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sábado, 3 de dezembro de 2022

CANHÕES DA BARRANCA

 CANHÕES DA BARRANCA

" A velha cadeia de PARANAGUÁ, sobrado colonial de esquina hoje desaparecida, ficava no local onde hoje estão as ruínas do "Palais Royal", bem em frente ao jardim "Leocádio Pereira", com o busto do "Professor Cleto".
Esse jardim, de frente à lúgubre cadeia, era, há 80 anos passados, uma "barranca"; seguindo-se daí uma ladeira, que ia até ao mercado, onde estão, ainda firmes, os tamarindeiros. No término dessa ladeira é que ficava o cais de desembarque.
Na célebre "barranca" estiveram colocados dois "canhões", como guardas da Cidade. E só duas vezes eles ali apareceram, para soltar de suas bocas as "balas" de alegria e de tristeza...
Quando terminou a guerra do Paraguai, em 1870, foi no então cais da rua da praia que desembarcaram os soldados paranaenses. Na ocasião desse desembarque, os "dois canhões' soltaram suas "balas" em regozijo à volta dos heróis aos seus lares.
>A cidade inteira, reunida ali no cais, assistiu, embevecida, a saudação desses "canhões", como testemunho vivo da Pátria agradecida !
Foi essa a primeira vez que "eles" soltaram de suas bocas o fogo da paz ! . . . Cena de civismo tão sugestiva, calando fundo na alma do povo de nossa terra.
Passados alguns dias, não mais se viu essas duas peças de artilharia na célebre "barranca". Talvez tivessem ficado na velha cadeia.
O País então entrou em calma e a paz reinou, por quase duas décadas, para a felicidade dos brasileiros.
Com a libertação dos escravos, em 1888, e conseqüente proclamação da República, em 1889, os partidos políticos se agitaram também em nossa PARANAGUÁ. O Brasil, livre da escravidão, feia nódoa que manchou a nossa terra, estava também liberto da deca- dente monarquia.
Mas... fato notório; os "canhões da barranca" não apareceram para saudar esses dois eventos, que tanto abalaram a Nação Brasileira, mudando completamente a vida social, política e econômica do País ?! Por quê ? Todos nós sabemos.. . Não é preciso dizer.
Agitações continuaram, até 1894, quando a Esquadra Federalista. comandada pelo almirante — Custódio de Melo — entrou em nossa baía e, na manhã de 16 de janeiro, desembarcou e tomou completamente a Cidade...
Foi então quandos os "dois canhões" reapareceram, pela 2ª vez, na "barranca", em defesa de PARANAGUÁ e da REPÚBLICA !...
A noite de 15 para 16 de janeiro ficou marcada na História de nossa terra, pelo ribombar dos "dois canhões", que, a todo o custo, procuravam deter os revoltosos...
Nessa segunda vez, porém, de suas bocas saíram o fogo da guerra... Tudo em vão... Ao amanhecer do dia 16, os "canhões" emudeceram. .. A Cidade estava já em poder dos revolucionários federalistas...
Os "canhões" emudeceram para sempre. .. e, para sempre, também, desapareceram de PARANAGUÁ. Os anos continuaram passando; as gerações se sucendendo, e os históricos "canhões", onde teriam ido parar ?...
Ninguém viu, ninguém soube... mas "eles" sumiram...
A "ladeira", com o tempo, também desaparaceu, dando lugar ao "Mercado de frutas", que hoje é só do bom cafezinho das manhãs e dos gostosos petiscos feitos por hábeis cozinheiras (No centro desse Mercado é que estava o "Pelourinho").
Na "barranca", uma plataforma foi feita. Nela temos hoje um singelo jardim, ostentando apenas algumas palmeiras reais; porém, engalanado com o busto do emérito "Professor CLETO".
Como seria edificante se, de cada lado desse histórico jardim, palco de luta final entre irmãos de u'a mesma Pátria, estivessem os "dois canhões" desaparecidos, como um marco sagrado, lembrando sempre as duas únicas vezes em que, de suas bocas saíram o fogo da "paz e o fogo da "guerra. ...".
(Transcrito do livro "Paranaguá na História e na Tradição", de Manoel Viana).
Paulo Grani.

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Jardim Leocádio Pereira à direita onde estão as palmeiras reais.

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Na esquina à esquerda, a velha cadeia de Paranaguá, no final século 19.

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Descida anterior da antiga barranca.

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À frente da barranca foi construído o Mercado.
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Jardim Leocadio Pereira, juventude parnanguara, década de 1920.

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À esquerda início do Jardim Leocádio Pereira.

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A praça no início dos anos 1900.

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A velha cadeia no final do século 19.

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Aquarela do pintor Dimanche Koslosk, retratando a luta dos parnanguaras contra a Esquadra Federalista, comandada pelo almirante Custódio de Melo, ao tomar a cidade, desembarcando no rio Itiberê, em 1894.

segunda-feira, 6 de junho de 2022

A BATALHA DO CORMORANT EM ÁGUAS PARNANGUARAS "Em 7 de novembro de 1831, o Império brasileiro já havia promulgado uma lei que previa a libertação de todos os escravos desembarcados no Brasil

 A BATALHA DO CORMORANT EM ÁGUAS PARNANGUARAS
"Em 7 de novembro de 1831, o Império brasileiro já havia promulgado uma lei que previa a libertação de todos os escravos desembarcados no Brasil


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Ilustração do momento em que os marinheiros britânicos vão em direção às autoridades parnanguaras tentando entregar a carta do capitão do HMS CORMORANT.

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Óleo sobre tela, intitulada O Incidente Cormorant, ilustrativa do movimento dos parnanguaras na Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres de Paranaguá, atacando a embarcação britânica no momento em que ela passava pelo canal de acesso.
Autor Rodolpho Doubek, Acervo Museu Alfredo Andersen.

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Os canhões usados no ataque, hoje expostos na Fortaleza, na Ilha do Mel.

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A Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, na Ilha do Mel, nos dias atuais.

A BATALHA DO CORMORANT EM ÁGUAS PARNANGUARAS
"Em 7 de novembro de 1831, o Império brasileiro já havia promulgado uma lei que previa a libertação de todos os escravos desembarcados no Brasil, assim como a prisão dos responsáveis pelo transporte e seus compradores. Entretanto, grandes quantidades de escravos continuavam entrando em território nacional de forma clandestina. Havia fiscalização ineficiente e, não raro, as autoridades envolvidas na fiscalização eram as que mais lucravam com o comércio de escravos.
Em 1845, o parlamento Inglês promulgou o Slave Suppression Act, mais conhecido no Brasil como “Bill Aberdeen”, que permitia à Inglaterra perseguir e apresar qualquer navio negreiro, mesmo nas costas brasileiras. A atuação inglesa, em cumprimento à lei, criou vários atritos com o Brasil. Entre 1845 e 1851, a Marinha Inglesa apreendeu ou destruiu 368 embarcações brasileiras que faziam tráfico negreiro no Atlântico Sul. Nesse período, os navios brasileiros começaram a usar documentos de carga e registros falsos para burlar a fiscalização inglesa. Daí que veio a expressão “para inglês ver”.
Como o Brasil havia assinado acordos internacionais para combater a pirataria, e o tráfico de escravos estava inserido nesse contexto, a força naval inglesa mantinha uma frota em águas brasileiras, autorizada pelo Império do Brasil. No entanto, o Império não estava cumprindo quase nada do que havia sido acordado com vistas a diminuir a escravidão.
A frota inglesa que atuou no Brasil chegou em setembro de 1849. Era composta de seis navios de guerra, mais dois navios de apoio para ressuprimentos, sob o comando geral do contra-almirante Barrington Reynolds.
Os ingleses contavam ainda com o apoio de espiões infiltrados entre os comerciantes de escravos, que repassavam ao contra-almirante Reynolds a lista dos navios que trariam os escravos ao Brasil. Por isso os navios ingleses abordavam diretamente as embarcações constantes na lista de navios negreiros. Os escravos não eram desembarcados no porto de Paranaguá, mas de forma clandestina nas diversas reentrâncias e ilhas ao redor. Os navios, depois, rumavam ao porto para acerto de documentação. Segundo relatórios da Marinha Inglesa, os ingleses tinham conhecimento dessa informação.
No dia 29 de junho de 1850, a corveta HMS Cormorant, comandada pelo capitão Herbert Schomberg, adentrou a baía de Paranaguá, utilizando os serviços de um guia brasileiro. Na região da Ilha da Cotinga, abordou os navios brasileiros ali fundeados, aprisionando os brigues Dona Ana e Sereia. O comandante de um terceiro brigue, o Astro, para não ser pego com a carga, afundou o próprio navio, que ficou apenas com os mastros para fora da água. Vários escravos morreram afogados em seus porões.
Mesmo não encontrando escravos, o capitão Schomberg aprisionou as duas embarcações sob suspeitas. Autoridades brasileiras, entre elas o delegado de Polícia José Francisco Barroso, o juiz municipal Filastro Nunes Pires e o coronel Manuel Antônio Guimarães, comandante da Guarda Nacional, não aceitaram o documento de apreensão apresentado pelo capitão inglês. O capitão Schomberg acusou as autoridades de serem coniventes com o tráfico. O Cormorant apresou mais um navio, a galera Campeadora e, rebocando os três navios apresados, começou a se preparar para partir em direção à Serra Leoa.
A população se revoltou contra a quebra da soberania nacional, em parte incentivada pelos que lucravam com o comércio de escravos; em parte por jovens movidos pelos sentimentos nacionalistas. Um grupo de quase cem homens, a maioria tripulantes dos navios apresados, se dirigiu à fortaleza e solicitou o apoio do capitão comandante da guarnição para lavar a honra do Brasil. Juntos, colocaram a bateria composta de doze canhões, que não estavam em boas condições para funcionar.
Por volta de nove horas da manhã de 1.º de julho de 1850, o Cormorant estava passando ao largo da Fortaleza, em direção à saída da baía, rebocando os navios apreendidos. O comandante da fortaleza enviou um escaler para interceptar a corveta e entregar um ofício solicitando a liberação dos barcos brasileiros e que se isso não fosse aceito a fortaleza abriria fogo. O escaler não conseguiu entregar o ofício. Ao se aproximar, o barco inglês executou um tiro de pólvora seca. Entendendo como uma agressão ao escaler, os homens que estavam na Fortaleza atacaram a corveta britânica na hora que esta saía da baía rebocando os navios apreendidos.
Após 40 minutos de bombardeio recíproco, o Cormorant, que tinha poder de fogo maior que a fortaleza e não o usou totalmente, preferiu rumar para a enseada das Conchas para consertar as avarias. Para escapar com maior rapidez, incendiou dois navios apreendidos e guarneceu o terceiro, rumando para a Serra Leoa. Os tiros dos brasileiros acertaram o cruzador e um dos navios rebocados, matando um marujo inglês e ferindo gravemente outro. Na fortaleza, apenas feridos leves.
A repercussão do incidente foi curiosa, pois o presidente da província do Paraná elogiou oficialmente a guarnição da Fortaleza e os civis que participaram do combate. No entanto, o governo Imperial do Brasil, por motivos políticos, teve que se retratar perante a Inglaterra e o capitão Joaquim Ferreira Barboza, comandante da fortaleza, foi rebaixado de posto.
No Paraná, o episódio contribuiu para o aumento do sentimento separatista em relação à província de São Paulo e selou a união de Paranaguá e Curitiba neste objetivo comum. Até então, as duas cidades mantinham uma rivalidade pela liderança na região, dividindo suas forças, o que impedia que o movimento emancipacionista tivesse sucesso. O Paraná conseguiu sua emancipação três anos depois, em 1853.
Como consequência ao episódio Cormorant, o Brasil implantou, logo após o incidente, a Lei Eusébio de Queirós, que proibia o tráfico negreiro da África para o Brasil. Também, passou a patrulhar as águas territoriais com a Marinha Brasileira. Apesar de que, na prática, essa lei e esses patrulhamentos também se tornaram algo “para inglês ver”, é considerado o primeiro grande passo em direção à abolição da escravidão no Brasil."
(Fonte: jormalri.com.br)
Paulo Grani

sábado, 14 de maio de 2022

No ano de 1887, havia surgido em PARANAGUÁ, uma Sociedade conhecida pelo nome - "VOLTIJADORES DA ÉPOÇA" - fundada por um grupo de rapazes mais modestos que, não podendo integrar o quadro social do Club Litterario por motivos financeiros, resolveu procurar um meio de ter os divertimentos da juventude

No ano de 1887, havia surgido em PARANAGUÁ, uma Sociedade conhecida pelo nome - "VOLTIJADORES DA ÉPOÇA" - fundada por um grupo de rapazes mais modestos que, não podendo integrar o quadro social do Club Litterario por motivos financeiros, resolveu procurar um meio de ter os divertimentos da juventude


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Foto ilustrativa, web.

"VOLTIJADORES DA ÉPOCA" ...
No ano de 1887, havia surgido em PARANAGUÁ, uma Sociedade conhecida pelo nome - "VOLTIJADORES DA ÉPOÇA" - fundada por um grupo de rapazes mais modestos que, não podendo integrar o quadro social do Club Litterario por motivos financeiros, resolveu procurar um meio de ter os divertimentos da juventude naquele longínquo tempo, que eram os bailes e as representações teatrais.
De fato, o quadro social do Club Litterario era composto de elementos selecionados, que formavam a aristocracia parnanguara. O Clube Republicano, por sua vez, destinado a fins políticos, não interessava a essa juventude sadia de poucos e minguados recursos.
Os moços daquela época, que não tinham tradição de família e nem pequena fortuna que lhes pudesse dar uma posição definida no meio social da Cidade, sofriam com a falta de uma Sociedade mais modesta.
Daí, a lembrança de fundarem um Clube para seu regalo, e que foi o "Voltijadores da Época"; localizado nos porões do sobrado do Sr. Camilo Antonio Laines (hoje, bela residência do conceituado cidadão Sr. Antonio Temporão), à rua Faria Sobrinho.
Na verdade, mesmo com dificuldades financeiras, eles chegaram a organizar-se com o nome "Club Recreativo e Litterário Voltijadores", conforme propaganda veiculada no Jornal "A República, de 15/04/1889 (vide foto). Nas alegres reuniões, além dos bailes, constavam, da noitada, as representações teatrais, como fonte de instrução para a mocidade. E havia, de fato, um bom corpo cênico.
É preciso lembrar ao leitor que, naqueles idos tempos, não havia o "Cinema", nem o "Futebol", ou qualquer outra modalidade de
divertimento
. Portanto; o "Teatro" era o forte da época. As reuniões, promovidas pela recente Sociedade, compunham-se de duas partes:
A primeira: TEATRO — representações de dramas, comédias, monólogos e recitativos; cujo linguajar, passava pela censura rígida, em todos os pontos de vista.
A segunda: BAILE — esplêndidas noitadas, que iam até alta madrugada. (Três horas da manhã, no máximo).
As representações, como era de praxe, começavam às 6 horas da tarde e iam até às 9 horas; quando então se dava início ao baile. À meia-noite, o conjunto musical, sob a regência do maestro, conhecido por "Manoel Zé", fazia uma parada; para dar lugar ao "chá", servido pelos sócios, em bandejas, no salão de danças. As senhoras e senhorinhas, sentadas em cadeiras encostadas às paredes do salão, tomavam o gostoso "chá" com fatias de "pão de ovos". Depois, recomeçavam as danças, sempre na maior animação. Assim eram as festas dos "VOLTIJADORES".
Para quase todas as festas, os sócios reuniam-se em Assembléia e, arranjavam o dinheiro necessários às despesas. E assim iam levando o seu Clube; sempre alegres e divertidos. Na parte teatral, os amadores faziam questão absoluta em tomar parte nos dramas e comédias. Faziam parte do Teatro os amadores:
Henrique Dacheux, Leandro Dacheux, Nicolau Dacheux, Otá- vio Branco, Eurípedes Branco, Francisco Timóteo Simas, Henrique Veiga, Manoel Clarício de Oliveira, João Bernardino, Francisco Guimarães, João Estevão Junior, Manoel Maia Junior, Antonio Carlos da Silva, Manoel Hermógenes Vidal, Joaquim de Amorim (que era o "ponto").
Com o passar do tempo, apesar da criatividade e espírito empreendedor deles, a "Sociedade dos Voltijadores da Época" passou a sentir crise financeira. O amadorismo do teatro, a união da mocidade e a alegria de todos, não se podia deixar tal empreendimento extinguir-se, foi quando, devido a uma emenda estatutária, seus sócios foram admitidos diretamente no quadro social do "Clube Republicano Recreativo" e, mais tarde, vários deles chegaram a ser Presidentes do Clube.".
Enfim, ninguém explicou o significado do termo "VOLTIJADORES" !
Bem, é difícil mesmo. Nenhum dicionário atual apresenta significado direto. Parece ser um derivativo do verbo "voltear", daí "volteador, voltijador": Aquele que volteia; que faz girar; que gira, remexe; que rodopia em torno do seu tronco; aquele que anda em corda bamba ou de arame.
(Adaptado do livro "Paranaguá na História e na Tradição, de Manoel Viana)
Paulo Grani