Mostrando postagens com marcador A Casa do Sr. Antônio Barcik: Um Bungalow Econômico na Curitiba de 1940. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador A Casa do Sr. Antônio Barcik: Um Bungalow Econômico na Curitiba de 1940. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

A Casa do Sr. Antônio Barcik: Um Bungalow Econômico na Curitiba de 1940

 Denominação inicial: Projéto de Bungalow para o Snr. Antonio Barcik

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência Econômica

Endereço: Rua Carlos de Carvalho

Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 77,00 m²
Área Total: 77,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 08/05/1940

Alvará de Construção: Nº 4553/1940

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de bangalô e Alvará de Construção.

Situação em 2012: Não localizada


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.

Referências: 

1 – CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Bungalow. Planta do pavimento térreo e de implantação; corte, fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 – Alvará n.º 4553

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

A Casa do Sr. Antônio Barcik: Um Bungalow Econômico na Curitiba de 1940

“Nem toda casa construída deixa pedra — mas toda casa sonhada deixa memória.”

Em 8 de maio de 1940, sob o céu ainda marcado pelas incertezas da Segunda Guerra Mundial, mas também pela esperança de reconstrução e progresso, o arquiteto — cujo nome não consta nos registros disponíveis — entregava ao senhor Antônio Barcik um projeto modesto, porém cuidadoso: o Projéto de Bungalow para o Snr. Antonio Barcik, destinado à construção de sua residência na Rua Carlos de Carvalho, em Curitiba, Paraná.

Embora a casa, segundo levantamentos realizados até 2012, não tenha sido localizada — possivelmente demolida, transformada ou absorvida pelas mudanças urbanas da capital paranaense —, seu projeto permanece como testemunho de uma época em que a habitação econômica era pensada com dignidade, funcionalidade e sensibilidade espacial.


Um Morador e Seu Sonho: Antônio Barcik

Pouco se sabe sobre a vida de Antônio Barcik, mas seu nome gravado no título do projeto revela mais do que uma simples encomenda arquitetônica: revela o desejo de um cidadão comum de ter um lar próprio em uma cidade em expansão.
Seu sobrenome sugere origem centro-europeia, provavelmente polonesa ou ucraniana — comunidades numerosas na região Sul do Brasil, especialmente no Paraná, onde muitos imigrantes chegaram no final do século XIX e início do XX em busca de terra, trabalho e futuro.

A escolha por uma residência econômica de 77 m² indica um orçamento modesto, mas também uma visão clara do essencial: um espaço seguro, funcional e acolhedor para sua família.


O Projeto: Simplicidade com Propósito

O bungalow projetado para o Sr. Barcik era uma construção de um único pavimento, com planta compacta, mas inteligentemente distribuída. Com 77,00 m² de área total, a casa oferecia:

  • Um programa básico, mas completo para a época: sala, dormitórios, cozinha, banheiro e área de serviço;
  • Implantação eficiente no terreno, respeitando recuos e orientação solar;
  • Fachada frontal de linhas limpas, típica do estilo bungalow — uma tipologia residencial inspirada nos modelos norte-americanos e adaptada ao contexto brasileiro nas primeiras décadas do século XX;
  • Corte arquitetônico que revelava pé-direito adequado e ventilação cruzada, essenciais para o clima subtropical de Curitiba.

Construída em alvenaria de tijolos, a técnica mais comum e acessível da época, a residência alinhava-se às práticas de habitação popular racional, que buscavam equilíbrio entre custo, durabilidade e conforto.

O projeto foi formalizado com o Alvará de Construção nº 4553/1940, emitido pela prefeitura de Curitiba, confirmando sua legalidade e inserção no tecido urbano da cidade em pleno processo de modernização.


O Bungalow na Curitiba dos Anos 1940

Na década de 1940, Curitiba vivia uma fase de intenso crescimento demográfico e urbano. A industrialização começava a se firmar, e a demanda por moradias acessíveis crescia rapidamente. Projetos como o do Sr. Barcik eram parte de um movimento silencioso, porém fundamental: a democratização da casa própria.

O termo “bungalow”, embora de origem indiana e popularizado nos EUA, era usado no Brasil para designar casas térreas, de planta simples, com telhado inclinado e varanda — muitas vezes associadas à ideia de conforto doméstico sem ostentação.

O projeto para Antônio Barcik, embora econômico, não abria mão de qualidade espacial. A prancha arquitetônica, preservada em microfilme (Chaves, 2012), mostra cuidado com proporções, fluxos internos e integração com o entorno — qualidades que, mesmo em projetos modestos, refletem o compromisso do arquiteto com a vida cotidiana de quem habita.


A Casa que Desapareceu — e o Que Ficou

Embora o imóvel não tenha sido localizado em 2012, sua existência documental permanece como patrimônio da memória urbana. O projeto arquitetônico e o alvará de construção — hoje arquivados e referenciados — são peças históricas que revelam:

  • As políticas habitacionais informais da época;
  • O perfil socioeconômico dos novos moradores da cidade;
  • A cultura do projeto aplicada mesmo às classes médias e trabalhadoras;
  • E, acima de tudo, o direito à casa como um valor social concreto.

Antônio Barcik talvez nunca tenha imaginado que, décadas depois, seu nome estaria ligado a um documento que fala não só de tijolos e telhados, mas de esperança, pertencimento e cidadania.


Conclusão: Em Defesa da Memória das Pequenas Casas

Em uma época em que o patrimônio é frequentemente associado a palacetes e edifícios monumentais, é crucial lembrar que a história urbana também se escreve nas casas simples — nas residências de 77 m², nas alvenarias de tijolos aparentes, nos alvarás assinados por mãos anônimas.

A casa do Sr. Antônio Barcik, mesmo desaparecida fisicamente, continua de pé na memória coletiva da cidade. Ela é um lembrete de que toda moradia digna é um ato de resistência — e de amor.

E, enquanto houver arquivos, microfilmes e histórias como esta, Antônio Barcik nunca terá sido apenas um nome em uma planta.
Ele foi — e é — um morador de Curitiba.
E isso, por si só, já é uma grandeza.


Referências

  1. CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Bungalow. Planta do pavimento térreo e de implantação; corte, fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
  2. Alvará de Construção nº 4553/1940, Prefeitura Municipal de Curitiba.