O assassinato do Padre Pinto
Um dos crimes mais marcantes da história da Lapa permanece sem solução 118 anos após o acontecimento. A morte do Padre Francisco da Costa Pinto, pároco do município em 1900, é uma história cheia de controvérsias, com possíveis culpados e sem solução. Digna de roteiro de filme, a morte do padre gerou lendas e causa debates acalorados sobre o tema há mais de um século.
O vigário chegou à Lapa no final do ano de 1894, após o fim do Cerco da Lapa. A cidade vivia um momento de reconstrução, várias famílias perderam pessoas queridas na guerra. A população, que antes da guerra chegou a ficar entre as três maiores do Paraná, diminuiu consideravelmente. As discussões políticas entre Maragatos e Pica-Paus ainda dividiam a cidade.Foi neste contexto que o jovem padre, com 30 anos, chegou à cidade histórica para fazer história. Muito carismático, Padre Pinto logo tratou de transformar a dor dos lapeanos por conta das mortes da guerra, em fé. Rapidamente o sacerdote se tornou querido e levava multidões de pessoas às missas na Igreja Matriz de Santo Antônio.
Porém, incomodava outras multidões, os pica paus, “vencedores” do Cerco da Lapa e que apoiavam o governo brasileiro comandado por Marechal Floriano. Isso porque, segundo relatos, Padre Pinto concordava mais com a ideologia dos Maragatos. E deixava isso bem claro durante os sermões das missas de todos os domingos.Entre as famílias com alto poder aquisitivo da Lapa na época, muitas eram alinhadas com a ideologia dos Pica-Paus, e não gostavam nem um pouco dos sermões do pároco. Logo, o Padre Pinto arrumou vários desafetos poderosos.
Certa vez, um homem teria entrado a cavalo com uma arma em punho dentro da Igreja Matriz, no meio da missa, para ameaçar o Padre Pinto. Tudo isso, dizem, a mando dos Pica-Paus.
Mas, o padre parece que nunca teve medo das ameaças. Se já não bastasse os sermões da missa, ele escrevia periodicamente um jornal da cidade trazendo sua ideologia política e criticando seus desafetos. Essas colunas eram respondidas pelos rivais em outras publicações, no período que a comunicação impressa era a maneira mais forte de comunicação na Lapa. A guerra entre o padre e coronéis lapeanos era nítida, e a população inteira sabia disso. Pedidos de transferência do reverendo para outras cidades temendo a sua segurança foram feitos pelos fiéis, mas ele nunca acatou.Até que chega a histórica noite de 19 de abril de 1900, uma quinta-feira. O padre, como de costume, estava conversando com amigos na Farmácia Westphalen, localizada onde hoje é a Caixa Econômica Federal. Por volta das 21h ele sai do local sozinho e segue descendo a Rua Barão do Rio Branco, que na época se chamava rua da Boa Vista. Mas, já na esquina seguinte, próximo de onde hoje é o Banco do Brasil, o pároco ouve um pedido: “Seu Padre, faça o favor”. Ao se virar na direção da voz, Padre Pinto ouviu um forte barulho e imediatamente sentiu um calor no peito. O homem havia descarregado a arma contra ele e imediatamente saiu correndo para a escuridão do beco.
O barulho foi ouvido na farmácia, e logo os amigos do padre chegaram ao local para tentar socorrer o pároco, que na época tinha 35 anos. Ele foi levado com vida para sua casa e socorrido por médicos, passou as horas seguintes com poucos momentos de lucidez, mas em um deles teria dito: “Eu perdoo meus inimigos”. Durante a madrugada foi confirmada a morte do pároco para comoção dos lapeanos. Como ele não era lapeano, o corpo foi levado de trem para ser enterrado em Curitiba.
Com o assassinato surgiram vários possíveis culpados, entre eles os coronéis que eram os desafetos do vigário. Outras histórias que apontavam que o Padre Pinto teria tido envolvimentos com mulheres casadas e isso teria culminado na morte dele também foram levantadas na época. As investigações oficiais por parte do poder judiciário só começaram após mais de 1 ano da morte do padre. Várias testemunhas foram ouvidas, mas ninguém nunca foi preso pela morte do religioso, o processo acabou sendo arquivado e depois acabou desaparecendo da Comarca da Lapa.
Junto com o assassinato, surgiu também a crendice popular, que dizia que a cidade que tivesse um padre morto, assim de maneira violenta, teria 100 anos de azar.
Crime político? encomendado? vingança? Ninguém nunca saberá ao certo. Mas, a história do Padre Francisco da Costa Pinto continua viva para os lapeanos há exatos 118 anos.