Histórias de Curitiba - Um risco Branco no céu
Um risco Branco no céu
Napoleão Côrtes Neto
Era ali por 59 ou 60. Lembro que a televisão estava engatinhando em Curitiba.
Da Alameda Dona Julia da Costa (assim chamada em homenagem à pioneira da educação do Paraná), a criançada, a maioria alunos do Grupo Escolar professor Cleto, avistava os arranha-céus do centro da cidade: o Asa, em construção; o Garcez; o Comendador Vasconcelos; o Kwa-sinski; o Santa Júlia; e o Tijucas, que se destacava dos demais por ostentar, no alto dos seus vinte andares, a antena do canal 12, em forma de borboleta.
Da mesma alameda, pudemos assistir, em tempos sucessivos, lá no centro, o clarão de três incêndios, que levaram o Cine Luz, os últimos andares do Edifício João Alfredo e o Supermercado Abagge.
Era uma época em que as emissoras de TV ainda faziam programas de auditório com produção local.
Televizinho de carteirinha da Professora Irene Caruzo, cunhada do famoso apresentador Alcides Vasconcellos, animei-me à aventura de assistir ao vivo um desses programas, o do vovô Moraes, nas salas do Edifício Tijucas que faziam às vezes de auditório para o "Doze".
Na entrada, a gurizada ganhava um ingresso numerado, valendo como bilhete para sorteios.
Ganhei daquela vez o número 18. Acontece que levávamos de casa, para soltar das alturas do Tijucas, folhas de papel picado, aviões de papel, e naquele domingo meu ingresso virou avião também.
No meio do programa, saiu sorteado, para o prêmio principal - um carro de bombeiros de pedal, com sino no capô e tudo mais - exatamente o número 18! Calado, senti a perda
- a sorte e a falta de sorte...
Neste mesmo céu curitibano de trinta anos atrás vi algumas vezes, às tardes, um corpo minúsculo brilhante, que deixava no ar um risco branco de fumaça.
Era intrigante.
Os comentários:
- É um disco voador! Nãão!
- É um balão metereológico! Nãão!
- E um "Esputinique"! Nãão!
Minha avó - Dona Julieta
Gineste, na sabedoria dos seus sessenta anos, sugeriu:
- Vamos perguntar ao "Seu"Snege, pode ser que seja exercício de balística, do quartel do Bacacheri (o 20° R.I) para o quartel do Boqueirão.
A sugestão era pertinente.
Homem cordial, inteligente, amigo da gurizada, "Seu'’Snege era sargento do Exército, servindo no C.P.O.R., portador de um bigode à Clark Gable e deveria saber.
Na vizinhança, no Armazém do Tadique, consumindo as insuperáveis balas de côco, o capilé, a maria-mole, ou então à beira do macadame, na esquina da Brigadeiro Franco com a Rua do Rio (Fernando Moreira), não se falava de outra coisa.
Fato é que nem se consultou o sábio militar, nem se esclareceu o mistério do objeto voador, na ocasião.
Hoje, vemos cruzar o mesmo céu aviões bem mais evoluídos que aquele Caravelle que, rumo ao Sul, deixava um risco branco no céu de junho curitibano.
Napoleão Côrtes Neto é economista.
Napoleão Côrtes Neto
Era ali por 59 ou 60. Lembro que a televisão estava engatinhando em Curitiba.
Da Alameda Dona Julia da Costa (assim chamada em homenagem à pioneira da educação do Paraná), a criançada, a maioria alunos do Grupo Escolar professor Cleto, avistava os arranha-céus do centro da cidade: o Asa, em construção; o Garcez; o Comendador Vasconcelos; o Kwa-sinski; o Santa Júlia; e o Tijucas, que se destacava dos demais por ostentar, no alto dos seus vinte andares, a antena do canal 12, em forma de borboleta.
Da mesma alameda, pudemos assistir, em tempos sucessivos, lá no centro, o clarão de três incêndios, que levaram o Cine Luz, os últimos andares do Edifício João Alfredo e o Supermercado Abagge.
Era uma época em que as emissoras de TV ainda faziam programas de auditório com produção local.
Televizinho de carteirinha da Professora Irene Caruzo, cunhada do famoso apresentador Alcides Vasconcellos, animei-me à aventura de assistir ao vivo um desses programas, o do vovô Moraes, nas salas do Edifício Tijucas que faziam às vezes de auditório para o "Doze".
Na entrada, a gurizada ganhava um ingresso numerado, valendo como bilhete para sorteios.
Ganhei daquela vez o número 18. Acontece que levávamos de casa, para soltar das alturas do Tijucas, folhas de papel picado, aviões de papel, e naquele domingo meu ingresso virou avião também.
No meio do programa, saiu sorteado, para o prêmio principal - um carro de bombeiros de pedal, com sino no capô e tudo mais - exatamente o número 18! Calado, senti a perda
- a sorte e a falta de sorte...
Neste mesmo céu curitibano de trinta anos atrás vi algumas vezes, às tardes, um corpo minúsculo brilhante, que deixava no ar um risco branco de fumaça.
Era intrigante.
Os comentários:
- É um disco voador! Nãão!
- É um balão metereológico! Nãão!
- E um "Esputinique"! Nãão!
Minha avó - Dona Julieta
Gineste, na sabedoria dos seus sessenta anos, sugeriu:
- Vamos perguntar ao "Seu"Snege, pode ser que seja exercício de balística, do quartel do Bacacheri (o 20° R.I) para o quartel do Boqueirão.
A sugestão era pertinente.
Homem cordial, inteligente, amigo da gurizada, "Seu'’Snege era sargento do Exército, servindo no C.P.O.R., portador de um bigode à Clark Gable e deveria saber.
Na vizinhança, no Armazém do Tadique, consumindo as insuperáveis balas de côco, o capilé, a maria-mole, ou então à beira do macadame, na esquina da Brigadeiro Franco com a Rua do Rio (Fernando Moreira), não se falava de outra coisa.
Fato é que nem se consultou o sábio militar, nem se esclareceu o mistério do objeto voador, na ocasião.
Hoje, vemos cruzar o mesmo céu aviões bem mais evoluídos que aquele Caravelle que, rumo ao Sul, deixava um risco branco no céu de junho curitibano.
Napoleão Côrtes Neto é economista.