ALEXANDRE E A CARTA À FAMÍLIA EM ANTONINA
ALEXANDRE E A CARTA À FAMÍLIA EM ANTONINA
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Primeiramente, mamãe, eu não me sinto triste. Com isso, espero que a senhora não se deprima. Pelo contrário, maior felicidade do que isso tudo aqui, impossível. Daqui a pouco, vou ao culto. Imagine só que Jesus me abraçou. Ele é muito simpático. Ele é bem diferente daquela imagem que eu via na TV. O cabelo do cara é branco como algodão. Os olhos dele são brilhosos assim como o Sol do meio-dia. Bom, isso tudo vocês poderão conhecer quando vierem para cá.
Todos os dias eu acompanho a vida de cada um de vocês, até mesmo a vidinha do Kiwi. Falando no Kiwi, por que não levaram ele mais no veterinário? Ai ai ai, hein...
Voltando no que eu estava falando:
Eu acompanho vocês diariamente e vejo que sofrem bastante. Sinto muita compaixão! Mas isso não afeta minha felicidade. Espero que parem de sofrer. Eu não posso fazer nada por vocês, não tenho esse poder. E, afinal, vocês têm liberdade de pensamento e escolha.
Antes eu me perguntava: "Quando eu morrer, para onde vou?". As religiões falavam tanto em céu, inferno, purgatório, reencarnação e tudo o mais... Bom, agora já sei onde estou. Tão certo como vive Deus, eu estou no céu.
O momento da minha passagem para este outro lado foi hilário. Pensem nos melhores prazeres... agora multipliquem por milhares, talvez essa tenha sido a intensidade do meu êxtase. Negócio é mágico!
A morte é apenas um momento de transição da vida na Terra para uma outra vida em outro lugar. No meu caso, estou aqui no céu. Muito massa!
A transição é instantânea. É tipo: pá pum! Num piscar de olho, saí daí e vim para cá. Hilário isso! Foi rápido demais!
Vale a pena viver esse tempo, ele é único, único mesmo. Ele é um momento fantástico. Pelo menos para mim foi, porque instantaneamente, saí do banco do meu carro para esse lugar lindo, repleto de anjos e de outros seres igual a mim. Confesso que eu estava sem o sinto de segurança. Não poderia imaginar que um motorista bêbado iria atravessar a pista e se chocar contra mim. Na verdade, a gente até imagina, mas acha que nunca pode acontecer conosco.
Ô pai, sabe quem eu já vi aqui? A vovó Carminha, a tia Lúcia, o tio Odegário. Já vi muita gente conhecida. Vou te dizer: tem muita gente de Antonina aqui. A vovó Carminha está tão lindinha. Lembra da Titi, filha do tio Roberto? Ela está aqui também. Nossa... tem muita gente aqui. Ainda bem que é gigante este lugar. É tudo quadrado aqui, parece um cubo.
Escutem essa Cláudio e Duda: nem comida, nem sexo, nem beijo, nem dinheiro, nem bens... Isso aqui não tem a menor relevância e não há prazer. Esses sentimentos não estão aqui.
Quando vocês morrerem, irão perceber que um segundo após se conscientizarem da nova vida, vocês buscarão apenas um sentido, o de estar ali naquele momento, diante de si mesmo em outro lugar. É tipo uma introspecção transcendental. Vocês ainda irão perceber que seus medos, vaidades, culpas, ilusões, fardos, preocupações estarão ali na sua frente. Tudo estará desnudado diante de vocês. Vocês verão. Um dia vocês verão. Eu vi!
Vou ter que ir... Jesus está me chamando. Acho que é hora das parábolas e depois ainda vamos pescar no rio. Aqui é muito massa!
Aproveitem a vida de vocês aí. Façam o máximo para serem boas pessoas. Sejam sempre honestos, sinceros... Ajam sempre com amor e justiça. Tenham compaixão dos miseráveis. Amem os drogados, os alcoólatras, os mendigos... Amem os homossexuais. Amem as prostitutas. E o principal: acreditem no céu... acreditem em Jesus.
Deixo essa última mensagem a todos e lembro que nunca mais iremos nos falar até que nos vejamos aqui.
O final da vida na Terra é o final de qualquer história que se queira viver, de qualquer escolha que se queira fazer, de qualquer caminho que se queira trilhar, de qualquer sonho que se queira realizar. A vida aí um dia cessará. Então vocês irão ver que a realidade é isso aqui.
Aí, tudo são sombras.
Eu agradeço muito por um dia termos sido da mesma família. Um abraço e um beijo em todos.
Que o meu Deus abençoe vocês.
Até breve!
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- Por Jhonny Arconi