Nelly Bligh: A volta ao mundo em 72 dias, 6 horas, 11 minutos e 14 segundos

"Nellie Bly" era o pseudônimo da jornalista americana Elizabeth Jane Cochrane. Ela foi uma repórter inovadora, mais conhecida por completar uma viagem recorde ao redor do mundo em 72 dias, emulando o personagem fictício de Júlio Verne, Phileas Fogg. Ela também escreveu uma exposição mordaz na qual fingiu insanidade para estudar uma instituição mental de dentro. Ela foi uma pioneira em sua área e lançou um novo tipo de jornalismo investigativo. Além de escrever, ela também era uma industrial e trabalhadora de caridade.

Ela nasceu Elizabeth Jane Cochran em 5 de maio de 1864 em "Cochran Mills", que hoje faz parte do subúrbio de Pittsburgh de Burrell Township, Condado de Armstrong, Pensilvânia. Seu pai, Michael Cochran, era um modesto trabalhador e operário de moinho que ensinou aos seus filhos pequenos uma lição convincente sobre as virtudes do trabalho duro e da determinação, comprando o moinho local e a maior parte das terras ao redor da casa de fazenda de sua família. Quando jovem, Elizabeth era frequentemente chamada de "Pinky" porque ela frequentemente usava essa cor. Quando se tornou adolescente, ela queria se retratar como mais sofisticada, então abandonou o apelido e mudou seu sobrenome para Cochrane. Ela frequentou o internato por um período, mas foi forçada a abandonar devido à falta de fundos.

Seu pai se tornou alcoólatra e logo depois seus pais se divorciaram. A mãe de Nellie Bly, Mary Jane, levou-a para Allegheny City, uma parte não incorporada de Pittsburgh, Pensilvânia, onde dois de seus irmãos estavam morando. Naquela época, a cidade, a capital do aço do país, havia conquistado a reputação de "a cidade mais negra, suja e encardida dos Estados Unidos ",

A cidade tinha apenas 60.000 pessoas, mas ostentava sete jornais diários. O Pittsburgh "Dispatch" era um dos dois principais jornais matinais da cidade e empregava o colunista de jornal mais reverenciado da cidade, Erasmus Wilson, cuja coluna estava no ar há mais de 30 anos. Uma das leitoras mais ávidas da coluna era Elizabeth Jane Cochrane, de 20 anos. Ela leu a série em que Wilson reclamava das mulheres que estavam entrando na força de trabalho. Ele disse às mulheres para deixarem de lado a esfera empresarial e fazerem do " lar um pequeno paraíso " e desempenharem " o papel de anjo ". Em outro artigo, ele escreveu que uma mulher que trabalhava fora de casa era " uma monstruosidade... Não há anormalidade maior do que uma mulher de calças, a menos que seja um homem de anáguas " .

Como muitas mulheres na cidade, Elizabeth ficou ofendida com a série e desabafou sua raiva em uma carta ao jornal. Ela escreveu que Wilson não tinha nenhuma compreensão da situação das mulheres jovens, explicando que ela havia passado os últimos quatro anos em casas geminadas da classe trabalhadora em Allegheny. Lá, ela disse que havia conhecido muitas das jovens pobres que muitas vezes não conseguiam encontrar um bom emprego. Ela assinou "Garota Órfã Solitária".

Quando a carta chegou pela primeira vez à mesa de George Madden, editor-chefe do "Dispatch", ele ficou impressionado com seu espírito. Ele a passou para Wilson dizendo " ela não é muito de estilo, mas o que ela tem a dizer, ela diz de cara, independentemente de parágrafos ou pontuação ". Ele pensou que a garota poderia trazer algo novo para o jornal e os homens colocaram um anúncio pedindo que a garota se identificasse pelo nome e endereço.

Quando Cochrane se apresentou pessoalmente ao editor, ele lhe ofereceu a oportunidade de escrever um artigo para o jornal, novamente sob o pseudônimo de "Lonely Orphan Girl". Após seu primeiro artigo para o Dispatch, intitulado "The Girl Puzzle", Madden ficou impressionado novamente e lhe ofereceu um emprego de tempo integral com um salário de US$ 5 por semana. As escritoras de jornais da época costumavam usar pseudônimos, e para Cochrane o editor escolheu "Nellie Bly", adotado do personagem-título da popular canção "Nelly Bly" de Stephen Foster. Ela originalmente pretendia que seu pseudônimo fosse "Nelly Bly", mas seu editor escreveu "Nellie" por engano, e o erro pegou.

Como escritora, Bly concentrou seu trabalho inicial para o Dispatch na situação das mulheres trabalhadoras, escrevendo uma série de artigos investigativos sobre operárias de fábrica.

Nessas peças, ela falava daqueles " sem talento, sem beleza, sem dinheiro ". Ela continuou: " Não podemos deixá-los passar fome. Será que aqueles que têm fartura e abundância de bens deste mundo conseguem perceber o que é ser uma pobre mulher trabalhadora, vivendo em um ou dois cômodos vazios, sem fogo suficiente para se aquecer, enquanto suas roupas puídas se recusam a protegê-la do vento e do frio, e negando a si mesma a comida necessária para que seus pequenos não passem fome; temendo a carranca do senhorio e a ameaça de expulsá-la e vender o pouco que tem, implorando por emprego de qualquer tipo para que ela possa ganhar o suficiente para pagar pelos cômodos vazios que ela chama de lar."

Demonstrando seu talento para percepções poderosas e dramáticas, Bly continuou dizendo aos ricos que essas mulheres pobres " leem sobre quanto custou seu último cão pug e pensam no que essa grande quantia teria feito por elas: pagar a conta médica do pai, comprar um vestido novo para a mãe, sapatos para os pequenos e imaginar como seria bom se o bebê tivesse o chá de carne feito para seu pug favorito, ou o cuidado e a gentileza que são dedicados a ele".

O jovem Bly até sugeriu remédios. Se os jovens ambiciosos podiam começar como garotos de recados e subir na carreira para posições de responsabilidade e bem pagas, por que não as meninas? " Tão inteligentes e muito mais rápidos para aprender; por que, então, eles não podem fazer o mesmo? " Em vez de trabalhar com mulheres jovens em fábricas sem ar, Bly sugeriu empregá-las como mensageiras ou "garotos" de escritório. Ela perguntou: por que não fazer de uma menina uma condutora no vagão Pullman Palace?

Ela escreveu um artigo sobre divórcio, intitulado "Mad Marriages". Bly recomendou que as leis de divórcio da Pensilvânia fossem reformadas e pediu que os cônjuges em potencial revelassem quem eram por escrito antes de poderem assinar uma licença de casamento. Em um eco do casamento fracassado de sua mãe com um alcoólatra, Bly também pediu que as mulheres pudessem se divorciar de homens que eram criminosos ou " por meio de hábitos dissolutos, preguiça ou pobreza, provavelmente tornariam o lar miserável ".

Eventualmente, a pressão editorial a empurrou de volta para as chamadas "páginas femininas" para cobrir moda, sociedade e jardinagem, o papel usual das jornalistas mulheres da época. Insatisfeita com essas funções, ela tomou a iniciativa e viajou para o México para servir como correspondente estrangeira. Com apenas 21 anos, ela passou quase meio ano relatando as vidas e os costumes do povo mexicano; seus despachos foram posteriormente publicados em forma de livro como Six Months in Mexico . Em uma reportagem, ela protestou contra a prisão de um jornalista local por criticar o governo mexicano, então uma ditadura sob Porfirio Díaz. Quando as autoridades mexicanas souberam da reportagem de Bly, elas a ameaçaram de prisão, levando-a a deixar o país. Em segurança em casa, ela denunciou Díaz como um czar tirânico que reprimia o povo mexicano e controlava a imprensa.

Bly deixou o Pittsburgh Dispatch em 1887 e foi para a cidade de Nova York. Sem dinheiro depois de quatro meses, ela conseguiu entrar nos escritórios do jornal de Joseph Pulitzer, o New York World, e aceitou uma missão secreta para a qual concordou em fingir insanidade para investigar relatos de brutalidade e negligência no Women's Lunatic Asylum na Blackwell's Island.

Depois de uma noite praticando expressões perturbadas na frente de um espelho, ela se hospedou em uma pensão. Ela se recusou a ir para a cama, dizendo aos outros internos que tinha medo deles e que eles pareciam "loucos". Eles logo decidiram que ela era "louca" e, na manhã seguinte, chamaram a polícia. Levada a um tribunal, ela fingiu ter amnésia. O juiz concluiu que ela havia sido drogada.

Ela foi então examinada por vários médicos, que a declararam louca. "Positivamente demente", disse um, "considero um caso sem esperança. Ela precisa ser colocada onde alguém cuide dela." O chefe do pavilhão de loucos do Hospital Bellevue declarou que ela era " indubitavelmente louca ". O caso da "garota bem louca" atraiu a atenção da mídia: " Quem é essa garota louca? " perguntou o New York Sun. O New York Times escreveu sobre a " misteriosa criança abandonada " com o "olhar selvagem e caçado nos olhos" e seu grito desesperado: "Não consigo lembrar, não consigo lembrar."

Internada no asilo, Bly experimentou suas condições em primeira mão. A comida consistia em caldo de mingau, carne estragada, pão que era pouco mais que massa seca e água suja e imprópria para beber. Os pacientes perigosos eram amarrados com cordas. Os pacientes eram obrigados a sentar-se a maior parte do dia em bancos duros com pouca proteção contra o frio. Havia lixo por todos os lugares para comer. Ratos rastejavam por todo o hospital. A água do banho era gelada e baldes dela eram despejados sobre suas cabeças. As enfermeiras eram desagradáveis e abusivas, mandando os pacientes calarem a boca e batendo neles se não calassem. Falando com seus colegas pacientes, Bly estava convencida de que alguns eram tão sãos quanto ela. Sobre o efeito de suas experiências, ela escreveu:

" O que, exceto tortura, produziria insanidade mais rápido do que esse tratamento? Aqui está uma classe de mulheres enviadas para serem curadas. Eu gostaria que os médicos especialistas que estão me condenando por minha ação, que provou sua capacidade, pegassem uma mulher perfeitamente sã e saudável, a calassem e a fizessem sentar das 6 da manhã até as 8 da noite em bancos de encosto reto, não a deixassem falar ou se mover durante essas horas, não a deixassem ler e não a deixassem saber nada sobre o mundo ou suas ações, dessem a ela comida ruim e tratamento severo, e vissem quanto tempo levaria para deixá-la louca. Dois meses a tornariam um desastre mental e físico."

Após dez dias, Bly foi liberada do asilo a pedido do The World. Seu relatório, mais tarde publicado em forma de livro como Ten Days in a Mad-House , causou sensação e lhe trouxe fama duradoura. Enquanto médicos e funcionários envergonhados se atrapalhavam para explicar como tantos profissionais tinham sido enganados, um grande júri lançou sua própria investigação sobre as condições do asilo, convidando Bly para ajudar. O relatório do júri recomendou as mudanças que ela havia proposto, e seu pedido por mais fundos para o cuidado dos loucos levou a um aumento de US$ 850.000 no orçamento do Department of Public Charities and Corrections. Eles também garantiram que os exames futuros fossem mais completos para que apenas os gravemente doentes fossem realmente para o asilo.

Em 1888, Bly sugeriu ao seu editor no New York World que ela fizesse uma viagem ao redor do mundo, tentando transformar o fictício Around the World in Eighty Days em realidade pela primeira vez. Um ano depois, às 9h40 do dia 14 de novembro de 1889, e com dois dias de antecedência, ela embarcou no Augusta Victoria, um navio a vapor da Hamburg America Line, e começou sua jornada de 24.899 milhas.

Ela trouxe consigo o vestido que estava usando, um sobretudo resistente, várias trocas de roupa íntima e uma pequena bolsa de viagem carregando seus itens essenciais de higiene. Ela carregava a maior parte de seu dinheiro (£ 200 em notas de banco inglesas e ouro no total, bem como alguma moeda americana) em uma bolsa amarrada em volta do pescoço.

O jornal Cosmopolitan de Nova York patrocinou sua própria repórter, Elizabeth Bisland, para bater o tempo de Phileas Fogg e Bly. Bisland viajaria no sentido oposto ao redor do mundo. Para manter o interesse na história, o World organizou uma “Nellie Bly Guessing Match” na qual os leitores eram solicitados a estimar o tempo de chegada de Bly ao segundo, com o Grande Prêmio consistindo, a princípio, em (apenas) uma viagem gratuita para a Europa e, mais tarde, gastar dinheiro para a viagem.

Em suas viagens ao redor do mundo, Bly passou pela Inglaterra, França (onde conheceu Júlio Verne em Amiens), Brindisi, Canal de Suez, Colombo (Ceilão), os Estabelecimentos do Estreito de Penang e Cingapura, Hong Kong e Japão. O desenvolvimento de redes de cabos submarinos eficientes e do telégrafo elétrico permitiu que Bly enviasse relatórios de progresso curtos, embora despachos mais longos tivessem que viajar pelo correio regular e, portanto, frequentemente atrasassem várias semanas.

Bly viajou usando navios a vapor e os sistemas ferroviários existentes, o que causou contratempos ocasionais, particularmente na parte asiática de sua corrida. Durante essas paradas, ela visitou uma colônia de leprosos na China e comprou um macaco em Cingapura.

Como resultado do mau tempo em sua travessia do Pacífico, ela chegou a São Francisco no navio Oceanic da White Star Line em 21 de janeiro, dois dias atrasada. No entanto, o proprietário do World, Pulitzer, fretou um trem particular para trazê-la para casa, e ela chegou de volta a Nova Jersey em 25 de janeiro de 1890, às 15h51.

Setenta e dois dias, seis horas, onze minutos e quatorze segundos após sua partida de Hoboken, Nellie Bly estava de volta a Nova York. Ela havia circunavegado o globo, viajando sozinha por quase toda a viagem. Bisland estava, na época, ainda cruzando o Atlântico, apenas para chegar a Nova York quatro dias e meio depois. Como Bly, ela havia perdido uma conexão e teve que embarcar em um navio lento e velho (o Bothina) no lugar de um navio rápido (Etruria). A viagem de Bly foi um recorde mundial, embora tenha sido superada alguns meses depois por George Francis Train, que completou a viagem em 67 dias. Em 1913, Andre Jaeger-Schmidt, Henry Frederick e John Henry Mears melhoraram o recorde, este último completando a viagem em menos de 36 dias.

Em 1895, Nellie Bly se casou com o milionário fabricante Robert Seaman, que era 40 anos mais velho que ela. Ela se aposentou do jornalismo e se tornou presidente da Iron Clad Manufacturing Co., que fabricava recipientes de aço, como latas de leite e caldeiras.

Em 1904, seu marido morreu. No mesmo ano, a Iron Clad começou a fabricar o barril de aço que foi o modelo para o tambor de óleo de 55 galões ainda em uso generalizado nos Estados Unidos. Embora tenha havido alegações de que Nellie Bly inventou o barril, acredita-se que o inventor tenha sido Henry Wehrhahn, que provavelmente atribuiu sua invenção a ela.

Nellie Bly era, no entanto, uma inventora por direito próprio, recebendo patentes nos EUA para uma nova lata de leite e lata de lixo empilhável, ambas sob seu nome de casada, Elizabeth Cochrane Seaman. Por um tempo, ela foi uma das principais industriais femininas dos Estados Unidos, mas o desfalque de funcionários a levou à falência.

De volta às reportagens, ela escreveu histórias sobre a Frente Oriental da Europa durante a Primeira Guerra Mundial e cobriu notavelmente a Parada pelo Sufrágio Feminino de 1913. Sua manchete para a história da Parada foi " As Sufragistas São Superiores aos Homens", mas ela também "com uma presciência fantástica" previu na história que levaria 1920 para que as mulheres ganhassem o direito ao voto.

Em 1916, Nellie ganhou um menino cuja mãe pediu a Bly para cuidar dele e garantir que ele fosse adotado. A criança era ilegítima e difícil de colocar, já que era meio japonesa. Ele passou os seis anos seguintes em um orfanato administrado pela Igreja para Todas as Nações em Manhattan.

Conforme Bly adoeceu no final de sua vida, ela pediu que sua sobrinha, Beatrice Brown, cuidasse do menino e de vários outros bebês pelos quais ela havia se interessado. Seu interesse em orfanatos pode ter sido parte de seus esforços contínuos para melhorar as organizações sociais da época.

Ela morreu de pneumonia no Hospital St. Mark, em Nova York, em 27 de janeiro de 1922, aos 57 anos.

Ela foi enterrada em um túmulo modesto no Cemitério Woodlawn, no Bronx.

"Eu nunca escrevi uma palavra que não tenha saído do meu coração. Nunca escreverei."

Nelly Bly - The Evening-Journal; 8 de janeiro de 1922

Você pode baixar cópias gratuitas de alguns livros de Nellie Bly e ler seus artigos de jornal na íntegra em www.nellieblyonline.com

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CURITIBA E PARANA EM FOTOS ANTIGAS

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025