quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Casa do Jornaleiro - Prédio Anita Ribas

 

Casa do Jornaleiro - Prédio Anita Ribas


Casa do Jornaleiro - Prédio Anita Ribas - fachada na Rua Saldanha Marinho
Casa do Jornaleiro, fachada da Rua Saldanha Marinho

Casa do Jornaleiro - Prédio Anita Ribas - fachada na Rua Cruz Machado
Casa do Jornaleiro, fachada da Rua Cruz Machado


A Casa do Jornaleiro, no Prédio Anita Ribas, tem duas frentes; uma localizada na Rua Saldanha Marinho e outra na Rua Cruz Machado.

O prédio foi construído, em terreno doado pelo estado, com donativos das pessoas, físicas e jurídicas.

No dia 17 de maio de 1942 o jornal “O Dia” noticiava o lançamento da campanha para a construção, uma iniciativa patrocinada pela Dona Anita Ribas, esposa do interventor Manoel Ribas. Imagino que foi inspirada, ou até mesmo incentivada, por Dona Darcí Vargas, esposa do ditador Getúlio Vargas e patrocinadora de iniciativas semelhantes no Rio de Janeiro (então capital do país) e em Porto Alegre. Na mesma notícia o jornal informava que já havia sido arrecadado 7:418$800 referente a venda de mesas no “Casino do Aú” na noite anterior. Sessenta mesas a 50$000 cada mais 4:418$800 já em banco referentes a outras doações.

Depois disso houve uma grande mobilização de arrecadação de fundos, com contribuições de empresas, pessoas físicas, clubes, times de futebol, escolas, igrejas, sindicatos, associações beneficentes e outros. O pessoal promoveu rifas, festas, bailes, enfim, uma grande mobilização em prol da causa. Devidamente incentivados pelos jornais da época.

O lançamento da pedra fundamental foi no dia 25 de dezembro de 1942.

Em um artigo publicado pelo mesmo jornal “O Dia” no dia 26 de setembro de 1943, responde a uma pergunta formulada pelo jornalista de como os benefícios  da Casa do Jornaleiro seriam distribuídos, a Dona Anita Ribas disse o seguinte:

“    Desde há muito já vimos cuidando dessa questão, procurando, através de recurso de que dispômos, estabelecer as normas que orientarão as nossas atividades no particular arguido.
Em principio, distribuiremos os benefícios da instituição, de acôrdo com as necessidades de cada beneficiado. Entre nós, dentre os jornaleiros que formam um total de cento e cincoenta, existem aqueles que são completamente desamparados, os que possuem família e contribuem para a sua manutenção e os que são manejados pelos responsaveis, ou melhor, esclarecendo, por eles são explorados, encarregando-se, em alguns casos, do sustento de pais pouco escrupulosos.
     No primeiro caso, os menores desamparados terão abrigo completo na Casa do Jornaleiro. Serão mantidos pela instituição, recebendo moradia, alimentação e educação. O seu ganho monetário nas atividades externas será devidamente controlado, sendo uma parte destinada à Caixa da Casa do Jornaleiro, outra aos seus gastos pessoais e ainda outra recolhida à Caixa Economica, assegurando-lhes uma reserva que muito util lhes será na maioridade. No segundo caso, isto é, dos menores que vivem com os seus pais e contribuem para a manutenção da família, terão eles direito à alimentação e desfrutarão os serviços médicos, dentários, etc., direito esse extensivo a todas as pessoas da sua familia.
     Finalmente, no terceiro caso, tomaremos todas as providências no sentido de que os meninos não sejam explorados, adotando as medidas que as circunstancias exigirem. …”

Em seguida o reporter pergunta sobre o plano de construir uma nova ala do prédio, com frente para a Rua Cruz Machado e a Dona Anita disse:

“    Os planos, agora se orientaram no sentido da construção de uma nova ala para o predio, aproveitando-se dessa maneira, o restante do terreno que o governo do estado doou à instituição. Nesse sentido, já foi encarregado um engenheiro da confecção do projeto, o qual estará pronto dentro de breves dias. Essa nova construção destina-se a aluguel, para escritorios e consultorios medicos e dentarios ou para outro fim que, na ocasião oportuna, as circunstancias indicarem. A finalidade principal e unica que temos em mira, é proporcionar à Casa do Jornaleiro, uma fonte de renda permanente, que será representada pelos alugueres que a ela projetada proporcionará. A parte em vias de conclusão, atende perfeitamente às necessidades da instituição, de forma que a maneira mais pratica e util de desfrutar o restante do terreno, é exatamente a que vamos adotar.
     No dia 15 de novembro, pretendemos lançar a pedra fundamental dessa nova ala, …”

A ala do prédio voltada para a Saldanha Marinho foi inaugurado no dia 25 de dezembro de 1943.

O mesmo jornal “O Dia” no dia 28 de dezembro de 1943 publica fotos na primeira página e outra foto e artigo na página oito falando sobre a inauguração.

A inauguração começou com uma concentração dos jornaleiros que saíram em desfile até a Catedral, onde foi celebrada missa solene. Depois “os jornaleiros sempre em fórma, dirigiram-se para a séde do estabelecimento, levando um grande cartaz onde se liam palavras de agradecimento ao povo curitibano”.
Depois disso ocorreu hasteamento da bandeira, benção do edifício e os discursos de praxe. Em seguida “foi servida aos presentes saborosa chicara de café, do qual participaram os empregados da limpeza pública de Curitiba”. E por último “realizou-se então novo desfile dos jornaleiros pelas ruas da cidade. Todos uniformizadoos, com muito garbo e disciplina, percorreram diversas ruas da cidade, sob o comando do snr. Marciano Marques, inspetor dos jornaleiros”.

Segundo conta Nicolle Taner de Lima em sua dissertação de mestrado a “Casa do Pequeno Jornaleiro existiu entre os anos de 1942 e 2002. Antes uma instituição civil, em 1962, passou para a competência estadual. O Governo do Estado do Paraná manteve a mesma dinâmica organizacional da administração até os ano de 1985. Em fevereiro desse ano, a instituição iniciou um processo de desinternação dos meninos, e em dezembro, a Casa começa a pertencer à Prefeitura de Curitiba. A partir desse momento, os meninos não são mais internos, mas continuam a atividade da venda dos jornais. Até o ano de 1992, que traz além da proibição do trabalho de jornaleiro, cursos e oficinas de vime, cerâmica, judô, computação – e a presença de meninas. Até o ano de 2002, ano da desativação da instituição, centenas de jovens e adolescentes cursaram essas oficinas.”

Atualmente está do jeito que vocês veem nas fotos. Lamentável. Não sei qual esfera do Estado é proprietária do imóvel, mas é muito descaso. O prédio deveria ser usado para alguma finalidade social de amparo ao menor carente, conforme o desejo de muitas pessoas que no passado mobilizaram-se para erguê-lo.

Referências:

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