A FONTINHA (Foto – decáda de 60)
“Fonte Velha. A primitiva distribuição das matas e campos no estado do Paraná era a expressão de um equilíbrio natural, no que concerne a fatores climáticos e qualidade dos solos. A relação entre temperatura e umidade constituía uma fonte de riqueza para a obtenção de produtos naturais e de cultivo. A retenção das chuvas pela cobertura vegetal elevada e a sua repetida distribuição pelos arbustos e pela camada folhosa próxima ao solo fazia com que a água se infiltrasse lentamente na superfície do mesmo e fosse absorvida pelo húmus, o que resultava em acúmulo de umidade na rede de raízes. A partir de então, lenta, mas persistente, dava-se sua passagem para as camadas mais profundas até que fosse atingido o lençol de água subterrâneo, o qual por saturação, era devolvido à superfície na forma de olhos d água. (Contrariamente, a desnudação do solo, por efeito de desmatamento, faz com que ele fique sob a ação direta das precipitações; a reserva de húmus diminui e, por fim, deixa de existir e o solo fica sob efeito direto de forte lavagem, o que tem como conseqüência imediata a diminuição do depósito de água no subsolo, acelerando-se sua redução, no círculo biológico. Por essas razões fontes centenárias secam ou é sua vazão reduzida). Paranaguá, situada no sopé da Serra do Mar, degrau entre o litoral e o primeiro planalto do interior, vê desaguar em sua magnífica baía a captação de rios do planalto pelos rios das encostas da serra, fruto daquele ciclo já referido. Natural, pois, que, aqui e ali, aflorem fontes ou olhos d água, principalmente em baixadas úmidas. É o caso da chamada Fonte Velha, que já era utilizada desde tempos imemoriais pelo aborígine que habitava a região. No último quartel do século XVI, entre 1575 e 1600, os poucos brancos de origem européia, egressos de Cananéia e de São Vicente, que se haviam estabelecido na Ilha da Cotinga resolveram abandoná-la e fundar no continente fronteiro a nova póvoa, que dispunha de espaço maior para as atividades agrícolas e pecuárias. A escolha recaiu no chapadão localizado no alto das ribanceiras do então chamado Rio Taquaré (ltiberê), entre outras coisas por possuir uma fonte de água nativa que brotava em meio a formosa planície e que, por falta de represamento, se escoava na direção do mar. A primeira providência no sentido de torná-la de utilidade pública - após haver dessedentado, talvez por séculos e séculos, o aborígine - foi tomada em 10 de abril de 1655, quando a Câmara resolveu limpar o caminho da fonte de beber. Na época o local da fonte era chamado Fonte de Gamboa, corruptela de camboa, designação dada pelos Carijós, que dali foram expulsos, a curral ou esteiro de apanha de peixes, sistema por eles utilizado de procedimento técnico pesqueiro que foi herdado pelos praieiros da região. Feita a limpeza do caminho - ao longo do que é hoje a rua Conselheiro Sinimbú -, os vereadores, na sessão do dia 4 de abril de 1657, resolveram se providenciasse o represamento da água para consumo da população. Convém assinalar que, na época, à exceção da Fonte de Gamboa, não havia outro manancial de água potável. Extraía-se água de poços, mas era muito salobra. Para a execução da obra se candidataram João Gonçalves Peneda, filho presumível de Domingos Peneda (ou Ceneda) - tido como um dos fundadores da vila e seu primeiro juiz ordinário -, e Roque Dias, que prometeram executá-la em 30 dias, o que foi feito. Mas, não tendo sido trabalho perfeito e, muito menos, definitivo, passado um ano foram traçados novos planos, consistindo na construção de uma caixa fechada com abóbada, tendo em huma das faces huma janelinha para se proceder à limpeza do interior da dita fonte. A nova obra custou ao erário municipal 16$000 (dezesseis mil-réis), um absurdo para a época. Constou da edificação de caixa subterrânea, tendo descoberta, apenas, a face que se voltava para o mar, e nesta se implantaram a janela de visitação e limpeza, torneiras de bronze (hoje inexistentes) e ladrões para o escoamento do excesso de líquido. A caixa se alonga em forma de galeria, protegendo o manancial, cujo volume de água vem diminuindo com o passar do tempo, embora tenha resistido a prolongadas estiagens. Entenderam, mais tarde, os vereadores que tamanha preciosidade exigia moldura mais artística, e em 26 de dezembro de 1714 foi contratado o mestre pedreiro Agostinho da Silva Gomes para a construção de paredes, lateralmente à galeria, estrutura que até hoje ostenta. A fonte localiza-se junto às margens do Rio Itiberê, e através da Ladeira de Santa Rita, pavimentada com lajes irregulares de pedra, as quais, segundo as crônicas, vieram de ultramar, como lastro nas naus, liga-se à Rua Conselheiro Sinimbu, antiga Rua da Fonte, nas proximidades da Igreja de São Benedito. Compõe-se de duas plataformas - a superior de forma aparentemente elíptica -, construídas em alvenaria de pedra, e com escada em cantaria ligando-as. No eixo da plataforma superior ergue-se espécie de frontão, também em alvenaria de pedra e, à sua frente, interrompe-se a mureta que circunscreve a plataforma. Através de arco sob a mureta atinge-se a plataforma inferior, constituída por tanques rasos, também murados, para os quais corre a água da fonte. Essa segunda plataforma é igualmente arrematada por mureta, cujo término é uma figura esculpida em pedra, que lança a água para o Rio Itiberê. Após o tombamento, a Prefeitura de Paranaguá deu partida ao trabalho de restauração de seu mais antigo monumento, de características nitidamente coloniais, implantando a seu redor um parque em cuja extremidade há um espelho d água simbolizando o Rio Itiberê, que antes dos aterros levados a termo chegava até lá. A fonte integra o Centro Histórico e é carinhosamente apelidada de Fontinha pela população. Localização: Rua Pêcego Júnior, junto ao Rio Itiberê. Data da construção: a partir de Autor do projeto: Agostinho da Silva Gomes (mestre pedreiro da obra de 1714).”
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