Eduardo Fernando Chaves: Projetista
Denominação inicial: Projecto da residência do Snr. Hans Sastny
Denominação atual:
Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência Econômica
Endereço: Villa Guayra – Avenida Guayra
Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 80,00 m²
Área Total: 80,00 m²
Técnica/Material Construtivo: Madeira
Data do Projeto Arquitetônico: 03/07/1927
Alvará de Construção: Nº 3429/1927
Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de uma residência de madeira.
Situação em 2012: Demolido
Imagens
1 - Projeto Arquitetônico.
Referências:
1 - GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto de uma residência para o Snr. Hans Sastny na Villa Guayra. Plantas do pavimento térreo e de implantação, cortes e fachadas frontal e lateral apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
1 - Projeto Arquitetônico.
Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.
A Casa de Hans Sastny na Villa Guayra: Uma Residência Econômica que Encarnou o Sonho Teuto-Brasileiro em Curitiba
Pequena em área, mas rica em significado: a casa de madeira de um imigrante ou descendente que escolheu a Villa Guayra para plantar raízes — hoje desaparecida, mas viva nos arquivos da cidade.
Hans Sastny: O Morador Alemão na Colina de Villa Guayra
Em 3 de julho de 1927, Hans Sastny — cujo nome revela inequivocamente sua origem germânica — deu início à construção de sua residência na Avenida Guayra, em Villa Guayra, um dos bairros mais emblemáticos da Curitiba teuto-brasileira.
Embora não se saiba ao certo se Hans era imigrante recém-chegado ou descendente da segunda geração de colonos germânicos, seu nome e a localização da casa indicam fortes laços com a comunidade alemã que, desde o século XIX, moldou a identidade cultural, religiosa e arquitetônica da região.
Villa Guayra, na década de 1920, era sinônimo de ordem, tradição e vida familiar. Era ali que famílias de origem alemã erguiam casas de madeira, cultivavam hortas, rezavam em alemão e celebravam festas como a Kerb (festa da colheita) e o Natal com árvore e presépio. Hans Sastny, ao escolher esse bairro, não apenas buscava um endereço — ele reafirmava sua identidade.
A Residência: Simplicidade, Funcionalidade e Economia
Com apenas 80,00 m² de área total, distribuídos em um único pavimento, a casa de Hans Sastny foi classificada como “residência econômica” — uma categoria que reflete tanto as limitações financeiras quanto a ética do trabalho e da modéstia tão valorizada na cultura germânica.
Construída integralmente em madeira, a residência seguia um modelo tradicional:
- Planta compacta, com salas integradas, dois ou três dormitórios, cozinha e área de serviço
- Varanda frontal, elemento essencial para o convívio social e o descanso à sombra dos pinheirais
- Telhado de duas águas com beirais salientes, protegendo as paredes da chuva e do sol forte
- Fachadas simples, porém proporcionais, com janelas bem distribuídas para ventilação cruzada
O projeto, elaborado pelo escritório Gastão Chaves & Cia., foi apresentado em uma única prancha, contendo:
- Planta do pavimento térreo
- Planta de implantação (mostrando a posição da casa no terreno)
- Cortes longitudinais e transversais
- Fachadas frontal e lateral
Apesar da simplicidade, o projeto demonstra atenção técnica, rigor construtivo e respeito pelo contexto ambiental — qualidades que permitiam que casas econômicas durassem décadas, mesmo com materiais “modestos”.
Villa Guayra: O Cenário do Sonho Burguês
A escolha da Avenida Guayra, artéria principal do bairro, revela que Hans Sastny não se isolou: ao contrário, buscou visibilidade, acesso e integração com a comunidade. Morar na avenida significava estar próximo à igreja, à escola, ao comércio local e aos vizinhos — valores centrais na vida coletiva da colônia.
Naquele momento, Curitiba vivia um período de expansão urbana acelerada, mas ainda mantinha fortes traços rurais e comunitários. Uma casa de 80 m², embora pequena pelos padrões atuais, era suficiente para uma família de quatro a seis pessoas — e representava estabilidade, propriedade e honra.
Legalidade e Reconhecimento: O Alvará nº 3429/1927
O projeto foi oficialmente autorizado pela Prefeitura Municipal de Curitiba por meio do Alvará de Construção nº 3429/1927, emitido ainda em 1927. Esse documento é crucial: ele confirma que:
- A construção foi legalizada, seguindo as normas urbanísticas da época
- Hans Sastny era um cidadão engajado, que respeitava as instituições e investia com responsabilidade
- A residência não era uma edificação precária, mas sim uma obra planejada por profissionais habilitados
O fato de um imigrante ou descendente buscar regularização também mostra o processo de integração à sociedade brasileira: manter tradições culturais, sim — mas também cumprir leis, pagar impostos e participar da vida cívica.
O Desaparecimento: Uma Perda Silenciosa
Infelizmente, como tantas outras construções de madeira da época, a casa de Hans Sastny foi demolida antes ou até 2012. Substituída, provavelmente, por um prédio de alvenaria ou um terreno vazio, sua presença física desapareceu da paisagem urbana.
Mas sua memória resistiu. Graças ao Arquivo Público Municipal de Curitiba, o projeto original foi preservado em microfilme digitalizado, mantendo viva a imagem de uma casa que, por décadas, abrigou risos, orações, refeições compartilhadas e o cotidiano de uma família teuto-brasileira.
Legado: A Beleza da Modéstia
A residência de Hans Sastny não era luxuosa. Não tinha salões, nem escadarias, nem decorações elaboradas. Mas era um lar — e, nisso, reside seu valor histórico.
Ela representa:
- A cultura da modéstia e do trabalho
- A arquitetura vernácula adaptada ao clima e à cultura do Sul do Brasil
- A capacidade dos imigrantes de criar raízes com poucos recursos, mas muito orgulho
- O tecido urbano invisível que, somado a centenas de outras casas como essa, formou a identidade de Curitiba
Hoje, ao caminhar pela Avenida Guayra, poucos sabem que ali, um dia, Hans Sastny acordou para ver o sol nascer sobre os pinheirais, ouviu o canto dos sabiás e sentiu que, finalmente, tinha um lar.
A madeira se foi, mas o sonho permanece — nos arquivos, nas plantas, e na memória de uma cidade que deve muito aos seus moradores silenciosos.
