quinta-feira, 17 de julho de 2025

Os Guaicurus, índios guerreiros e cavaleiros, que ajudaram a formar e a influenciar parte da cultura da Paulistânia

 Os Guaicurus, índios guerreiros e cavaleiros, que ajudaram a formar e a influenciar parte da cultura da Paulistânia


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O POVO GUAICURU:
O termo guaicurus remete aos grupos indígenas cujas línguas pertencem à família linguística guaicuru, não se sabe exatamente sobre sua raiz exata, mas eram um povo de alta estatura, de possível origem patagônica. Eram famosos por serem uma tribo guerreira que se utilizavam de cavalos para as caçadas e ataques. Migraram para o território brasileiro, na região dos estados de Mato Grosso do Sul e Goiás, fugindo da colonização espanhola e dos jesuítas na região do norte do Paraguai.
A denominação "guaicuru" foi utilizada originalmente pelos nativos da etnia e lingua guarani para referir-se a um grupo étnico rival que habitava a margem ocidental do curso médio do Rio Paraguai entre a foz dos rios Pilcomayo e Yabebiri. Na época da conquista hispânica, essa denominação também foi utilizada para referir-se a outros grupos de nativos que habitavam o curso superior do Rio Paraguai.
Trata-se de um termo originalmente pejorativo que significa "Povo ruim da pele marcada"
Muitas vezes, aliavam-se com os os paiaguás(sub-grupo Guaicuru), pois necessitavam da canoa para atravessar o Rio Paraguai e da certeza que não haveria conflitos com estes, para que pudessem atacar os campos cultivados pelos guaranis em épocas de colheita.
Antes do período colonial eram nômades que tinham uma economia baseada na caça, pesca e coleta. A agricultura somente surgiu com a maior estabilidade dos assentamentos a partir do século XIX. A criação de rebanhos equinos e bovinos foi desenvolvida no período colonial, com destaque para a criação de cavalos que passou a ser um dos elementos característicos dos guaicurus, que pode ser caracterizado como uma sociedade equestre.
A partir de meados do século XVII, começaram a ocupar também a margem oriental do rio Paraguai, na região correspondente a região do Pantanal que, no século XVIII, seria a principal área de ocupação dos Guaicurus. No final do Século XIX, o território habitado pelo grupo concentrava-se em áreas que atualmente pertencem ao estado de Mato Grosso do Sul.
Aliados dos paiaguás contra um inimigo comum, os exímios cavaleiros guaicurus ofereceram grande resistência à povoação do Pantanal Sul-matogrossense. Um tratado de paz em 1791 os declarou aliados da Coroa Portuguesa.
Dentre os remanescentes atuais de uma das antigas tribos Mbayá-Guaicurú, podem-se citar os kadiwéus da Reserva Indígena da Bodoquena, no sul do estado de Mato Grosso do Sul.
CONFLITO COM OS COLONIZADORES
Em 1542, quando Cabeza de Vaca chegou à Assunção, para assumir o cargo de Governador da Província do Rio da Prata e do Paraguai, os guaranis, aliados dos espanhóis, exigiram que fosse feita guerra contra os guaicurus, pois esses atacam suas roças em tempos de colheita. Nesse contexto, foi realizada uma expedição punitiva contra os guaicurus que capturou alguns nativos, mas que não conseguiu fazer com que estes parassem de atacar os guaranis.
Depois disso, as relações entre os guaicurus e os espanhóis passaram a ser de violência constante. Eram frequentes os ataques contra a cidade de Assunção e as primeiras estâncias crioulas, nos quais os guaicurus tomavam ferramentas de metal e cavalos. Esses ataques geravam expedições punitivas por parte dos espanhóis, nas quais perdiam alguns soldados e matavam e capturavam alguns nativos.
Com a adoção dos cavalos pelos guaicurus, os ataques tornaram-se mais difíceis de deter, além disso, os guaicurus fizeram alianças com os abipones, os mocovis, os tobás e bandeirantes paulistas para lutar contra os espanhóis e guaranis.
CONFLITO COM OS BRASILEIROS
Também no século XVIII, em alianças com os paiaguás, fizeram diversos ataques contra brasileiros nos territórios dos atuais estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, chegando a realizar ataques nas proximidades de Cuiabá. Em suas incursões por esses territórios, faziam de escravos outros povos nativos como os guaxis, os guanazes, os cayvabas, os guatós, os coroados, os cayapós, os bororós e os chamacocos.
A partir de 1768, com a dissolução da aliança com os paiaguás, o Império Português começou a obter um domínio da região do curso superior do Rio Paraguai. Em 1778, foram construídos fortes onde atualmente se localizam as cidades de Corumbá e Miranda.
Em 1791, o Capitão General de Mato Grosso, João Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres, assinou um tratado de paz com a "nação Aicurú", em Vila Bela da Santíssima Trindade, depois disso, os guaicurus passaram a integrar-se na cultura caipira do pantanal e atuar como boiadeiros e tropeiros para os brasileiros.
ATUAÇÃO NA GUERRA DO PARAGUAI
"Durante o governo de Francia, presidente do Paraguai, um grupo kadiwéu realizou um ataque contra o exército paraguaio às margens do rio Apa. Durante o ataque, liderado por Nawilo, os guaicurus destruíram a vila de São Salvador e capturaram as pessoas que ali habitavam. Nessa mesma empreitada, os kadiwéu conseguiram conquistar o Forte de Coimbra, utilizado pelos paraguaios para o transporte de mantimentos. O levante comandado por Nawilo lhe rendeu o posto de general da Guarda Nacional Brasileira.
Segundo os relatos do presidente provincial Augusto Leverger, os guaicurus protegiam a população do Mato Grosso contra investidas das tropas paraguaias. Nesse mesmo documento, a autoridade local destacava como a conquista indígena sob o Forte Olimpo empreendeu sérios prejuízos na manutenção das tropas inimigas envolvidas na Guerra do Paraguai. Esse seria mais um dos relatos sobre a participação dos índios na guerra.
Alfred d’Escragnole conta que as tropas paraguaias lideradas pelo general Resquin se desgastaram no processo de ocupação do Mato Grosso, graças ao esforço dos guaikuru. Além disso, Alfred conta sobre a participação dos índios terena e guaikuru na Retirada de Laguna, acontecida em 1867. O grau de participação dos kadiwéu foi tão grande que o próprio Conde d’Eu – comandante das tropas imperiais – ordenou que esses índios vigiassem a região do rio Paraguai.
De acordo com os estudos sobre os kadiwéu, a questão militar integrava a concepção de mundo desse povo. Além de definir a própria identidade do povo, a guerra era um instrumento de incremento populacional mediante a baixa densidade demográfica dos mesmos. O evento da Guerra do Paraguai, além de reforçar o caráter guerreiro dos kadiwéu, também demonstrou a relação conflituosa estabelecida com os paraguaios ao longo de sua trajetória.
UMA SOCIEDADE EQUESTRE
A adoção do cavalo pelos guaicurus ocorreu a partir do final do século XVI. Isso possibilitou que os guaicurus aperfeiçoassem as atividades de caça e realizassem diversos saques contra territórios habitados pelos guaranis, espanhóis e outros vizinhos que se dedicavam às atividades agrícolas.
A adoção do cavalo também gerou alterações no âmbito das sociedades guaicurus, pois desenvolveu ou reforçou um sistema de classes incipientes, dominado por guerreiros que tinham privilégios hereditários. A base da pirâmide era formada por servos da etnia guaná e outros escravos capturados ou comprados. Os escravos eram submetidos a um regime de serventia perpétua e hereditária, embora pudessem obter a liberdade por meio de um casamento com um guaicuru. Dentre os escravos estavam nativos capturados no leste do Chaco e florestas do Paraguai, além de alguns paraguaios mestiços. A maior fonte de escravos parece ter sido a etnia chamacoco.
Outro aspecto era que os chanés se submeteram aos guaicurus como vassalos, destinando a esses parte de sua produção agrícola. Posteriormente os chanés adquiriam parte dos saques realizados pelos guaicurus, oferecendo, em troca, parte de sua produção agrícola.
As elites dos guaicurus costumavam utilizar adornos de prata como sinal de prestígio.
Nota importante: algumas dessas imagens são relacionadas aos charruas dos pampas gaúchos e uruguaios, mas na realidade se trata de iconografias reais dos próprios guaicurus, e não de charruas.
Fontes: SOUSA, Rainer Gonçalves. "Os kadiwéu e a Guerra do Paraguai
-Felipe de Oliveira

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