Histórias de Curitiba - O Carro da meia-noite
O Carro da meia-noite
Maria Cristina Lorenzzoni
A silenciosa e escura Curitiba de cem anos atrás era assustada por um misterioso "Carro da Meia-Noite", assim chamado na época.
Descrito como uma charrete com faróis de carro e puxada por cavalos sem cabeça, descia velozmente a Rua Aquidaban, hoje Emiliano Perneta, fazendo um barulho infernal de correntes, tropel de animais, badalar de cincer-ros e guizos, uivos e murmúrios altos.
Fantasmagórico, o Carro da Meia-Noite surgia do nada na altura da pracinha do Batel, e de forma igualmente misteriosa desaparecia nas proximidades da Praça Zacarias.
Arrastava as correntes e era cercado por chamas de fogo fátuo.
Diziam, levava almas penadas de pessoas más em vida que, não conseguindo o descanso eterno, vinham assombrar os vivos e levar os incautos.
Insensato aquele que ousasse estar na rua à meia-noite, hora de passagem do carro fantasma: seria sugado pela ventania que levantava à sua passagem e não mais retornava.
Os moradores da Aquidaban e adjacências, sabendo que seriam sobressaltados todas as noites pelo dito espécime ectoplas-ma, por ansiedade ou medo procuravam deixar bem fechadas e trancadas as janelas e portas de suas casas.
Aconchegada ao calor de um fogão a lenha, ouvia minha vó contar essa história; e ela garantia, com toda seriedade de avó: quando moça, teria visto com seus próprios olhos o esplendoroso carro fantasma, ao longe, clareando a noite com sua luz de fogo; estava ela com seus pais e irmãos, e mal tiveram tempo de fechar a porta da residência localizada na Rua Aquidaban, na quadra entre as atuais Viscondes; a assombração passava incrivelmente rápida.
Explicação plausível para tal viagem não existia. E bem possível que tenha surgido como um socorro aos pais para disciplinarem os filhos quanto à hora de dormir e ao silêncio (detalhes esses bastante respeitados naqueles tempos), ou, então, pode ser resultado de crendice de fundo religioso, como que a mostrar porque devem ser "boas"as almas.
Qualquer que tenha sido sua origem, o fato é que o "Carro da Meia-Noite"passeou por muito tempo pelo imaginário popular do curitibano.
Com o passar dos anos, a modernidade chegando, a história do iluminado e barulhento carro fantasma da meia-noite foi sendo esquecida, o medo do escuro vencido por mais quantidade e qualidade de luz.
Maria Cristina Lorenzzoni é dona-de-casa.
Maria Cristina Lorenzzoni
A silenciosa e escura Curitiba de cem anos atrás era assustada por um misterioso "Carro da Meia-Noite", assim chamado na época.
Descrito como uma charrete com faróis de carro e puxada por cavalos sem cabeça, descia velozmente a Rua Aquidaban, hoje Emiliano Perneta, fazendo um barulho infernal de correntes, tropel de animais, badalar de cincer-ros e guizos, uivos e murmúrios altos.
Fantasmagórico, o Carro da Meia-Noite surgia do nada na altura da pracinha do Batel, e de forma igualmente misteriosa desaparecia nas proximidades da Praça Zacarias.
Arrastava as correntes e era cercado por chamas de fogo fátuo.
Diziam, levava almas penadas de pessoas más em vida que, não conseguindo o descanso eterno, vinham assombrar os vivos e levar os incautos.
Insensato aquele que ousasse estar na rua à meia-noite, hora de passagem do carro fantasma: seria sugado pela ventania que levantava à sua passagem e não mais retornava.
Os moradores da Aquidaban e adjacências, sabendo que seriam sobressaltados todas as noites pelo dito espécime ectoplas-ma, por ansiedade ou medo procuravam deixar bem fechadas e trancadas as janelas e portas de suas casas.
Aconchegada ao calor de um fogão a lenha, ouvia minha vó contar essa história; e ela garantia, com toda seriedade de avó: quando moça, teria visto com seus próprios olhos o esplendoroso carro fantasma, ao longe, clareando a noite com sua luz de fogo; estava ela com seus pais e irmãos, e mal tiveram tempo de fechar a porta da residência localizada na Rua Aquidaban, na quadra entre as atuais Viscondes; a assombração passava incrivelmente rápida.
Explicação plausível para tal viagem não existia. E bem possível que tenha surgido como um socorro aos pais para disciplinarem os filhos quanto à hora de dormir e ao silêncio (detalhes esses bastante respeitados naqueles tempos), ou, então, pode ser resultado de crendice de fundo religioso, como que a mostrar porque devem ser "boas"as almas.
Qualquer que tenha sido sua origem, o fato é que o "Carro da Meia-Noite"passeou por muito tempo pelo imaginário popular do curitibano.
Com o passar dos anos, a modernidade chegando, a história do iluminado e barulhento carro fantasma da meia-noite foi sendo esquecida, o medo do escuro vencido por mais quantidade e qualidade de luz.
Maria Cristina Lorenzzoni é dona-de-casa.