Denominação inicial: Projecto de um Sobrado para o Snr. Amando Cunha a Rua Mal. Floriano e J. Loureiro.
Denominação atual:
Categoria (Uso): Edifício Comercial e/ou Residencial
Subcategoria: Informações incompletas
Endereço: Rua Marechal Floriano e José Loureiro
Número de pavimentos:
Área do pavimento:
Área Total:
Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos
Data do Projeto Arquitetônico: 23/11/1912
Alvará de Construção: Talão Nº 2567/1912
Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de sobrado.
Situação em 2012: Demolido
Imagens
1 - Fachada frontal e lateral.
2 – Plantas dos alicerces e corte.
3 – Plantas do andar térreo e 1º pavimento.
Referências:
CHAVES, Eduardo Fernando. Theses de Concurso. Cadeira de Architectura Civil, Hygiene dos Edificios e Saneamento das Cidades. Curitiba: Faculdade de Engenharia do Paraná, 1930. 45 p. (p. 45).
1, 2 e 3 - CHAVES, Eduardo Fernando. Projecto de um Sobrado para o Snr. Amando Cunha a Rua Mal. Floriano e J. Loureiro. Planta com fachadas frontal e lateral; planta dos alicerces e corte; plantas dos pisos térreo e superior, apresentados em três pranchas.
1 - Fachada frontal e lateral.
2 – Plantas dos alicerces e corte.
3 – Plantas do andar térreo e 1º pavimento.
Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.
O Sobrado de Amando Cunha: Entre Dois Cantos da Memória Curitibana
“Na esquina onde se cruzavam a Rua Marechal Floriano e a José Loureiro, ergueu-se um dia um sobrado de tijolos e ambição — testemunha silenciosa da Curitiba que sonhava ser metrópole.”
Um Projeto para o Futuro: Novembro de 1912
Em 23 de novembro de 1912, em meio ao fervor urbanizador que tomava conta de Curitiba, foi assinado o projeto arquitetônico para a construção de um sobrado destinado ao Senhor Amando Cunha. Localizado estrategicamente na esquina das ruas Marechal Floriano e José Loureiro — uma interseção emblemática do centro histórico —, o edifício não era apenas uma residência: era uma declaração de presença, um marco de prosperidade em tempos de transformação.
O projeto, registrado sob o Alvará de Construção nº 2567/1912, foi elaborado com rigor técnico e sensibilidade espacial, refletindo os princípios ensinados na nascente Faculdade de Engenharia do Paraná, onde arquitetura, higiene urbana e saneamento caminhavam lado a lado. Embora o número exato de pavimentos não conste de forma explícita nos registros resumidos, as plantas do andar térreo e do primeiro pavimento, juntamente com os alicerces e cortes estruturais, indicam claramente um sobrado de dois andares, típico da arquitetura urbana da Primeira República.
Construído em alvenaria de tijolos, material símbolo de solidez e permanência na Curitiba do início do século XX, o sobrado combinava função comercial no térreo — destinado ao comércio, oficina ou escritório — e residência no andar superior, onde janelas abertas para a esquina convidavam ao convívio com a vida pulsante da cidade.
Amando Cunha: O Homem por Trás do Nome
Pouco se sabe sobre Amando Cunha, além do que seu nome sugere: pertencimento a uma classe urbana em ascensão, talvez comerciante, profissional liberal ou proprietário de pequena indústria. O fato de ter encomendado um projeto arquitetônico formal — e não uma construção improvisada — indica instrução, planejamento e status social.
A escolha da esquina entre Marechal Floriano e José Loureiro não foi casual. Naquele trecho, próximo à Praça Tiradentes e ao antigo Mercado Municipal, circulavam mercadorias, ideias e pessoas. Morar ali era estar no centro do centro — onde a cidade se via, se reconhecia e se projetava.
Arquitetura em Três Pranchas: A Beleza do Traço Técnico
O projeto sobreviveu graças à preservação feita por Eduardo Fernando Chaves, cuja tese de 1930 reúne preciosos registros de construções curitibanas da era pré-modernista. Nas três pranchas originais, é possível admirar:
- Fachada frontal e lateral – revelando proporções equilibradas, vãos regulares e o tratamento da esquina, elemento-chave na arquitetura urbana;
- Plantas dos alicerces e corte estrutural – demonstrando preocupação com a estabilidade do solo e a distribuição de cargas;
- Plantas detalhadas do térreo e do primeiro pavimento – mostrando a divisão entre espaço público (comercial) e privado (residencial), com escada interna conectando os níveis.
Esses desenhos não são apenas documentos técnicos; são obras de arte funcional, traçadas à pena e régua, com uma elegância que contrasta com a frieza dos softwares atuais.
O Silêncio da Demolição: 2012
Apesar da solidez de sua alvenaria e da promessa de durabilidade inscrita em cada tijolo, o sobrado de Amando Cunha não resistiu ao avanço do tempo e às pressões do desenvolvimento imobiliário. Em 2012, foi demolido, desaparecendo fisicamente do mapa urbano.
Não há registros fotográficos da edificação em pé — apenas os desenhos de projeto, como fantasmas arquitetônicos, guardam sua imagem. Sua ausência é um lembrete doloroso de como Curitiba, em sua corrida pelo novo, frequentemente enterrou seu passado sem cerimônia.
Legado na Esquina da História
Embora demolido, o sobrado de Amando Cunha permanece como um marco simbólico da fase de consolidação urbana de Curitiba. Representa uma época em que os sobrados de esquina — com suas varandas discretas, janelas de verga arqueada e portas de entrada generosas — davam ritmo, escala humana e identidade ao espaço público.
Sua localização exata — na confluência de duas ruas históricas — faz dele parte de uma geografia afetiva, um ponto de ancoragem na memória coletiva, mesmo que invisível aos olhos de hoje.
Conclusão: Um Nome, Uma Esquina, Uma Cidade
Amando Cunha talvez nunca tenha imaginado que, mais de um século depois, seu nome seria evocado não por riquezas ou feitos públicos, mas por um simples projeto de sobrado. E é justamente aí que reside sua importância: não como herói, mas como habitante. Um homem comum que, ao erguer uma casa na esquina certa, contribuiu para tecer o tecido urbano de Curitiba.
Hoje, onde antes havia tijolos, talvez haja vidro, concreto ou um estacionamento. Mas nos arquivos da Faculdade de Engenharia, nas páginas amareladas da tese de Chaves, o sobrado de Amando Cunha segue em pé — não em alvenaria, mas em memória.
“As cidades permanecem nas linhas dos que as desenharam com carinho.”
E Amando Cunha, mesmo em silêncio, deixou sua marca — na esquina, no tempo, e na história.
Referências:
- CHAVES, Eduardo Fernando. Theses de Concurso. Cadeira de Architectura Civil, Hygiene dos Edificios e Saneamento das Cidades. Curitiba: Faculdade de Engenharia do Paraná, 1930. 45 p. (p. 45).
- CHAVES, Eduardo Fernando. Projecto de um Sobrado para o Snr. Amando Cunha a Rua Mal. Floriano e J. Loureiro. Três pranchas:
- Fachada frontal e lateral;
- Plantas dos alicerces e corte;
- Plantas do andar térreo e 1º pavimento.


