segunda-feira, 4 de agosto de 2025

RUA PADRE ESTANISLAU CEBULA Estanislau Cebula nasceu em 03/05/1887 na Polônia e faleceu em 15/03/1964 em Guarapuava PR. Foi padre, um dos primeiros sacerdotes de Virmond.

 RUA PADRE ESTANISLAU CEBULA

Estanislau Cebula nasceu em 03/05/1887 na Polônia e faleceu em 15/03/1964 em Guarapuava PR. Foi padre, um dos primeiros sacerdotes de Virmond.

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PRIMEIROS SACERDOTES DE VIRMOND – Pe. Estanislau Cebula SVD
Padre Estanislau Cebula ainda em nossos dias é bastante lembrado pela população virmondense. O texto que veremos a respeito da vida e da passagem e trabalho do sacerdote em Virmond é de autoria e colaboração de Vanderley Rosa Edling, pesquisador de Guarapuava que está escrevendo um livro sobre a vida do Pe. Cebula, com poucas intervenções e formatações de Geraldo Zapahowski.
Convidamos a todos para lerem e conhecerem um pouco mais sobre a vida de mais um sacerdote polonês que trabalhou em Virmond nos primeiros anos de colonização. Ao autor do texto abaixo deixamos nosso agradecimento e reconhecimento pelo belíssimo trabalho.
PADRE ESTANISLAU CEBULA “O DESCOBRIDOR DE VOCAÇÕES”
A história rica e complexa da Silésia impactou, de forma significativa, na construção da identidade do Padre Cebula.
A Silésia, hoje pertence à Polônia. Em 1675, tornou-se parte do Império Romano-Germânico. Em 1740, foi invadida pelo Rei da Prússia, Frederico II. Em 1795, foi dividida em três partes, sendo dominada pela Rússia, Prússia e Áustria. Estes países procuraram enfraquecer a cultura polonesa, proibindo o ensino do idioma polonês e do catolicismo. As perseguições levaram ao empobrecimento e à miséria da população, fazendo com que os lavradores ficassem sem as suas terras.
A Silésia se tornou parte do Império Alemão quando a Alemanha foi unificada em 1871. Com a considerável industrialização da Alta Silésia, houve uma grande migração de pessoas para a região. A maioria da população da Baixa Silésia falava o idioma germânico e pertencia à religião luterana, incluindo a capital Wrocław, então conhecida como Breslau.
Em contrapartida, em parte da Alta Silésia e no distrito de Opole, a maioria da população falava o idioma polonês e pertencia à religião católica romana. Na totalidade da Silésia, os poloneses representavam cerca de um terço da população. Na Alta Silésia, o povo sustentou com firmeza a sua nacionalidade polonesa. (LUD, nº 28, 7/7/1921, p.1)
O maior rio é o Oder, pelo qual corre todo o transporte pesado da indústria, sobretudo na Alta Silésia, onde havia rica produção de ferro, carvão, chumbo e zinco. Na parte ocidental há vastas planícies com solo fértil, muito produtivas. (Rölke, p.92)
A Kulturkampf foi um movimento de perseguição religiosa contra os católicos, iniciado por Otto von Bismarck, chanceler do Império Alemão, em 1872. Durante o movimento, foram presos seis dos dez bispos católicos da Prússia e centenas de padres e religiosos tiveram de abandonar o país. Esta ação colocou os católicos em oposição ao governo e iniciou um renascimento polonês. (SPISILA, Marcos. Imigração e desenvolvimento da Família Spisla. Artigo, 7 p. Em: https://fdocumentos.tips/.../imigracao-e-desenvolvimento..."milia-spisla-spisila-m-a-cultura-polonesa.html)
É nesse cenário de constante luta pela identidade nacional polonesa que a 03 de maio de 1887, nasceu Stanisław Cebula, na vila de Zimnice Wielkie, pertencente ao distrito administrativo de Gmina Prószków, Condado de Opole, Alta Silésia, no sudoeste da Polônia.
Filho de Aleksander Cebula e Elżbieta Hupka, agricultores, foi batizado quatro dias depois. Infelizmente, não temos conhecimento se o Padre Cebula tinha irmãos ou irmãs, devido aos poucos relatos existentes no período em que viveu na Polônia. Comungou sacramentalmente com Cristo pela primeira vez em 1900 aos 13 anos, confirmando sua qualidade de cristão e membro de Cristo em 20 de maio de 1901. Foi educado no sacerdócio dos Missionários do Verbo Divino (SVD) e, no ano seguinte, em 22 de abril de 1903, aos 16 anos deu entrada no Seminário Santa Cruz, perto de Viena em Nysa. Vestiu pela primeira vez o hábito religioso em 04 de novembro de 1910 no Seminário Maior em Viena (Áustria); No ano seguinte fez seus primeiros votos em 11 de novembro de 1911. Terminado o curso de Teologia e Filosofia, voltou ao Seminário de Santa Cruz a fim de ali receber, em dias sucessivos as Três Ordens Maiores: foi ordenado como subdiácono em 04 de novembro de 1914 na Casa Missionária de São Gabriel (Áustria), dia 05 como diácono, quando fez sua profissão perpétua em 03 de novembro de 1914, e ordenado como sacerdote em 08 de novembro de 1914 em Nysa (Santa Cruz).
Imediatamente, por ocasião da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), seus serviços foram requisitados pelo exército prussiano, onde ele serviu como enfermeiro e capelão militar até o fim da guerra. (Konsulat Generalny Rzeczpospolita Polska (RP) w Kurytybie/Consulado Geral da República da Polônia. https://www.gov.pl/web/brasil. Em 18/06/2021)
Em julho de 1919, a luta pelo reconhecimento da Silésia e consequentemente contra o fracionamento da Polônia, despertou seu sentimento de patriotismo, fazendo com que se envolvesse na primeira Revolta Silesiana (16 a 26/08/1919), Padre Cebula era o então capelão do hospital da cidade. Nessa época ele foi preso em Wrocław (Baixa Silésia), sob acusação de alta traição, por participar da "agitação da Grande Polônia", sendo libertado pouco antes do Natal.
Segundo relatório do Padre Wilhelm Gier, escrito em março de 1920, antes de ser preso, Padre Cebula cuidava do Hospital Municipal em Wrocław, sendo substituído pelo Padre Danch em 24 de janeiro de 1920. Por um curto espaço de tempo, Padre Cebula passou, juntamente com os Padres Roch Szajca e Emil Drobny, a fazer parte da redação das revistas polonesas (Tyczka, 2003, p.😎 que funcionava num apartamento alugado em Bytom, cidade próxima a Cracóvia.
Em meio às conturbadas situações existentes na Polônia, um pedido de missionários para o Brasil, começou a traçar a rota de nosso querido Padre Cebula, missionário que tanto fez nas terras brasileiras. Nesse ínterim, o Padre Emil Drobny recebeu a missão para vir trabalhar no Brasil, mas os Padres Szajca e Gier intercederam por ele junto a seus superiores com sucesso. Em seu lugar viria para o Brasil o Padre Piotr Halama. Desse modo, assim como o seu compatriota, o destino de Padre Cebula estaria sendo esboçado, para as longínquas terras brasileiras.
Não demorou muito para que, em março de 1920, Padre Cebula recebesse a indicação para o Brasil. A cruz missionária foi entregue a ele no sábado em Steyl (Vila de mosteiros na Holanda), de onde, no dia 28 de abril ele partiu com o vapor "Frisia" de Amsterdã para o Rio de Janeiro, cabine nº 30, segunda classe, onde veio atracar em 20 de maio de 1920 (Notação nº 16831, Arquivo Nacional, Divisão de Polícia Marítima – DPMAF), iniciando assim, longe de sua Grande Polônia, 44 anos de dedicação e zelo incansável ao trabalho pelo Reino de Deus e na cura das almas.
Entre 1920 e 1921, residiu em Juiz de Fora – MG, na Casa Central da Congregação, enquanto aprendia o idioma português, sendo seu primeiro campo de atividades. (registro Seminário São Miguel – Colégio Arnaldo -MG)
Padre Cebula, desde o início de sua caminhada missionária já demonstrava seu incansável zelo pelas vocações. Durante sua vida e por onde andou, passou a ser conhecido como o “descobridor de vocações”, devido ao grande número de meninos e meninas influenciados por ele e enviados à messe do Senhor. Foi um dos grandes benfeitores do Instituto São Miguel, para onde enviava, ano após ano, não somente os meninos vocacionáveis da sua paróquia, mas também recursos financeiros, ajuda em forma de livros e de mais recursos para o desenvolvimento do Instituto. Segundo registro do Seminário São Miguel, foi ele quem doou a primeira vitrola que os juvenistas do Instituto receberam, acompanhada de uma série de bons discos – todos em 78 rotações – que ao som de “O Morcego” ou “Danúbio Azul” de Johann Strauss, os jovens deleitavam-se extasiados pelas lindas melodias. E não parou por aí. Também foi por meio do Padre Cebula que o instituto recebeu uma das primeiras máquinas de cinema.
No mesmo relato, consta que num certo ano durante as férias de julho, Padre Cebula, num ato de expressiva bondade, convidou alguns dos internos paranaenses que não tinham partido para visitar seus pais no Paraná, pagando suas respectivas viagens.
Quando ele chegava ao Instituto, a alegria tomava conta do lugar. Sempre havia um grande regozijo, pois levava consigo outro tanto de novatos, presentes e palavras animadoras e de incentivo para todos os que lá estavam estudando.
Certa feita, disse ele: “Em tempos de seminarista fui muito mais devoto de Nossa Senhora do que hoje”, causando entre todos certo espanto, quase sem acreditar, pois, seria possível maior devoção Mariana do que a dele? (Informativo Instituto São Miguel, avulso)
Por ter sido um “legítimo filho” do Padre Arnaldo Janssem, Padre Cebula nunca se recusou a servir onde a voz da obediência o tivesse chamado. Obediente às ordens superiores, foi por eles enviado a trabalhar sucessivamente em diversos lugares no sul do país: São José dos Pinhais (Colônia Murici), Palmeira (Colônia Santa Bárbara), Virmond (Colônia Amola Faca), Nonoai – RS (Nossa Senhora da Paz), Monte Alto – SP, Seberi – RS, Curitiba (Paróquia Santo Estanislau) e Guarapuava (Paróquia Nossa Senhora de Belém e Capela Bom Jesus).
O trabalho missionário do Padre Cebula deu-se, principalmente, em colônias e paróquias que detinham grande porcentagem de imigrantes poloneses.
Primeiramente, de maio de 1921 a maio de 1922, foi vigário na Colônia Murici em São José dos Pinhais. Em seguida, seu novo trabalho foi em Palmeira, na Colônia Santa Bárbara, onde permaneceu até abril de 1924, substituindo o Padre Drapiewski, que foi chamado de volta à Polônia, para coordenar a redação de periódicos poloneses. Retornando à Colônia Murici, permaneceu lá de 1924 a dezembro de 1934. Em seguida, partiu rumo à Colônia Queiroz ou Amola Faca, onde permaneceu até fevereiro de 1939, quando retornou a Curitiba, permanecendo até fevereiro de 1940, exercendo a função de pároco na então Igreja dos polacos, Igreja de Santo Estanislau. Por ser considerado cidadão alemão (Piton, 1987, p.36) teve que deixar a paróquia, sendo transferido para a Paróquia de Nonoai – RS, como missionário, onde o Padre Umberto Ostlender vigário da Paróquia, desenvolvia um trabalho junto aos indígenas. Também tentou a aproximação junto aos indígenas dos assentamentos de Constantina, porém sem sucesso.
Por conseguinte, de Nonoai partiu para Monte Alto – SP, para desenvolver seu trabalho missionário na paróquia de mesmo nome, recém cedida aos Missionários do Verbo Divino. Em 20 de junho de 1943, novamente retorna para o Rio Grande do Sul, para assumir no lugar do Padre José Noglik, a paróquia recém criada de Fortaleza, posterior Seberi, permanecendo lá até 24 de janeiro de 1954, passando a função de vigário para o Padre August Kolek.
De fevereiro de 1954 a agosto de 1959, ele retorna para Curitiba, pela segunda vez, agora como reitor e pároco da Igreja de Santo Estanislau. Por fim, como seu derradeiro campo de trabalho, Padre Cebula chega em 07 de agosto de 1959 na cidade de Guarapuava, primeiramente como coadjutor na Catedral Nossa Senhora de Belém e após, no mês de novembro do mesmo ano, como vigário, função esta que exerceu até 9 de fevereiro de 1961, por ocasião de sua aposentadoria.
Em maio do mesmo ano, Padre Cebula embarca para visitar a sua amada Polônia, país que deixou há 41 anos. Chegou lá no dia 12 de maio, e o peso de quatro décadas de saudade e amor incondicional à sua pátria-mãe foi finalmente suprimido de seu coração.
Retornando ao Brasil, passou a cuidar da Capela do Senhor Bom Jesus, onde residiu até a sua morte, 15 de março de 1964. (Werbisci w Bytomiu, p.144)
Até o final da vida distinguiu-se por um entusiasmo juvenil. A paixão da sua vida era a conquista de vocações sacerdotais. Cerca de 20 sacerdotes, mais de 50 irmãs religiosas e alguns irmãos religiosos devem a ele a realização da sua vocação. Nos seus últimos anos, em Guarapuava, era pretendia abrir um seminário menor. À congregação polonesa das Irmãs da Sagrada Família ele encaminhava principalmente as vocações das famílias polonesas.
Dedicou-se ao trabalho social. Na paróquia de Seberi, a escola pública na localidade de Bonandiman leva o nome de “Pe. Estanislau”. Em Murici deixou a casa de alvenaria da Sociedade São José. Foi o principal organizador da Exposição Agrícola ali apresentada em 1927. Por ocasião do cinquentenário, escreveu uma breve história da colônia Murici (1928). Algumas vezes costumava ser categórico.
Na crônica das Irmãs da Sagrada Família em Curitiba, vol. II, p. 35, escrita em polonês, lembrando o sepultamento do Pe. Cebula na distante Guarapuava, foi registrado: “A população de Guarapuava prestou a esse piedoso sacerdote o preito de reconhecimento de que foi capaz e muitas pessoas choraram... pobres e ricos, idosos e jovens, por aquele que nada negou a ninguém, porque se guiou na vida por um grande amor, nobreza, humildade e simplicidade”.
Ele demonstrou o seu polonismo, por exemplo, utilizando a língua polonesa na igreja no período da nacionalização, escrevendo um manifesto aos padres e aos poloneses, no qual estimulava à oração e a donativos pela Pátria em luta. Em Murici deixou uma rica biblioteca, contendo muitas obras polonesas. (Zmagania Polonijne w Brazylii p. 728-729)
Padre Estanislau Cebula era um homem apaixonado pelo seu país, pela igreja e pelo trabalho missionário. Seu domínio sobre os colonos às vezes era prejudicial a uma boa causa, proporcionando algumas desavenças e disputas. Porém, em toda a sua caminhada missionária, em cada lugar que ele passou deixou as marcas de seu trabalho, dedicação e amor ao povo polonês, marcas estas que em muito sobrepujaram as suas falhas humanas.
Logo após a Primeira Guerra Mundial, o povo polonês se viu lançado à sorte de um país arrasado e dividido, onde o crescimento demográfico, a pobreza e a fome circundava o povo polaco. Neste período pós-guerra, Padre Cebula constantemente enviava ajuda material e buscava, mesmo que à distância, auxiliar moralmente os missionários estabelecidos na Polônia.
Durante a II Guerra Mundial e no período de nacionalização, ele defendeu o povo polonês e despertou o espírito nacional entre eles. No entanto, o principal mérito do Padre Cebula é o despertar das vocações sacerdotais e religiosas que dedicou às instituições polonesas. Graças a ele, o número de padres poloneses aumentou em 13 e o de freiras em 60. (PITON, 1984, p.37)
Padre Cebula, nas palavras de Nivaldo Passos Kruger: “...foi um santo com quem convivemos durante determinado espaço de tempo, onde deixou as marcas de sua passagem nas almas que tiveram o privilégio de conviver com ele.”
Ante a todas as ações desenvolvidas pelo Padre Cebula no decorrer dos 44 anos de serviço vocacional e missionário, uma frase do Padre Estanislau Turbanski retrata fielmente a figura indelével de Padre Estanislau Cebula: "Ele não era apenas um padre, mas também um assistente social"
PADRE CEBULA EM VIRMOND
Seu próximo destino Deus já havia escrito. Fora então designado a mais uma colônia de imigrantes poloneses: Colônia Amola Faca.
Virmond, antiga Colônia Queiroz ou Fazenda Amola Faca situa-se entre as bacias do Rio Tapera, Cantagalo e Cavernoso, fruto da luta de Władisław Radecki. Foi colonizada principalmente por pessoas de origem polonesa, emigrantes de antigas colônias do Paraná e também provenientes do Estado do Rio Grande do Sul. (Lud,1972, nº12, p.7)
A formação da Colônia Amola Faca acontece também dentro do contexto brasileiro com as políticas imigrantistas que têm entre seus objetivos a busca para proteger suas fronteiras do sul do país, a persistente ideia de branqueamento da população, a necessidade de mão de obra, a vontade de preencher vazios demográficos tornando-os produtores, a afirmação política do estado paranaense, a visão nacionalista dos intelectuais brasileiros e, ainda, os projetos de mudanças dentro da igreja católica. (Viechnieski, 2020, p.13-14)
Embora a colônia tivesse assistência espiritual dos “padres do mato”, esta reivindicava há anos a construção de uma igreja e a presença permanente de um sacerdote, uma vez que as missas, quando da presença dos padres, eram celebradas nas residências das famílias.
Entre os anos de 1927 a 1932, a Colônia Queiroz ou Virmond era visitada até três vezes ao ano. Os padres saíam de Guarapuava e visitavam a colônia nos períodos da Páscoa, Festa de Nossa Senhora de Częstochowa, dia 26 de agosto e no Natal.
Entre 1932 e 1934, o Pe. Paulo Schneider e pouco depois o Pe Jan Pogrzeba assistiram à colônia, porém em 15 de dezembro de 1934, os colonos puderam contar com um padre permanente, com direitos de pároco. Padre Cebula havia recém se despedido dos habitantes da Colônia Murici, onde ele permaneceu por dez anos. (Dworaczek, p.468)
Numa das cartas endereçadas ao Provincial dos verbitas, poucos dias antes da chegada do Padre Cebula à Colônia Queiroz, Padre Schneider relata que o Padre Cebula estava muito feliz e entusiasmado para servir como capelão dos colonos de Queiroz e que seu desejo era de permanecer apenas na colônia, para que os poloneses tivessem assistência e a Santa Missa todos os domingos. (Dworaczek, p.468)
Tal desejo refletiu-se no tempo em que Padre Cebula permaneceu na Colônia, de 17/12/1934 a 11/02/1939, tornando-se o primeiro padre efetivo da colônia. (SOBIERAJ, 2001, p.24).
A chegada do Padre Cebula reanimou a vida social e religiosa na colônia. Foi obra do Padre Cebula trazer as Irmãs da Caridade de São Vicente de Paulo para a localidade e confiar-lhes uma escola paroquial, posteriormente transformada em grupo escolar. (Lud,1972, nº12, p.7)
Padre Cebula, juntamente com o padre de Laranjeiras do Sul, seu compatriota Jan Gualbert Pogrzeba, delimitaram as divisas das duas localidades sendo: Rio Tapera, da sua barra do Rio Cavernoso, subindo até a cabeceira principal. (Livro Tombo, 1951, f.2-3)
“Tal ação denotou a liderança e o papel político exercido pelos padres e pela igreja católica nesta época.” (Viechnieski, 2020)
Posteriormente, quando o padre se estabeleceu na colônia, a prática de realizar visitas aos domingos permaneceu, especialmente aos doentes, que se sentiam reconfortados. (Viechnieski, p.43)
Desde que chegou à vila, Pe. Cebula convocou a comunidade para que se unissem em torno das causas públicas. Na localidade havia muita carência, principalmente em educação.
Também organizou o movimento religioso, fundou a Irmandade do Rosário Vivo, a Pia União das Filhas de Maria, trabalhando ainda a princípio na escola, dando aulas e ajudando na paróquia de Laranjeiras. (A Congregação do Verbo Divino no Brasil, 1895-1945)
Em meados de 1935, Padre Cebula foi acometido de uma infecção na pele (erisipela). A fim de realizar tratamento de saúde, passou três semanas em Guarapuava, pois a infecção o impedia de andar. (Verbitas em Guarapuava, p.34)
Após esse período de convalescência, Padre Cebula retorna ao seu campo de trabalho, pois ainda haveriam muitas realizações a se fazer.
No dia 06 de junho de 1935, Padre Cebula envia uma correspondência ao Prefeito de Guarapuava informando da visita do Monsenhor Guilherme Maria Tileczek da Prelazia de Foz do Iguaçu à Colônia Virmond. (Unicentro, 1935, doc BR CEDOC/G PMG CR 01, Arq. Digital 935.01.152.014310)
Assim como fazia quando era pároco em Murici, Padre Cebula buscava valorizar a colônia, procurando demonstrar seu desenvolvimento às autoridades, assim como o convite que fez ao Prefeito de Guarapuava, Senhor Arlindo Ribeiro, em 15 de agosto de 1935 para conhecer e passear na Colônia Virmond na festa que se realizaria naquele mês. (Unicentro, 1935, doc BR CEDOC/G PMG CR 01, Arq. Digital 935.01.190.014348)
O fundador da congregação, Pe Arnaldo Janssen sempre incentivou a atuação dos missionários no meio educacional, o que faria com que os verbitas assumissem colégios e seminários. (PISSOLATO, SOUZA, 2008 p.107) e, partilhando de tais anseios, em 1937, Padre Cebula, com o esforço e apoio dos habitantes de Virmond, construíram o Colégio São José, e as irmãs da Caridade de São Vicente de Paulo chegaram à cidade para trabalhar na instituição. Elas fundaram o regime de pensionato para meninas e meninos.
Em pouco tempo, Virmond transformou-se em um renomado centro de educação e cultura da região. Aos religiosas permaneceram na cidade até 1971.
Um episódio ocorrido em 1936 possa ter sido uma das causas que determinaram a saída do Padre Cebula da Colônia Virmond, ficou registrado no Processo instaurado e posteriormente arquivado em 1940.
Trata-se de uma desavença entre o Padre Cebula e familiares do Senhor Bilinski que realizou o casamento de sua filha apenas no civil e, conforme as leis da igreja, estaria em pecado ante as leis de Deus, fato este exposto pelo Padre Cebula no púlpito da igreja com a presença do casal e familiares.
Desgostoso, o senhor Bilinski chegou armado em frente à escola onde Padre Cebula estava dando aula e ameaçou-o de morte. (Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, BR RJANRIO C8.0.PCR.0337)
Somou-se a isso, a Campanha de Nacionalização instituída dentro do Estado Novo no governo de Getúlio Vargas, entre os anos de 1937-1945. A proposta principal era construir um país patriota, valorizando a cultura brasileira. Dentro das colônias polonesas prevalecia a língua-mãe, desde as conversas entre os colonos à celebração da missa, razão pela qual os padres estrangeiros eram proibidos de fazê-las. Padre Cebula foi chamado a comparecer na delegacia e, temendo maiores represálias, acabou se afastando da Colônia em fevereiro de 1939. Não obstante, embora o tenha feito para preservar sua vida, deixou seu nome marcado na colônia, seja pela escola, pela casa paroquial e igreja, seja pelo trabalho desenvolvido durante os quatro anos e dois meses em que dedicou sua vida pelo bem e progresso dos habitantes da colônia Virmond.
VANDERLEY ROSA EDLING
Membro do Instituto Histórico de Guarapuava – IHG
Formado em Pedagogia e Ciências Econômicas pela Unicentro
Pós-graduado em Gestão Pública Municipal
Funcionário público há 29 anos.
Diretor Administrativo e Financeiro do Guarapuavaprev
Gestor de Recursos e Responsável Técnico do Comitê de Investimentos.
Muitos me perguntam o porquê de desenvolver esforços e pesquisas sobre a trajetória e a vida de Padre Estanislau Cebula. Pois bem, quando criança, em 1978, comecei a estudar na Escola Bom Jesus, em Guarapuava. No ano seguinte, o nome da escola foi alterado por meio de decreto para Escola Padre Estanislau Cebula. Até então eu desconhecia o porquê da homenagem. O relato de sua ação, o depoimento da pessoa que pôs em prática a justa reverência ao Padre Cebula, bem como a justificativa de tal homenagem estará, em breve, eternizada nas páginas do meu livro “Caminhos Cruzados: quando a fé e o saber se encontram.”
No ano de 2019, buscando o histórico do homenageado, deparei-me com meia página escrita sobre sua história. Tal fato me fez pensar: “Por qual motivo este servo de Deus teria seu nome eternizado numa escola?” Após três anos de pesquisas, o que antes era meia página de papel transformou-se em uma centena de páginas de relatos, vivências, fotografias, curiosidades e ações desenvolvidas por este padre polonês da Sociedade do Verbo Divino em prol das comunidades polonesas distribuídas principalmente nos estados do Paraná e Rio Grande do Sul.

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