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quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Abram alas que vai passar Chiquinha Gonzaga e sua vida mais louca que a minha! Somente bons leitores vão ler essa boa história até o final. Segura que lá vem textão

 Abram alas que vai passar Chiquinha Gonzaga e sua vida mais louca que a minha!
Somente bons leitores vão ler essa boa história até o final.
Segura que lá vem textão.


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Olá Curiosos!
Hoje, vamos falar de uma mulher cuja vida é muito surpreendente.
Temos muitas biografias femininas a serem apresentadas. Justamente por estarmos em um tempo em que podemos admirá-las e falar de seus feitos, sem represálias, ou parecendo fofoca de jornaleco. Pois era assim que parecia na época delas citar suas vidas em algo público.
Elogiar uma mulher por feitos, que não condiziam com a maioria das mulheres de sua época, era como estar incentivando as demais ou evocando o mal.
Chamavam logo o Padre Quevedo!
No entanto, hoje temos pesquisadores e historiadores que tentam ao máximo descortinar essas injustiças, abrindo o leque de personalidades fortes que sempre existiram, que sempre tentaram, de alguma forma, nos fazer chegar as mulheres que somos hoje.
Hoje, vamos abrir alas para Chiquinha Gonzaga passar. Maestrina, compositora, abolicionista, feminista. Tudo isso, há mais de um século atrás, quando as mulheres não tinham direitos. Apenas deveres.
Quando todas eram donas de casa, Chiquinha ocupava seu tempo tentando mudar as regras e enfrentava a quem quer que fosse, para usar seu lugar de voz e compor canções, que invadiam as ruas e a boemia carioca. Encantou a todos com sua irreverência e senso crítico. Criou mais de duas mil músicas.
Francisca Edwirges Neves Gonzaga nasceu em 17 de outubro de 1847. Uma libriana convicta. E como todo libriano tem vontade própria. (Eu tenho uma em casa e sei bem o que é isso.) Nasceu carioquíssima. Filha bastarda de um militar de alta patente, chamado General José Basileu.
Quando nasceu, seus pais não viviam juntos e ele estava viajando em guerra. Ao retornar da guerra, conheceu o bebê e obrigou sua mãe, que era mestiça, filha de preta escrava, mas alforriada pelo pai, a livrar-se da criança na Roda dos Enjeitados ou Expostos, da Santa Casa da Misericórdia. A mãe recusou-se e tentou de toda maneira ficar com a criança, prometendo criá-la sozinha. Tentou convencê-lo de que como ela era branca, como ele, a vida seria mais fácil pra ela. Mas o pai insistiu na Roda, mudando de ideia apenas no último segundo, quando a menina já estava posta na Roda; pois reconheceu o desespero e sofrimento da mãe, por quem nutria afeto. A vida de Chiquinha não começou nenhum morango🍓🍓🍓
Maria, sua mãe, sofria muita pressão em carregar aquela criança de sobrenome forte, no Rio de Janeiro da época e, todo o desprezo da família do pai. (E olha que a menina não era fraca não, para se ter uma noção, era afilhada do Duque de Caxias.) Mas ainda assim, seu pai a registrou, assumiu e fez com que recebesse a mesma educação das meninas mais ricas da época e sapateou na cara sociedade. A filha era dele e eles que se danassem.
Aos onze anos de idade, em 1858, Chiquinha já mostrava a que vinha. Já falava e escrevia Português e Latim. E compôs uma primeira música natalina para tocar no dia do Natal, "Canções dos Pastores".
A partir desse momento, todos na família apreciaram seu dom com o Piano e ela era convidada a tocar nas festas familiares (Dentro de casa). Enchia seu pai de orgulho.
Ela estudava piano cerca de seis horas por dia. Chegando a irritar sua mãe. Assim, diversos ritmos musicais nasciam naquele momento. E a jovem queria se integrar cada vez mais aos mesmos como a polca e a umbigada.
Mas como a vida, naquela época, não era mesmo um morango🍓🍓🍓. Sua família começou a chamar-lhe a atenção, porque estava ficando uma mocinha, precisava gastar menos tempo estudando e mais tempo aprendendo a ser uma dona de casa. Tinha que aprender a lavar louça, varrer a casa, cozinhar e bordar, pois logo começariam a chegar os pretendentes e ela não sabia fazer nada.
Assim, desenrolaram Jacinto do Amaral pra casar-se com Chica. Ele era empresário e membro da Marinha Mercante. Vinha de uma família boa e seu pai topou logo de cara.
Chiquinha e Jacinto, casaram-se, ele tinha um navio e Chiquinha teve que embarcar com ele pelo mar, levou seu piano e obedeceu ao pai. Na companhia do marido foi parar na Guerra do Paraguai a bordo do encouraçado São Paulo, contrariando tudo o que ela acreditava.
Tiveram três filhos, João Gualberto, Maria Jacinta e Hilário. Mas a Guerra foi demais pra ela. Uma mulher que só queria ouvir sinfonias ouvir canhão, tiro, porrada e bomba. Já viu né? Minou o casamento.
Seu marido não entendia ela querer tocar piano, mais que cuidar da casa. Começou a achar vagabundice e Chiquinha decidiu se separar. Naquela época, a separação era um escândalo.
O divórcio havia sido abolido em 1823 e, só voltou a ser autorizado em 1977.
-Pode isso Arnaldo? Mais de um século depois? Pois bem. Não podia, mas era o que tinha.
Chiquinha recebe apoio do amigo Joaquim Callado, popularmente conhecido como o Pai dos Chorões, ritmo que seu grupo adaptou novos instrumentos e segue com seu filho João Gualberto. Ficando os outros dois com a Família do marido.
Nesse momento, desperta nela um espírito de liberdade. Ela começa a tocar em rodas intelectuais, saraus, festas e sem a companhia do marido. Isso faz com que os julgamentos comecem. (Fogueira nela!).
O ex-marido convence o pai dela que aquilo era vagabundagem. Fizeram um acordo para que ela voltasse. E o marido manda que ela escolha, ou viver na casa deles com os filhos ou continuar tocando piano. E é lógico que ela escolhe tocar piano.
"-OU EU OU A MÚSICA"
- A MÚSICA É CLARO!
Sai de casa e vai viver sua vida sem o auxílio da família. Ela aluga um porão pra morar com o filho . E como fênix, começa a escrever partituras e ir vendendo de porta em porta para sustentar as crianças.
Era um escândalo ver uma mulher antes respeitada em sociedade, estar apelando de porta em porta como faziam os escravos de ganho na época. (Os escravos de ganho vendiam os produtos de seus donos na rua. Alguns ganhavam até comissão de venda ou gorjetas, que juntavam para a compra de suas alforrias).
O que era assustador para a sociedade, naquela época era ela, filha de um militar de alta patente, afilhada do Duque de Caxias, fazendo porta à porta.Mas, era isso ou a prostituição. Não tinha outro jeitinho. Isso começou a chamar atenção dos demais artistas, aquela mulher era desafiadora e um orgulho para a classe. Uma vez que Chiquinha foi a primeira mulher brasileira respeitada por sua música, nas rodas, antes totalmente masculinas; que passaram a apoiá-la e indicá-la nas casas de famílias que desejavam as melhores professoras de piano. Tocava inclusive na Casa de Nair de Tefé que depois veio a ser Primeira Dama no Brasil.
Mas ser respeitada não queria dizer ter poder. Perdeu na justiça a guarda dos filhos, o pai cortou relações e a família lembrava-lhe: - quem mandou casar-se com a filha da preta?
É de lá, que ela pegou gosto pelo lundum e pela umbigada, danças compostas em ritmos animados para dançarem em festas, até de corpos colados. Nessa época surgiam também as polcas.
Casou-se novamente com João Batista de Carvalho e teve mais uma filha Alice Maria. Mas não aguentou as traições do marido. Largou-o e, também, perdeu a guarda pelos mesmos motivos. Nessa época, a mulher que se separava não tinha nenhum direito a guarda das crianças.
Ela conseguiu criar apenas João Gualberto, pois este dependia de cuidados especiais,e se tornou um excelente filho.
O pai deserdou Chiquinha e a proibiu de mencionar seu nome nas entrevistas ou jornais.
Em 1877, ela compôs "Atraente", que se tornou famosa nacionalmente. Até os escravos cantavam Chiquinha. Pois a viam como um deles. Já que muitos escravos eram mestiços. Motivo esse que se tornou um escândalo. E tentaram vetar a música. Mas Dona Teresa e a Princesa Isabel, não aceitaram o veto e disseram que Chiquinha tinha todo direito de fazer sucesso com o seu trabalho musical. Mesmo sendo Republicana, agradeceu publicamente o gesto.
Naquele tempo, não vendiam discos, vendiam partituras. Assim, as músicas eram distribuídas e Chiquinha tocava Piano nas lojas de Instrumentos musicais, para se manter. Mas as famílias tradicionais começaram uma campanha, arrecadando fundos para comprarem, rasgarem e queimarem suas canções, vetando a distribuição. Inclusive seu pai arrancava das mãos dos meninos, que vendiam as partituras na rua, e voltavam desesperados.
Escrever uma partitura dava muito trabalho. Era escrita a mão e não podia ter nenhum borrão. Ela usava o mataborrão, que era um papel caro, o mais absorvente da época para que a produção fosse rápida e de qualidade.
Mas, Chiquinha ganhou apoio dos intelectuais. E aí, ninguém a segurava mais. Tornou-se popular e em 1875. Foi convidada pra ser a primeira maestrina no Brasil.
A galera endoidou. Um maestro de saias e mãe solteira. - Esse Brasil é pirado mesmo. - A crítica caiu de pau. Outras mulheres começaram a surtar também. E as famílias tradicionais proibiam que a música de Chiquinha fosse tocada nas festas. Mas logo teve que se render, pois outras pessoas de mais alto grau de nobreza e instrução começaram a convidá-la para os eventos, casamentos, festas, para poder ouvi-la.
Ela estava arrasando e fez uma composição para Carlos Gomes, que na época era ovacionado na Europa. Carlos Gomes ficou tão impressionado com o talento de Chiquinha, que a indicou para tocar no Teatro Municipal São Pedro de Alcântara.
Esperavam que ela fosse tocar algo clássico e ela decidiu tocar o que de mais popular ela tinha. Ela acreditava que a música tinha que ser para todos e não para uma minoria.
Aos cinquenta e dois anos ela quase caiu novamente na desgraça da fofoca. Ao arrumar um boy magia de dezesseis anos, João Batista. (Parece a Tragédia Euclidiana, mas não era. Imaginem o babado que daria na época?)
Ele seria acusado hoje de Gerontofilia.
Era um Portuga interessante, estudante de música. Os dois se apaixonaram perdidamente, ele era Português.
Hoje, ela seria vista como pedófila. Naquela época não seria diferente. O homem podia casar com uma mulher 32 anos mais nova, a mulher? Nanananinanão. Hoje, ainda vemos como um absurdo. Pelo menos eu acho que a maioria estranharia. Imaginem há 130 anos atrás?
Ele era independente, trabalhava, fazia faculdade, era um homem muito bonito e insistiu com ela nessa paixão. Uma vez que ele já nutria antes deles se conhecerem.
Era uma espécie de amor de fã, que acabou entrando em sua vida. Foi madura na condução. Mas sem hipocrisia, seria realmente, ou quiçá, vilmente atacada pela sociedade até de hoje. Naquela época, mesmo não havendo o conceito de pedofilia, ela seria massacrada, mas, a vida ensina e, fez, na encolha, o que hoje sabemos ser verdade.
Ela o registrou como seu filho, temendo estragar sua carreira. E levava-o pra tudo que era canto.
Ocasião em que ela compôs diversas músicas e muitos dos seus maiores sucessos. Estava apaixonada e protegendo a memória de seus filhos, daquela forma.
Foi, nesse enlace, que começaram os movimentos de carnavais nas ruas. Chiquinha queria ver essa alegria popular de perto. E ela simplesmente se apaixonou pelo que encontrou.
Morava no Andaraí. Via, de sua janela, o ensaio do bloco carnavalesco Rosa de Ouro desorganizado, sem uma música, um samba. Apenas o batuque desfocado da época, com cantigas de roda populares, como “Ciranda Cirandinha”, “Fui no Itororó”. Foi, então, que pioneira e vanguardista criou a marchinha " Ó Abre Alas". Marchinha que a tornou mundialmente famosa. Essa foi a primeira marchinha que se tem notícias.
O Carnaval começou na Rua do Ouvidor, com um português chamado Zé Pereira. Ele batia um tambor, enquanto socava tamancos de madeira nas pedras portuguesas, que cobriam o solo no centro do Rio de Janeiro. “ Ó Abre Alas” foi composta em 1888. E até hoje é tocada nos carnavais.
Lembrava-se que precisou escolher entre os filhos e a música. E que seu pai lhe disse que nunca mais ouviria a voz dela. E imaginava o que causava ao obrigá-lo e todas as famílias, que a rejeitaram, a ter que ouvir a sua música em todos os carnavais e festas animadas.
Pediu para compor músicas para o teatro. Até então, algo que não existia nos palcos. (E advinhem!) Foi negada para o livro que estava sendo adaptado, por Arthur Azevedo. Mas, logo depois, aceita. E assim criou a música da peça "Forrobodó". Sendo o primeiro musical teatral brasileiro. Teve mais de 1500 apresentações seguidas.
Era a música com toda expressão e abertura que ela sempre quis.
Ela decidiu compor a marchinha que foi sem dúvida a mais forte música de carnaval até hoje. A "Lira", mencionada na canção, era um grupo eclético de musicistas, que recebia de Villa Lobos a Pixinguinha. E como grupo eclético, era visto como marginalizado.
Nessa época, voltou às ruas para vender suas partituras, mas com outro objetivo, sem ser criar os filhos, que tinha perdido a guarda. O destino da renda era alforriar escravos. Inclusive, foi ela que conseguiu alforriar um flautista, que tocava na noite, mas o ganho era do patrão "José da Flauta".
Em 1906, decide ir morar em Lisboa-Portugal, e João Batista a acompanha.
Voltaram, ainda sem assumirem publicamente o romance. E seus filhos o aceitaram.
Tornou-se amiga de Nair de Tefé, então casada com o Presidente. Ela também era uma artista caricaturista e faziam muitas festas, inclusive Nair a acompanhava no violão instrumento tocado só por homens na época. Mais uma pra colocar na conta da escandalosa e genial Chiquinha.
Faleceu aos 87 anos e no primeiro dia de Carnaval, saindo da vida e entrando eternamente para a História da maior festa popular brasileira. Morreu em paz, de causas naturais. Enquanto os blocos na rua passavam tocando suas marchinhas. João Batista ainda estava ao seu lado. Seu grande amor e fã incondicional segurava as suas mãos.
O romance foi divulgado, após seu falecimento, através de cartas e fotos guardadas a sete chaves e de sua descendência.
Está enterrada no Cemitério do Catumbi no Rio de Janeiro.
Foi ela, também, quem exigiu os direitos autorais aos músicos pela primeira vez e criou uma associação para legalizar isso, visto que vendeu muitas músicas na Europa e recebeu por elas e chegou aqui suas canções tocavam em qualquer canto sem ela ganhar nada por isso. Agora que leu tudo, pode soltar o queixo. Temônia, né? 😈😈😈😈
Izabelle Valladares Mattos
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Izabelle Valladares

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