Histórias de Curitiba - Fila boba
Fila boba
Sérgio Luiz Chautard
Meados dos anos 40. Fim da II Guerra Mundial, fim da ditadura getulista.
Novos tempos, novos ares, e nós garotos de calças curtas conquistávamos lugares, através do "exame de admissão'1, no Colégio Estadual do Paraná, na Rua Ébano Pereira, em frente à Praça Santos Dumont, onde hoje se abriga a Secretaria da Cultura.
Saídos dos grupos escolares onde ficávamos fechados por quatro horas, vibramos com aquela movimentação de sala em sala.
Mudança de professor e, sobretudo, com a falta dos professores, o que nos liberava para aventurar pelas adjacências do ginásio.
A porta dos fundos da vizinha sinagoga era o ponto preferido daqueles que já tinham aprendido a fumar. Lá colocavam boa distância para com o inspetor, o saudoso Mandrane.
Foi neste tempo que os donos de cinema em Curitiba não só resolveram subir o preço dos ingressos mas também acabar com a "meia entrada"que favorecia estudantes e soldados sem graduação.
Os estudantes, organizados em seus grêmios e diretórios, promoveram grandes protestos na cidade, pois Curitiba pouco nada oferecia em divertimento. O Teatro Guaíra estava fechado há anos, a Biblioteca Estadual também, e assim as matinês dominicais se constituíam no esperado lazer de fim de semana.
Com a permanente crise financeira do país, era impossível arrancar dos pais o aumento pretendido pelos cinemas.
Nas assembléias de estudantes foi proposto o famoso piquete para impedir o público de entrar.
Mas tal atitude, além de antipática, certamente concorreria para a polícia quebrar algumas cabeças.
Uma vez que para entrar no cinema tinha que compra bilhete, a solução foi mandar os estudantes para as filas nas bilheterias.
A gurizada formava a "fila boba", sendo que cada um que chegava na bilheteria ficava regateando o preço pelo maior tempo possível, não comprava ingresso e passava para o seguinte, devendo, incontinenti, voltar ao fim da fila.
Os que realmente queriam comprar a entrada desistiam pela demora.
Foi um grande piquete, que obrigou os exibidores a voltar atrás e manter a "meia entrada" para os estudantes.
Recentemente, os cinemas voltaram a acabar com a "meia entrada" e não vimos nenhum movimento contra.
Estamos mais ricos, sobram opções de divertimento ou a gurizada não tem mais fibra?
Sérgio Luiz Chautard é técnico industrial, professor e sindicalista.
Sérgio Luiz Chautard
Meados dos anos 40. Fim da II Guerra Mundial, fim da ditadura getulista.
Novos tempos, novos ares, e nós garotos de calças curtas conquistávamos lugares, através do "exame de admissão'1, no Colégio Estadual do Paraná, na Rua Ébano Pereira, em frente à Praça Santos Dumont, onde hoje se abriga a Secretaria da Cultura.
Saídos dos grupos escolares onde ficávamos fechados por quatro horas, vibramos com aquela movimentação de sala em sala.
Mudança de professor e, sobretudo, com a falta dos professores, o que nos liberava para aventurar pelas adjacências do ginásio.
A porta dos fundos da vizinha sinagoga era o ponto preferido daqueles que já tinham aprendido a fumar. Lá colocavam boa distância para com o inspetor, o saudoso Mandrane.
Foi neste tempo que os donos de cinema em Curitiba não só resolveram subir o preço dos ingressos mas também acabar com a "meia entrada"que favorecia estudantes e soldados sem graduação.
Os estudantes, organizados em seus grêmios e diretórios, promoveram grandes protestos na cidade, pois Curitiba pouco nada oferecia em divertimento. O Teatro Guaíra estava fechado há anos, a Biblioteca Estadual também, e assim as matinês dominicais se constituíam no esperado lazer de fim de semana.
Com a permanente crise financeira do país, era impossível arrancar dos pais o aumento pretendido pelos cinemas.
Nas assembléias de estudantes foi proposto o famoso piquete para impedir o público de entrar.
Mas tal atitude, além de antipática, certamente concorreria para a polícia quebrar algumas cabeças.
Uma vez que para entrar no cinema tinha que compra bilhete, a solução foi mandar os estudantes para as filas nas bilheterias.
A gurizada formava a "fila boba", sendo que cada um que chegava na bilheteria ficava regateando o preço pelo maior tempo possível, não comprava ingresso e passava para o seguinte, devendo, incontinenti, voltar ao fim da fila.
Os que realmente queriam comprar a entrada desistiam pela demora.
Foi um grande piquete, que obrigou os exibidores a voltar atrás e manter a "meia entrada" para os estudantes.
Recentemente, os cinemas voltaram a acabar com a "meia entrada" e não vimos nenhum movimento contra.
Estamos mais ricos, sobram opções de divertimento ou a gurizada não tem mais fibra?
Sérgio Luiz Chautard é técnico industrial, professor e sindicalista.