VENDEDORES DE RUA DA MINHA INFÂNCIA
Os vendedores vinham a pé, de bicicleta, de carrinho de mão e, até de carroça. Lembro-me de quase todos. Havia aqueles que passavam todos os dias e havia os que vinham esporadicamente.
Eu tinha os meus preferidos que, logicamente, vendiam doces, guloseimas e outras comidas atrativas, porém, quase sempre, não guardava um "trocado" para aquele saboroso momento. Pedir para a mãe um trocado, era escutar: "só tenho graúdo".
Então, o mais esperado era o "garrafeiro". Na verdade, um comprador enrustido. Com um cone de metal à boca, transmitia sua única palavra: "garrafeiroooooo"! A gurizada da rua corria de um lado para outro, procurando o que podia para trocar. Não precisávamos ter dinheiro, e não tínhamos mesmo. Sua moeda de troca era dar pirulitos, doces ou balas, recebendo em troca garrafas velhas, ferro-velho, aluminio, cobre, zinco, bronze e até osso. Era como tirar pirulito da boca de criança, ao contrário. De vez em quando algum moleque apanhava uma surra dos pais, porque entregou alguma panela velha ou a velha bacia que a família tomava banho, trocada por alguma guloseima, naquela ansiedade de matar o desejo.
Outro ansiosamente aguardado era o vendedor de barquilha com sua barulhenta "matraca", um pedaço de madeira com uma argola de ferro que, com um movimento rápido da mão, soava sua cantiga: pléc-pléc-pléc-pléc-pléc. Era um grito "barquilhaaaaa" e uma matracada; assim, a molecada toda desembestava pela rua para trocar uma moedinha pela crocante folha de barquilha, com gosto de não-sei-o-quê.
Com seu apito de múltiplas notas, assoprando de um lado a outro nos lábios, lá vinha o vendedor de "dolés". Naquele tempo os dolés (picolés) não eram empapelados, ficavam empilhados uns sobre os outros, dentro do carrinho. Eram bem simples, feitos com sabores naturais de limão, laranja, uva e abacaxi. Mais tarde, apareceram os feitos com anilinas e sabores artificiais, então empapelados.
Tinha um vendedor mascate, "seu Alberto", de origem libanesa, que vinha de bicicleta com suas malas abarrotadas de roupas, vendia em conta anotada em "caderno". Nunca perdia uma venda, sempre saía vitorioso com uma nova "pendura". Quando cresci, encontrei-o bem estabelecido com uma grande loja, também de roupas.
Morava em Paranaguá e, sendo uma cidade litorânea, não podiam faltar os peixeiros que passavam oferecendo a pesca fresquinha. Uns traziam as "pencas" de peixes presas em uma vara equilibrada ao ombro, tipo os orientais, outros empurravam carrinhos de mão. Lembro-me que o quilo do peixe custava menos da metade do que o de uma carne de segunda, pois o peixe, naquela época, era abundante no rio Itiberê ou na baía.
Quando havia a "corrida" dos caranguejos (era assim que chamávamos ao evento da época de reprodução deles), era um frenesi de vendedores oferecendo aquelas aranholas, amarradas em dúzias, a preços de bagatela. Havia tempo em que eles vendiam, também, camarões, siris, bacucús, ostras e até tambarutacas.
Os caboclos, também, passavam vendendo frutas, as mais inusitadas possíveis: cachos de brejauvas, tucuns, gomichamas, abiús, carambolas, condessas, tamarindos, jabuticabas, goiabas e outras mais. Essas frutas, deviam-se ao fato de a população nativa, naquela época, viver também do extrativismo da mata Atlântica.
Agora, outros vendedores mais modernos apareceram: O dos sonhos; o das pamonhas, o dos churros, e, por último, um que vem com um furgão todo incrementado, tipo food-truck, parece ser uma franquia estrangeira, que vende confeitos industrializados e outros trecos.
A modernidade tenta trazer praticidade e satisfação, mas as crianças de hoje jamais entenderão o prazer que tínhamos ao ouvirmos a cantilena dos vendedores de rua de antigamente.
Paulo Grani.
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