Curitiba em 1955: O que essas páginas mostram sobre a cidade que sonhava em ser moderna
Curitiba em 1955: O que essas páginas mostram sobre a cidade que sonhava em ser moderna
Um passeio por cinco páginas de uma publicação local — cheias de prédios novos, móveis de luxo, casamentos nobres e cafés elegantes — que nos contam como era viver (e consumir) na capital paranaense no meio dos anos 50.
Página 1: “No Centro Geométrico de Curitiba” — o Edifício José Eurípedes Gonçalves
Essa é uma das páginas mais icônicas — um anúncio que parece um cartão postal da modernidade curitibana.
- O título em letras gigantes: “NO CENTRO GEOMÉTRICO da Curitiba”. Isso não é só um endereço — é uma declaração de poder. Eles estão dizendo: “Este prédio está no coração da cidade, no ponto exato onde tudo acontece.”
- O edifício em destaque é o Edifício José Eurípedes Gonçalves, na Praça Carlos Gomes — uma das praças mais importantes da cidade, ainda hoje um marco urbano.
- A ilustração mostra o prédio alto, com muitas janelas, linhas retas, varandas — típico do estilo modernista dos anos 50. Ao lado, um mapa circular mostra a localização exata: centro da cidade, perto de bancos, lojas, cinemas.
- O texto lista os benefícios:
- Apartamentos de 2 e 3 quartos
- Garagem
- Elevador
- Água quente
- Jardim
Tudo isso mostra que o edifício era voltado para a classe média alta — quem queria conforto, status, modernidade.
- No rodapé, a construtora: Imobiliária Novo Horizonte Ltda. — uma das grandes empresas da época em Curitiba. Elas estavam construindo a nova cidade — literalmente.
Detalhe curioso: O anúncio diz que as vendas são feitas “na própria obra, das 8 às 12 horas”. Ou seja, eles queriam que as pessoas vissem o prédio sendo construído — e se encantassem com ele.
Página 2: “Móveis Guelmann” — Conforto e Distinção ao Seu Lar
Aqui a coisa muda de tom — de prédios para móveis. Mas não qualquer móvel — móveis de luxo, para quem queria ter um lar moderno e elegante.
- O título em letras cursivas: “Móveis Guelmann — Conforto e Distinção ao Seu Lar”. Isso já diz tudo: não é só mobília — é status.
- A ilustração mostra uma sala de estar e um quarto — com sofás, poltronas, aparadores, guarda-roupas. Tudo em madeira escura, com detalhes em dourado — estilo Chippendale, muito em voga na época.
- Tem uma mulher sorrindo, segurando uma caixa — talvez um presente? Ou um catálogo? Ela representa a dona de casa ideal: bonita, bem vestida, feliz com seus móveis novos.
- O endereço da loja: Rua 24 de Maio, 44 — Caixa Postal 19 — Curitiba, Paraná. Esse endereço ainda existe hoje — e era uma das ruas mais movimentadas da cidade.
- O texto fala de um dormitório estilo Chippendale N.º 330, com 10 peças, em imbuia ou pau-marfim. Isso mostra que os materiais eram importantes — madeiras nobres, acabamento refinado.
Detalhe curioso: O anúncio diz que os móveis são “confortáveis e distintos” — ou seja, não são só bonitos, são também práticos. A modernidade da época não era só visual — era funcional.
Página 3: “Edifício Salvador Oliva” — Luxo no Melhor Ponto da Cidade
Outro anúncio de construção — mas com um tom diferente. Aqui, o foco é no luxo, no exclusivismo, no status.
- O título: “Edifício Salvador Oliva — Incorporado por Salvador Oliva”. Ele está colocando seu nome no prédio — como se fosse um selo de qualidade.
- O texto diz: “Adquira seu apartamento no melhor ponto da cidade”. E reforça: “3 apartamentos por andar — acabamento de luxo — amplas facilidades de pagamento”.Isso mostra que o público-alvo era rico — quem podia pagar à vista ou em prestações, mas com prestígio.
- O projeto e construção são de Mueller, Caron, Cia. Ltda. — outra construtora importante da época em Curitiba. Eles faziam prédios de qualidade, com atenção aos detalhes.
- O vendedor é Leão Ziegelboin, com telefone 2774 – 1174 — um número que, na época, era um símbolo de status. Ter telefone era um privilégio.
- No rodapé, o endereço: Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 747 — outra rua central, perto da Praça Tiradentes.
- A planta baixa mostra os apartamentos — com salas, quartos, banheiros, cozinha, área de serviço. Tudo organizado, funcional, moderno.
Detalhe curioso: O anúncio diz que o edifício tem “acabamento de luxo” — mas não especifica o que isso significa. Talvez pisos de mármore, portas de madeira maciça, metais cromados. Era o que importava para quem comprava.
Página 4: “Yara e José Maria unem-se em outubro” — Casamento nobre na sociedade curitibana
Aqui a coisa muda completamente — de prédios e móveis para casamento. Mas não qualquer casamento — um casamento de elite, com fotos, textos e até uma “reportagem” sobre o evento.
- O título em letras elegantes: “Yara e José Maria unem-se em outubro”. Isso já diz tudo: é um casamento importante, que merece ser anunciado.
- A foto principal mostra os noivos — Yara e José Maria — sorrindo, elegantemente vestidos. Ela com um vestido branco, ele com terno escuro. Ao fundo, convidados, flores, decoração.
- O texto fala dos pais dos noivos: Dr. Antônio Ferreira de Morais e Dona Maria Helena de Morais — nomes que indicam família tradicional, com status social.
- Há uma foto menor, com o título: “O jovem casal em companhia de seus ‘demolidores d’humor’”. Isso mostra que o casamento foi divertido — com amigos brincando, rindo, tirando sarro. Era comum nessa época usar esse tipo de linguagem — “demolidores d’humor” era um jeito de dizer “amigos engraçados”.
- Outra foto mostra a chapelaria da igreja — com convidados sentados, flores, velas. O texto diz: “A simpática irradiante da feliz noiva.” — ou seja, ela estava linda, radiante, feliz.
Detalhe curioso: O texto menciona que o casamento foi na Igreja Nossa Senhora da Luz — a mesma igreja que aparece na página 1, perto do Edifício Manoel de Macedo. Isso mostra que a elite curitibana frequentava os mesmos lugares — igrejas, prédios, lojas.
Página 5: “Café Gury” — O café mais moderno da cidade
Aqui a coisa muda de novo — de casamentos para cafés. Mas não qualquer café — um café moderno, elegante, com decoração sofisticada.
- O título em letras grandes: “CAFÉ GURY”. Simples, direto, marcante.
- A foto principal mostra a fachada do café — com vitrines, letreiros, portas de vidro. O texto diz: “Vista geral da fachada do Café Gury, no Guabirotuba”. Guabirotuba era (e ainda é) um bairro nobre de Curitiba — então o café estava em um lugar de prestígio.
- Outra foto mostra o interior do café — com mesas, cadeiras, balcão, garçons. Tudo organizado, limpo, moderno. O texto diz: “Aspecto parcial da torrefação, vendo-se o proprietário assistindo aos trabalhos.” — ou seja, o dono estava presente, cuidando da qualidade.
- Há uma foto de um moedor de café — grande, metálico, com engrenagens. O texto diz: “Outro aspecto da torrefação do Café Gury”. Isso mostra que o café era feito na hora, com grãos frescos — um diferencial na época.
- O texto final diz: “O Café Gury foi se tornando cada vez mais apreciado e é um sucesso incomparável em nossa capital.” — ou seja, eles estavam orgulhosos do que tinham construído.
Detalhe curioso: O café tinha um nome estranho — “Gury”. Pode ser uma referência a alguém da família, ou um nome inventado. Mas o que importa é que ele era conhecido — e admirado — pela qualidade.
Conclusão: Curitiba em 1955 — Uma cidade que sonhava em ser moderna
Essas cinco páginas nos mostram uma Curitiba em plena transformação:
- Arquitetura moderna — com prédios altos, linhas retas, janelas grandes.
- Consumo de luxo — com móveis chiques, cafés elegantes, casamentos grandiosos.
- Elite social — com famílias tradicionais, casamentos nobres, eventos importantes.
- Economia em expansão — com construtoras apostando no futuro, lojas vendendo sonhos, cafés se tornando pontos de encontro.
Tudo isso acontecia em uma cidade que, embora pequena comparada a São Paulo ou Rio, já tinha sua própria identidade — e estava decidida a crescer, modernizar, se afirmar.