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quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

O Bungalow de Sebastião Miranda de Moraes Sarmento: Uma Pequena Joia Residencial na Rua Ignácio Lustosa

 Denominação inicial: Projéto de Bungalow para o Snr. Sebastião Miranda de Moraes Sarmento

Denominação atual: Residência

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Pequeno Porte

Endereço: Rua Ignácio Lustosa

Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 110,00 m²
Área Total: 110,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 18/07/1935

Alvará de Construção: Nº 1290/1935

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de bangalô, Alvará de Construção e fotografia do imóvel.

Situação em 2012: Existente


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.
3 - Fotografia do imóvel em 2012.

Referências: 

1 – CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Bungalow. Planta do pavimento térreo e implantação, corte e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 - Alvará n.º 1290
3 – Fotografia de Elizabeth Amorim de Castro (2012).

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

O Bungalow de Sebastião Miranda de Moraes Sarmento: Uma Pequena Joia Residencial na Rua Ignácio Lustosa

Em julho de 1935, em meio ao fervilhar do desenvolvimento urbano do Recife, foi depositado nos arquivos municipais um projeto modesto, porém carregado de intenção: o “Projéto de Bungalow para o Snr. Sebastião Miranda de Moraes Sarmento”. Assinado com a grafia da época — onde “projéto” ainda conservava seu acento agudo —, o documento revela não apenas uma construção, mas um modo de viver: simples, funcional e integrado ao cotidiano da cidade em expansão.

Localizada na Rua Ignácio Lustosa, uma via que ainda carregava os ares residenciais do bairro da Boa Vista, a residência erguida sob esse projeto é um exemplar raro de bungalow urbano de pequeno porte, concebido para um único pavimento, com 110,00 m² de área construída, inteiramente em alvenaria de tijolos — técnica sólida, duradoura e amplamente utilizada na arquitetura doméstica pernambucana da primeira metade do século XX.

Um projeto pensado ao detalhe

Em 18 de julho de 1935, o arquiteto — cujo nome não consta nas fontes preservadas — entregou uma prancha completa, descrita por Eduardo Fernando Chaves como contendo:

  • planta do pavimento térreo;
  • planta de implantação no terreno;
  • corte arquitetônico;
  • fachada frontal.

Esses elementos, reunidos em um único desenho, demonstram um cuidado com a proporção, a ventilação cruzada e a integração com o lote, marcas típicas do bungalow — tipologia inspirada nos modelos anglo-indianos, adaptada ao clima tropical e à realidade brasileira. Embora pequeno, o projeto não abre mão da dignidade formal: janelas bem posicionadas, varanda sugerida na fachada e uma distribuição interna racional revelam uma concepção atenta às necessidades de conforto e privacidade de uma família da classe média emergente.

O Alvará de Construção nº 1290/1935, emitido pelo poder público recifense, confirmou a viabilidade da obra, integrando-a ao tecido legal e urbano da cidade.

Presença contínua: quase um século de existência

Diferentemente de tantas construções contemporâneas que desapareceram sob o avanço de novos empreendimentos, esta residência resistiu. Em 2012, quase 77 anos após sua concepção, ainda estava de pé — testemunha silenciosa das transformações do bairro, das mudanças de vizinhança, das gerações que passaram por suas portas.

Uma fotografia registrada por Elizabeth Amorim de Castro em 2012 capturou sua fachada ainda reconhecível, embora possivelmente alterada por reformas ou acréscimos ao longo das décadas. Mesmo assim, a essência do bungalow — sua escala humana, sua horizontalidade, sua relação com a rua — permanece visível, como um eco do projeto original.

Mais que uma casa: um retrato de época

A residência de Sebastião Miranda de Moraes Sarmento não é um monumento, nem uma obra de arquiteto famoso. É, antes, um documento vivo da habitação comum no Recife dos anos 1930. Representa o sonho de uma classe média que investia em tijolo, cal e madeira para erguer um lar próprio — longe do luxo dos sobrados da elite, mas longe também da precariedade.

Seu valor patrimonial reside justamente nessa representatividade: é um dos poucos exemplares documentados de bungalow residencial ainda existentes na cidade, com projeto arquitetônico, alvará e imagem contemporânea preservados — um tríptico raro que permite reconstituir não só a forma, mas também o contexto de sua realização.

Conclusão: a força da pequena arquitetura

Enquanto os grandes edifícios roubam a cena da história urbana, são construções como esta — modestas, discretas, persistentes — que compõem a verdadeira textura de uma cidade. A casa de Sebastião Miranda de Moraes Sarmento, com seus 110 metros quadrados, fala mais sobre o Recife do que muitos palácios esquecidos.

E, ao permanecer em pé em 2012, ela não apenas existia: resistia. E, nessa resistência, honrava a memória de quem a imaginou, construiu e habitou — com simplicidade, mas com orgulho.


Fontes:

  1. CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Bungalow para o Snr. Sebastião Miranda de Moraes Sarmento. Planta do pavimento térreo e implantação, corte e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
  2. Alvará de Construção nº 1290/1935. Arquivo Histórico do Recife.
  3. CASTRO, Elizabeth Amorim de. Fotografia do imóvel. Recife, 2012.