Saudosa “Cinelândia Curitibana”.
Em dezembro do ano passado fiz uma publicação referente ao “meu pulgueiro favorito”, o cinema predileto de minha infância e de muitos outros garotos de minha geração. O popular Cine Curitiba foi devidamente retratado, assim como os filmes que faziam a festa da gurizada nas sessões dominicais que com o passar do tempo, entrando na pré-adolescência, buscava em outros cinemas do centro da capital paranaense as películas que tratavam de temas cuja predileção fazia parte de um mundo mais próximo do adulto. Com pouco mais de doze anos, a predileção por gêneros menos “agitados”, mas que ainda contivessem ação, algo de mistério e suspense e até com uma pitada de romance, somente podiam ser vistos nos tais cinemas da “Cinelândia Curitibana”. Na verdade não existia uma “cinelândia” propriamente dita, mas assim era considerada a menor avenida do mundo, a Av. Luiz Xavier com cerca de 145 metros, onde se concentravam três dos principais cinemas da cidade. Com pouco mais de cem metros ela hoje se confunde com a Rua XV de Novembro em toda a extensão de seu calçadão e tem na “Boca Maldita” o ponto de encontro dos ex-políticos e executivos aposentados.
O popularíssimo Cine Curitiba, o "pulgueiro predileto" da piazada.
A Cinelândia em plena efervescência de domingo. Final dos anos de 1950.
No Palácio grande público para "O Maior Espetáculo da Terra".
A Cinelândia em dia comum nos anos setenta.
Eram três os cinemas nessa avenida, começando com o Cine Palácio no Ed. Garcez, um pouco mais à frente o Cine Avenida no Palácio Avenida e defronte a esse o Cine Ópera no Edifício Eloisa. Por serem mais antigos e tradicionais, concentravam aos domingos uma grande parcela da população curitibana que tinha nos cinemas a sua principal forma de diversão. Mais adiante, já na Rua XV, ficava o Cine Ritz quase na esquina com a Rua Marechal Floriano. Nas proximidades ainda tínhamos, o Cine Luz na esquina da Praça Zacarias com a Rua Dr. Muricy, o Cine Rivoli no início da Rua Emiliano Perneta, quase em frente ao colégio Instituto de Educação e na Av. Desemb. Westphalen o luxuoso Cine São João. Praticamente fechando o circuito central, outros cinco cinemas se destacavam. Os populares Curitiba e América na Voluntários da Pátria, o Plaza na Praça Osório, o pequenino e simpático Arlequim que tinha uma decoração interna baseada nessa figura pitoresca em destaque num enorme painel no qual Colombina, Pierrot e Arlequim estavam representados. Esse cinema ficava na Cândido Lopes no local onde hoje funciona a Loja Americana. Nas proximidades estava o Lido no início da Ermelino de Leão.
Na região central da cidade os cinemas compunham a Cinelândia.
Cine Palácio no Edifício Garcez.
Cine Avenida no edifício de mesmo nome.
Cine Ópera no Edifício Eloisa.
Merece destaque especial o Cine Vitória último dos grandes cinemas a ser construído em Curitiba com essa finalidade. Como seus antecedentes Ópera e Avenida, também foi projetado para ser um “cine-teatro”, já que o grande teatro curitibano com 2173 lugares, o Guaíra, permanecia em interminável fase de construção que após um incêndio, somente seria concluída totalmente para sua inauguração em dezembro de 1974. Por sua vez, tendo sido inaugurado em 1963, o Vitória impressionou aos seus primeiros espectadores por suas dimensões internas. Possuía 1.800 confortáveis poltronas, instalações luxuosas e modernas, amplo salão de esperas no qual se destacavam algumas estátuas de bronze. Tamanha foi sua importância para o mercado cinematográfico que artistas famosos, nacionais e estrangeiros, participaram ali de avant-premiéres de seus filmes e outros festivais. Como uma forma de atrair também a curiosidade do público local, ou visitante, foi criado um espaço no calçadão da entrada de acesso do Vitória, no qual esses artistas gravavam suas mãos e autógrafos em placas de cimento fresco (onde estão essas placas atualmente?).
Alguns desses artistas, como Janet Leigh e Anthony Perkins de “Psychose”; Karl Malden (estrelou junto com Burt Lancaster “O Homem de Alcatraz” ) e os nacionais Jece Valadão, Vanja Orico (atuou em papel de destaque em “O Cangaceiro”), participaram em 1964 do Tribunascope, um evento promovido pelo Jornal Tribuna do Paraná que premiava os melhores do ano.
Na Praça Santos Andrade, bem no centro da cidade, o Teatro Guaíra
um dos mais modernos da atualidade.
Cine Teatro Vitória, reformado para Centro de Convenções de Curitiba.
Orquestra Sinfônica do Paraná em apresentação no antigo Cine Teatro Vitória.
Alguns desses artistas, como Janet Leigh e Anthony Perkins de “Psychose”; Karl Malden (estrelou junto com Burt Lancaster “O Homem de Alcatraz” ) e os nacionais Jece Valadão, Vanja Orico (atuou em papel de destaque em “O Cangaceiro”), participaram em 1964 do Tribunascope, um evento promovido pelo Jornal Tribuna do Paraná que premiava os melhores do ano.
Dentre outros eventos, apresentaram-se em seu grande palco a Orquestra Sinfônica de Utah, a Orquestra da Rádio e Televisão Francesa e a Orquestra Juvenil da República Federal da Alemanha. No Vitória também aconteceu o concerto de encerramento do II Festival Internacional de Música. Atualmente já não guarda a fachada original tendo sido reformado, externa e internamente para abrigar o Centro de Convenções do Estado do Paraná, porém continua mantendo a ampla sala de espetáculos, reduzida para 1374 poltronas, uma de suas principais características. Porém o Vitória, pelo menos, acabou por ter um destino mais de acordo com suas características originais, transformado que foi em um espaço de uso coletivo e apropriado para eventos importantes.
Janet Leigh e Anthony Perkins protagonistas principais de "PSYCHOSE".
Recepção aos astros hollywoodianos em Curitiba.
Entrega do Prêmio Tribunascope.
O passeio tranquilo de Karl Malden na "Cinelândia Curitibana".
Jece Valadão e o cafageste de "Boca de Ouro".
Vanja Orico, atriz de "Os Cangaceiros" protagonizou a figura da mulher no cangaço.
São poucas as imagens que localizamos dos cinemas que compunham a “Cinelândia Curitibana”, para ilustrar esta nova publicação, o que sentimos muito. Conseguimos algumas poucas publicadas na coluna “Nostalgia” do jornal Gazeta do Povo, como as do Cine Curitiba, com seu público aguardando o momento de entrar para a sessão da tarde e a do Cine Luz logo após haver sido inaugurado. A do Cine Plaza na Praça Osório é mais recente e encontrada no Google, foi feita enquanto parecia estar dando o seu derradeiro suspiro antes de ser transformado em uma “tenda dos milagres”. Nada a ver com o filme baseado no romance de Jorge Amado, mas esse tem sido o destino da maioria dos cinemas de rua no Brasil, quando não são demolidos para dar lugar a algum espigão comercial. As demais mostram apenas o triste fim que tiveram alguns deles, simplesmente abandonados ou transformados em pequeno complexo comercial.
Rara imagem do Cine Ritz. No local hoje está uma galeria de lojas.
O prédio do Cine São João, praticamente desaparece tomado por pequenas lojas.
Irreconhecível o Cine Rívoli na Emiliano Perneta, um magazine popular.
Cine Lido, fechado e inativo depois da "fase pornô". Ao longe a
Galeria do Ed. Tijucas ao lado do qual ficava o Cine Arlequim.
Do Cine Arlequim apenas a lembrança de um mural semelhante a este.
O Cine Plaza, último a ser descaracterizado; foi transformado em igreja.
O Cine Luz, na esquina da Praça Zacarias com a Rua Dr. Muricy.
No dia de sua inauguração em dezembro de 1939.
As seções noturnas na “Cinelândia Curitibana” eram complementadas com a movimentação de bares, confeitarias e lanchonetes do centro da cidade, além dos passeios para admirar as vitrines das várias lojas que à noite ganhavam luzes e cores realçando as mercadorias em exposição. Tudo isso ao ar livre, um verdadeiro shopping a céu aberto, fazia da Av. Luiz Xavier e parte de Rua XV de Novembro o lugar ideal para os encontros entre os moradores da cidade, cujo movimento crescia bastante depois que findava a última seção dos cinemas, mas logo se encerrava principalmente nas noites frias do inverno curitibano. As pessoas, de um modo geral teriam toda uma semana para comentar e avaliar o que haviam visto já na expectativa dos novos lançamentos que no domingo seguinte iriam assistir.
Hoje são várias as “cinelândias”, todas um aglomerado de pequenas salas de projeção localizadas em um canto dos muitos shopping centers da Capital paranaense e das demais cidades. Embora modernos, tais cinemas não conseguem mais despertar o mesmo encanto nas atuais gerações. Enquanto nos chamados “cinemas de rua” dos anos de ouro da arte cinematográfica se ia para assistir a um espetáculo, hoje parece que todos vão para comer quilos e mais quilos de pipocas.
Cinelândia Curitibana em noite de verão, pelo menos pela forma de vestir
dos que circulavam no local á noite.
Nos dias atuais bastante movimentada durante a semana.
Ponto de encontro de executivos aposentados
e palco de debates e discussões de todo gênero, verdadeira "Boca Maldita",...
...mas praticamente deserta nas manhãs de domingo.
Um imenso e triste vazio deixado pelo fim da "Cinelãndia Curitibana".
Complexo de cinemas em Shopping. Uma dezena de salas apertadas
e sem o mesmo glamour dos chamados "cinemas de rua", que formavam
a "Cinelândia" de muitas cidades.
Cinema ou fábrica de pipocas?
Pelo forte e insuportável aroma do petisco em suas salas, fica a dúvida.
Finalizando, considero que talvez o tema não fale diretamente a alguns visitantes ao nosso blog, por estar tão ligado a determinada mudança ocorrida em uma região de Curitiba. No entanto, pode servir de algum modo para reflexões particulares a respeito das similaridades ocorridas em sua própria cidade. Na Capital baiana, por exemplo, aconteceu o mesmo com diversas salas de cinema. Na região central, cinemas como o Excelsior, Liceu, Tamoio, Bahia, Capri e Politeama, alguns dos mais modernos, assim como o Tupi na Baixa dos Sapateiros, foram transformados em templos evangélicos ou conjuntos comerciais, isso depois que passaram pela fase degradante de casa de espetáculos pornográficos. Uns poucos desses, ainda sobrevivem na parte velha da cidade, como o Pax, Jandaia, Aliança e o Astor exibindo as tais películas. Honrosas exceções do Excelsior que pertence a uma congregação da Igreja Católica e permanece com as portas cerradas, do Cine Roma que passou a integrar o conjunto hospitalar das obras sociais de Irmã Dulce na Península Itapagipana e do Cine Guarany em plena Praça Castro Alves que foi devidamente reformado e recebeu o nome do cineasta baiano Glauber Rocha.
Cine Guarany com sua fachada original na dácada de 1930, aproximadamente.
Atual fachada do Guarany.
Cine Glauber Rocha, transformado em pequenas salas.
Cine Excelsior na Praça da Sé na década de 1940,
em pleno Centro Histórico da Cidade do Salvador, porta de entrada para o Pelourinho.
Cine Roma, no bairro de Itapagipe, Cidade do Salvador.
Reformado e anexado ao complexo do Hospital de Irmã Dulce.
De qualquer modo para muitos o cinema continua exercendo grande fascínio. As novas tecnologias aplicadas nas produções atuais fazem os filmes exibidos nas salas da antiga “Cinelândia Curitibana”, mais parecerem meros ensaios cinematográficos, caso mais recente de "Avatar".
Mas ainda existe um público que não dispensa a oportunidade de rever qualquer um dos antigos e maravilhosos clássicos da telona, mesmo que seja na tela de cristal líquido em um moderno televisor.
AVATAR - A moderna e perfeita computação gráfica impressiona,
sendo impossível se comparar esta, com as produções de outrora.
Mas ainda existe um público que não dispensa a oportunidade de rever qualquer um dos antigos e maravilhosos clássicos da telona, mesmo que seja na tela de cristal líquido em um moderno televisor.
Fotos antigas e de cinemas,
coluna Nostalgia
do Jornal Gazeta do Povo.
Cartazes e artistas, em sites
diversos no Google search.
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