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domingo, 28 de dezembro de 2025

Santo Trevisan e a Casa de Madeira na Avenida Silva Jardim: Um Sonho Modesto do Curitiba de 1935

 Denominação inicial: Projéto para uma casa de madeira para o Snr. Santo Trevisan

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência Econômica

Endereço: Avenida Silva Jardim. Lote nº 2 da Planta Trevisan

Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 36,00 m²
Área Total: 36,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Madeira

Data do Projeto Arquitetônico: 09/09/1935

Alvará de Construção: Nº 1474/1935

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de casa de madeira e Alvará de Construção.

Situação em 2012: Não localizada


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.

Referências: 

1 – CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de uma Casa de madeira. Planta do pavimento térreo e de implantação; corte e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 – Alvará n.º 1474

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

Santo Trevisan e a Casa de Madeira na Avenida Silva Jardim: Um Sonho Modesto do Curitiba de 1935

Um olhar sobre a arquitetura residencial econômica da primeira metade do século XX em Curitiba


Em 9 de setembro de 1935, em meio ao fervor construtivo de uma Curitiba em transformação, um projeto singelo foi registrado nos arquivos municipais: o Projéto para uma casa de madeira para o Snr. Santo Trevisan. Assinado com letras firmes e traços precisos, tal documento não apenas delineava paredes e portas, mas representava a realização de um sonho comum a milhares de cidadãos da época — o de ter um teto próprio, mesmo que modesto, mesmo que simples.

A residência, situada no Lote nº 2 da Planta Trevisan, na Avenida Silva Jardim, zona central da capital paranaense, foi concebida como uma residência econômica de um único pavimento, com 36,00 m² distribuídos de forma funcional e racional. Projetada inteiramente em madeira, técnica construtiva comum na época para moradias de baixo custo, a casa refletia tanto as limitações financeiras quanto as possibilidades técnicas e estéticas do período.

O projeto arquitetônico, preservado em microfilme digitalizado nos acervos históricos, apresenta em uma única prancha todos os elementos essenciais da proposta: planta do pavimento térreo, planta de implantação, corte e fachada frontal. A simplicidade do desenho revela uma preocupação prática: otimizar espaço, garantir iluminação natural e ventilação cruzada, e oferecer um lar com dignidade, ainda que com recursos mínimos. Provavelmente, contava com uma pequena varanda frontal — típica das casas populares da época — e divisões internas básicas: sala, um ou dois quartos, cozinha e área de serviço externa.

O Alvará de Construção nº 1474/1935, emitido pelo município logo após a apresentação do projeto, autorizava a edificação e atestava a conformidade do desenho com as normas urbanísticas vigentes. Tal documento, hoje raro e valioso, serve como testemunho da burocracia urbana em franca modernização, enquanto a cidade se preparava para crescer além de seus limites originais.

Curiosamente, apesar de seu registro oficial, a casa não foi localizada em levantamentos realizados em 2012. Sua ausência física levanta perguntas inevitáveis: foi demolida? Nunca chegou a ser construída? Ou talvez tenha sido alterada ao ponto de se tornar irreconhecível? Independentemente da resposta, o projeto permanece como documento histórico — um retrato fiel da realidade habitacional de milhares de famílias curitibanas na década de 1930.

Santo Trevisan, cujo nome hoje ressoa apenas em arquivos empoeirados e registros municipais, talvez tenha sido um imigrante, um operário, um pequeno comerciante — alguém comum, cujo sonho era tão ordinário quanto profundo: ter onde abrigar sua família. Sua casa, mesmo que não mais exista em tijolo ou madeira, subsiste na memória coletiva da cidade como símbolo de um tempo em que a simplicidade era virtude e a casa própria, conquista.


Legado e Significado Histórico

Embora classificada como “residência econômica”, a casa projetada para Santo Trevisan não era menos importante do que os palacetes da Rua XV de Novembro ou as vilas da Vila Izabel. Pelo contrário: representa a coluna vertebral do tecido urbano curitibano — as moradias que abrigaram professores, costureiras, ferroviários, cozinheiras, artesãos. Foi nesse tipo de construção que nasceram as histórias que moldaram a identidade da cidade.

O uso da madeira, material acessível e de fácil manuseio, era uma escolha pragmática, mas também cultural. Muitos imigrantes europeus — italianos, poloneses, alemães — trouxeram consigo técnicas construtivas em madeira, adaptando-as ao clima e à paisagem do sul do Brasil. Essas casas, muitas vezes revestidas com tinta clara e telhado de madeira ou cerâmica, compunham um cenário urbano acolhedor e humano.

Hoje, com o avanço da verticalização e a perda acelerada do patrimônio arquitetônico vernacular, projetos como o de Santo Trevisan adquirem um valor incalculável. Não apenas como registros técnicos, mas como documentos de afeto, memória e resistência social.


Conclusão: A Casa que Não Está, Mas Que Foi

Embora sua estrutura física tenha desaparecido — ou talvez nunca tenha existido além do papel — a casa de Santo Trevisan permanece viva nos arquivos, nas linhas do microfilme, nas letras do alvará. Ela é um lembrete de que toda cidade é feita de pequenas histórias, de sonhos modestos realizados com grande esforço.

E talvez, em algum recanto esquecido da Avenida Silva Jardim, onde o asfalto cobriu o chão de terra e os prédios substituíram os quintais, ainda ressoe o eco de marteladas, risadas de crianças e o cheiro de madeira serrada — vestígios invisíveis, mas eternos, da casa que Santo Trevisan um dia sonhou.


Referências

  1. CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de uma Casa de madeira. Planta do pavimento térreo e de implantação; corte e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
  2. Alvará de Construção nº 1474/1935, Prefeitura Municipal de Curitiba.