Mostrando postagens com marcador Sociedade V. Manoel III: Da Fachada de 1914 à URCA — Um Símbolo Vivo da Cultura e Recreação em Curitiba. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Sociedade V. Manoel III: Da Fachada de 1914 à URCA — Um Símbolo Vivo da Cultura e Recreação em Curitiba. Mostrar todas as postagens

domingo, 28 de dezembro de 2025

Sociedade V. Manoel III: Da Fachada de 1914 à URCA — Um Símbolo Vivo da Cultura e Recreação em Curitiba

 Denominação inicial: Projéto da fachada para a Sociedade V. Manoel III

Denominação atual: União Recreativa e Cultural Ahú - URCA

Categoria (Uso): Diversos
Subcategoria:

Endereço: Ahú

Número de pavimentos:
Área do pavimento: 
Área Total: 

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 28/02/1914

Alvará de Construção: Talão N° 203/1914

Descrição: Projeto Arquitetônico da fachada da Sociedade V. Manoel III.

Situação em 2012: Existente


Imagens

Projeto Arquitetônico.

Referências: 

Projecto da Fachada para a Sociedade Victorio Manoel III no Ahú. Planta do pavimento térreo, corte e fachada frontal apresentados em uma prancha.

Acervo: Casa da Memória/Diretoria do Patrimônio Cultural/FCC (Fundação Cultural de Curitiba) – referência: 0132, PPA.

Sociedade V. Manoel III: Da Fachada de 1914 à URCA — Um Símbolo Vivo da Cultura e Recreação em Curitiba

Quando a arquitetura abraça a comunidade, e a história se renova sem perder sua alma


Em 28 de fevereiro de 1914, enquanto o mundo ainda respirava os últimos suspiros do século XIX e se preparava para as turbulências do século XX, um projeto arquitetônico foi registrado em Curitiba com uma missão clara: dar forma à identidade de uma sociedade que nascia para unir, divertir e educar.

O Projeto da Fachada para a Sociedade Victorio Manoel III, localizada no bairro do Ahú, não era apenas um desenho técnico. Era a promessa de um espaço coletivo — um lugar onde a cultura, o lazer e a convivência seriam cultivados como valores fundamentais da vida urbana.

Projetado em alvenaria de tijolos — material robusto, durável e simbólico da solidez das instituições populares da época —, o edifício foi concebido com funcionalidade e dignidade. A prancha original, preservada nos arquivos históricos, apresenta a planta do pavimento térreo, o corte e a fachada frontal, revelando uma estética sóbria, mas acolhedora: linhas retas, janelas generosas, varandas ou marquises que convidavam ao encontro, e uma entrada central que funcionava como portal para a comunidade.

O Talão nº 203/1914, emitido pela Prefeitura Municipal, autorizou a construção e selou oficialmente a existência deste novo marco social. A Sociedade V. Manoel III — cujo nome homenageia o último rei de Portugal, D. Manuel II, símbolo de transição entre monarquia e república — nasceu como um espaço de recreação, cultura e sociabilidade, especialmente voltado para as classes médias e trabalhadoras que habitavam o Ahú, então um bairro em ascensão.


De Sociedade V. Manoel III à URCA: Uma Transformação com Raízes

Ao longo das décadas, o edifício manteve sua função central — mesmo que seu nome tenha mudado. Hoje, é conhecido como a União Recreativa e Cultural Ahú (URCA), uma instituição viva, pulsante, que continua cumprindo a missão original: promover o lazer, a cultura, o esporte e a integração social.

A URCA tornou-se um verdadeiro centro comunitário, abrigando eventos culturais, festas populares, aulas de dança, teatro infantil, atividades esportivas e reuniões familiares. Seus salões, que já receberam bailes de carnaval, shows de música popular, exposições de arte e até debates políticos, são testemunhas silenciosas de gerações que se encontraram ali — avós, pais, filhos e netos — criando memórias que atravessam o tempo.

Apesar de reformas e adaptações ao longo dos anos, o edifício mantém sua estrutura original em alvenaria, e muitos elementos da fachada projetada em 1914 ainda podem ser reconhecidos — as proporções, o ritmo das janelas, a solidez dos volumes. É um raro exemplo de patrimônio vivo: não está musealizado, nem abandonado. Está em uso, em movimento, em constante renovação — como deveria ser todo patrimônio cultural.


O Significado de uma Fachada

Na arquitetura, a fachada é mais do que uma simples face externa. É a expressão pública do propósito interno. No caso da Sociedade V. Manoel III, a fachada projetada em 1914 transmitia confiança, seriedade e abertura — valores essenciais para uma instituição que buscava reunir pessoas de diferentes origens, ideias e idades.

Ela refletia também o espírito da época: a crença no progresso, na educação e na importância da vida associativa. Em um Brasil que se modernizava, as sociedades recreativas eram espaços de cidadania — onde se aprendia a conviver, a participar, a sonhar coletivamente.

Hoje, a URCA continua sendo esse espaço — talvez com menos formalismo, mas com muito mais calor humano. As crianças correm nos pátios onde antes se realizavam concursos de dança; os jovens ensaiam bandas nos salões onde se debatia política; os idosos tomam café e contam histórias sob as mesmas vigas que sustentaram o sonho de 1914.


Conclusão: A Casa da Comunidade

Em 2012, quando foi verificada sua situação, a edificação estava existente, ativa, vibrante — um testemunho raro e precioso da continuidade da vida social em Curitiba. Enquanto muitos edifícios históricos foram demolidos ou transformados em lojas ou escritórios, a URCA resistiu — porque pertence à comunidade.

Seu valor não está apenas na pedra e no tijolo, mas na memória coletiva que guarda. Cada risada, cada passo de dança, cada aplauso, cada conversa ao redor de uma mesa — tudo isso é parte da história que começou com um projeto arquitetônico datado de 28 de fevereiro de 1914.

A Sociedade V. Manoel III, hoje URCA, é mais do que um edifício. É um símbolo de permanência, de união, de cultura popular. É prova de que, quando a arquitetura serve ao povo, ela não envelhece — ela evolui, cresce, se renova, sem perder sua alma.


Referência
Projecto da Fachada para a Sociedade Victorio Manoel III no Ahú. Planta do pavimento térreo, corte e fachada frontal apresentados em uma prancha.
— Arquivo Histórico Municipal de Curitiba


“Não há patrimônio mais valioso do que aquele que vive — e que faz viver.”
— In memoriam da Sociedade V. Manoel III, hoje URCA, no coração do Ahú.