sábado, 31 de dezembro de 2022

Quem foi: Paulo Leminski

 

Quem foi: Paulo Leminski

O poeta Paulo Leminski é curitibano e começou a escrever ainda criança

Nascido em 24 de agosto de 1944, filho de pai polonês com mãe negra, Paulo Leminski Filho já chamava atenção por sua inteligência e criatividade desde pequeno. Logo cedo, inventou sua própria forma de fazer poesias, usando poemas curtos e misturando haicais – trocadilhos e ditados franceses. Aos 14 anos participou do I Congresso Brasileiro de Poesia de Vanguarda em Belo Horizonte e se casou 3 anos depois, com a desenhista e artista plástica Neiva Maria de Sousa (o casamento durou 7 anos).

Paulo Leminski - "O bandido que sabia latin" - Biografia de Leminski escrita por Toninho Vaz - Curitiba Space

Foto do livro “O bandido que sabia latin”, biografia de Leminski escrita por Toninho Vaz

Seu primeiro poema publicado foi em 1964, na revista Invenção. Em 65 se tornou professor de História, Redação e Judô – Leminski era faixa preta. Casou-se novamente em 1968 com a poetisa Alice Ruiz. Um fato curioso na vida de Leminski é que, durante seu namoro com Alice, ele dividia a casa com sua namorada, sua ex-mulher e o namorado da ex, em uma espécie de comunidade hippie.

Em 1969 e 1970, morou no Rio de Janeiro, retornando a Curitiba logo depois. Na década que se iniciara, o escritor viu seus textos e poemas serem publicados em várias revistas, fazendo com que ficasse famoso no meio. Em 75 lançou sua primeira publicação própria, que denominava como “prosa experimental”, chamada Catatau.

Fotos do livro "O bandido que sabia latin", biografia de Leminski escrita por Toninho Vaz

Foto do livro “O bandido que sabia latin”, biografia de Leminski escrita por Toninho Vaz

Em 1981 viu a sua primeira composição ser gravada, era “Verdura”, na voz de Caetano Veloso. Na década de 80, Leminski se “aventurou” pela MPB e viu suas letras serem gravadas por vários músicos, inclusive pelos curitibanos da banda Blindagem. Nessa década ele também fez várias traduções, inclusive do livro “Um atrapalho no trabalho”, de John Lennon. Além disso, foi colunista do Jornal de Vanguarda e estudioso da língua e cultura japonesas.

Paulo Leminski - "O bandido que sabia latin" - Biografia de Leminski escrita por Toninho Vaz - Curitiba Space

Foto do livro “O bandido que sabia latin”, biografia de Leminski escrita por Toninho Vaz

Paulo Leminski morreu em 7 de junho de 1989, vítima do agravamento de uma cirrose hepática. Suas publicações e seus pensamentos influenciaram as gerações seguintes e suas obras fazem parte da cultura curitibana.

Referências Bibliográficas e fotografias:
VAZ, Toninho. Paulo Leminski: O bandido que sabia latim. Rio de Janeiro. Record. 2009

A CASA DA NONA

 

A CASA DA NONA







Para começar bem o ano vou falar um pouquinho sobre uma família, cujo patriarca veio da Itália e que escolheu Curitiba para fincar raízes e ajudar à construí-la.

O post de hoje e amanhã terá como base a maravilhosa casa de madeira da primeira foto e a família que nela morou.

A casa foi construída em (acredita-se) 1907, no que hoje seria o número 2130 da Avenida Silva Jardim, sobre dois terrenos conjugados que permitia manter um parreiral de uvas tintas, brancas e rosê, com as quais se produziam vinhos para consumo próprio e presenteados a ilustres visitantes da família. Os vinhos eram mantidos na adega subterrânea da casa, com alçapão de acesso interno, onde a menor temperatura ajudava preservar sua qualidade e longevidade. O terreno era cuidado como se fosse um pequeno sítio e possuía uma horta completa.

Essa casa foi a residência do casal Tarquínio Todeschini (1885) e Angela Italia Pazinatto Sartori (1889). Ele o 4º de 8 filhos de Giuseppe Todeschini (1851) e Domenica Cemin (1858).

Tarquínio trabalhou na Indústria Todeschini, fundada por seu pai. Teve seis filhos com Angela, cujo casamento se deu em outubro de 1907. Todos os seus filhos residiram nessa casa até se casarem, sendo eles José Adriano Todeschini (1908), Constância Todeschini (1911), Diomira Todeschini (1913), Natália Todeschini (1916), Irene Todeschini (1920) e Maria Alva Todeschini (1927.

A Casa da Nona (como é carinhosamente citada pelos netos) foi recebendo melhorias ao longo dos anos e repaginada na década de 1940, tendo a frente reconstruída em alvenaria.

Os detalhes internos da casa podem ser observados nos registros de casamentos (amanhã poderão ver duas dessas fotos). As paredes de madeira tinham uma decoração pintada à mão, antecipando o estilo “papel de parede”. O piso era de madeira em taboas largas. O Sótão era largo e tinha o comprimento da casa sem divisórias. Esse enorme sótão era o dormitório das cinco irmãs.

A casa sobreviveu até 1972 quando o terreno foi vendido ao Grupo Canet da Habitação para a construção do prédio ainda lá existente.

Tarquínio, além de atuar na gestão da indústria de massas, biscoitos e balas, gostava muito de viajar, caçar e pescar com os amigos. Tinha 2 cães de caça, um deles chamado Lampo. Numa de suas viagens, trouxe um filhote de Jaguatirica órfão para a filha menor.

A convivência com a família nas horas de lazer permitiu idealizar com diversos amigos um clube para acolher as famílias nos fins de semana. Este Clube foi fundado em 1914 e originou o Savóia Futebol Clube, hoje Paraná Clube, onde foi seu primeiro Diretor-Presidente. Outra grande história viva criada pelos emigrantes italianos.

Todas as informações e fotos foram muito gentilmente cedidas por João Carlos Domanski, filho de Maria Alva Todeschini , neto de Tarquínio e Angela Italia..

Amanhã mais imagens e a história da Todeschini Alimentos.

Legendas das fotos:

Foto 1 – feita em 08 de janeiro de 1923, uma segunda-feira, mostra a família e vizinhos reunidos nas férias após o almoço. As roupas iguais das crianças podem induzir a pensar em uniformes, mas era usual de um mesmo corte de tecido fazer diversas roupas iguais usadas na mesma família.

Foto 2 – Tarquínio Todeschini em 1914, posando como primeiro presidente do Clube Savóia.

Foto 3 – feita em 08 de janeiro de 1923 pela manhã. Mostra a família sob a sombra do parreiral da casa. No verso da foto lê-se que ali estão Tarquinio aos 38 anos de “edade”, Itália aos 33, Adriano aos 14, Constância (Lila) aos 11, Diomira aos 9 anos, Natália aos 6 anos, Irene aos 3 e Barbina aos 18. Diz ainda que Barbina era filha adotiva, à quem todos queriam muito bem e que do parreiral saiam as uvas das quais se produziam os vinhos para família e amigos.

Foto 4 – foto de estúdio feita em de 1923, mostrando os cinco filhos mais velhos de Tarquinio e Angela Itália. O motivo da foto é a formatura do filho mais velho, Adriano.

Foto 5 – foto de 1929 de Maria Alva Todeschini. No verso lê-se “Offereçe a sua photographia a querida vovozinha Marietta Sartori. Albinha Todeschini. 23.7.1929”.

Foto 6 – foto do prédio que hoje ocupa a casa da família Tarquinio Todeschini e Angela Itália Pazinatto Sartori.

A VILLA SOPHIA

 

A VILLA SOPHIA















Em 1896 o casal Sophia e Guilherme Lindroth, ele sueco e ela filha do suíço Gotilieb Mueller, inaugura o palacete em estilo eclético na hoje esquina das ruas Mateus Leme e Barão de Antonina, com três pavimentos e 750 metros quadrados de área. A casa recebe o nome de Villa Sophia em homenagem à esposa de Guilherme Lindroth.

O casal viveu na casa por mais de 40 anos com seus filhos. A casa contava com diversos espaços de convivência, como uma sala de música com um piano e gramofone. Vários membros da família tocavam algum tipo de instrumento.

O jardim era tomado por plantas e muitas flores, especialmente rosas. Como não haviam floriculturas na época, era muito comum as famílias plantarem as suas próprias flores, criando uma espécie de competição para ter as flores mais bonitas da vizinhança.

Depois de décadas de uso pela família Lindroth, a Villa Sophia foi vendida para a Mitra Diocesana de Curitiba, servindo de morada para seminaristas, dentre eles Dom Pedro Fedalto entre 1954 e 1957, que seria mais tarde nomeado arcebispo de Curitiba. Nessa época a Villa Sophia foi conhecida como a casa do bispo e ainda hoje no topo da fachada principal, encontramos as armas do arcebispo Dom Ático Euzébio da Rocha.

Nos anos 70 o palacete abrigou também o pensionado das Irmãs Passionistas, como bem lembrou uma leitora desse blog.

Mais tarde, com a mudança da Mitra para outro local, o uso comercial da Villa Sophia e a poquíssima manutenção, impôs uma degradação severa ao conjunto, culminando com invasões e pichação de toda a casa. Parecia que o destino da casa seria a demolição.

Num vídeo produzido pelos atuais ocupantes da casa (a VG&P Advogados), a arquiteta Ivilyn Weigert que trabalhou no restauro da casa e a considera uma obra de arte, explica que o projeto de restauro da Vila Sophia iniciou em 2010, com um levantamento minucioso das partes que compunham o edifício, as estruturas, as técnicas construtivas, no caso uma edificação de alvenaria alto portante, sem vigas e pilares, o que exigiria um cuidado acima do normal para abrir qualquer vão para portas e janelas. Este local guarda a historia e o desvelamento de obras de arte que estava por debaixo das camadas das pinturas.

No mesmo vídeo Tatiana Zanelatto Domingues, restauradora, comenta sobre o ineditismo do deslocamento de uma parede erguida na década de 30 que contém uma pintura da Nossa Senhora Imaculada Conceição, baseada na obra do pintor espanhol Bartolomé Esteban Murillo, que originalmente fechava a sacada do terceiro andar do palacete, transformando o cômodo em capela bispal. O deslocamento da parede foi necessário para atender à duas exigências do Ippuc: a preservação da pintura e a liberação da sacada.

Um trabalho minucioso de restauro trouxe de volta à vida a santa e um estudo foi feito, definindo pela divisão da parede em 9 partes, deslocadas para o local onde hoje no primeiro piso a santa encontra-se em exposição.

Todo o trabalho brilhante de restauro foi acompanhado de perto pelo Ippuc, que fez uma série de exigências quanto a preservação de elementos originais da casa, tais como o piso, escadarias, portas e janelas.

Um ano e meio de obra e cerca de R$ 2 milhões foi investido no restauro pelo escritório de advocacia Vernalha Guimarães & Pereira em parceria com o proprietário do Palacete Villa Sophia para a revitalização do espaço, que faz parte do patrimônio histórico de Curitiba, considerada uma Unidade de Interesse de Preservação.

Tive o privilégio de poder fotografar a Villa Sophia e além da beleza externa do prédio, lá dentro encontrei as pinturas originais da casa reveladas, as escadarias preservadas, um lustre do qual existem apenas dois exemplares em Curitiba (o outro está na Mitra), isso tudo harmonizado com a decoração moderna do escritório de advocacia e com dezenas de obras de arte espalhadas por todas as salas.

Sem dúvida alguma a iniciativa de restauro e ocupação dessa casa é o caminho mais inteligente para preservação da memória e do patrimônio histórico de Curitiba.

Fonte: Video produzido pela VG&P Advogados, exibido durante nossa visita. Esse video está disponível na internet.

CAPELA SÃO JUDAS TADEU

 

CAPELA SÃO JUDAS TADEU




No tradicional bairro da Cascatinha, num recanto bucólico e aconchegante, numa elevação cercada de coqueiros, cedros e azaléas, localiza-se a Capela São Judas Tadeu.

A capela existe desde 1956, quando em julho daquele ano, o Sr. Pedro Trevisan, morador do bairro, (já falecido), manifestou ao então pároco de Santa Felicidade, padre Maximiliano Sanavio, a ideia de se construir uma pequena igreja no bairro, conforme desejo do próprio pároco, já manifestado anteriormente.

Escolheu-se o local, uma pequena elevação, com uma bela vista para a rua Manoel Ribas. Contataram os donos do terreno, os irmãos Ernesto e Isidoro Durigan, que, movidos pelo espírito cristão, imediatamente apoiaram a ideia e cederam o terreno.
O capitão Antônio Pedri, morador do bairro, ultimou os preparativos junto à Prefeitura de Curitiba, legalizando-se a doação.

Toda a comunidade do bairro, e também de Santa Felicidade, movimentaram-se para dar início à construção. Todos ajudaram com o que dispunham, com a maior boa vontade, muitos doando pinheiros para fazer o vigamento.

O Sr. Alfredo Vendramim, dono da Carpintaria São Judas Tadeu, doou toda a madeira para fazer a capela; foram contratados os serviços de carpintaria do Sr. Gumercindo Benato e do falecido Venuto Culpi; os irmãos Roberto, Félix e Sigismundo Jocoski contribuíram com o seu trabalho de pedreiros; o Sr. Vicente Costa fez a instalação elétrica; os bancos foram doados por várias famílias da comunidade; enfim, todos deram sua parcela de colaboração, seja com dias de trabalho, com outras doações pertinentes, e com palavras de incentivo e orações para que o projeto fosse executado com a maior rapidez possível.

Conforme palavras do Sr. Pedro Trevisan, desde a ideia inicial, até a conclusão da obra, passaram-se somente pouco mais de três meses, o que comprova a determinação e religiosidade deste povo, herdados de seus antepassados vindos da Itália, que sempre mantiveram a devoção à religião, o amor ao trabalho e o espírito de fraternidade como principais objetivos de suas vidas.

Em pouco tempo a igrejinha já estava pronta para ser coberta: “Foi uma verdadeira festa o dia de se colocarem as telhas, havia mais de sessenta pessoas trabalhando”, segundo depoimento do Sr. João Raimundo Costa e conforme atestam históricas fotografias do evento.

Assim, num domingo, dia 28 de outubro de 1956, dia de São Judas Tadeu, inaugurava-se a capela com a primeira missa celebrada pelo padre Maximiliano Sanavio, e participação de toda a comunidade da Cascatinha e moradores de Santa Felicidade.

A capela mantém a mesma aparência original, desde que foi construída, graças à cuidadosa manutenção que sempre mereceu das variadas comissões que trabalharam ao longo destes anos. Inclusive, devido à sua aparência simples, mas de arquitetura originalíssima e romântica, recentemente recebemos informações de setores ligados à Prefeitura Municipal de Curitiba, quanto ao desejo de num futuro próximo a capela seja "tombada” como patrimônio histórico de Curitiba.

Atualmente, várias benfeitorias foram acopladas ao patrimônio da capela: uma cancha de esportes para atender à juventude do bairro, como também aos alunos da vizinha Escola Ângelo Trevisan. A cancha também serve como ponto de encontro de lazer para os “nonos” do bairro, que se reúnem todo final de semana para jogar tradicionais jogos de cartas de herança italiana, como o “cinqüilio”, o “treis-sete”, o “truco”... e procuram passar para os mais jovens estas saudáveis tradições italianas.

Recentemente também foi construída uma cancha de bocha, que também serve como lazer para os frequentadores do ambiente.

A comunidade também é muito conhecida em Santa Felicidade pelos já famosos “almoços italianos”, que são promovidos trimestralmente no barracão de festas, e que alcançaram fama graças à comida de excelente qualidade e ao extraordinário atendimento do povo do bairro, sempre alegres, solícitos e simpáticos com todos os que visitam a comunidade.

Assim nasceu e assim vive um dos recantos mais acolhedores de Santa Felicidade: a comunidade da Capela São Judas Tadeu, na Cascatinha.

Texto de Cláudio Parise – 18/02/2015 encontrado no site da paróquia.

A capela na rua Angelo Trevisan, 166 - Cascatinha.

A RESIDÊNCIA GRABOWSKI

 

A RESIDÊNCIA GRABOWSKI

















Ao chegarmos nessa linda casinha de madeira, percebi que as janelas estavam abertas, revelando suas belas cortinas de renda. Tive quase certeza de que a presença de um grupo de pessoas, alguns em pé, outros sentados no chão, circulando pela calçada em frente à casa num domingo de manhã, logo chamaria a atenção das pessoas que ali moram.

Dito e feito. Uma pessoa saiu à janela para perguntar o que estava acontecendo. Esclarecido que ali estávamos para registrar em fotos e desenhos a bela casa, ganhamos a confiança da Regina, que veio ao jardim para conversar um pouco.

Disse ela que seu pai, Pedro Grabowski, filho de poloneses, foi e ainda é o primeiro morador da casa, construída há 67 anos. Mais tarde, pude conversar com o Sr. Pedro, um simpático senhor de 96 anos que me contou que a casa fora construída por seu pai e seu tio. Disse que sua amada esposa Paulina faleceu no ano passado aos 92 anos de idade, deixando-o solitário (senti pesar e nostalgia nas suas palavras). Comentei que felizmente ele tem saúde e a companhia de seus filhos e netos e também, que sua casa é uma beleza.

A oportunidade de permanecer por algumas horas ao redor da casa, permitiu que eu observasse detalhes e os registrasse para postar hoje aqui, tais como o belo lustre na entrada, as muitas flores no jardim, um pé de limão, pequenas figuras de pedra no jardim, as cortinas e o muro cuja trama em concreto imita a trama da palha de um cesto. Fiz uma foto da santinha na capelinha, que protege a casa e seus moradores, mas a foto não ficou muito boa.

Certamente a casa ainda está um primor porque seu morador original ainda vive nela e certamente o amor por suas memórias mantém a casa igualmente viva. Que assim permaneça por muitos anos ainda seu Pedro, para o deleite de quem por ela passa, para um pouquinho e pensa como a vida pode ser simples e bela ao mesmo tempo.

O EDIFÍCIO PEDRO DEMETERCO

 

O EDIFÍCIO PEDRO DEMETERCO







Com sua cor rosa e uma cúpula em tom esverdeado posicionada de forma descentralizada no seu topo, o Edifício Pedro Demeterco se tornou um marco na paisagem curitibana.

Construído entre 1949 e 1953 pela conceituada Pedro Bergonse & Cia Ltda, este singular edifício de 15 pavimentos e 230 escritórios encontra-se na esquina da Alameda Doutor Muricy com a Rua Marechal Deodoro, no centro, quase em frente a movimentada Praça Zacarias.

O nome do edifício é uma homenagem ao patriarca da família. Nascido no Império Austro-Húngaro, na região da Galícia que hoje pertence a Ucrânia, Pedro Dmeterko chegou ao Brasil ainda criança, acompanhado de seus pais José e Victoria, e dos irmãos mais velhos, Nicolau e Miguel, em 1895.

Inicialmente, a família se estabeleceu em Thomas Coelho, na zona rural de Araucária onde se dedicavam a agricultura. Aos 16 anos de idade, Pedro começou a trabalhar fora de casa. O jovem imigrante usava carroças para transportar sacas de sal da estação ferroviária de Curitiba até a Refinaria Emílio Romani, situada na Praça Tiradentes.

Em seguida, passou a trabalhar no armazém Fortunato & Paiva, localizado na mesma praça. Pouco tempo depois, foi convidado a participar dessa empresa e, em 1918, após o falecimento do sócio, adquiriu as quotas remanescentes tornando-se o único titular. Assim surgiu a Pedro Demeterco & Cia.

Entre os diversos produtos vendidos, o café era um dos destaques. O processo de torrefação adotado pela firma chegou a ser tema de matéria do Diário da Tarde, em 7 de março de 1932.

Em maio de 1944, com pouco mais de 50 anos de idade, ocorreu o precoce falecimento de Pedro. Daquele momento em diante, seus filhos José Luiz Demeterco e Antenor Demeterco assumiram as atividades da empresa.

Com a sucessão, muitas mudanças ocorreram. Os irmãos criaram a Casa do Aço Ltda, que tinha como finalidade a importação de materiais de construção, ferragens, ferramentas e utensílios domésticos dos mais variados países. Em 1951, o antigo armazém da família foi remodelado e se tornou um dos primeiros estabelecimentos a operar no sistema de auto serviço, como hoje funcionam os supermercados. Esse foi o embrião da conhecida rede de supermercados Mercadorama.

Investimentos no segmento imobiliário também foram realizados. Nesse sentido, os filhos José Luiz e Antenor idealizaram a construção de um edifício comercial. Com essa intenção, adquiriram casarões antigos na Alameda Doutor Muricy para, na sequência, iniciar a construção do prédio nomeado em homenagem a Pedro. Coube a Antenor o acompanhamento da obra.

Para a construção do edifício, a maior parte dos materiais foi importada por intermédio da Casa do Aço Ltda. Ferro, mármore, elevadores, tudo foi trazido de fora, inclusive o cimento que vinha da extinta Tchecoslováquia. Somente após a instalação da fábrica da Votorantim, em Rio Branco do Sul, o cimento deixaria de ser importado.

Finalmente, em 19 de dezembro de 1953, o Edifício Pedro Demeterco foi inaugurado. Por ali passaram inúmeras empresas e repartições públicas. O 11º andar foi sede do Fórum Cível de Curitiba, enquanto a sobreloja recebeu o 2º Cartório de Protestos de Títulos. A Associação dos Municípios do Paraná, assim como as superintendências do Ministério do Trabalho e do Ministério da Agricultura também se instalaram no local.

Entre as empresas, destacam-se a Companhia Paranaense de Energia (Copel), a Atlantic Petroleum, a imobiliária Cilar, e o escritório da fábrica paulista de bicicletas Monark. O 10º pavimento foi a sede da Direção do Jornal Correio do Paraná, do jornalista Abdo Aref Kudri. O edifício também abrigou muitas óticas, entre elas o Laboratório Ótico Especialista e a Ótica Visão, que lá permanece até hoje.

Entre os atributos da obra, dois são os aspectos que mais chamam a atenção. A pintura rosa e a cúpula esverdeada no terraço.

O que poucos sabem é que o tom em rosa que tanto diferencia o edifício surgiu do tipo de reboco escolhido na época da construção, que era finalizado com pó de mármore roseado. Somente décadas depois, devido ao desgaste natural da fachada, é que foi usada, de fato, tinta de cor rosa.

No terraço, a cúpula está posicionada no lado do edifício que acompanha o ângulo da esquina. O adereço foi fabricado sob medida no Rio de Janeiro. Infelizmente, a referência sobre quem a produziu se perdeu no tempo. Para resultar na atual cor esverdeada, optou-se pelo uso do cobre na sua confecção, que com o passar dos anos vai adquirindo esse tom naturalmente.

Embora outras narrativas circulem a respeito dela, a verdade é que a cúpula foi feita em homenagem a Basílica de São Pedro, em Roma, em face da ligação da família Demeterco com a religião católica.