quarta-feira, 16 de março de 2022

OS VERMELHINHOS DE CURITIBA

 OS VERMELHINHOS DE CURITIBA


Nenhuma descrição de foto disponível.Eles eram cobradores "especializados". Quando batiam na porta de alguém era para receber, de qualquer jeito, a dívida atrasada. A primeira visita era feita à paisana. Bem educados, deixavam cartão de apresentação. Se acontecia uma segunda visita é que entrava então o ingrediente interessante: O cobrador ia de uniforme vermelho, com a identificação "COBRADOR" às costas. Na rua todo mundo parava para ver quem era a vítima que também "vermelhava de vergonha" e, quase sempre, pagava.

Quando o devedor era caloteiro, os "vermelhinhos" expunham o morador daquele endereço à execração pública. Suas estratégias de cobrança denunciavam o caloteiro, desmoralizavam o vivente. Eram coercitivos ao limite. Quando um deles aparecia num bairro, ou num lugar qualquer, seus passos eram acompanhados com curiosidade pelos bisbilhoteiros para saber qual seria seu alvo. O mau pagador morria de vergonha e, alguns, após a exposição, até mudavam de endereço. Havia devedores que partiam para a "ignorância". Não foram poucos os casos de "vermelinhos" que saíram correndo de caloteiro. Nesses casos voltavam sempre em duplas para intimar o devedor e evitar apanharem.

Em Curitiba, a moda foi posta em prática por um grupo de funcionários públicos recém-exonerados (todos rapazes entre 16 e 18 anos) que resolveram montar uma firma de cobrança, liderados por um tal de Zanoto, no início dos anos 1960.

Primeiramente, alugaram um ponto na Avenida João Gualberto e constituíram a Agência de Cobrança "Os Vermelhos do Paraná", mais conhecidos como "os vermelhinhos".

Começaram modestos, cobrando contas penduradas em armazéns, feitas com vendedores ambulantes, até se arriscarem mais e intimar o inquilino devedor para receber aluguel atrasado, notas promissórias e outras dívidas maiores. No começo faziam cobranças à pé ou de bicicleta. Logo, as bicicletas foram substituídas por lambretas, também vermelhas, é claro. Prósperos, os "vermelinhos" mudaram o escritório para a Praça Generoso Marques.

Mas o terror dos trambiqueiros não durou muito. Tempos depois,receberam "cartão vermelho" do chefe de polícia, que achou ilegal o tipo de cobrança. Isso quando o ramo estava se tornando bastante lucrativo.

Tal prática não era uma exclusividade deles, em Curitiba. Em muitas capitais e outras cidades, os "vermelhinhos" trabalhavam arduamente, desde os anos 1950. Cada grupo com criatividade, apareciam com suas ferramentas: Registros citam que até bandinhas tocavam à porta daqueles que não atendiam ou se escondiam dos cobradores.

Certos cobradores tinham técnicas próprias: Não falavam com o devedor, não cobravam, sequer olhavam para a pessoa. Vestiam-se inteiramente de vermelho. O método de cobrança deles consistia em seguir o caloteiro pela cidade, aonde que ele/ela fosse. Se a pessoa entrasse na farmácia, o “homem de vermelho” parava encostado na porta, bem em frente. E assim ia seguindo o devedor, às vezes por dias, até que a pessoa finalmente quitasse sua dívida, o homem de vermelho era sua sombra.

(Fotos: webpoacom)

Paulo Grani.

Nenhum comentário:

Postar um comentário