terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Boqueirão

Boqueirão: a fazenda que se transformou num dos maiores e o mais populoso bairro de CuritibaUma vista das terras do Boqueirão

As terras que formavam a Fazenda Boqueirão, de 1.000 alqueires, ou seja, vinte mil metros quadrados compunham-se de extenso banhado, campo de pasto e mata nativa. Um documento datado de 1856 dava como proprietário o Cel. Manoel Antonio Ferreira, filho do Sargento-Mor Antonio José Ferreira e de Maria Caetano de Jesus. Seu avô, José Ferreira vindo de Portugal, com sua esposa Tereza Araujo foi o 1º membro da família a aportar no Brasil. Esta propriedade abrangia grande parte do atual bairro do Xaxim, tendo como uma das divisas, a velha Estrada de São José dos Pinhais, atualmente a Rua Francisco Derosso, único acesso para a sede da fazenda, que tinha a enorme moradia e instalações, nos fundos no atual supermercado Big.

Com a morte do Cel. Manoel Antonio Ferreira, em 1885, a grande propriedade foi desmembrada em três partes: o maior quinhão, com 960 alqueires ficou com o filho Major Theolindo Ferreira Ribas; uma parte de 38 alqueires ficou com a filha Ubaldina Ferreira de Sá Ribas e uma pequena parcela de 2 alqueires foi doada à Amélia Ferreira do Valle, ligada a família por laços afetivos.
O Major Theolindo e sua esposa Januária de Souza Guimarães Ribas mantiveram a sua parte na fazenda, por mais de 20 anos. O Major era uma pessoa muito reservada, de poucas palavras e dificilmente dialogava com os vizinhos, já, Dona Januária era benquista, por todos os moradores, agregados da fazenda e principalmente pelas crianças, para as quais sempre dava algumas moedinhas.

Talvez motivado pela enfermidade da esposa, em 1910, o Major Theolindo vendeu a sua parte da fazenda para o Dr. Victor Ferreira do Amaral, seu filho Homero Ferreira do Amaral e seu genro Alexandre Hortey Gutierez. O valor da venda, segundo escritura foi de 50 contos de réis. Em 1933, a família Ferreira do Amaral e a família Gutierez fundaram a Cia. Territorial Boqueirão, com a finalidade de lotear e comercializar os 960 alqueires, o que possibilitou a criação de 12. 000 mil lotes urbanos de 15x50 e cerca de 150 lotes coloniais, pequenas chácaras, de 02 alqueires cada. As vendas começaram em 1934 e foram encerradas após 50 anos.

Na primeira década do lote-amento, muitas foram as dificuldades para o comercialização, pois naquela época a Av. Marechal Floriano terminava na esquina da Av. Guairá, atual Av. Presidente Kennedy, nas proximidades do Hospital Nossa Senhora da Luz.

Para trazer moradores à região, a Cia. Boqueirão fez a doação de 33 alqueires para a Fazenda Nacional, na condição de se construir um grande quartel militar, cujas obras foram dificultadas pela falta de acesso ao local. A única alternativa de acesso era pela Estrada do Uberaba, atual Av. Salgado Filho e por uma ruela aberta na propriedade do comerciante Antonio Andreghetto, que transpunha o Rio Belém por uma rústica ponte de madeira, seguindo pelo traçado da rua nº 32, atual Rua Profª Joanita Bernet Passos, já que neste local o banhado era menos encharcado, podendo-se assim chegar às obras do quartel.

Somente na década de 1940, os herdeiros de Antonio Parolim e de Roberto Hauer decidiram abrir a Av. Marechal Floriano até onde hoje fica o terminal Hauer, início do loteamento Boqueirão. O exército teve grande participação na abertura da avenida. As primeiras vendas foram ao preço de 01 conto de réis cada lote urbano, sendo 20 mil réis de entrada e o restante em 140 prestações mensais de 07 mil réis, sem juros e sem correção. Poucas foram as pessoas que adquiriram os lotes para construção imediata de seus moradias, principalmente pela falta de qualquer melhoria pública no local. As ruas eram abertas pelos próprios moradores. Uma grande parte dos lotes coloniais foram adquiridos pela comunidade Menonita, que se dedica a produção de leite e atividades hortigranjeiros. Muitos se instalaram na atual Rua Cristiano Strobel, conhecido como Rua das Peras, pela grande quantidade de árvores dessa fruta plantadas em frente às propriedades.

Além, da grande doação feita à Fazenda Nacional, muitas foram as doações feitas ao município de Curitiba: Largo do Carmo onde está o Santuário Nossa Senhora do Carmo e a Rua da Cidadania; Praça da Colonização Menonita; área do terminal do Boqueirão; área onde foi construído o núcleo Moradias Meia Lua; Praça Joaquim M. de Almeida Torres (passarela); área do Centro de Saúde 24 Horas e Praça Pref. Lineu Ferreira do Amaral; área onde funciona o 3º Distrito Rodoviário Municipal; área onde está o Vila Hauer o Boqueirão Futebol Clube; área onde está o Nacional Futebol Clube e a Escola Municipal Wenceslau Braz; área onde foi construído o Colégio Victor do Amaral; área da Escola Municipal Lapa; área das Praças Florisval Campello e Padre Agostinho Legros e finalmente a área sob o viaduto da linha férrea. Foi ainda preservada grande parte da mata nativa, no local da velha moradia e sede da fazenda, proximidades do Big.

Além das propagandas diárias em jornais e rádios da cidade, enormes painéis fixados nos principais pontos da capital diziam das facilidades e vantagens na aquisição dos terrenos no Boqueirão. Na esquina da Av. Marechal Floriano, com a Av. Presidente Kennedy, existia um enorme painel, que mostrava um garoto colocando uma moeda de 200 réis (vinte centavos) num cofrinho, com os dizeres "economize 200 réis por dia e adquira um lote no Boqueirão". Outro dizia: "uma nova cidade está surgindo e 6 quilômetros da Rua XV de Novembro, vá ver os maravilhosos terrenos do Boqueirão e crie galinhas e cuide da sua horta. Lá no Boqueirão, a horta quase brota sem plantar e as galinhas nascem quase espontaneamente".

O cemitério do Boqueirão foi construído pela comunidade Menonita e posteriormente transferido para a Prefeitura, que fez sua ampliação.

A população atual localizada dentro dos limites da Fazenda Boqueirão é superior a existente em mais de 70% dos municípios do Paraná e poucas são as cidades paranaenses que possuem serviços públicos iguais aos existentes no Boqueirão.
Colaboração do ex-vereador João Derosso.

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