Bailes de debutantes: O florescer da juventude Curitibana por Nicole Salomon
Foto: Acervo Clube Curitibano - Baile de Debutantes 1951
Enquanto algumas cidades brasileiras abandonaram a tradição, Curitiba mantém-se firme, adaptando-se às novas gerações sem perder a essência do que faz dos bailes de debutantes um evento tão esperado e especial pela sociedade.
Por Nicole Salomon
Anualmente, no mês de setembro, a capital paranaense se destaca como o local mais brilhante da primavera no país, sendo uma das cidades com maior tradição em festas de debutantes. Os clubes mais renomados da cidade celebram essa estação, que simboliza renovação, crescimento e novos começos, alinhando-se perfeitamente com a ideia de uma jovem debutante fazendo sua transição para a vida adulta. É um momento de florescer, assim como as flores desabrocham na primavera, movimentando a alta sociedade curitibana.
O baile de debutantes é considerado uma espécie de ritual de passagem da infância para vida adulta de uma adolescente, quando os pais apresentam sua jovem à sociedade, começando assim uma nova fase em sua vida. Originários da Europa antiga, especificamente nas regiões da França, Alemanha, Inglaterra e Áustria, os bailes eram realizados pelas famílias nobres, que organizavam grandes eventos sociais conhecidos como bailes de debutantes. Essas ocasiões não apenas eram uma oportunidade para as famílias celebrarem e apresentarem suas jovens à sociedade, mas também para encontros entre jovens de famílias influentes, muitas vezes com o intuito de formar alianças e uniões matrimoniais.
Após a Revolução Francesa, a tradição dos bailes de debutantes se disseminou para as colônias europeias, e posteriormente chegou ao Brasil, entre as décadas de 1940 e 1950. Esses eventos ganharam grande popularidade, frequentemente destacados em colunas sociais das grandes metrópoles do país.O primeiro baile de debutantes em Curitiba ocorreu em outubro de 1944 no Graciosa Country Clube, um prestigiado clube local da cidade.O clube é um dos poucos que ainda mantém a tradição na cidade.
No Clube Curitibano , o baile ocorre desde 1951, sobre o emblemático lustre do Salão Azul Ao longo de 72 edições, o clube celebrou a passagem das meninas para a fase adulta. Taisa Daros, gerente do departamento social do Clube Curitibano e responsável pelo projeto Debutantes, enfrenta o desafio de manter a tradição alinhada à modernidade. “Tivemos que atualizar os bailes porque era algo que as mães desejavam, mas não necessariamente as meninas. Então, modernizamos todo o programa para satisfazer tanto as mães quanto as debutantes”, explica.
Alinhando o Clássico à Modernidade
Os bailes de debutantes estão em alta nas redes sociais, especialmente no TikTok, e tornaram-se um desejo entre as meninas nessa faixa etária. Amanda Camargo, analista de eventos do clube Curitibano, comenta que no último ano algumas famílias se associaram ao clube exclusivamente para que suas filhas pudessem debutar.
Embora alguns vejam o evento como sem sentido, para outros ele simboliza glamour e tradição, passada de geração em geração. “Temos muitas famílias em que as avós debutaram, as mães debutaram, e agora as filhas estão debutando. No ano passado, percebi as meninas mais acanhadas com a ideia de debutar, era mais um desejo das mães. Este ano, no entanto, as meninas querem participar”, relata Taisa.
Os preparativos para os bailes de debutantes começam no início do ano e continuam até o dia do evento. Para muitos, o baile é visto apenas como uma noite de glamour, com vestidos lindos e danças, mas o trabalho começa bem antes. “Elas querem estar lindas, aprender a se maquiar e, principalmente, compartilhar esses momentos com as amigas”, observa a gerente do curitibano. Até o dia tão esperado, as debutantes passam por uma agenda cheia de compromissos, que inclui book fotográfico para eternizar a memória, escolha de joias, aulas de maquiagem, aulas de habilidades sociais e aulas de valsa, que são muito importantes para o dia da festa.
Uma coisa do curitibano
Antigamente, eram somente os clubes que promoviam essa comemoração. Mas por que essa tradição é tão arraigada na cidade em comparação a outros lugares do país? Taisa, organizadora de eventos, compartilha sua opinião: “Eu acredito que seja de Curitiba mesmo, é uma tradição curitibana. E por que em Curitiba é tão forte? Eu acredito que seja por causa do nome, da família, do sobrenome”. Ela menciona também que em outras cidades essa tradição não é tão firme. “A gente viajou a outros clubes, fomos para o Pinheiros, fomos para o Paulistano, o meu superintendente foi para o Minas. Lá em São Paulo foi tirado. A gente foi lá e falou, vocês têm debutantes? O que é isso? Eles nem sabem. É retirado do calendário social deles, debutantes, porque não tem essa. A tradição faz parte daqui, é aqui em Curitiba, principalmente por algum motivo.”
“É uma característica dos curitibanos, talvez porque Curitiba seja uma capital mais tradicional, uma cidade grande com aspectos de cidade pequena. As famílias aqui cultivam esse tipo de evento”, comenta a primeira-dama do Clube Curitibano, Lia Oliveira.
Lia, que debutou em 1975, conta que na sua época o baile de debutantes era o evento mais esperado pelas jovens. Ela destaca que o legado dessa tradição é homenagear todas as mulheres que já foram debutantes, sejam mães, avós, tias. “Chegou a tua vez agora de ser apresentada à sociedade”, diz. Apesar de hoje em dia a mulher estar muito mais ativa e integrada na sociedade, Lia acredita que ainda existem tradições que valem a pena ser mantidas. “Embora tenha sido criado no século XIX e alguns achem que é antiquado, o baile de debutantes é uma coisa bonita. Os pais ficam muito felizes ao apresentar suas filhas como jovens que se tornaram belas e prontas para novos desafios.” No final do século XIX e início do século XX, a expectativa de vida era diferente, as pessoas raramente chegavam aos 40 anos. Os bailes de debutantes são uma novidade para as jovens , uma tradição passada de geração em geração. Hoje, o evento homenageia todas as mulheres que já foram debutantes . É um rito de passagem que celebra a chegada da nova geração .
Para Victoria Cavali, de 18 anos, debutar foi uma experiência inesquecível. Ela, que fez 15 anos em 2020, no ano da pandemia, mas celebrou seu debut em 2021 e 2022.. A decisão de debutar surgiu no final de 2019. Curiosamente, não houve muita influência familiar nessa escolha, pois debutar não era uma prática comum em sua família. “Minhas mães e tias, por exemplo, não debutaram. O que realmente me motivou foi a influência das minhas amigas. Na época em que decidi debutar, frequentava o clube diariamente com elas, e todas tinham o desejo de debutar”, conta Victoria, explicando que o ambiente e a empolgação das amigas a contagiaram e despertaram seu interesse pelo evento.
Victoria relata que o evento não só proporcionou novas amizades, mas também fortaleceu os laços com amigos e familiares. Ela descreve o debut como “o momento da minha vida em que mais construí amizades e também me aproximei bastante da minha mãe”. A preparação para o baile envolvia muitos detalhes, como a escolha do vestido, sapatos, maquiagem, convites e lembrancinhas para as outras debutantes. Como uma menina de 15 anos, ela precisava da ajuda da mãe para organizar tudo isso. “Lembro-me de um dia em que fomos provar nossos vestidos à tarde e depois fomos tomar um café juntas. Esses momentos foram muito especiais, pois eram raros devido ao horário de trabalho da minha mãe, que quase nunca coincidia com os meus horários escolares”, relembra Victoria.
Em cada valsa dançada, os bailes de debutantes de Curitiba continuam a escrever novas histórias, mantendo viva uma tradição que atravessa gerações. A tradição dos bailes de debutantes em Curitiba é um reflexo da valorização das raízes culturais e familiares, que alia o clássico ao moderno. Enquanto algumas cidades brasileiras abandonaram essa tradição, Curitiba mantém-se firme, adaptando-se às novas gerações sem perder a essência que faz dos bailes de debutantes um evento tão esperado e especial. Seja pelo glamour, pelo simbolismo ou pelo desejo de continuidade, os bailes de debutantes continuam a encantar e unir a sociedade curitibana, perpetuando uma tradição que, como a primavera, renova-se a cada ano.
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