Denominação inicial: Residência para o Snr. José Loureiro de Siqueira
Denominação atual:
Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Médio Porte
Endereço: Avenida 7 de Setembro, nº 1504
Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 272,00 m²
Área Total: 272,00 m²
Técnica/Material Construtivo: Concreto Armado
Data do Projeto Arquitetônico: 10/07/1935
Alvará de Construção: N° 1342/1935
Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de residência e, Alvará de Construção com Memória de Cálculo.
Situação em 2012: Demolido
Imagens
1 - Projeto Arquitetônico.
2 – Planta da garagem.
3 - Planta das estruturas em concreto armado.
4 – Planta da escada em concreto armado.
5 - Alvará de Construção com Memória de Cálculo.
Referências:
1, 2, 3 e 4 - CHAVES, Eduardo Fernando. Residência para o Snr. José Loureiro de Siqueira. Planta dos pisos térreo e superior, fachada principal e lateral direita, corte; planta da garagem com dependências de empregada, lavanderia, depósito, muro e implantação; planta com plano das vigas e lajes do piso superior em concreto armado; planta e corte da escada em concreto armado, representados em quatro pranchas. Microfilme digitalizado.
5 – Alvará n.º 1342
1 - Projeto Arquitetônico.
2 – Planta da garagem.
3 - Planta das estruturas em concreto armado.
4 – Planta da escada em concreto armado.
Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.
A Residência do Sr. José Loureiro de Siqueira: Uma Obra de Concreto e Distinção na Curitiba dos Anos 1930
“Há edifícios que desaparecem — mas sua sombra permanece na história da cidade.”
Em 10 de julho de 1935, em pleno auge da modernização urbana de Curitiba, foi assinado o projeto arquitetônico para a residência do senhor José Loureiro de Siqueira, uma construção de médio porte, localizada na Avenida 7 de Setembro, nº 1504 — uma das artérias mais prestigiadas da capital paranaense à época.
Embora o imóvel tenha sido demolido antes de 2012, seu legado subsiste nos documentos técnicos e nas pranchas arquitetônicas preservadas, que revelam não apenas um projeto residencial, mas um testemunho da transição entre o ecletismo tradicional e os primeiros ventos da arquitetura moderna no Paraná.
José Loureiro de Siqueira: Um Homem de Posses e Visão
Embora os registros biográficos sobre José Loureiro de Siqueira sejam escassos, o porte e a localização de sua residência sugerem que era um homem de posição social elevada, provavelmente ligado ao comércio, à indústria ou à elite agrária do estado.
A escolha pela Avenida 7 de Setembro, via emblemática que ligava o centro à região dos Campos Gerais, era um claro sinal de status e pertencimento à elite urbana de Curitiba. Morar ali, na década de 1930, era habitar o coração simbólico da cidade em transformação.
O Projeto: Sofisticação Técnica e Espacial
A residência projetada para o Sr. Siqueira era uma construção de dois pavimentos, com 272,00 m² de área total, distribuídos de forma equilibrada entre os níveis térreo e superior. Seu traçado revelava um programa residencial completo e sofisticado para a época:
- Piso térreo: sala de estar e jantar, escritório, cozinha, copa, dependências de empregada, lavanderia, depósito e garagem para automóvel — um luxo ainda raro em 1935;
- Piso superior: dormitórios, incluindo suítes, banheiros, varandas e possivelmente um espaço de lazer privativo;
- Escada central em concreto armado, elemento estrutural e estético de destaque;
- Implantação cuidadosa, com muros, recuos e integração entre áreas internas e externas.
A escolha do concreto armado como técnica construtiva foi uma decisão técnica avançada. Em 1935, muitas residências ainda eram erguidas em alvenaria de tijolos maciços ou estrutura de madeira. O uso de concreto armado — com plantas detalhadas de vigas, lajes e escada estrutural — indicava não apenas modernidade, mas também acesso a engenheiros, arquitetos e empreiteiros qualificados, além de recursos financeiros consideráveis.
A Memória de Cálculo anexada ao Alvará de Construção nº 1342/1935 atesta o rigor técnico da empreitada — um documento raro para residências da época, mais comum em edifícios públicos ou industriais.
Arquitetura entre Tradição e Inovação
As fachadas, segundo as pranchas do arquiteto (preservadas em microfilme por Eduardo Fernando Chaves), combinavam elementos ecléticos com toques de racionalidade moderna:
- Simetria clássica na composição principal;
- Varandas com balaustradas;
- Telhado inclinado, ainda comum antes da hegemonia do platibanda modernista;
- Mas também vãos generosos, linhas limpas e ausência de excesso ornamental — sinais de uma estética em transição.
A garagem, por si só, era um indicador de modernidade: Curitiba contava com menos de 2.000 automóveis em 1935, e projetar uma casa com garagem integrada era um privilégio de poucos.
O Desaparecimento: Quando a Cidade Apaga sua Própria História
Infelizmente, a residência do Sr. José Loureiro de Siqueira não resistiu ao tempo. Até 2012, já havia sido demolida, provavelmente substituída por um edifício comercial ou residencial de maior densidade — destino comum a muitas mansões urbanas da primeira metade do século XX, vítimas da especulação imobiliária e da ausência de políticas efetivas de preservação do patrimônio arquitetônico residencial.
Essa perda não é apenas física. Com a demolição, apaga-se também a materialidade de um modo de vida, de uma forma de habitar a cidade com generosidade espacial, privacidade e elegância.
O Legado nos Arquivos: Memória que Resiste
Felizmente, o projeto sobreviveu nos microfilmes do Arquivo Público de Curitiba, compilados por pesquisadores como Eduardo Fernando Chaves. As quatro pranchas originais contêm:
- Plantas dos pavimentos térreo e superior, fachadas e corte;
- Planta da garagem com dependências de serviço e muros;
- Planta estrutural de concreto armado do piso superior;
- Detalhes da escada em concreto armado, com corte técnico.
Esses documentos são peças raras — provas de que, mesmo antes do movimento moderno pleno, arquitetos e engenheiros em Curitiba já dominavam técnicas avançadas e pensavam a casa não apenas como abrigo, mas como espaço de representação, conforto e inovação.
Conclusão: Uma Casa que Representou seu Tempo
A residência do Sr. José Loureiro de Siqueira jamais será visitada.
Nenhuma criança brincará em seus jardins.
Nenhuma família celebrará aniversários em sua sala de jantar.
Mas, nas linhas de um projeto arquitetônico, nas anotações de um cálculo estrutural, e no número de um alvará antigo, ela continua existindo — como símbolo de uma Curitiba que, mesmo em tempos de crise econômica global (a Grande Depressão ainda ecoava em 1935), ousava construir com ambição, técnica e beleza.
Hoje, ao caminhar pela Avenida 7 de Setembro, pouco se imagina que, naquele trecho, ergueu-se um dia uma casa de concreto e sonhos —
e que seu dono, José Loureiro de Siqueira, foi mais do que um nome em um documento:
foi um morador que acreditou na cidade — e a transformou, tijolo por tijolo, cálculo por cálculo.
“As cidades não são feitas só de ruas — são feitas de casas que ousaram existir.”
Referências
1–4. CHAVES, Eduardo Fernando. Residência para o Snr. José Loureiro de Siqueira. Planta dos pisos térreo e superior, fachada principal e lateral direita, corte; planta da garagem com dependências de empregada, lavanderia, depósito, muro e implantação; planta com plano das vigas e lajes do piso superior em concreto armado; planta e corte da escada em concreto armado. Representados em quatro pranchas. Microfilme digitalizado.
5. Alvará de Construção nº 1342/1935, Prefeitura Municipal de Curitiba.



