Mostrando postagens com marcador ou uma Valentina que subiu ao espaço cósmico Herellia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador ou uma Valentina que subiu ao espaço cósmico Herellia. Mostrar todas as postagens

sábado, 21 de outubro de 2023

Esta mulher não é nenhuma Jacqueline Auriol, que bateu recordes em velocidade de aviões a jato, ou uma Valentina que subiu ao espaço cósmico Herellia Pinheiro Lima Sottomaior a primeira mulher a chegar no cimo do Olimpo, no marumbi

 Esta mulher não é nenhuma Jacqueline Auriol,
que bateu recordes em velocidade de aviões a jato, ou uma Valentina que subiu ao espaço cósmico Herellia Pinheiro Lima Sottomaior a primeira mulher a chegar no cimo do Olimpo, no marumbi


Pode ser uma imagem de 1 pessoa Pode ser uma imagem de 2 pessoas

Esta mulher não é nenhuma Jacqueline Auriol,
que bateu recordes em velocidade de aviões a jato, ou uma Valentina que subiu ao espaço cósmico.
Ela está aqui entre nós, esta mulher é uma dama.
Veneranda e venerada, com seus 80 anos bem
vividos, alegre, disposta, simpática, é a sra. Herellia Pinheiro Lima Sottomaior. Filha de Benlgno Pinheiro Lima, sobrinha de Vicente Machado, pertencendo a uma das mais tradicionais famílias paranaenses, e
integrando a sociedade antoninense do começo do século, foi ela a primeira mulher a chegar no cimo do Olimpo, no marumbi.
Isto aconteceu em 1901, mas sua memória é excelente, e somos Informados dos detalhes do evento:
Joaquim Carmeliano de Miranda, parente de minha mãe, estava preparando um grupo de Morretes, para subir no marumbi, e queria levar por força uma moça, andou convidando algumas, daquela cidade, de Morretes e de Antonina, e nenhuma quis, com meu irmão Clóvis, que também faria parte da expedição, veio à nossa casa, pediu o consentimento de minha
mãe, e acrescentou: "sei que moça de minha família não vai me envergonhar, e vai aceitar".
Eu tinha meus 13 anos, e toda a prática que tinha de escalar, era subir em muros e árvores, com meus irmãos, mas fui mesmo! Saímos de Morretes de trem, descemos na estação de Volta Grande e começamos a subir a pé (esclarecemos aqui que foram por um dos caminhos mais compridos, que os marumbinistas de hoje chamam de facãozinho).
Levamos dois dias para subir, e logo depois do mateiro que abria a picada com facão, ia eu. Acho que queriam experimentar se eu tinha coragem. Medo de bicho eu não sentia, tinha medo era quando o mateiro punha fogo nas margens da picada para afastar as cobras. Dormimos as duas noites abrigados embaixo de pedras, grutas naturais daquela região, eu sentindo-me confortada e amparada pela presença de meu irmão Clóvis. Quando chegamos lá em cima pusemos uma bandeira e soltamos foguetes e fogos de artifício que o povo de Morretes pode ver e assim saber que tínhamos chegado ao objetivo final da excursão. Para descer foi mais fácil, levamos somente um dia.
A chegada a Morretes foi triunfal, o grupo foi fotografado na chegada do trem (dona Hercília confessa-se arrependida de ter inutilizado a fotografia, relembrando: "eu estava tão feia, com um lenço amarrado na cabeça, feito uma colona"... cada um recebeu uma medalha de ouro (a sua foi perdida ou roubada muitos anos depois, já casada e com filhos) oferecida pelo povo de Morretes. O mesmo povo que, sessenta anos depois, em maio de 1961, por ocasião de uma comemoração local, a homenageou com outra medalha (esta de bronze, bem guardada) com flores e discursos, e até com um chá dançante no principal clube a que dona Hercília Pinheiro Lima Sotomaior deu início dançando a valsa, está dama admirável que não usa óculos e vive fazendo crochê e que é telespectadora faminta de novelas e fã de Antônio Maria, não tem mais a companhia de seu falecido marido Manuel de Sá Sotomaior, mas vive rodeada do carinho dos filhos, netos e bisnetos, com quem, de vez em quando, reparte as muitas lembranças de sua profícua vida, e, entre elas, a da subida ao marumbi.
Em tempos, o historiador Romário Martins a congratulou por ofício como sendo a pioneira na escalada do marumbi. O ofício datado de julho de 1901, constituiu por muito tempo como uma relíquia da família, foi entregue a alguém que se encarregaria de entregá-lo ao CMC para fazer parte do futuro museu (já em preparativos), e hoje está perdido, ninguém sabe dizer onde nem como.
Texto: DIÁRIO DO PARANÁ, MAIO DE 1969.