Capacete de Desfile do Regimento Naval (1924-1932)
Ao longo dos anos, o Corpo de Fuzileiros Navais recebeu diversas denominações: Batalhão de Artilharia da Marinha do Rio de Janeiro, Corpo de Artilharia da Marinha, Batalhão Naval, Corpo de Infantaria de Marinha, Regimento Naval e finalmente, desde 1932, Corpo de Fuzileiros Navais (CFN).
Ao se aproximar o fim da Primeira República, momento de intensas agitações e surgimento de novas ideologias políticas, com destaque para o Positivismo e o Socialismo, a presença do Batalhão Naval neste cenário foi evidenciada em alguns acontecimentos marcantes do país, como a Revolta dos Marinheiros (1910), o Movimento Tenentista (1922) e a Revolução Paulista (1924).
A Revolta dos Marinheiros, mais conhecida como “Revolta da Chibata”, que ganhou força após a “Campanha Civilista” de Rui Barbosa, resultou da insatisfação das praças da MB com os abusos cometidos pelos oficiais em relação à aplicação de punições. O Batalhão Naval atuou como sufocador do movimento, que ocorreu nos Encouraçados “Minas Gerais” e “São Paulo” e no Scout “Bahia”, sob a liderança do marinheiro João Cândido, denominado pela imprensa de “Almirante Negro”. Logo após este episódio, alguns membros do próprio Batalhão Naval se revoltaram, mas, devido às avarias da Ilha das Cobras e à falta de logística, não obtiveram o apoio necessário e foram facilmente dominados. Morreram em combate 26 Fuzileiros Navais.
O Movimento Tenentista, que teve como marco inicial o fechamento da Escola Militar da Praia Vermelha e a abertura da Escola Militar de Realengo (medida que tornava a profissão menos política), consistiu na indignação da jovem oficialidade em relação à hegemonia política e oligárquica, sustentada pelas fraudes eleitorais e apoiada pelos oficiais superiores. Após a prisão do ex-Presidente da República e presidente do Clube Militar, Marechal Hermes da Fonseca, o movimento ganhou corpo e culminou com um clima de insegurança na capital nacional. O atual Corpo de Fuzileiros Navais atuou como força de defesa, deslocando suas companhias para locais estratégicos como o Palácio do Catete e o Quartel-General do Exército.
Neste cenário, vale salientar que novamente a Fortaleza da Ilha das Cobras foi atacada. O outro cenário onde o Batalhão Naval esteve presente foi na Revolução Paulista de 1924, que buscava a deposição do presidente Arthur Bernardes e a implementação do voto secreto. O Batalhão movimentou dois destacamentos para São Paulo, um de infantaria e outro de cavalaria, que durante quase todo o mês de julho daquele ano esteve em poder dos revoltosos.
Com o fim do conflito e a vitória das forças do governo, o Batalhão Naval passou por outra mudança. Por intermédio do Decreto n° 16.717, de 24 de dezembro de 1924, criou-se o Regimento Naval, com efetivo de 1500 homens e com a implementação da comissão de promoção de oficiais, que seria feita diretamente pelo governo.
A ERA VARGAS (1930-1945)
A presença do Regimento Naval, no período em que o gaúcho Getúlio Vargas esteve no poder, foi de
suma importância para a história política nacional, uma vez que na década de 20 o país passava por uma grande agitação política. A Revolução de 30 e a Revolução Integralista foram os momentos nos quais mais se observou a presença do atual Corpo de Fuzileiros Navais.
Segundo alguns historiadores, a Revolução de 30 foi causada pela quebra da política do “café com leite”. Washington Luís, que representava o governo de São Paulo, indicou à presidência outro político do mesmo estado, Júlio Prestes, contrariando o acordo. Os mineiros, irritados com tal situação, uniram-se ao Rio Grande do Sul e à Paraíba, gerando a Aliança Liberal e lançando a candidatura de Vargas e João Pessoa à presidência e vice-presidência, respectivamente. A Aliança Liberal não aceitou a vitória de Júlio Prestes, alegando um processo eleitoral fraudulento. Com isso, forças militares depuseram o presidente Washington Luís e colocaram Getúlio Vargas no poder.
Neste contexto, o Regimento Naval atuou basicamente em um episódio que ocorreu no sul do país. Devido à força da revolta, que se iniciou no Rio Grande do Sul, o governo de Santa Catarina pediu reforço para o Comando da Divisão Naval, o qual enviou, a partir do dia 6 de outubro, homens sob a liderança dos Tenentes Guilherme Borges e José Severino dos Santos. Todavia, o contingente desembarcou, efetivamente, em Joinville, pois a cidade estava sem forças de defesa suficientes. No dia 8 de outubro, iniciou-se um intenso conflito nas ruas da cidade e, durante o enfrentamento, os Sargentos Santino José de Queiroz, José Joaquim de Araújo, Clemente Sabino Marques e José Donato Barbosa assumiram o controle da situação, já que os Tenentes foram aprisionados pelos revoltosos. Vale ressaltar que, no princípio, as forças do Batalhão Naval e do Exército enfrentaram-se duramente e, posteriormente, com a adesão da MB à Revolução de 30, os fuzileiros foram alocados em unidades do EB. Infelizmente, neste episódio, seis fuzileiros morreram, entre eles o Sargento Santino, e 13 ficaram gravemente feridos.
Na madrugada de 11 de maio de 1938, durante um período conhecido como “Estado Novo”, iniciou no país o episódio chamado de Rebelião Integralista. Sob a liderança de Plínio Salgado, revoltosos marcharam em direção ao Palácio da Guanabara, onde residia o Presidente e sua família, ao Ministério da Marinha e a residências oficiais dos Chefes dos Estados-Maiores da Armada e do Exército. A defesa dos edifícios era composta por militares do Regimento Naval e, a princípio, foi desfavorável, já que alguns integralistas alcançaram o interior do Palácio. Após ação conjunta entre o Regimento Naval e a Polícia Especial (tropa de confiança do Presidente), os revoltosos foram momentaneamente controlados. A partir daí, os integralistas voltaram suas atenções para o prédio do Ministro da Marinha, visando barrar o eventual deslocamento das tropas navais em defesa do governo. O Imediato do Regimento Naval, o Capitão-de-Fragata (FN) Arthur de Freitas Seabra, resolveu agir imediatamente, enviando o 2° Batalhão, comandado pelo Capitão-de-Corveta (FN) José Augusto Vieira, para a invasão do Ministério da Marinha. Por volta das seis horas da manhã, o levante estava controlado e, após pesadas baixas devido à colocação de metralhadoras no topo do edifício por parte dos revoltosos, o Ministro Vice-Almirante Henrique Aristides Guilhem, os Almirantes Castro e Silva e Graça Aranha estavam a salvo.