sábado, 25 de fevereiro de 2023

CONHECENDO AS ORIGENS DA FAMÍLIA MARCHIORO DE CURITIBA

 CONHECENDO AS ORIGENS DA FAMÍLIA MARCHIORO DE CURITIBA

"Nascido na Ástica, província de Vicenza na região do Venêto, Itália, descendia de família nobre e seu avô materno era o conde Scalabrini, seus pais, Giacomo Marchioro e Giulia Scalabrini Marchioro, deixaram na Itália tudo o que possuíam e vieram para o Brasil para não perder seus filhos nas cruentas guerras internas, que eram constantes nesta época, quando a Itália, em permanente convulsão procurava a sua unificação.
Havia receio de conflitos com a Etiópia, Somália e quando em 1878 morreu o Vítor Emanoel II e o Papa Pio IX, mais ainda se agravou a vida política da nação. Chegara a hora de procurar terras onde se pudesse viver com tranqüilidade, embora deixando a família e bens. Alexandre, o último filho do casal tinha 11 meses quando desembarcou no Brasil em 15 de dezembro de 1883, fixando-se em Bento Gonçalves no Rio Grande do Sul.
Naquele época não havia escola na cidade, mas dona Giulia, sua mãe, com educação aprimorada, encarregou-se da educação dos filhos, transmitindo-lhes a sua formação européia. Orientando-os no sentido do trabalho, muitas vezes árduo, pois foram obrigados a começar vida nova em terra estranha, desconhecendo a língua e os costumes da terra, que adotaram como sendo sua.
Os filhos mais velhos: Pietro Giusepe, Maria e Isidoro ajudaram o pai a reorganizar a vida. Assim, em meio a dificuldades e sacrifícios, cresceu o pequeno Alexandre. Residiu, na época, juntamente com muitas outras famílias italianas que haviam chegado ao Brasil, anteriormente nas imediações de Bento Gonçalves, constituído num grupo de estrangeiros peninsular que tomou o nome de Borghetto. Havia estreita amizade entre as famílias Marchioro e Gusi, pertencentes ao núcleo.
Alexandre casou-se com Líbera Gusi, filha de Catarina Pizzato Gusi e Santo Gusi que era industrial. Naquele época iniciava-se, então, no Brasil a cultura da vinha nas encostas do planalto gaúcho com cepas trazidas pelos italianos procedentes de Vicenza. Três cidades formavam o chamado “polígono do vinho”: Caxias, Fordacuí e Bento Gonçalves. Com as suas excelentes costas de uvas e sua prática em matéria de preparo de vinhos, iniciou-se o fabrico em moldes domésticos para consumo próprio; aos poucos evoluíram para a produção comercial. E hoje o Rio Grande do Sul conta com uma grande indústria vinícola, mais ou menos 80% da produção nacional, pertencente ainda a muitos descendentes daquelas primeiras famílias.
Alexandre, dinâmico e empreendedor, por volta de 1903 associou-se a uma dessas indústrias, juntamente com a família Michelon, o que lhe proporcionou a oportunidade de viajar, pois era o encarregado de distribuir a produção da pequena empresa. Conheceu, então, o Paraná. Viajava a cavalo e com outros tropeiros, durando as viagens de 5 a 6 meses.
De volta de suas viagens, Alexandre relatava suas experiências e manifestava seu desejo de fixar residência em Curitiba. Realizou-se a viagem quando o casal já tinha a sua filha Julia Catarina, com 2 anos. Vieram por mar e desembarcaram em Paranaguá. Alexandre estabeleceu-se em Curitiba com uma casa comercial, primeiramente no Batel e depois na Praça Osório à Rua Riachuelo.
Em 1914 comprou um terreno na Água Verde e fundou uma indústria. Progrediu, ampliou os seus negócios, viajando freqüentemente à Argentina para adquirir matéria-prima para sua empresa que era uma fábrica de móveis de junco e de vime, fábrica de chapéus, vassouras, escovas e artefatos de madeira. Foi a primeira fábrica deste ramo no estado do Paraná. A firma que ele fundou ainda existe seguindo a tradição legada pelo seu fundador, nas pessoas de seus filhos e netos. Por volta de 1920 não existia nenhuma espécie de assistência aos trabalhadores. Isso levou o jovem industrial a iniciativa de pessoalmente dar assistência aos seus operários e às suas famílias. [...]
Reunia com freqüência seus operários para comemorar datas festivas. Gostava de música e ele mesmo ensaiava um coral formado por rapazes e moças da fábrica, para as festas religiosas da igreja da Água Verde. Em 14/07/1914, com um grupo de desportistas, fundou o “Savoya Futebol Clube”, (depois mudou para E.C. Água Verde, depois para E.C. Pinheiros e, em 1989, uniu-se ao Colorado E.C, dando origem ao Paraná Clube).
Foi o seu primeiro secretário e desde então, membros de sua família, fazem parte de sua diretoria. Era sócio benemérito das “Associadas Giuseppe Garibaldi” e instituição organizada “Fragli italiani morandi al Paraná”. Nós temos aqui um diploma de associado dele na época do ingresso. Essa sociedade ainda hoje existe e está localizada no Alto São Francisco, junto das ruínas dos jesuítas. Desenvolveu nesta instituição, igualmente, grandes atividades comunitárias.
Quando da Proclamação da República uma lei foi promulgada, tornando cidadãos brasileiros todos aqueles estrangeiros que não declararam a sua vontade de continuar com a naturalidade de origem. Em 1941, Alexandre, que sempre dizia ser o Brasil parte do seu coração, requereu o seu título declaratório de naturalidade brasileira, deferido e assinado pelo então presidente da República o Dr. Getúlio Vargas.
Alexandre foi um dos primeiros moradores do bairro do Água Verde e viu o bairro crescer e sempre esteve ao lado daqueles que trabalharam pelo seu engrandecimento. Qualquer iniciativa de vulto era certa a sua presença dando-lhe apoio e orientação. Muitas vezes foi convidado a participar de atividades políticas. No entanto, a política nunca o atraiu. Preferia sempre trabalhar anonimamente em benefício dos que o cercavam e procuravam.
Constituiu numerosa família. Teve o casal Alexandre e Libera, nove filhos: Julia Catarina, Rogério, Reinaldo, Rolando, Alice, Alzira, Arlindo, Zelinda e Nelson e deixaram mais de 70 descendentes, entre filhos, netos, bisnetos e tataranetos, agora. Faleceu Alexandre Marchioro aos 70 anos no dia 04/07/1953, uma semana antes de completar suas bodas de ouro
Quando veio do Rio Grande do Sul e fixou-se na Água Verde, havia ali poucas casas. Toda a região era coberta de matas e campos, nem havia calçamento. Nunca poderia lhe supor que, precisamente, neste lugar, 60 anos depois se ia inaugurar uma praça com o seu nome. Tal fato ocorreu no dia 5 de março de 1971, concretizando o desejo de vereador, de alguns vereadores. Era prefeito em Curitiba o Dr. Omar Sabbag...
Bem, em suma esta é a biografia de papai. Eu queria só esclarecer, ou acrescentar, que fazendo a biografia de Alexandre Marchioro, eu queria ressaltar também a figura de Libera Gusi Marchioro. Porque sempre se diz que ao lado de um homem de sucesso sempre tem uma mulher de valor. E minha mãe, enquanto papai era industrial e sempre foi industrial, cuidava sozinha da família com 9 filhos e cuidava de cerca de 60 a 70 moças que trabalhavam na indústria. Por isso, então, o mérito e a grandeza do trabalho que meu pai fez está associado também ao trabalho de minha mãe. CM: ... com toda certeza."
(Texto extraído de: pergamum.curitiba.pr.gov.br )
Paulo Grani

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