quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

15/11/1857 - Nesta data, falecia em Morretes, Fernando Amaro de Miranda, considerado o primeiro poeta do Paraná.

 15/11/1857 - Nesta data, falecia em Morretes, Fernando Amaro de Miranda, considerado o primeiro poeta do Paraná.


Pode ser uma imagem de 1 pessoa, barba e texto que diz "GABRIEL SOARES REPAIR & COLOR"Publicação do Jornal Commércio do Paraná em 09/01/1862:
" AS POESIAS DE FERNANDO AMARO DE MIRANDA:
Toma este jornal (COMMÉRCIO DO PARANÁ), a iniciativa de dar publicidade a uma parte das poesias inéditas de FERNANDO AMARO DE MIRANDA, para que se não deixem ficar no olvido (*no esquecimento) os trabalhos literários d'um moço desafortunado, que por único lenitivo a seus males achou a poesia para chora-los mais docemente.
Os seus versos, em que a arte, que ele nunca entendeu, se acha tão descurada, revelam ainda assim em sua notável singeleza a alma d'um poeta, e FERNANDO AMARO o era realmente!
O verdadeiro poeta não pode ser filho da arte; a arte dá forma e regularidade, mas é impotente para substituir o gênio, doação feita por Deus aos seus escolhidos, a quem parece haver criado para inocular no coração da humanidade a crença de suas sublimes
emanações.
Eis aqui porque de tempos a tempos se nos anuncia o aparecimento de grandes génios, nascidos entre as classes mais desajudadas da fortuna, parecendo protestar contra o monopólio de alguns frequentadores de academias querem fazer das ciências que muitas vezes nem chegam a compreender. E que Deus nem sempre escolhe o homem de fortuna para eleva-lo á grandeza real; frequentemente se lembra dos pequenos para o mesmo fim. Jesus Cristo apareceu no mundo dando-nos esse maravilho exemplo; como homem, veio a luz sobre as palhas d'uma manjedoura. O sábio por excelência, o Redentor da humanidade, devia por esta forma principiar a convencer os homens, de que os seus sufrágios nada eram diante da palavra de Deus, e que a inteligência era o eco da sua voz".
Não há aí quem ignore que o maior dos poetas romanos, Virgílio foi filho d'um obreiro, que Phedra foi escravo de Augusto, que Rousseau foi servente de diversas casas, e que Shakespeare guardou cavalos as portas dos teatros de Londres.
No entretanto a estes homens, como a tantos outros que tem espantado o mundo com o seu saber, quis Deus colocar acima de muita gente que antes lhes negava o pão de cada dia.
FERNANDO AMARO talvez não granjeasse um nome tão distinto como qualquer dos citados; mas poderia ocupar um lugar importante entre os poetas de seus país, se não gemesse continuamente sob as influências do seu nascimento precário, e não fosse chamado na flora dos anos ao supremo tribunal, quando lutava com afinco para romper as trevas que lhe ocultavam o caminho da gloria.
Por algumas das poesias que brevemente virão à luz conhecerão os amadores deste gênero de literatura que FERNANDO AMARO, apesar de sua incontestável modéstia, possuía um estro inventivo e harmonioso, e não deixaria o mundo tão cheio de desgostos, e no meio de tanto esquecimento se esta sociedade em que vivemos, quase sempre algoz da pobreza, convertesse a sua perniciosa veleidade perante as misérias alheias em lembranças de bem fazer.
Paranaguá, pátria do poeta, tão míope simulou estar a seu respeito, que nunca o enxergou para auxilia-lo com a mais leve animação. Verdade é que o pobre cantar, naturalmente altivo de caráter, não pedia nada a quem podia dar-lhe, e hoje necessitasse imitar a raposa da fabula, do contrário quem se concede aos pobres a independência e nobreza de sentimentos.
Aí ficam, pois, escritas essas poucas linhas a respeito das poesias de FERNANDO AMARO, não como uma crítica, que tão longe não vão nossas vaidosas pretensões; mas como comemoração saudosa de um moço cuja amizade nos honramos de gozar durante sua vida, e que depois da morte muito respeitamos."
I.S.
Fatos que foram notícias em 1862 (Luiz Alves Siqueira) - Jornal Commércio do Paraná – 1862
Foto e colorização; Acervo Gabriel Soares – Repair & Color
Pesquisado por AlmirSS – IHGP - 2021

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