcassa, abre o livro com a seguinte frase: Atribui-se a Eleodoro Ébano Pereira a Fundação de Curitiba,
em 1654..."Ou seja, 339 anos atrás. E Rafael não discordou na época.
Bem, e aí já temos uma terceira data para a fundação de Curitiba.
Melhor pararmos por aqui.
Se formos nos guiar pela máxima latina "in medium virtus est", a idade de Curitiba seria de 225 anos.
Nestas alturas, porém, a discussão já foi atropelada pela ânsia de festejar.
E se a quermesse está armada, vamos a ela, que a conta somos nós que pagamos.

Pedro Franco Cruz é jornalista.

Histórias de Curitiba - O Bolo da debutante

 

Histórias de Curitiba - O Bolo da debutante

O Bolo da debutante
Eduardo Mercer

A sociedade curitibana sempre cultivou certas tradições como o "debut" das moças das famílias aristocráticas de nossa cidade.
Em décadas passadas, essas tradições tinham uma relevância ainda maior.
Era nas festas de 15 anos que as donzelas se apresentavam à sociedade, passando a usar batom e salto alto. Também era nessas festas que usavam vestidos de baile pela primeira vez.
Agiam como suaves bailarinas, tão delicados eram seus movimentos. O bom partido que acompanhasse a ninfeta em sua valsa de "debut"fatalmente a levaria ao altar, e não demoraria muito para que isso acontecesse.
Mas houve uma debutante que foi presenteada com um acontecimento tragicômico em sua festa de aniversário que nem mesmo a mente criativa de um Nelson Rodrigues poderia imaginar.
A anfitriã era uma verdadeira princesa, com seu elegante vestido de imaculado branco.
Sentia-se admirada por todos os seus convidados, que dançavam boleros executados por magnífica orquestra. O suntuoso salão da festa fazia a princesinha se sentir num autêntico castelo europeu.
Do mesmo modo que é comum nos dias de hoje, a presença de penetras também fazia parte das festas dos anos 50. Eram os famosos "perus".
O penetra que me contou essa história é um renomado professor de um cursinho curitibano, cujo nome omitirei para que ele não seja importunado nas suas férias em Caiobá por nenhuma cinqüentona que se apresente como vítima.
Contou-me o professor que havia um número elevado de "perus"na festa, o que causou um certo desconforto na aniversariante. O pai da moça contornou o problema de maneira diplomática.
Subiu ao palco, interrompeu a orquestra e solicitou às pessoas que não haviam sido convidadas que, por gentileza, se retirassem.
Para que não ficasse constrangedor, as luzes seriam apagadas a fim de que os penetras saíssem sem serem vistos.
Assim foi feito. O professor
- na época um estudante de engenharia da UFPR - educadamente se retirou, junto com seus amigos. Já fora da festa, foi andando à frente, cabisbaixo e com as mãos nos bolsos.
Ao ouvir seus amigos gritando como se estivessem comemorando um gol, virou-se e ficou pasmo com o que estava vendo: eles haviam roubado o bolo da festa!

Eduardo Mercer é acadêmico de direito.

Histórias de Curitiba - Um abraço atleticano

 

Histórias de Curitiba - Um abraço atleticano

Um abraço atleticano
Maria do Rocio Soffiati Biscaia

Mario Chalbaud Biscaia e Jofre Cabral e Silva sempre foram atleticanos fanáticos e também grandes amigos.
Jogaram no mesmo time como armadores e eram companheiros, inclusive freqüentavam as mesmas festas, com suas respectivas esposas, pois se casaram na mesma época e faziam parte da mesma turma.
Mario e Jofre adquiriram um "quase parentesco", pois a irmã de Jofre casou-se com o irmão de Mario.
Este fato ocasionou, anos mais tarde, um afastamento entre os amigos que durou quase uma década, motivado pelas divergências entre o casal de parentes.
Ambos sempre foram apaixonados pelo "Furacão", e, freqüentavam as churrascadas organizadas pelo Alberto e também fizeram parte da direção do CAP, sendo Mario Biscaia diretor de futebol na gestão de Itaciano Marcondes e Jofre Cabral e Silva seu presidente no ano de 1968.
Neste mesmo ano, foi lançada por Jofre a campanha "Coração Atleticano", cujo emblema era ostentado em todos os parabrisas dos automóveis dos torcedores do Rubro-Negro da Baixada, com muito orgulho!
No mês de maio de 1968, em certa manhã, dois veículos adornados com o "Coração Atleticano" ficaram lado a lado na Rua XV de Novembro, quase em frente ao sinaleiro da Praça Santos Andrade.
Eram Mario e Jofre.
Por um momento, os ciois amigos se viram e, em um gesto idêntico, abriram as portas de seus carros e se uniram, comovidos, em um fraternal abraço atleticano...
No dia 22 deste mesmo mês, Mario Chalbaud Biscaia veio a falecer.
Jofre se encontrava no Rio de Janeiro, e não pode comparecer ao seu funeral, onde estavam presentes muitos atleticanos, dentre os amigos que lá foram prestar-lhe as últimas homenagens.
No dia 2 de junho de 1968 Jofre estava presente no jogo realizado no estádio "Vitorino Gonçalves Dias", em Londrina, entre o Paraná de Londrina e o
Atlético.
Como presidente, Jofre solicitou a realização de "um minuto de silêncio" em homenagem à Mario Biscaia que tinha falecido recentemente.
Durante a realização desta partida, na arquibancada do estádio, Jofre sofreu um infarto e faleceu.
Aquele abraço foi a despedida de dois grandes amigos atleticanos que nos deixaram há muitos anos e não puderam apreciar o esplendor da nova e magnífica Arena da Baixada.
Observação:
Mario Chalbaud Biscaia foi secretário do CAP e também assumiua vice-presidencia do Clube Atlético Paranaense na gestão de João Alfredo Silva.
Em 1947 substituiu o presidente, a pedido deste, por um período de 6 meses, por motivo de Viagem.

Maria do Rocio Soffiati Biscaia é advogada.