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quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

A Residência do Sr. Max Podbevsek: Um Bungalow de Três Pavimentos nas Colinas de Merces

 Denominação inicial: Projéto de Bungalow para o Snr. Max Podbevsek

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Médio Porte

Endereço: Rua sem nome da Planta Gotdestein (Merces)

Número de pavimentos: 3
Área do pavimento: 220,00 m²
Área Total: 220,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Concreto Armado

Data do Projeto Arquitetônico: 22/09/1936

Alvará de Construção: N° 4914/1936

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de residência e Alvará de Construção com Memória de Cálculo.

Situação em 2012: Não localizada


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção com Memória de Cálculo e Projeto para lajes nervuradas em concreto armado.

Referências: 

1 - CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Bungalow para o Snr. Max Podbevsek - Merces. Planta dos pisos térreo, superior e porão, fachada principal e implantação representado em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 - Alvará n.º 4914

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

A Residência do Sr. Max Podbevsek: Um Bungalow de Três Pavimentos nas Colinas de Merces

“Nem todo bungalow é térreo — alguns sonham mais alto, mesmo nas colinas.”

Em 22 de setembro de 1936, no auge do desenvolvimento urbanístico dos bairros periféricos de Curitiba, foi registrado um projeto arquitetônico singular: o “Projéto de Bungalow para o Snr. Max Podbevsek”, destinado a uma colina na região das Merces, em um lote identificado apenas como pertencente à Planta Gotdestein — uma área ainda pouco estruturada na época, mas promissora por sua topografia acidentada e vistas panorâmicas.

Embora o termo “bungalow” usualmente remeta a casas térreas de inspiração anglo-indiana, o projeto de Max Podbevsek desafiava essa definição ao erguer-se em três pavimentos — térreo, superior e porão — totalizando 220,00 m² de área construída, todos em concreto armado, uma escolha técnica ousada e moderna para uma residência privada na década de 1930.

A casa, segundo levantamentos realizados até 2012, não foi localizada, sugerindo que possivelmente nunca foi construída ou foi demolida sem deixar rastro físico. Contudo, seu projeto permanece como um documento precioso da arquitetura residencial de transição em Curitiba — onde tradição, inovação estrutural e aspiração social se entrelaçavam.


Max Podbevsek: Um Nome Entre Dois Mundos

O sobrenome Podbevsek indica origem eslovena ou de alguma região dos Bálcãs, comum entre imigrantes que chegaram ao Paraná no final do século XIX e início do XX, muitos deles estabelecendo-se na agricultura, comércio ou pequenas indústrias.

Embora não haja registros biográficos detalhados sobre Max Podbevsek, o fato de encomendar uma residência de médio porte, com estrutura em concreto armado e três níveis, revela um homem de recursos, visão moderna e ambição urbana. Ele não buscava apenas um abrigo — buscava uma declaração de pertencimento à nova elite técnica e empreendedora de Curitiba.

A escolha pela região das Merces, então periférica e de difícil acesso, sugere também um olhar prospectivo: antecipando a expansão da cidade rumo aos morros ao sul do centro, ele investia em um terreno com potencial de valorização e tranquilidade.


Um “Bungalow” Vertical: Inovação em Altura e Técnica

O projeto, preservado em microfilme por Eduardo Fernando Chaves, compõe-se de uma única prancha detalhada, que reúne:

  • Planta do piso térreo (com áreas sociais e de serviço),
  • Planta do piso superior (com dormitórios e varandas),
  • Planta do porão (possivelmente destinado a depósitos, garagem ou dependências),
  • Fachada principal, de linhas sóbrias e proporções equilibradas,
  • E implantação no terreno inclinado da Planta Gotdestein.

O uso de concreto armado — reforçado por uma Memória de Cálculo anexada ao Alvará de Construção nº 4914/1936 — demonstra um nível técnico incomum para residências da época. Mais notável ainda é a menção a “lajes nervuradas”, um sistema estrutural eficiente e econômico que começava a ser explorado no Brasil, especialmente por engenheiros influenciados pelas novas escolas europeias.

Esse detalhe revela que o projeto não foi concebido por um construtor comum, mas por um profissional com formação técnica avançada, capaz de integrar arquitetura e engenharia com precisão.


O Paradoxo do “Bungalow de Três Pavimentos”

A denominação “bungalow” aplicada a uma construção de três níveis parece, à primeira vista, contraditória. No entanto, na linguagem arquitetônica popular do Brasil dos anos 1930, o termo era frequentemente usado de forma genérica, associado a casas modernas, independentes e de bom gosto, independentemente do número de andares.

O que realmente definia o “bungalow” na percepção da época era:

  • A autonomia da edificação (não geminada),
  • A integração com o jardim,
  • O caráter residencial privado,
  • E, muitas vezes, a presença de varandas e telhados inclinados.

No caso de Max Podbevsek, o projeto provavelmente mantinha essas qualidades, mesmo elevando-se verticalmente para aproveitar a topografia do terreno e maximizar as vistas — uma solução inteligente para lotes em aclive, comum nas Merces.


Um Sonho Não Construído — ou Perdido no Tempo

A não localização da edificação em 2012 levanta duas possibilidades:

  1. O projeto nunca foi executado, talvez devido a restrições financeiras, mudanças de planos ou instabilidades econômicas (o Brasil ainda sentia os ecos da Crise de 1929 e vivia sob o Estado Novo);
  2. A casa foi construída, mas posteriormente demolida, sem deixar vestígios visíveis em meio à urbanização acelerada da região sul de Curitiba nas décadas seguintes.

Independentemente do destino físico da obra, seu projeto subsiste como testemunho de uma Curitiba em transformação — uma cidade onde imigrantes, técnicos e visionários tentavam moldar não apenas casas, mas um novo modo de habitar a montanha.


Legado nos Arquivos: A Casa que Vive no Papel

Graças à preservação em microfilme e ao trabalho de pesquisadores como Eduardo Fernando Chaves, o projeto de Max Podbevsek não desapareceu por completo. Ele permanece nos arquivos como:

  • Um exemplo raro de residência vertical em concreto armado na década de 1930;
  • Um documento da difusão de técnicas modernas entre a classe média alta paranaense;
  • E um símbolo do desejo de ascensão social expresso na arquitetura doméstica.

Mais do que tijolos e lajes, o projeto revela uma visão de futuro — a crença de que, mesmo em uma colina sem nome, era possível erguer algo duradouro, digno e belo.


Conclusão: A Casa que Não Está — Mas Que Foi

Max Podbevsek pode nunca ter cruzado a soleira de sua casa de três andares.
Mas, ao assinar aquele projeto em setembro de 1936, ele já havia construído algo maior:
a esperança de pertencer, de deixar marca, de habitar com dignidade um canto de Curitiba ainda em formação.

Hoje, nas pranchas arquivadas e nos alvarás amarelados, sua residência continua de pé — não em concreto, mas em memória, técnica e sonho.

E talvez, em algum canto das Merces, o vento ainda sussurre o nome de quem ousou sonhar com um bungalow nas alturas.


Referências

  1. CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Bungalow para o Snr. Max Podbevsek – Merces. Planta dos pisos térreo, superior e porão, fachada principal e implantação representado em uma prancha. Microfilme digitalizado.
  2. Alvará de Construção nº 4914/1936, Prefeitura Municipal de Curitiba.