AS VIDAS DE UMA CASA - PARTE 1
Nesses próximos cinco dias farei algo inédito nesse blog. Vou contar a história de uma casa e das pessoas que nela viveram e vivem até hoje.
Um dia um jornal referiu-se à essa bela casa de madeira, que da rua se vê apenas parcialmente, como “a casa atrás da moita”. Mas de trás dessa moita encontramos uma casa que foi construída com muito esforço por imigrantes alemães e que é ocupada desde a páscoa do longínquo ano de 1948, numa época em que o local, rua Almirante Tamandaré quase esquina com Augusto Stresser, era um campo aberto quase sem casas.
Creio que com essas postagens, feitas a partir de um texto enviado por Ingo Dittmar (neto de Guilherme Rudolph), não apenas a história de uma família e de sua casa serão contadas, mas um pedacinho de todas as histórias de todas as famílias que encontraram em Curitiba um lugar ideal para fincar raízes e construir a história das suas famílias.
Acompanhando o texto do Ingo, ao longo desses dias postarei algumas fotos que fiz da casa e a cada dia uma linda foto do acervo da família (a de hoje mostra a casa em 1948).
Bem vindo à história da família Rudolph e da “casa atrás da moita”!
Era o ano de 1924 quando o imigrante alemão Guilherme Rudolph (Wilhelm Paul Ernst Rudolph) resolveu deixar sua terra natal, assolada por uma grande recessão para tentar a vida no Brasil. O jovem de 22 anos veio acompanhado de seus pais, o Sr. Carl (Karl Friedrich Ernst Rudolph) e a D. Emma (Auguste Pauline Emma Adler Rudolph), já que era filho único e a família deveria ficar unida.
Já no Brasil, instalaram-se numa colônia de alemães no município de Cândido de Abreu – PR. Guilherme era técnico mecânico, com cursos extras de serralheiro e ótimas recomendações de seus professores e de empregadores, ainda na Alemanha. Entretanto, na colônia, tornou-se agricultor.
Ainda em Cândido de Abreu, conheceu a jovem Anna Lange (cuja família (os pais , 5 irmãs e 2 irmãos) imigrou para o Brasil em 1925. Casaram-se em 1929. Agora, com novas responsabilidades, era hora de fazer valer sua formação técnica e buscar um emprego na capital, Curitiba. Foi acompanhado de sua esposa e de seus pais.
Moraram de aluguel em vários endereços, incluindo o bairro Atuba e mais ao “centro”, na Av. Cândido de Abreu, próximo à fundição Muller (atual Shopping). Trabalhou em diversas oficinas mecânicas (num sentido mais amplo, não somente automóveis) e pequenas indústrias. Sempre que possível, fazia pequenos “bicos” para complementar a renda. A família Rudolph foi aumentando: em 1931 nasceu Agnes (Agnes Emma Rudolph Dittmar), em 1932 Adelaide (Adelaide Rudolph) e em 1935 Rosinha (Rosinha Rudolph Kuhn).
No final dos anos 30, a família Rudolph se mudou para uma casa alugada na Rua Bom Jesus, no Juvevê. Nessa época, os patriarcas Lange (August Lange e Agnes Koll Lange) resolvem retornar à Alemanha, e com eles seguiu o filho Augusto e a filha Anna. Ela precisava se tratamento de saúde e a recomendação médica de acompanhar os pais para buscar um melhor atendimento na terra natal foi atendida. A intenção era se recuperar e retornar ao Brasil para o convívio com o marido, Guilherme, e as três filhas. Por ironia do destino, não puderam escolher pior momento para embarcar para a Alemanha: era o ano de 1939, e em setembro desse ano, eclodiu a II Guerra Mundial!
A situação na Alemanha era a pior possível: os patriarcas Lange morreram de frio no inverno de 1941, o filho Augusto (que mancava em uma das pernas) foi visto pela última vez tentando alcançar o último trem que deixava uma das cidades antes de ser bombardeada... A filha Anna perambulou em atendimentos nos hospitais, fugindo de bombardeios e de toda a sorte de dificuldades que uma mulher sozinha se depara durante uma guerra...