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sábado, 27 de dezembro de 2025

A Casa do Coronel Euclides Silveira do Valle: Arquitetura, Hierarquia e Presença Urbana na Curitiba de 1941

 Denominação inicial: Projéto de Residência para o Snr. Cel. Euclides Silveira do Valle

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Médio Porte

Endereço: Rua Marechal Floriano Peixoto esquina da Avenida Guaira

Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 372,00 m²
Área Total: 372,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 06/07/1941

Alvará de Construção: N° 5428/1941

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de uma residência, Alvará de Construção e fotografia do imóvel.

Situação em 2012: Existente


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 – Planta com cortes A-B e C-D da residência.
3 - Alvará de Construção.
4 – Fotografia do imóvel em 2012.

Referências: 

1 e 2 - CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto para Residência para o Snr. Cel. Euclides Silveira do Valle. Planta baixa dos pisos térreo e superior, fachada principal e laterais esquerda e direita; cortes A-B e C-D, implantação, planta baixa da garagem e muro representados em duas pranchas. Microfilme digitalizado.
3 - Alvará n.º 5428
4 – Fotografia de Elizabeth Amorim de Castro (2012).

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

A Casa do Coronel Euclides Silveira do Valle: Arquitetura, Hierarquia e Presença Urbana na Curitiba de 1941

Uma residência de alvenaria assinada por Eduardo Fernando Chaves que, mais de oitenta anos depois, permanece de pé como testemunha silenciosa da elite civil-militar da capital paranaense

No auge da Segunda Guerra Mundial, enquanto o mundo se reconfigurava em meio ao fogo e à diplomacia, em Curitiba um homem de prestígio local encomendava a construção de um lar que refletisse seu status social e sua visão de mundo. Em 6 de julho de 1941, o arquiteto Eduardo Fernando Chaves registrava o projeto para a residência do Senhor Coronel Euclides Silveira do Valle, uma imponente construção de dois pavimentos e 372 m², erguida na esquina estratégica entre a Rua Marechal Floriano Peixoto e a Avenida Guaira — localização que, até hoje, carrega simbolismo urbano e histórico na capital paranaense.

Mais do que uma casa, o imóvel era uma declaração de pertencimento: à elite civil, à tradição militar (expressa no título honorífico de “Coronel”) e à modernidade arquitetônica então em ascensão. E, diferentemente de tantas outras construções da época, em 2012 ela ainda existia, registrada em fotografia por Elizabeth Amorim de Castro, com sua estrutura essencial preservada e sua presença marcante no tecido urbano.


O Coronel Euclides Silveira do Valle: Entre a Honra e a Propriedade

Embora os detalhes biográficos sobre Euclides Silveira do Valle permaneçam em grande parte nas sombras do arquivo municipal, o título de “Coronel” — comum na primeira metade do século XX — indica que ele ocupava posição de destaque na sociedade local. No Brasil da época, tal designação era frequentemente conferida a civis influentes (comerciantes, fazendeiros, políticos locais) como forma de reconhecimento social, mesmo sem carreira militar efetiva. Ainda assim, o uso do título revela respeito, autoridade e influência comunitária.

Ao escolher construir uma residência de médio porte em uma esquina nobre do centro de Curitiba, o coronel afirmava sua posição em um momento de intenso crescimento urbano. A escolha do arquiteto Eduardo Fernando Chaves, nome reconhecido por projetos residenciais de qualidade na cidade, reforça a intenção de aliar status, bom gosto e funcionalidade.


O Projeto de Eduardo Fernando Chaves: Geometria, Hierarquia e Representação

Assinado em duas pranchas detalhadas, o projeto arquitetônico revela o domínio técnico e estético de Chaves. A residência foi pensada em dois níveis claros:

  • Pavimento térreo: destinado às áreas sociais — salas de estar e jantar, circulação principal, cozinha e dependências de serviço — organizadas com fluidez e acesso direto ao jardim e à garagem;
  • Pavimento superior: reservado à intimidade familiar — dormitórios, banheiros e possivelmente um terraço ou varanda contemplativa.

Os cortes A-B e C-D demonstram uma preocupação com a proporção vertical, a ventilação cruzada e a iluminação natural — elementos essenciais na arquitetura residencial subtropical. A fachada principal, voltada para a esquina, foi tratada com especial atenção: simétrica, com janelas ritmadas, molduras em argamassa e, possivelmente, um pequeno pórtico ou balcão central que conferisse solenidade à entrada.

A garagem e o muro de fechamento, incluídos nas plantas de implantação, indicam que a residência foi projetada como um lote autônomo, com privacidade e controle visual — características típicas das moradias da elite urbana da época.

Construída em alvenaria de tijolos, a casa combinava durabilidade, respeitabilidade e permanência — qualidades que ecoam até hoje.

O Alvará de Construção nº 5428/1941, emitido logo após o projeto, autorizou a edificação de um imóvel que se inseria com distinção no entorno do centro histórico, então ainda residencial em boa parte de sua malha.


A Esquina como Palco: Rua Marechal Floriano Peixoto e Avenida Guaira

A localização escolhida não foi casual. A esquina entre a Rua Marechal Floriano Peixoto e a Avenida Guaira situa-se a poucos quarteirões da Praça Tiradentes, coração político e simbólico de Curitiba. Na década de 1940, essa região concentrava sedes de clubes, escritórios de profissionais liberais, lojas de luxo e residências de famílias tradicionais.

Construir nessa esquina era marcar presença — tornar visível a família Silveira do Valle no cenário urbano. A fachada dupla, voltada para duas vias importantes, garantia exposição e reconhecimento, transformando a casa em um marco de identidade familiar.


Preservação Silenciosa: A Casa em 2012

Felizmente, em 2012 a residência ainda existia, conforme registrado na fotografia de Elizabeth Amorim de Castro. Embora possivelmente adaptada a novos usos — residencial coletivo, escritório ou mesmo mantida como moradia —, a estrutura original, pelo menos em sua volumetria e fachadas, aparentemente resistiu às pressões do mercado imobiliário e às intervenções descaracterizadoras.

Sua permanência é um ato de resistência urbana, um lembrete de que a história de Curitiba não está apenas nos edifícios monumentais, mas também nas casas de esquina que, com discrição e solidez, testemunham décadas de transformação.


Conclusão: Uma Casa que Guarda o Tempo

A residência do Coronel Euclides Silveira do Valle é mais do que tijolos e argamassa. É um documento espacial da sociedade curitibana de 1941 — de suas hierarquias, seus valores estéticos e sua relação com o espaço urbano. Projetada por um dos arquitetos mais prolíficos da cidade, construída com rigor técnico e localizada em posição de destaque, ela encarna a arquitetura residencial de qualidade que, muitas vezes silenciosa, formou o alicerce da identidade urbana de Curitiba.

Que continue de pé — não como museu, mas como espaço vivo, onde passado e presente se encontram na sombra de suas janelas, no ritmo de seus corredores, na solidez de suas paredes.

“As melhores casas não são as maiores, mas aquelas que sabem guardar histórias — e as contam, ainda que em silêncio.”