sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Praça Generoso Marques: uma história contada por meio da fotografia

 Praça Generoso Marques: uma história contada por meio da fotografia

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A fotografia acima registra as cores e os traços da Praça Generoso Marques, em frente ao Paço da Liberdade. Um dos patrimônios históricos mais preservados de Curitiba, a Praça ainda mantém, em seu bojo e ao seu redor, resquícios do passado curitibano, que se misturam com construções modernas. Assim, embora num mesmo espaço, a trajetória da cidade está representada na sua arquitetura, que revela não só as diversas faces de outros tempos de Curitiba, mas também a forma como ela lidou com a sua memória.  

  Quem anda nesse patrimônio da cidade, um espaço para pedestres e ciclistas, com canteiros de flores e bancos de madeira, não imagina, porém, que ali, um dia, já foi bem diferente. Bem diferente mesmo. A começar, o nome da Praça não era este — nem de “praça” era chamada”; da mesma forma, ela não era um ponto turístico ou residência de notáveis da cidade; e nem o Paço existia.

1800 e alguma coisa até 1916

    Não existem fotos da Praça Generoso Marques antes de 1900, justamente porque a fotografia se desenvolveu aqui somente desse período em diante. Mas informações há. Segundo a historiadora paranaense Roseli Boschilia, até 1874 o terreno da Praça era chamado de “Largo da Cadeia”, pois ficava nos fundos da Cadeia Pública, cuja frente estava voltada à Praça Tiradentes (“Largo da Matriz, na época). Não era uma designação oficial, porém comumente utilizada.


   O espaço de chão batido do largo, com umas gramíneas e árvores aqui e ali, foi rebatizado em 1874. Nesse ano, era inaugurado o Mercado Municipal, que ficava exatamente onde hoje está o Paço. Por conta disso, o terreno em frente passou a se chamar “Praça do Mercado”. Desde então, o local foi um ponto de encontro de pessoas e paragens de cavalos e mulas, que vinham à região por conta do Mercado.


   Da década de 1890 até 1916, a Praça do Mercado se tornou “Praça Municipal”, provavelmente porque ganhou maior importância no contexto curitibano. Ao redor dela, já havia inúmeros comércios, principalmente de imigrantes, como a Casa Hertel e o Armazém Affonso Penna. Na época, entretanto, não existia saneamento básico, pavimento, e os restos de lixo e comida ficavam no chão; a proliferação de ratos e doenças, evidentemente, era uma realidade.


  Na foto abaixo, tirada em torno de 1913, já se observa uma situação diferente. No centro da praça, está sendo construída a estátua em homenagem ao Barão do Rio Branco. Neste ano, já se sabia que o Mercado seria demolido para a construção do Paço Municipal, projeto que acabou por remodelar, também, a Praça Municipal. Detalhe: no centro-inferior da imagem, observa-se que existe uma despadronização; isso ocorre porque, na verdade, essa foto é uma junção de duas, feitas na mesma época, e, portanto, a emenda não ficou perfeita. Ambas são do acervo da Casa da Memória.

   Abaixo, estão duas fotos feitas logo depois da inauguração do Paço, e que mostram a pavimentação ao redor dela, com paralelepípedos, a estátua finalizada e algumas mudas de árvores. A primeira, é de 1915, de autoria desconhecida, que também registra aglomeração em frente à Casa Pernambucanas; a segunda é do Acervo da Casa da Memória, de 1916.História da Tecelagem Imperial:

Década de 1920

    A década de 28 trouxe outras mudanças. A primeira diz respeito ao nome. Em 1928, o político paranaense Generoso Marques faleceu; como homenagem, a Câmara escolheu o seu nome designar a Praça Municipal, que desde então é conhecida como “Praça Generoso Marques”. Além disso, por essa época também foram incrementados os trilhos de bonde, que podem ser vistos na primeira foto abaixo.


     Esta foto, inclusive, foi registrada por Arthur Arno Albin Armin Henkel na década de 20. Nela, é possível ver o Tigre Royal, ao fundo; a cúpula do Paço, à esquerda; a Casa Edith, na esquina e em branco; e, em primeiro plano à direita, o palacete na esquina da Rua XV, demolido posteriormente. Na imagem também se observa que as árvores cresceram significativamente.

   Nesta outra fotografia, vê-se a Praça e o Paço em 1923. Nela, em primeiro plano, está destacada a iluminação pública do local, bem como a lâmpada em estilo art noveau instalada ali (atrás do banco). Há mais dessas na Praça Eufrásio Correia. Autoria desconhecida.

Década de 1940 à década de 1960


   Esse período foi marcado por intensas transformações no cenário Curitiba, fruto do avanço da industrialização e da sociedade de consumo. Ao passo que na década de 40, por exemplo, observa-se uma semelhança com os períodos anteriores — como os carros, bondes e vestuário —, nos anos 50 os veículos e os hábitos culturais são mais modernos. Por conta disso, nessa época a Praça Generoso Marques tornou-se um estacionamento para automóveis e, posteriormente, as árvores foram cortadas por completo. Em 1960, também, os investimentos para preservação patrimonial de Curitiba foram reduzidos.


    A primeira fotografia, assim, é de 1942, publicada pela Gazeta do Povo. A segunda, de autoria desconhecida, registra a modernização de Curitiba de meados da década de 50. E a terceira representa, por fim, o conturbado início dos anos 60, também de autoria desconhecida — ela foi tirada em frente ao Paço Municipal, à época já chamado de Paço da Liberdade.

Década de 1970 à 1990


   Após a extinção dos bondes em Curitiba, os automóveis dominaram o cenário da capital. Entretanto, nos anos 70, foram inauguradas inúmeras linhas públicas de ônibus, sendo a Generoso Marques um dos pontos centrais do transporte. Abaixo está o registro da abertura da linha “Capão Raso — Passeio Público”, uma das principais na época, em frente ao Paço da Liberdade (autoria desconhecida).


   Além disso, atrás dos pontos foram criados postos de comércio, feirinhas, cujo principal produto eram as flores (o Mercado das flores, inaugurado em 1933, fica até hoje atrás Paço da Liberdade). Por isso, a Praça voltou a ser um espaço destinado aos pedestres, e uma de suas ruas laterais foi fechada. Quem nos mostra essas inovação é a segunda foto, de meados da década de 70 (também de autoridade desconhecida).


   Após 1992, porém, a prefeitura de Curitiba criou as linhas biarticuladas de transporte público, os famosos biarticulados vermelhos, que podem ser visto na terceira foto (autoria é desconhecida e a data é de algum ano logo posterior a 1992). O centro da Praça, contudo, continuou a ser o mesmo, sendo que, na época, já funcionava no Paço o Museu Paranaense. 

 

Década de 1990 a 2020


   Desde 1994, com o projeto “Cores da Cidade”, e posteriormente com as reformas do patrimônio público central efetivadas em 2000, a Praça Generoso Marques se constituiu com um espaço fundamentalmente turístico e histórico da cidade. Hoje, a Praça é local exclusivamente de pedestres; por sua vez, os prédios antigos são considerados Unidades de Interesse de Preservação, quando não tombados a nível local, estadual e federal (como no caso do Paço da Liberdade).


   Dessa forma, o objetivo é que a configuração atual da Praça e do seu entorno se mantenha ou, pelo menos, preserve alguns aspectos da sua história e memória, mesmo que com futuras reformas. Afinal, seria um crime contra a nossa identidade apagar esse resquício de passado que ainda resta, e que minimamente se manteve apesar das inúmeras transformações da Generoso Marques.


   As fotos abaixo são atuais e representam, ao seu modo, cada uma das faces histórias da Praça Generoso Marques.

Parágrafo Novo



Texto e pesquisa: Gustavo Pitz

Referências


RIZZI, Suzelle. Cândido de Abreu e a Arquitetura de Curitiba entre 1897 e 1916. 2003. 186 p. Dissertação (Mestrado em Teoria, História e Crítica da Arquitetura). Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba.


https://www.gazetadopovo.com.br/haus/estilo-cultura/praca-generoso-marques-historia-curitiba-arquitetura-point-cultural-descolado/


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