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terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

O Mercado Municipal na história de Curitiba

 O Mercado Municipal na história de Curitiba

https://www.turistoria.com.br/o-mercado-municipal-na-historia-de-curitiba

Há cerca de dois meses foram comemorados os 63 anos da atual sede do Mercado Municipal de Curitiba, localizada na Av. Sete de Setembro, n.1865. Hoje, nosso artigo é sobre esse ainda não reconhecido, nem oficializado,  patrimônio histórico e cultural da Capital do Estado.


O Mercado Municipal de Curitiba, tal como e onde o conhecemos hoje, foi inaugurado em
 2 de Agosto de 1958. Mas antes disso vamos falar da história de outros mercados municipais que Curitiba já teve.


Origens


Historicamente, o conceito de mercado surgiu em decorrência das
 feiras onde se comercializavam e se trocavam produtos. Os mercados públicos têm sua origem na Europa no século XIX. Eles representam não apenas uma troca de mercadorias mas inúmeras trocas culturais, uma vez que muitos dos comerciantes vêm de outros países, e muitas vezes trazem consigo produtos tradicionais de sua terra natal. 


O primeiro mercado público da cidade de Curitiba surgiu em
 1864, na atual Praça Zacarias. À época, o local tinha o nome de Largo da Ponte e o Mercado tinha o nome de Mercado dos Quartinhos. O imóvel era de propriedade do governo da província do Paraná e estava localizado numa construção ao lado do Rio Ivo. Em 1869, o governo requisitou que o imóvel fosse desocupado, fazendo com que o Mercado ficasse sem sede e inativo até 1873.


Nesse mesmo ano, no dia do aniversário de emancipação do Paraná, 19 de dezembro, foi lançada a pedra fundamental para que o novo Mercado fosse construído no
 Largo da Cadeia, local onde hoje é a Praça Generoso Marques. Em 11 de outubro do ano seguinte, 1874, foi inaugurado o novo Mercado Municipal de Curitiba. Tamanha era a importância do Mercado para a cidade e para a região, que o Largo da Cadeia foi renomeado como Largo do Mercado em 1890. Em 1906 o Mercado foi reformado.


Entre 1912 e 1914, o Mercado Municipal foi fechado e demolido para dar lugar ao Paço Municipal - sede da Prefeitura à época. Hoje o antigo Paço Municipal se chama Paço da Liberdade e é administrado pelo SESC.



Depois disso, por um curto período e de forma provisória, o Mercado funcionou no Largo do Nogueira, atual Praça 19 de Dezembro (a “Praça do Homem Nu”). Em 1915, o Mercado Municipal foi transferido para o Batel, onde é hoje o Largo Theodoro Bayma, no cruzamento das ruas Desembargador Motta e Dr. Pedrosa. Lá permaneceu até 1937, quando foi novamente demolido.

Nos 21 anos seguintes, de 1937 a 1958, a cidade ficou sem Mercado Municipal. A alternativa para comprar os produtos eram as feiras, regulamentadas pela prefeitura, nas quais os hortifrutigranjeiros iam para vender suas mercadorias.


Foi somente no final da década de 1950 que Curitiba voltou a ter um Mercado Municipal. No entanto, ele começou a ser planejado ainda na década anterior. 



Sede Atual


A ideia do Mercado Municipal em sua localidade atual foi pensada pelo urbanista francês Alfred Agache, no contexto do
 
Plano Agache. Já o Mercado em si foi projetado pelo engenheiro Saul Raiz, que anos depois viria a ser prefeito de Curitiba. O Plano Agache foi um Plano Diretor de Urbanização de Curitiba, elaborado entre as décadas de 1940 e 1960, e que estabeleceu diretrizes e normas para um crescimento ordenado da cidade, com ênfase no tráfego e no zoneamento das funções urbanas.


O plano propunha a divisão da cidade em várias zonas, em vários centros. O Mercado Municipal estaria nos
 
Centros de Abastecimento.


O Boletim da Prefeitura Municipal de Curitiba relativo aos meses de Novembro e Dezembro de 1943 traz em detalhes o “Plano Agache”. Nele está incluso o projeto de construção de um novo mercado central, que viria a ser o Mercado Municipal atual, inaugurado 15 anos depois de sua publicação. Neste boletim bimestral se fala sobre a importância da construção do mercado e de sua função para a cidade de Curitiba (Boletim PMC, p. 39):


O abastecimento domiciliar em Curitiba, como acontece nos centros urbanos de vida intensa, é transportado dos arredores da cidade onde predominam colonos poloneses, italianos e alemães. Trazem êles seus produtos em toscas carroças de tração animal com as quais percorrem ainda as principais ruas da cidade.


Esse hábito, que tem sua explicação nos costumes dos camponeses europeus, necessita ser substituído.


Projetamos um grande mercado central do tipo mercado coberto para ser constituído por etapas, com um ramal de linha férrea, ao lado da Estação rodoviária. Além dêste mercado central, sugerimos a criação de uma rêde de entrepostos, pequenos centros de abastecimento das populações dos bairros e cuja localização deve ser feita de tal forma que qualquer habitante não necessita percorrer mais de 500 a 700 metros para encontrar o seu entreposto. (...)


O sistema de Mercado Central e entrepostos facilita enormemente a aquisição dos abastecimentos em qualquer dia e qualquer hora e facilita também ao colono, com a colocação rápida de produto de uma pequena lavoura.


A situação prevista para o mercado central satisfaz plenamente aos requisitos essenciais pois é bastante amplo, está próximo ao centro da cidade, é de fácil acesso, tem a possibilidade de se comunicar com a linha férrea, está ligado às estradas de rodagem e fica ao lado da estação rodoviária.



Assim, o novo Mercado Municipal representaria um marco para a cidade, que passava a ser cada vez mais urbana e menos rural.


Mais de cinco mil pessoas
 
estiveram presentes à inauguração do Mercado Municipal em 2 de Agosto de 1958, quantia muito considerável uma vez que representava mais de 2% da população da cidade, que à época tinha cerca de 240 mil habitantes (segundo o Anuário Estatístico do Brasil, de 1958). Esses números são trazidos em reportagem do Diário do Paraná, na edição do dia 3 de Agosto de 1958.


Comparando essa porcentagem com a população atual de Curitiba, seria como se hoje em dia estivessem presentes cerca de 40 mil pessoas. 

Outro importante marco aconteceu em 2010, quando o Mercado foi reformado e ampliado, com seu espaço físico passando de 12 mil para 30 mil metros quadrados, com 17 acessos distribuídos em seus quatro lados e dois andares. Assim, o fluxo médio de visitantes saltou de 50 mil para 80 mil nos finais de semana.

 

O Mercado é também um grande atrativo para turistas. Números de 2017, do Instituto Municipal de Turismo de Curitiba, apontam que entre os 25 lugares por onde passa a linha de ônibus do turismo de Curitiba, o Mercado Municipal é o 9º mais visitado.

Atualmente, o Mercado conta com quase 200 estabelecimentos onde os consumidores podem comprar os mais diversos produtos, entre eles: bebidas, queijos, vinhos de diversas regiões, temperos e especiarias, ervas medicinais, iguarias, conservas, pescados, embutidos, carnes com cortes especiais, carnes exóticas, produtos de decoração, utensílios domésticos, produtos de limpeza, etc.

 

As bancas do Mercado Municipal carregam consigo muita tradição. Facilmente você encontra vendedores que trabalham há mais de 10, 20, 30 anos em suas bancas, que costumam ser passadas de pais para filhos.


Além de todo esse valor cultural e histórico do Mercado Municipal, grande também é o seu valor artístico, com o mural “O Quitandeiro” de
 
Poty Lazzarotto, um dos maiores artistas do Paraná. O Mercado era inclusive um dos locais preferidos de Poty em Curitiba. O Municipal foi também cenário do filme Estômago (2007).


Embora não seja um patrimônio cultural tombado, essa é uma proposta que poderia ser almejada. Local de mais de 150 anos de história, o Mercado Municipal de Curitiba é palco de grandes memórias, de bons e não tão bons causos, de tentativas de barganha, de produtos de qualidade, enfim, de trocas de cultura e de sociabilidade que dão identidade à capital paranaense.

 

Mais fotos do Mercado Municipal de Curitiba, todas de autoria de Johann Sebastián Forero, tiradas em 2021:

 
 

Texto e pesquisa de Gabriel Brum Perin


Fonte de pesquisa:  


http://www.cic.fio.edu.br/anaisCIC/anais2019/pdf/03.67.pdf


https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/62004/R%20-%20D%20-%20HELOISA%20DE%20MIRANDA%20COUTINHO.pdf?sequence=1&isAllowed=y


 https://www.curitibaantiga.com/fotos-antigas/247/o-antigo-mercado-municipal-de-curitiba-em-1874.html


https://www.mercadomunicipaldecuritiba.com.br/viagem-no-tempo-marca-63-anos-do-mercado-municipal-de-curitiba/


https://www.mercadomunicipaldecuritiba.com.br/seis-decadas-do-mercado-municipal-de-curitiba/


https://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/mercado-municipal-completa-61-anos-nesta-sexta-feira/51793


https://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/prefeito-destaca-revitalizacao-de-espaco-no-mercado-municipal/48352


https://www.mercadomunicipaldecuritiba.com.br/sobre-o-mercado/


https://solardorosario.com.br/wp-content/uploads/2018/10/CuritibaLuzdosPinhais_digital_01.pdf


https://www.gazetadopovo.com.br/bomgourmet/plantao/curiosidades-mercado-municipal/


https://tribunapr.uol.com.br/noticias/parana/mercado-municipal-de-curitiba-completa-50-anos-de-historias/


http://ippuc.org.br/mostrarlinhadotempo.php?pagina=11&idioma=1&tipo=&posicao=6&titulo=1940%20a%201960&ampliar=sim


https://www.curitiba.pr.leg.br/informacao/noticias/conheca-a-historia-dos-planos-diretores-de-curitiba-parte-i


Boletim da Prefeitura Municipal de Curitiba de Novembro e Dezembro de 1943:

http://ippuc.org.br/visualizar.php?doc=https://ippuc.org.br/arquivos/site//ltdocumentos/D11/D11_001_BR.pdf


Anuário Estatístico do Brasil de 1958:

https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/20/aeb_1958.pdf


Diário do Paraná, edição de 03/08/1953:

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=761672&hf=memoria.bn.br&pagfis=22703