Denominação inicial: Projecto de sobrado para a Snra. Maria Eulália Chaves
Denominação atual:
Categoria (Uso): Residência e Comércio
Subcategoria: Informações incompletas
Endereço: Rua Dr. Murici
Número de pavimentos: 2
Área do pavimento:
Área Total:
Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos
Data do Projeto Arquitetônico:
Alvará de Construção:
Descrição:
Situação em 2012: Existente
Imagens
1 - Fotografia do imóvel em 2012 (Elizabeth Amorim de Castro).
Referências:
1 - CHAVES, Eduardo Fernando Chaves. Theses de Concurso. Cadeira de Architectura Civil, Hygiene dos Edificios e Saneamento das Cidades. Curitiba: Faculdade de Engenharia do Paraná, 1930. 45 p. (p. 45).
1 - Fotografia do imóvel em 2012 (Elizabeth Amorim de Castro).
O Sobrado de Maria Eulália Chaves: Uma Presença Viva na Rua Dr. Murici
“Enquanto muitos sobrados do passado foram tragados pelo tempo, este ainda respira — com suas paredes de tijolos, suas janelas que testemunharam décadas e a memória de uma mulher que ousou erguer seu nome na pedra e na argamassa.”
Uma Senhora e Seu Sobrado
Em uma Curitiba ainda marcada por sobrados de esquina, varandas discretas e o aroma de madeira envernizada, Maria Eulália Chaves decidiu deixar sua marca. Dona de visão e determinação, encomendou, em data ainda não registrada com precisão, o projeto arquitetônico de um sobrado destinado a abrigar residência e comércio — uma combinação prática e simbólica da vida urbana da primeira metade do século XX.
Localizado na Rua Dr. Murici, via secundária porém estratégica no tecido do centro histórico de Curitiba, o edifício erguido por Maria Eulália não se impõe pela grandiosidade, mas pela discreta solidez que caracteriza as construções de alvenaria de tijolos da época. Com dois pavimentos, o sobrado segue a clássica divisão: térreo para atividade comercial ou profissional, e andar superior para a vida privada da família.
Embora os dados sobre o alvará de construção e a data exata do projeto permaneçam ausentes nos registros públicos resumidos, sua existência é atestada de forma eloquente: em 2012, o imóvel ainda existia, conservando, ao menos em parte, sua configuração original.
A Arquitetura da Sobriedade
Construído em alvenaria de tijolos, técnica dominante nas edificações curitibanas entre o final do século XIX e meados do XX, o sobrado de Maria Eulália reflete os princípios de higiene, funcionalidade e durabilidade ensinados na Faculdade de Engenharia do Paraná — instituição que formou profissionais como Eduardo Fernando Chaves, autor da tese que preserva seu registro.
A referência ao sobrado aparece na página 45 da obra de Chaves (Theses de Concurso, 1930), onde, ao lado de outros projetos de moradias urbanas, este é mencionado como exemplo do tipo residencial-comercial comum entre a classe média ascendente da capital paranaense. A inclusão sugere que o projeto não apenas foi executado, mas considerado exemplar dentro dos critérios acadêmicos da época.
Maria Eulália Chaves: Uma Mulher à Frente do Seu Tempo
Numa sociedade ainda predominantemente patriarcal, o fato de uma mulher ter sido a titular do projeto — e provavelmente a proprietária e gestora do imóvel — é notável. Maria Eulália não aparece como “esposa de” ou “viúva de”, mas como Senhora Maria Eulália Chaves, nome completo, título próprio, identidade autônoma.
Isso indica que ela possuía recursos próprios, capacidade de decisão e, possivelmente, atividade econômica independente — fosse como comerciante, artesã, professora ou profissional liberal. Sua escolha por unir residência e comércio sob o mesmo teto revela uma visão integrada da vida: o lar como extensão do trabalho, e o trabalho como sustento do lar.
Presença Contínua: O Sobrado em 2012
Enquanto tantos edifícios históricos foram demolidos em nome do “progresso”, o sobrado de Maria Eulália sobreviveu até, pelo menos, 2012. Uma fotografia registrada por Elizabeth Amorim de Castro naquele ano atesta sua existência física — talvez com fachada modificada, janelas trocadas ou pintura renovada, mas ainda reconhecível em sua estrutura original.
Essa continuidade é um ato de resistência silenciosa. Enquanto o entorno se transforma — com novos prédios, novas lojas, novas gerações —, o sobrado permanece como testemunha viva de uma Curitiba mais lenta, mais humana, mais feita de rostos do que de fachadas anônimas.
Legado Urbano e Identidade Feminina
Mais do que um imóvel, o sobrado de Maria Eulália Chaves é um marco de memória feminina na arquitetura urbana. Num panorama onde os nomes dos proprietários masculinos dominam os registros oficiais, ver uma mulher como protagonista de um projeto construtivo é raro — e precioso.
Seu nome, gravado nos arquivos da Faculdade de Engenharia e nas ruas da cidade, nos convida a repensar quem constrói a cidade. Não apenas engenheiros e prefeitos, mas também mulheres comuns com sonhos concretos, capazes de transformar tijolos em lar, e lar em legado.
Conclusão: Ainda de Pé
Hoje, ao caminhar pela Rua Dr. Murici, talvez poucos percebam a história contida naquele sobrado de dois andares. Mas ele está lá — não como ruína, mas como presença. E, enquanto existir, Maria Eulália Chaves continuará habitando Curitiba.
“As cidades guardam, nas paredes que resistem, os nomes de quem ousou construir.”
Ela construiu. E permanece.
Referências:
- CHAVES, Eduardo Fernando Chaves. Theses de Concurso. Cadeira de Architectura Civil, Hygiene dos Edificios e Saneamento das Cidades. Curitiba: Faculdade de Engenharia do Paraná, 1930. 45 p. (p. 45).
- CASTRO, Elizabeth Amorim de. Fotografia do imóvel em 2012. Arquivo particular / Acervo de memória urbana de Curitiba.
