#ANTIGAMENTE MALHÁVAMOS O #JUDAS
Malhar o Judas ainda é uma prática comum no Brasil, apesar do costume estar desaparecendo das grandes cidades, principalmente por falta de realização das últimas gerações que já não mais conhecem a historicidade bíblica do papel que Judas exerceu na condenação de Jesus à cruz. Hoje, a brincadeira está restrita, praticamente, a algumas cidades do interior do Brasil, que continuam preservando a nossa cultura e tradições populares.
A brincadeira acontece na Semana Santa, especificamente no sábado de Aleluia. Na madrugada do sábado, bonecos de palha ou de pano são pendurados em postes de iluminação pública, galhos de árvores, porteiras, para serem malhados, rasgados e queimados pela manhã.
A cidade amanhece com postes enfeitados com diversos judas: bonecos feitos com um paletó velho, camisa, calça, meias, sapatos, meias colocadas nas mãos, gravata, cujo corpo é enchido com trapos, panos velhos, raspas de madeira e jornais.
O Judas representa o personagem bíblico, Judas Iscariotes, que traiu Jesus Cristo com um beijo por 30 moedas. Consumada a traição, arrependeu-se, tentou restituir o dinheiro, mas, repelido pelos sacerdotes, enforcou-se numa corda.
A brincadeira seria uma maneira dos católicos se vingarem da traição do Judas. Antes do boneco morrer enforcado como o traidor, no entanto, tem que apanhar e ser bastante xingado.
No século 19, registros citam que nas cidades brasileiras os bonecos de judas traziam fogos de artifício no ventre e eram Incendiados junto com bonecos de demônios, ambos ardendo colorida e apoteoticamente e sendo aplaudidos pelo povo.
Atualmente, o boneco é feito com a fisionomia de alguma personalidade do mundo político, social, econômico, artístico ou esportivo que não é apreciado pelo povo, merecendo portanto ser ridicularizada, xingada e condenada.
No Brasil, no momento que antecede a queima, costuma-se ser feito, também, o julgamento de Judas, antes da sua condenação e execução. O “testamento” é escrito e adaptado ao folclore de cada região, e colocado no bolso do boneco. Alguém retira-o do bolso do boneco e faz sua leitura. Trata-se de uma sátira das pessoas e coisas locais. A “herança” só tem graça para o povo da cidade que vive o seu dia-a-dia e conhece os personagens com quem a ou a quem o Judas se refere.
Segue alguns exemplos:
"Aqui vai este sapato para o Sr. Antônio
O chapéu para o Sr. José
A gravata para o Sr. Willian
O paletó para o Sr. Aílton
O cinturão para a Sra. Maria
A camisa para o Sr. Geraldo
A calça para o Sr. Cristiano"
.....
"Deixo para o Mestre Isaías
Como o Antônio Nel uma questão:
A Antônio Nel diz que sim!
Mas o Mestre diz que não!
Diz que é mentira pura,
Que não como rapadura
Acompanhando a procissão
Deixo para o “João da Bela”
O meu canário “parteiro”
Que ele cria como bem
Mas é um “buga” verdadeiro
Vive em casa esvoaçando
Com o João “Curruxiando”
Na tenda de sapateiro"
Nos lugarejos do interior brasileiro, principalmente no Nordeste, o “testamento” é manuscrito, em folhas de papel almaço e distribuído entre alguns amigos. Quando existem tipografias no local, ele é impresso e colocado por debaixo das portas das casas, de madrugada e, às vezes, vendidos pelas ruas.
(Adaptado de: basilio.fundaj.gov.br / Fotos da web)
Paulo Grani