CASA DO BURRO BRABO
Foto do Ministério Público do Estado do Paraná
A volta do Burro Brabo
Publicado na Gazeta do Povo em 11/09/2010
O Burro Brabo está em pé outra vez. Aos desavisados, não se trata de um animal, mas de uma residência que em 1992 foi tombada pelo Patrimônio Histórico Estadual do Paraná. Era para ser restaurada logo em seguida, quando ainda tinha as paredes, mas o reconhecimento histórico criou desentendimentos porque os proprietários do local não queriam restaurá-la. Uma ação civil pública (que durou 11 anos), movida pelo Ministério Público do Paraná, garantiu que a madeira e o barro do pau a pique não virassem pó. No último dia 26 de agosto a vistoria comprovou que o antigo casarão, um dos últimos exemplares da arquitetura rural de Curitiba, está novamente dando ares de sua graça na Rua Erasto Gaertner, n.º 2.035. Ela chegou a virar ruínas no final da década de 1990 em diante e mocó para drogados. Hoje está para alugar, infelizmente, ainda sem chances de virar um museu e ficar aberta para visitação.
Há muitas dúvidas sobre a história do casarão de cerca de dez cômodos e uma varanda de dar inveja. Acredita-se que ela foi construída por volta de 1860, no tempo em que o bairro Bacacheri era mais conhecido como Colônia Argelina – local de 118 imigrantes de 39 famílias francesas. Na lenda popular, o nome Burro Brabo pegou quando ali ficavam os burros que andavam pela antiga Estrada da Graciosa, a qual margeava a casa e era destino de viajantes tropeiros da cidade ao litoral. Os animais que paravam aos montes na frente do imóvel, porque ali era pousada e armazém, eram tão ariscos que ninguém conseguia chegar perto. Não deu outra: a casa levou o apelido. Há quem diga ainda que dom Pedro II, durante suas andanças por aqui, chegou a pernoitar no local.
De Burro Brabo, anos depois, o imóvel recebeu outro nome mais sofisticado, “Casa das Francesas”, porque de secos e molhados passou a ser lugar de damas de companhia dos homens e entre elas estavam algumas francesas. A casa é tida ainda como o primeiro bordel de Curitiba, onde homens levavam discretamente suas companheiras para um drinque e um pouco de amor. O jornalista Aramis Millarch escreveu, em 1989, que no interior da residência existiam salas individuais onde os casais ficavam em completa tranqüilidade. “O garçom, de elegante smoking, só incomodava se os amantes quisessem mais alguma bebida. Não havia propriamente camas nas pequenas salas, mas poltronas que ofereciam um certo conforto.”
A fama da casa chegou também aos ouvidos do vampiro de Curitiba. Quem diria, Dalton Trevisan se inspirou no Burro Brabo em alguns de seus contos, entre eles Em busca da Curitiba Perdida. “Curitiba, aquela do Burro Brabo, um cidadão misterioso morreu nos braços da Rosicler, quem foi? quem não foi?”. Resta a dúvida, afinal não se sabe a quem pertenceu a casa, quantos anos foi cabaré e quem de fato a freqüentou.
Link para o artigo de Aramis Millarch: www.millarch.org/artigo/burro-brabo-o-avo-dos-nossos-moteis