sábado, 13 de janeiro de 2018

A família imperial pelas fábricas de erva mate de Curitiba

  • Engenhos Tibagi e Iguaçu, no bairro Batel, de propriedade de Ildefonso Correia Pereira, o Barão do Serro Azul. (Foto: Reprodução do livro Álbum de Memórias: A trajetória das indústrias do Paraná)
  • A Mansão das Rosas, em 1880, propriedade do industrial do mate Francisco Fasce Fontana. Na foto, não está a Princesa Isabel. (Foto: Acervo Casa da Memória)
  • O Passeio Público na inauguração, em 1886. Fontana aplicou uma técnica de redução de banhados em seu território e logo após fez o mesmo no terreno onde seria o parque. (Foto: Acervo Casa da Memória)
  • Engenhos Tibagi e Iguaçu, no bairro Batel, de propriedade de Ildefonso Correia Pereira, o Barão do Serro Azul. (Foto: Reprodução do livro Álbum de Memórias: A trajetória das indústrias do Paraná)
  • A Mansão das Rosas, em 1880, propriedade do industrial do mate Francisco Fasce Fontana. Na foto, não está a Princesa Isabel. (Foto: Acervo Casa da Memória)


“Todos juntos, menos Antônio, partimos às 4 horas para a fábrica de mate do Fontana, oriental [como chamavam as pessoas vindas da Banda Oriental do Uruguai], filho de italianos e casado com uma filha do Dr. Ermelino. É bem inteligente, seu mate muito bem beneficiado. Tem convertido em verdadeiras plantações de flores e de bonitas árvores (muitas delas frutíferas) um verdadeiro brejo que rodeava a antiga fábrica de mate que Papai conheceu neste lugar”, assim contou a Redentora a seus pais, D. Pedro II e Tereza Cristina, em uma carta-diário. 

A fábrica ficava onde hoje é a avenida João Gualberto. O local descrito no início do texto é bem próximo do Passeio Público, inaugurado e aberto ao público somente dois anos depois, em 1886 (Foto 2). Fontana aplicou uma técnica de redução de banhados em seu território e logo após fez o mesmo no terreno onde seria o parque, às suas próprias custas, por ser amigo do presidente da província, Visconde de Taunay (saiba mais). Da Mansão das Rosas, residência do industrial (Foto 1), sobrou somente o portal, que hoje é entrada de um conjunto de edifícios em frente ao Colégio Estadual do Paraná. A demolição da propriedade ocorreu em 1974¹.
  
A Gazeta do Rio de Janeiro descreveu com detalhes como era feito o processamento do mate. “Estes senhores possuem dous estabelecimentos juntos um do outro, organizados e construídos pelo laborioso industrial o Sr. Francisco Fasce Fontana, ha seguramente tres anos e meio. Um dos estabelecimentos é movido a vapor por um motor da força de 42 cavallos, e outro por motor hydraulico. E' grande o desenvolvimento do primeiro, que, trabalhando dez horas, prepara diariamente mais de mil arrobas de matte, prompto para a exportação. O segundo, em vista do motor, que, como já se sabe, é hidráulico, apenas póde beneficiar de 300 a 400 arrobas diarias, não sendo tão perfeito como o primeiro.” A máquina a vapor seria uma invenção do próprio Fontana. 

Suas altezas percorreram a “esplendida chacara que rodeia as fabricas, cortadas por innumeros rios, divididos de proposito, alem de magnificos jardins nas ilhas pitorescas, que tornam agradavel e aprazivel aquella parte da cidade. N'esta chacara encontram-se flôres e arbustos rarissimos, e que só se conhecem na Europa e nas repúblicas do Prata, pela excellencia do clima. O do Paraná nada fica devendo áquelle”, relata o jornal. 

Fontana teria oferecido licor de mate aos augustos viajantes, preparado na própria fábrica, “e que é excellente”, elogia o correspondente. “O Sr. conde d'Eu significou ao intelligente industrial o Sr. Fontana o contentamento e a satisfação com que se retirava, declarando que não esperava encontrar alli um tão importante estabelecimento”, continua. Após esta visita, com autorização de Dom Pedro II, o engenho foi batizado de Fábricas Imperiais Fontana.  

A família também visitou os engenhos de Tibagi e Iguaçu (foto 3), no Batel, de propriedade de Ildefonso Pereira Correia – onde hoje está a pracinha do Batel. Ele ficaria mais conhecido posteriormente pelo nome de Barão do Serro Azul. Recebeu este título da própria princesa Isabel, em 1888. 

O repórter carioca manifestou claramente sua preferência pela fábrica dos Fontana: “Também o Sr. commendador Ildefonso Corrêa tem uma bem montada fabrica de preparar herva matte; porém um pouco inferior á dos Srs. Silva, Irmão & Fontana, em aparelhos e modo de preparar a materia prima”. 

Já a princesa Isabel, dias depois em seu diário, escreveria diferente aos pais. “Fábrica de beneficiar mate do Comendador Ildefonso Pereira Correia: Pareceu-me ainda melhor instalada do que a do Fontana. Esta fábrica está um pouco fora da cidade [o Batel era considerado rocio, lugar afastado do centro], e aí perto há um altozinho aonde fomos para gozar a vista. Não se podia ver nada de mais lindo e aprazível. Ao longe, S. José dos Pinhais, campos, copas de pinheiros. Mais perto, casinhas pitorescas, culturas, Curitiba.” 

Por Michelle Stival da Rocha – Jornalista da Diretoria de Comunicação da Câmara Municipal de Curitiba

Nenhum comentário:

Postar um comentário