Eduardo Fernando Chaves: Projetista
Denominação inicial: Projecto de casa para o Snr. Fritz Scknepper
Denominação atual:
Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Pequeno Porte
Endereço: Villa Guayra
Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 125,00 m²
Área Total: 125,00 m²
Técnica/Material Construtivo: Madeira
Data do Projeto Arquitetônico: 05/04/1927
Alvará de Construção: Nº 5304/1927
Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de casa de madeira com dois pavimentos.
Situação em 2012: Demolido
Imagens
1 - Projeto Arquitetônico.
Referências:
1 - GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto de casa do Snr. Fritz Scknepper na Villa Guayra. Plantas dos pavimentos térreo e superior e de implantação, cortes e fachadas frontal e lateral apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
1 - Projeto Arquitetônico.
Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.
A Casa de Fritz Scknepper na Villa Guayra: Uma Residência de Madeira que Encarnou a Curitiba dos Anos 1920
Projeto arquitetônico de dois pavimentos, erguido por um morador teuto-brasileiro em um dos bairros mais elegantes da capital paranaense — hoje desaparecida, mas viva na memória documental.
Fritz Scknepper: O Morador que Deu Nome à História
Em 1927, Fritz Scknepper — homem de origem germânica, provavelmente descendente de imigrantes que chegaram ao Paraná nas décadas anteriores — decidiu construir sua casa em Villa Guayra, então um dos bairros mais prestigiados de Curitiba. Situado nas colinas ao norte do centro, o bairro reunia famílias de classe média alta, comerciantes, profissionais liberais e membros da comunidade teuto-brasileira, que ali buscavam ar puro, vistas amplas e distância do burburinho urbano.
Embora pouco se saiba sobre a vida pessoal ou profissão de Fritz, seu nome permanece ligado a um projeto arquitetônico singular: uma residência de madeira de dois pavimentos, desenhada para ser ao mesmo tempo funcional, acolhedora e digna de seu lugar em um bairro de elite.
A Casa: Simplicidade, Elegância e Tradição em 125 m²
A casa projetada para Fritz Scknepper tinha 125,00 m² de área total, distribuídos em dois pavimentos. Apesar do tamanho modesto, o projeto revelava cuidado com a organização espacial, ventilação cruzada, privacidade dos dormitórios e integração com o terreno.
Construída em madeira — material preferido pelas famílias germânicas por sua facilidade de trabalho, isolamento térmico e familiaridade cultural —, a residência apresentava:
- Pavimento térreo com salas de estar e jantar, cozinha e área de serviço
- Pavimento superior destinado aos dormitórios, garantindo privacidade e silêncio
- Fachadas bem proporcionadas, com janelas simétricas e beirais generosos — típicos das construções europeias adaptadas ao clima subtropical
- Implantação cuidadosa no lote, respeitando os recuos exigidos e aproveitando a topografia do terreno
O projeto completo — incluindo plantas, cortes, fachadas frontal e lateral, e planta de implantação — foi reunido em uma única prancha técnica, clara, precisa e apresentada com rigor profissional.
Villa Guayra: O Cenário de uma Vida Nobre
A escolha de Villa Guayra como endereço não foi casual. No início do século XX, o bairro era símbolo de ascensão social e distinção cultural. Era ali que famílias de origem alemã, italiana e portuguesa erguiam suas casas em meio a pinheirais, longe da poluição e da agitação do centro, mas próximas o suficiente para manter seus negócios e relações sociais.
Morar em Villa Guayra era, portanto, uma declaração de identidade: de alguém que valorizava a natureza, a ordem, a família e a tradição — valores centrais na cultura teuto-brasileira da época.
A casa de Fritz Scknepper, embora modesta em dimensões, fazia parte desse tecido urbano de distinção e pertencimento.
Legalidade e Modernidade: O Alvará de 1927
Em 5 de abril de 1927, foi emitido o Alvará de Construção nº 5304/1927, autorizando oficialmente a edificação da residência. Isso indica que:
- A obra foi devidamente registrada e aprovada pela prefeitura
- O projeto cumpria as normas de higiene, segurança e urbanismo da época
- Fritz Scknepper era um cidadão engajado, que respeitava as instituições e investia com responsabilidade em seu patrimônio
O alvará também revela um momento importante na história de Curitiba: a cidade, então com cerca de 80 mil habitantes, já contava com um sistema de controle urbanístico estruturado, que exigia projetos assinados por técnicos habilitados — o que confirma a seriedade do empreendimento.
O Desaparecimento: Uma Perda Irreparável
Infelizmente, a casa de Fritz Scknepper não sobreviveu ao tempo. Em 2012, já havia sido demolida, como tantas outras construções de madeira da primeira metade do século XX. Substituída, provavelmente, por um edifício de concreto ou um terreno vazio, sua presença física desapareceu do mapa urbano.
Contudo, sua memória arquitetônica permanece. Graças ao Arquivo Público Municipal de Curitiba, o projeto original foi preservado em microfilme digitalizado, mantendo viva a imagem daquela residência que, por décadas, abrigou uma família, testemunhou a vida cotidiana e representou um modo de habitar profundamente enraizado na cultura paranaense.
Legado: Mais do que Uma Casa — Um Testemunho de Época
A casa de Fritz Scknepper era mais do que um abrigo. Era:
- Um reflexo da identidade teuto-brasileira em Curitiba
- Um exemplo da arquitetura vernácula modernizada, que unia tradição e inovação
- Um marco da urbanização da Villa Guayra
- Um símbolo da aspiração de uma classe média que acreditava no futuro da cidade
Embora demolida, ela nos ensina que a história urbana não está apenas nos palacetes e monumentos, mas também nas casas simples, nas ruas tranquilas e nos nomes de moradores como Fritz Scknepper — homens comuns que, com seu trabalho e seu sonho de lar, ajudaram a construir Curitiba.
Hoje, onde antes havia vigas de pinho, talvez haja concreto.
Mas nos arquivos, nas linhas de uma prancha, Fritz Scknepper ainda mora — com sua casa, sua dignidade e seu lugar na história da cidade.
