A cerâmica Pinhaes iniciou suas atividades, em meados do ano de 1885, logo após a construção da ferrovia Curitiba-Paranaguá e da estação.
Por volta de 1912, o Sr. Guilherme Weiss, que era filho de Gustav Adolf Weiss, padeiro, que chegou à Curitiba em 1872, natural de Oels na Silésia, Alemanha, casado com Clara Prohmann em Curitiba, comprou a fábrica da família Torres e deu início a um processo novo de dinamização da unidade fabril. O início das atividades fabris foi numa pequena propriedade rural em Pinhais, iniciando com uma modesta e primitiva olaria a vapor. Através de diversas viagens à Europa, procurou conhecer as técnicas da moderna produção de cerâmica, e importou máquinas e equipamentos e ampliou consideravelmente a capacidade de produção, juntamente com a chegada desses novos equipamentos, também foi necessário trazer mão-de-obra para dinamizar toda a fábrica. Foram construídas pequenas casas, formando assim uma espécie de Vila Operária, em torno da fábrica, dentre as primeiras famílias que vieram trabalhar a convite de Guilherme Weiss, foram as de Miguel Chalcoski, de José Kropzak e de Henrique Pontella, as quais já tinham exercido a atividade na olaria dos irmãos Hauer, na região da Vila Hauer em Curitiba, muitas destas famílias se fixaram definitivamente na região.
A partir de 1915, a “Cerâmica de Pinhaes”, se desenvolveu em contínuo crescimento, com a existência de barro argiloso nas quatro fazendas “bairro alto”, Vargem Grande”, “Varginha” e “Guarituba”. Com o aumento da produção construiu novos depósitos, novos fornos e um ramal ferroviário de mais de 20 km com quatro pequenas locomotivas de carga e muitos vagões para atender o fornecimento de argila e de lenha de queima.
A pequena vila começa a se formar em torno da fábrica, onde tinha certa infra-estrutura, havia hospital, escola e seguro de vida para os operários e dependentes, junto aos barracões foi construído também um armazém de “secos e molhados”, responsável pelo abastecimento de cereais e gêneros alimentícios, segundo consta este armazém era o único da região, que era de propriedade do Sr. Weiss, que trazia as mercadorias de Curitiba e região. No auge do funcionamento da Cerâmica, entre 1920 e 1960, o conjunto de casas dos trabalhadores, chegou a 300 aproximadamente, considerado expressivo para a época.
Em 1929, a produção chegou a 1.000.000 de unidades de telhas, ladrilhos e tijolos, indicando um aumento da produção de quase 70% em seis anos, mostrando o vigoroso crescimento da indústria na década, na fase da economia brasileira de substituição das importações que foram interrompidas ou dificultadas com a eclosão da Grande guerra de 1914 a 1918, na Europa. Era chegada a hora da indústria nacional!
Para o transporte dos produtos para Antonina, a fábrica utilizava 92 vagões e uma locomotiva grande de carreira e também possuía três espaçosos depósitos próximos do trapiche. A exportação desses produtos de primeira classe seguia especialmente para o Rio e demais estados em direção ao norte brasileiro. Na exposição internacional de 1922, no Rio de Janeiro, comemorativa ao Centenário da independência, a “Cerâmica Pinhaes”, recebeu o “Grande Prêmio” da comissão organizadora, pela alta qualidade de seus produtos.
Demonstrando uma grande visão comercial, o Sr. Guilherme Weiss, estabeleceu entre 1918-1939, uma unidade monetária própria entre os moradores da vila, nos limites da área de domínio da Cerâmica, eram fichas de metal, que iam de 100 até 10.000 réis. Segundo relatos da época “O dinheiro valia só em Pinhais, mas se você fizesse economia com o dinheiro, fazia vale, passados trinta dias, ia à cidade e ele trocava, dava dinheiro, ou então, se economizasse as fichas dele, podia ter quantos milhões quisesse”.
Com o falecimento de Guilherme Weiss seu genro, Humberto Scarpa, assumiu a direção da Cerâmica, este fato pode explicar a ocorrência do carimbo de 1937, observável nas fichas, assim identificadas com a nova administração e que podem ter sido utilizadas pelo menos até 1942, quando o padrão Réis foi substituído pelo cruzeiro. A herança incluía, além da fábrica, as terras que se encontram na região de Pinhais. Scarpa conduziu os negócios da fábrica até a década de 1960, quando resolveu desativar os trabalhos da cerâmica e iniciou o processo de loteamento das terras, dando origem a vários bairros que hoje integram o município de Pinhais. O nosso amigo Antonio Tomaz, conta-nos a seguinte estória de Humberto Scarpa:
"Não conheci o Sr. Guilherme Weiss pessoalmente, mas muito de ouvir falar. As casas de Curitiba, mais de a metade são cobertas com telhas produzidas em sua Cerâmica.
Porém conheci o seu genro, o Sr. Umberto Scarppa. Era italiano e tinha uma comenda de lá. Comendador Umberto Scarppa. Umberto com "U" porque em italiano era e ainda é assim. Scarppa quer dizer literalmente sapato. O mais usado é "scarppe", por serem dois. Scarppe é o plural de scarpa. Scarppini, quer dizer sapatinhos.
O comendador Scarppa foi quem liquidou a cerâmica, loteou as terras e as vendeu. Era mais da metade do município atual de Pinhais. Na época, Pinhais era apenas distrito de Piraquara. O seu desmembramento só ocorreu em 1.990.
De uma feita estive na Imobiliária do Sr. Umberto. Ficava na Trav. Oliveira Bello 67, esquina com a Praça Zacarias. A tal imobiliária era só para gerenciar as vendas das aludidas terras. No mesmo escritório funcionava o Consulado Honorário da República de El Salvador. O Comendador Scarppa era o cônsul, claro. Conversamos um pouco e lá pelas tantas, bateu-me a curiosidade e perguntei-lhe se haviam muitos salvadorenhos em Curitiba. A resposta foi tão antológica que eu nunca esqueci e isso já está pra lá dos 40 anos: "- Parece que tem um dentista em Ponta Grossa..."
Era cônsul para um que "parecia" existir... "
O PRESENTE ARTIGO DE MINHA AUTORIA FOI PUBLICADO NO BOLETIM Nº 50 - JULHO/2012 DA SOCIEDADE NUMISMÁTICA PARANAENSE.