OS VERMELHINHOS DE CURITIBA
Eles eram cobradores "especializados". Quando batiam na porta de alguém era para receber, de qualquer jeito, a dívida atrasada. A primeira visita era feita à paisana. Bem educados, deixavam cartão de apresentação. Se acontecia uma segunda visita é que entrava então o ingrediente interessante: O cobrador ia de uniforme vermelho, com a identificação "COBRADOR" às costas. Na rua todo mundo parava para ver quem era a vítima que também "vermelhava de vergonha" e, quase sempre, pagava.
Quando o devedor era caloteiro, os "vermelhinhos" expunham o morador daquele endereço à execração pública. Suas estratégias de cobrança denunciavam o caloteiro, desmoralizavam o vivente. Eram coercitivos ao limite. Quando um deles aparecia num bairro, ou num lugar qualquer, seus passos eram acompanhados com curiosidade pelos bisbilhoteiros para saber qual seria seu alvo. O mau pagador morria de vergonha e, alguns, após a exposição, até mudavam de endereço. Havia devedores que partiam para a "ignorância". Não foram poucos os casos de "vermelinhos" que saíram correndo de caloteiro. Nesses casos voltavam sempre em duplas para intimar o devedor e evitar apanharem.
Em Curitiba, a moda foi posta em prática por um grupo de funcionários públicos recém-exonerados (todos rapazes entre 16 e 18 anos) que resolveram montar uma firma de cobrança, liderados por um tal de Zanoto, no início dos anos 1960.
Primeiramente, alugaram um ponto na Avenida João Gualberto e constituíram a Agência de Cobrança "Os Vermelhos do Paraná", mais conhecidos como "os vermelhinhos".
Começaram modestos, cobrando contas penduradas em armazéns, feitas com vendedores ambulantes, até se arriscarem mais e intimar o inquilino devedor para receber aluguel atrasado, notas promissórias e outras dívidas maiores. No começo faziam cobranças à pé ou de bicicleta. Logo, as bicicletas foram substituídas por lambretas, também vermelhas, é claro. Prósperos, os "vermelinhos" mudaram o escritório para a Praça Generoso Marques.
Mas o terror dos trambiqueiros não durou muito. Tempos depois,receberam "cartão vermelho" do chefe de polícia, que achou ilegal o tipo de cobrança. Isso quando o ramo estava se tornando bastante lucrativo.
Tal prática não era uma exclusividade deles, em Curitiba. Em muitas capitais e outras cidades, os "vermelhinhos" trabalhavam arduamente, desde os anos 1950. Cada grupo com criatividade, apareciam com suas ferramentas: Registros citam que até bandinhas tocavam à porta daqueles que não atendiam ou se escondiam dos cobradores.
Certos cobradores tinham técnicas próprias: Não falavam com o devedor, não cobravam, sequer olhavam para a pessoa. Vestiam-se inteiramente de vermelho. O método de cobrança deles consistia em seguir o caloteiro pela cidade, aonde que ele/ela fosse. Se a pessoa entrasse na farmácia, o “homem de vermelho” parava encostado na porta, bem em frente. E assim ia seguindo o devedor, às vezes por dias, até que a pessoa finalmente quitasse sua dívida, o homem de vermelho era sua sombra.
(Fotos: webpoacom)
Paulo Grani.
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