Povoado de Guaratuba, década de 1940.
(Foto: PM de Guaratuba)
Paulo Grani

fotos fatos e curiosidades antigamente O passado, o legado de um homem pode até ser momentaneamente esquecido, nunca apagado









O estabelecimento faz parte de um grupo de bares tradicionais da cidade, que incluem o Stuart, na Praça General Osório; do Pudim, na Praça do Gaúcho; O Torto; e alguns outros. O “Bife”, como era conhecido pelos frequentadores, foi aberto em 1976, pelo moçambicano Eduardo How. O nome oficial era “Bar Elle e Ella” e o dono e sua família moravam no andar de cima, na Rua Cândido Lopes.
Poucos anos depois, e durante toda a década de 80, o local se tornou um reduto de poetas e pensadores da cidade, com destaque para Paulo Leminski. Segundo Luciana do Rocio Mallon, no texto “Lendas do Restaurante Bife Sujo”, o poeta tinha sempre um pedido de bebida especial, uma mistura de Smirnoff e Martini. Com isso, o drink ficou conhecido como “Leminski”. A Banda Blindagem também era um grande expoente cultural da cidade que frequentava o bar.
Uma relação de Leminski com o local pôde ser vista em uma famosa passagem do poeta. Durante uma mesa redonda, que falava sobre poesia e literatura, Leminski, que já estava incomodado com o rumo que a discussão estava tomando, ficou revoltado e se levantou da mesa explanando: “Olha, brother, qualquer bar em Curitiba, numa sexta-feira à noite, tem um nível de discussão mais alto do que o desta mesa. Vou tentar pegar o Bife Sujo aberto…”. Na ocasião, Cacaso, Arrigo Barnabé, Régis Bonvicino e alguns alunos da USP compunham a mesa. Há uma passagem de Haroldo de Campos também, relatando seu encontro com Leminski, no tradicional Bar Bife Sujo.
Em 1982, o bar muda de dono e o empresário Rui César da Fonseca assume a administração. A partir disso, o nome Bar Bife Sujo se torna oficial. Dez anos depois, Fonseca vende o estabelecimento aos três garçons do local, que eram muito famosos na região: Pedro, César e Ney.
Como todos os estabelecimentos, o “Bife” sofreu com a desvalorização da região, diminuindo gradativamente a sua clientela. Em 2007, um incêndio destrói o local, mas, dois meses depois, o bar voltava ao funcionamento. A data da reinauguração foi emblemática, 15 de setembro, o Dia do Cliente.
Atualmente, o Bife Sujo Bar e Restaurante só abre para almoço, de segunda a sexta, das 11h às 15h, e aos sábados, das 11h às 16h. Um dos destaques do local é o bolinho de carne seca. O Bife fica na Rua Saldanha Marinho, 479, no Centro.
Referências Bibliográficas:
Nascido em 24 de agosto de 1944, filho de pai polonês com mãe negra, Paulo Leminski Filho já chamava atenção por sua inteligência e criatividade desde pequeno. Logo cedo, inventou sua própria forma de fazer poesias, usando poemas curtos e misturando haicais – trocadilhos e ditados franceses. Aos 14 anos participou do I Congresso Brasileiro de Poesia de Vanguarda em Belo Horizonte e se casou 3 anos depois, com a desenhista e artista plástica Neiva Maria de Sousa (o casamento durou 7 anos).
Foto do livro “O bandido que sabia latin”, biografia de Leminski escrita por Toninho Vaz
Seu primeiro poema publicado foi em 1964, na revista Invenção. Em 65 se tornou professor de História, Redação e Judô – Leminski era faixa preta. Casou-se novamente em 1968 com a poetisa Alice Ruiz. Um fato curioso na vida de Leminski é que, durante seu namoro com Alice, ele dividia a casa com sua namorada, sua ex-mulher e o namorado da ex, em uma espécie de comunidade hippie.
Em 1969 e 1970, morou no Rio de Janeiro, retornando a Curitiba logo depois. Na década que se iniciara, o escritor viu seus textos e poemas serem publicados em várias revistas, fazendo com que ficasse famoso no meio. Em 75 lançou sua primeira publicação própria, que denominava como “prosa experimental”, chamada Catatau.
Foto do livro “O bandido que sabia latin”, biografia de Leminski escrita por Toninho Vaz
Em 1981 viu a sua primeira composição ser gravada, era “Verdura”, na voz de Caetano Veloso. Na década de 80, Leminski se “aventurou” pela MPB e viu suas letras serem gravadas por vários músicos, inclusive pelos curitibanos da banda Blindagem. Nessa década ele também fez várias traduções, inclusive do livro “Um atrapalho no trabalho”, de John Lennon. Além disso, foi colunista do Jornal de Vanguarda e estudioso da língua e cultura japonesas.
Foto do livro “O bandido que sabia latin”, biografia de Leminski escrita por Toninho Vaz
Paulo Leminski morreu em 7 de junho de 1989, vítima do agravamento de uma cirrose hepática. Suas publicações e seus pensamentos influenciaram as gerações seguintes e suas obras fazem parte da cultura curitibana.
Referências Bibliográficas e fotografias:VAZ, Toninho. Paulo Leminski: O bandido que sabia latim. Rio de Janeiro. Record. 2009