Quem são os geraizeiros? o povo caipira do norte de minas com influências nordestinas e que inspirou Guimarães Rosa em seu livro "Grande Sertão: Veredas".
Nas margens do Rio São Francisco, onde as águas cortam o norte de Minas Gerais e a Bahia, e na área de transição entre o Cerrado e a Caatinga, no oeste da Bahia, habitam os geraizeiros, reconhecidos como agricultores dos planaltos, encostas e vales do Cerrado. A nomenclatura destas populações advém do termo “Gerais”, entendido como sinônimo de Cerrado. Segundo seus moradores históricos, antes não havia referência ao Cerrado, apenas aos Gerais, daí o nome geraizeiros. Muitas vezes eles dividem uma propriedade comum, popularmente chamada de quintal(conhecida mais ao sul como bairro ou faxinal), onde plantam e criam animais. O espaço é solidariamente ocupado, com uma diversidade de culturas produtivas, e as tradições locais selam laços de um comunitarismo único.
Os geraizeiros são mais antigos do que os mineiros centrais, que viriam a influenciá-los depois.
Suas origens são bandeirantes, região que viria a ser explorada pelo bandeirante Matias Cardoso de Almeida, onde fundaria inúmeras fazendas de criação de gado, donde buscava da Bahia e levaria a até a região norte-mineira.
Em 1664 já conhecia as trilhas que levavam de São Paulo ao norte do Brasil, varando as Minas Gerais futuras e diz-se que até dava preferência até a um caminho que ele próprio traçara, passando por Atibaia e Sapucaí, de onde afugentara o resto dos terríveis índios lopos, e que ganhou seu nome.
Na década de 1670, foram frequentes bandeiras para escravizar índios nas terras que serão no futuro o Estado de Minas Gerais, levando bandeirantes de São Paulo, Taubaté, Paranaguá e Cananéia. Sua patente foi registrada nos arquivos da Câmara de São Paulo em 1664, como experimentado naqueles sertões.
Ativo sertanista, Matias integrou a bandeira de Jerônimo Pedroso de Barros no Sul em 1641, e em outra de 1656, talvez da Luís Pedroso de Barros, que atingiu terras do Peru e os Andes, onde morreu em 1656 ou 1662.
Do arraial de Matias Cardoso (hoje Conceição de Morrinhos) seu filho Januário Cardoso passou para o arraial do Meio e depois para Morrinhos, sede da irradiação paulista ao norte de Minas; bateu e pacificou a vasta zona até Carinhana, tornando-se desse modo um dos maiores distritos do interior mineiro. A um reinol aventureiro, Manuel Pires Maciel, ao seu serviço, e o sobrinho deste, Manuel Francisco de Toledo, oaulista, se deve a formação de vários arraiais do São Francisco, resultante da montaria e caça ao ouro: Brejo do Salgado, Santo Antônio da Manga (hoje São Romão), Itabiraçaba (depois Nossa Senhora do Amparo, hoje Januária).
Segundo Oliveira Viana, no livro "populações meridionais do brasil" o geraizeiro se forma por duas frentes, uma vinda do sul(paulistas, principalmente), e outra vinda do norte(baianos.
E começando no terceiro cIclo bandeirista, que é o grande ciclo do ouro. Começa em 1693, com a bandeira de Fernão Dias Paes Leme, e vai até o fim do século XVIII. É o grande ciclo, o ciclo das minas, da grande e rápida expansão para os chapadões mineiros, goianos e mato-grossenses. É neste ciclo que as duas expansões colonizadoras, a que vem do norte, de caráter pastoril, e
a meridional, que sobe de São Paulo para explorar o ouro, se encontram no vale histórico do São Francisco, dando origem ao geraizeiro.
Essa expansão colonizadora não é só, como geralmente se pensa, a cobiça do ouro que a impulsiona. Outras causas, que não a pura
atração das minas, propelem os grupos bandeirantes. E a prova está em que essa irradiação se opera, antes do impulso das minas e mesmo durante ele, em rumo diverso. Durante o período das minas, todo o litoral do sul até Laguna se povoa dos bandos organizados em São Vicente. Outros bandos vão pelos altos chapadões do Iguaçu, povoando, no mesmo
período, os campos encontrados pelos batedores sertanistas e fundando povoações com os casais agremiados nos centros vicentistas e paulistas.
De São Vicente, de São Paulo e de Taubaté é que partem,
pelos fins do II século, na corrente vinda do Norte, os bandos que povoam Minas, Goiás e Mato Grosso. Galgam a serra do Espinhaço e descem pelo vale do São Francisco, onde encontram, com a bandeira paulista de Matias Cardoso, as migrações pastoris, vindas do Recife e da Bahia. O largo trecho norte mineiro e baiano do São Francisco, compreendido entre Carinhanha e Juazeiro, desde o II século se enche de paulistas, que comercializam com os sertanejos baianos o gado a fim de introduzir nas minas.
Desses paulistas, alguns, como Domingos Jorge, levam até às
ásperas caatingas do Piauí e do Maranhão o gado dos latifúndios meridionais.
Com essas grandes frentes de colonizadores do norte e do sul, vê-se hoje ambas as influências, bem como a influência centro-mineira que chega depois. Sendo majoritariamente caipira em sua culinária, religiosidade, musicalidade, estilo de vida, genealogia e costumes. Mas tbm se faz presente a figura do sertanejo nordestino, como o ofício de vaqueiro, o aboio, a carne de sol, entre outras coisas.
Bons conhecedores do Cerrado e das suas espécies, os geraizeiros são populações tradicionais que se adaptaram com sabedoria às características do bioma e às suas possibilidades de produção. Assim, garantem a subsistência familiar e comunitária ao longo do ano por meio do plantio de lavouras diversificadas como milho, feijão, mandioca, frutas e verduras. Os produtos que sobram são comercializados em comunidades vizinhas ou em feiras, beneficiados ou in natura. A criação de animais “na solta” também minimiza os custos e obedece a uma lógica secular que reconhece a capacidade da natureza de alimentar os seus rebanhos.
Com tal filosofia de vida e de produção, as “comunidades dos gerais” resistem à cultura das cercas, à prática da propriedade privada e da monocultura. Estes agricultores e agricultoras, em geral, vivem sobre a mesma terra que seus pais e avós, desde a época dos bandeirantes.
Atualmente os geraizeiros são denominados como um povo tradicional, assim como ribeirinhos, faxinalenses e etc, e resistem ao tempo e às regras modernas para que seu estilo de vida continue preservado.
-Felipe de Oliveira:
Fontes:
-Oliveira Viana e as populações meridionais do Brasil
-Recid, Ocareté e tese Gerais a dentro e a fora: identidade e territorialidade entre Geraizeiros do Norte de Minas Gerais – Mônica Nogueira.