Folia de Reis, símbolo do território geográfico da Paulistânia e da cultura caipira.
Folia de Reis(Paulistânia), Terno de Reis, Companhia de Reis, Reisado(Nordeste) ou Festa de Santos Reis (em Portugal diz-se Reisada ou Reiseiros), é uma manifestação católica, cultural e festiva, classificada sobretudo no Brasil como manifestação folclórica, comemorativa da festa religiosa da Epifania do Senhor ou Teofonia, que se caracteriza por celebrar a Adoração dos Magos ao nascimento de Jesus Cristo.
Nestes festejos existem elementos musicais da música caipira com a presença de vários instrumentos (desde acordeons, violões, violas, cavaquinhos, reco-reco, caixas, pandeiros e etc.) em que os participantes das folias visitam as casas de porta em porta com sua cantoria, lembrando a viagem dos Reis Magos para levar ao Menino Jesus seus presentes de ouro, incenso e mirra. Esta manifestação revela a combinação de duas figuras da teologia: a epifania (como sendo a aparição ou manifestação divina, no caso a primeira manifestação de Jesus entre os gentios) e a hierofania (manifestação do sagrado em objetos, formas naturais ou pessoas); reúne, assim, elementos sagrados e profanos.
A devoção aos chamados "Reis Magos", ocorria em toda a Europa durante a Idade Média; isto se deveu ao traslado em 1164 para a Catedral de Colônia, na atual Alemanha, dos supostos restos mortais dos três reis como despojos de guerra por Frederico Barba-Ruiva, para onde haviam sido levados a Milão como presente da rainha Helena de Constantinopla por volta do século IV ou V.
Durante esse período registros iconográficos da visita dos Reis Magos foram sendo feitos em catacumbas, quadros, retábulos, sarcófagos, etc, e fizeram de Colônia um alvo de peregrinações religiosas, tais como ocorriam em outras regiões consideradas sagradas; neste contexto de romarias surgiram cantos populares de grande importância no medievo europeu, chamados Noëls em França ou Villancicos, em Espanha.
Em Portugal sofreram esses cânticos a adição do teatro de Gil Vicente e,no Brasil, de José de Anchieta e Manuel da Nóbrega, serviu de base às manifestações existentes no país conhecidas como reisados, boi-de-reis, pastorinhas, boi-de-janeiro e folia de reis.
A Folia de Reis caipira foi fortemente influenciada pela reisada norte-portuguesa, possuindo de certa forma, traços da cultura céltica.
Na cultura tradicional caipira e caiçara da Paulistânia, os festejos de Natal são comemorados por grupos que visitam as casas, tocando músicas alegres em louvor aos "Santos Reis" e ao nascimento de Cristo; essas manifestações festivas estendem-se até a data consagrada aos Três Reis Magos, 6 de janeiro, trazida ainda no período colonial pelos portugueses e espalhada pelos bandeirantes em suas vilas, arraiais e bairros rurais, e hoje é uma tradição que se mantém viva em pequenas cidades de toda a Paulistânia.
"Os Três Reis chegaram cansados e no seu portão eles parou.
Perguntei ao dono da casa como vai como passou.
Como vai como passou o senhor e sua família?
Aqui está os Três Reis, minha bandeira, minha Companhia.
(...)"
"Os foliões com violas enfeitadas, tambores, pandeiros e sanfonas, fazem o fundo de cantorias de vozes agudas para a bandeira dos Reis Magos passar. A bandeira é anunciada pela figura pitoresca do "Bastião", com seu fardão de chita colorido e máscara assustadora com longas barbas de saco de ráfia desfiada. Figura central do cortejo, este palhaço brincalhão e amedrontador corre atrás de crianças, irrita cachorros e debocha de quem passa do seu lado com estrondosas gargalhadas. Apesar de todo seu espírito travesso, ao ser convidado por um devoto com o pedido de adentrar com a bandeira em sua morada, a troça fica de fora e um profundo respeito no Bastião é instaurado. É de sua responsabilidade recitar lindos versos aprendidos de ouvido para saudar o "Patrão" e a "Patroa" e só assim receber a autorização para a Companhia e sua bandeira na casa entrar e iniciar as cantorias."
Essa peregrinação de fé em forma de festa é acolhida pela comunidade, e para a Companhia são oferecidos almoços e jantares, geralmente os pratos compostos de arroz, feijão, macarrão com molho ralo e como “mistura” frango ou porco, feitos no capricho e no tempero. Verdadeiros banquetes abertos, são estendidos para todo mundo que deseja participar, não há restrição para estranhos que aparecerem. Essa comunhão entre a Folia de Reis e comunidade é fundamental, construindo um elo para que o festejo possa se repetir no próximo ano.
Viva a Folia de Reis!
-Felipe de Oliveira
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