Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu em Salvador/BA em 21 de junho de 1830 (portanto, há exatos 194 anos) e faleceu em São Paulo/SP no dia 24 de agosto de 1882.
Nascido de mãe negra livre e de pai branco, foi, contudo, segundo todas as fontes que consultei, feito escravo aos 10 anos e permaneceu analfabeto até os 17 anos. A mãe vendia doces nas ruas de Salvador; o pai, um fidalgo português de uma rica família baiana, estava arruinado e vivia na ociosidade: viciado em jogos de azar e amante da boa vida, explorava a pobre mulher, arrancando-lhe os míseros e parcos recursos que ela juntava vendendo quitutes.
Um dia, perdido em dívidas de jogo, o pai, excepcionalmente carinhoso com o filho, procurou pelo pequeno Luiz Gama, que, com a permissão da mãe, o acompanhou em um suposto passeio. Engano! Rumaram para o cais, onde, num navio, o pai o vendeu como escravo; o menino foi posto a ferros, com outros negros que estavam sendo remanejados do Nordeste. E, como escravo, Luiz Gama foi levado para o Rio de Janeiro e, depois, para São Paulo, tendo sido comprado pelo alferes Antonio Pereira Cardoso, proprietário de uma fazenda no município de Lorena.
Rábula (pois não era formado em Direito) e jornalista, Gama conquistou judicialmente a própria liberdade e passou a atuar na Advocacia em prol dos cativos, sendo, já aos 29 anos, autor consagrado e considerado por muitos “o maior abolicionista do Brasil”, tendo conseguido libertar mais de 500 escravos. Sim, ele bem que tentou cursar Direito na Velha Academia, mas, apesar da amável acolhida que teve por parte dos estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, Luiz Gama não tinha, ainda, uma base sólida acadêmica (formação escolar necessária) que lhe permitisse o ingresso no Curso de Direito (lembremo-nos de que ele foi alfabetizado aos 17 anos.
E durante apenas um ano, pela generosidade do estudante Antônio Rodrigues de Araújo, que havia se hospedado na fazenda de Antônio Pereira Cardoso, onde ele, Luiz Gama, era escravo), pois, além do Português, era preciso que conhecesse Latim, Francês e Inglês e, conforme referido acima, ele há pouco havia aprendido a ler e a escrever. Contudo, Luiz Gama foi aceito como ouvinte e, assim, cursou brilhantemente a Academia, frequentando assiduamente a biblioteca, por muitos anos, até absorver todos os ensinamentos necessários à sua formação, tornando-se um autodidata culto e talentoso. É falsa, portanto, a informação de que Luiz Gama não foi aceito no Largo de São Francisco por ser negro e ex-escravo ou que a aristocracia cafeeira da época não lhe permitiu, pelos mesmos motivos, o ingresso à faculdade; isso configura uma injustiça para com a história da veneranda Academia de Direito do Largo de São Francisco, onde mais se lutou pela abolição da escravatura.
Ao lado de José do Patrocínio (o “Tigre da Abolição”) e de Machado de Assis (este com participação discreta e irônica, através de alguns de seus contos), Luiz Gama foi um dos raros intelectuais negros no Brasil escravocrata do século XIX, o único autodidata e o único a ter passado pela experiência do cativeiro.
A Loja Maçônica América foi fundada por Luiz Gama e Ruy Barbosa; dela também teria feito parte Joaquim Nabuco (que omitiu seu passado maçônico). Quando de sua morte, era Luiz Gama o Venerável Mestre da instituição. Antonio Góes Nobre, fundador da Loja “Luiz Gama”, foi iniciado na Loja Maçônica 7 de Setembro X Nº 2126, onde conheceu Luiz Gama, com quem, desde logo, travou relações de amizade. A Loja "Luiz Gama" foi fundada por obreiros de outras Lojas maçônicas e formada por homens negros e livres pela Lei da Alforria, assinada pela Princesa Isabel. Foram iniciados 25 negros na referida Loja Maçônica.
Luiz Gama morreu em decorrência da diabetes, aos 52 anos de idade.
Luiz Gama é patrono da Cadeira n.º 15 da Academia Paulista de Letras e patrono, também, de uma das principais Lojas Maçônicas do País, a A.R.L.S. Luiz Gama 0464, que sobreviveu a inúmeros obstáculos e períodos de turbulência e perseguição pelos quais a Maçonaria Brasileira passou – especialmente entre os anos 30 e 50, no século XX.
A vida pública de Luiz Gama é tentadora para a criação de uma memória de vítima e/ou herói mistificado, mas isso desprezaria o processo histórico: foi um intelectual acima de tudo, capaz de elaborar e irradiar críticas aos valores e às instituições de seu tempo.
Numa reescrita tardia da história, sua designação como rábula mudou. Em 3 de novembro de 2015, Luiz Gama recebeu da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), 133 anos após a sua morte, o título de advogado. Em 17 de janeiro de 2018, foi publicada no Diário Oficial da União (DOU), a Lei n.º 13.629, que declara o advogado Luís Gonzaga Pinto da Gama, Luiz Gama, Patrono da Abolição da Escravidão no Brasil. Também na mesma data, foi publicada a Lei n.º 13.628, que inscreve o nome de Luiz Gama no Livro dos Heróis da Pátria. Ambas as leis foram sancionadas um dia antes, 16 de janeiro, pelo então presidente Michel Temer.
Em 2023, no terceiro mandato do presidente Lula, foi instituído o Prêmio Luiz Gama de Direitos Humanos pelo Governo Federal, por intermédio do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. O Governo Lula revogou a "Ordem do Mérito Princesa Isabel", instituída pelo então presidente Jair Bolsonaro.
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