CALÍGULA E INCITATUS
O imperador Calígula (12-41 d.C.), conhecido por suas excentricidades e desvarios, foi um entusiasta apaixonado por corridas de cavalos, chegando a participar pessoalmente das competições no Circus Maximus, em Roma.
Esse comportamento era visto com desagrado pela nobreza romana, que considerava impróprio para um imperador se envolver em atividades populares dessa natureza.
Calígula era um admirador fervoroso da facção dos Verdes, uma das equipes mais populares das corridas, e passava longas horas em seus estábulos. Durante uma de suas suntuosas festas palacianas, ele chegou a presentear um cocheiro chamado Êutico, membro dessa equipe, com a quantia de dois milhões de sestércios.
Incitatus, o cavalo favorito do imperador, tornou-se famoso por seu tratamento extraordinário,nascido na província da Hispânia, de onde Roma importava cerca de dez mil cavalos por ano, Incitatus era visto por Calígula não apenas como um animal de corrida, mas como um verdadeiro membro da corte imperial.
Na véspera de uma competição importante, o imperador passava a noite ao lado de seu cavalo e decretava silêncio absoluto em Roma, sob pena de morte, para garantir o descanso adequado do animal.
A Guarda Pretoriana tinha a tarefa de patrulhar e assegurar o silêncio total durante toda a noite.
A obsessão do imperador pelo cavalo era tamanha que ele ordenou a construção de um estábulo de mármore com manjedouras de marfim. Posteriormente, essa estrutura foi ampliada e transformada em uma opulenta villa, com jardins luxuosos, dezoito serviçais dedicados exclusivamente ao cuidado de Incitatus e músicos encarregados de proporcionar entretenimento ao cavalo.
Incitatus dormia sob mantas tingidas de púrpura, uma cor cara e reservada à família imperial, e usava colares adornados com pedras preciosas.
Sua dieta incluía aveia misturada com flocos de ouro, e ele bebia o melhor vinho em taças de ouro.
Em um de seus caprichos, Calígula ordenou que fosse encontrada uma esposa digna para Incitatus,a escolhida foi Penélope, uma bela dama da alta sociedade romana.
No entanto, a cerimônia de casamento nunca aconteceu,dias antes da data marcada, em 41 d.C.,o imperador foi assassinado em uma conspiração liderada pela Guarda Pretoriana, encerrando bruscamente sua extravagante história e a do famoso cavalo.
Os historiadores antigos, como Suetônio em sua obra “A Vida dos Doze Césares”, narram essas anedotas como exemplos do comportamento irracional do imperador.
Tais relatos têm gerado debates entre estudiosos contemporâneos sobre a veracidade e as possíveis exagerações inseridas na historiografia para denegrir sua imagem póstuma.
Contudo, esses relatos ajudam a pintar um quadro de um governante cuja gestão era permeada por excentricidades que desafiavam a compreensão e as tradições do mundo romano.