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quarta-feira, 15 de novembro de 2023

ENTRANDO NO RESTAURANTE ILE DE FRANCE O Restaurante Ile de France, existente até hoje, estabelecimento que sempre primou pelo seu requinte foi fundado pelo casal francês, Emile e Janine Decock

 ENTRANDO NO RESTAURANTE ILE DE FRANCE
O Restaurante Ile de France, existente até hoje, estabelecimento que sempre primou pelo seu requinte foi fundado pelo casal francês, Emile e Janine Decock


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Fachada do casarão onde funcionou o restaurante Ile de France, na Rua Dr. Muricy no inicio dos anos 1950.

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O casal Emile e Janine Decock

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ENTRANDO NO RESTAURANTE ILE DE FRANCE
O Restaurante Ile de France, existente até hoje, estabelecimento que sempre primou pelo seu requinte foi fundado pelo casal francês, Emile e Janine Decock, provenientes da região da Normandia. Lá, administravam um hotel-restaurante, sendo que alguns de seus fregueses eram diplomatas brasileiros. Nas conversas, comentavam sobre o Brasil, e eles foram tomando conhecimento sobre este país. Então, tomaram a decisão de vir para cá, depois que sua cidade foi bombardeada, em plena Segunda Guerra Mundial.
Por volta de 1948 chegaram no Paraná, a princípio, com o interesse de plantar linho, na região de Ponta Grossa. Iniciaram essa atividade, mas não deu certo e em 1951, abriram um bar, na rua Cruz Machado, esquina com a praça Tiradentes. Chamava-se Bar Normandie. Era um local mais sofisticado, em estilo europeu, que servia aperitivos e alguns pratos da culinária francesa. Funcionou de 1951 a 1953.
Em fevereiro de 1953, alugaram uma casa na rua Dr. Muricy, onde fixaram residência e ao mesmo tempo montaram um novo bar-restaurante, o "Ile de France".
Os jornais da época comentaram a inauguração do Ile de France: "Ontem (18/02/1953), às 17:00 horas, foi oferecido, à sociedade curitibana um 'cocktail', para inauguração do novo bar e restaurante 'Ile de France'. Magnificamente recepcionados pelos proprietários, casal Jeanine-Emile Decock, os convidados, em sua maioria membros da colonia francesa aqui residente, tiveram a melhor das impressões. O Dr. Newton Carneiro, Presidente da 'Alliance Française', que também esteve presente, ergueu um brinde pela prosperidade daquele estabelecimento que orgulha nossa cidade, e que será por certo, o ponto de reunião da elite curitibana, que sente o 'chic' francês, desde o 'menu' elegante até a simples e gostosa ornamentação das duas salas de refeições e do bar acolhedor. Renovamos ao casal Decock [...] nossos sinceros votos de progresso para o simpático bar e restaurante da rua Dr. Muricy, 302." (O Estado do Paraná, 19/02/1953).
Por ocasião da inauguração, a cronista social Rosy Sá Cardoso escreveu no jornal O Estado do Paraná: "... O 'Ile de France', bar e restaurante ontem inaugurado. [....] a magnífica impressão que tive, verificando o bom gôsto da decoração, estilo provençal que enfeita aquele estabelecimento; [...], o 'menu', confeccionado em ótimo papel com evocação de Paris e Fontainebleau, e anunciando unicamente pratos franceses; [...], dizer do bar de cadeiras de alto espaldar, do espelho encimado por bandeirinhas de todas as províncias da França; [...], tentar descrever as duas salas de refeição, com o total de apenas doze mesas, com toalhas simples, cadeiras rústicas, paredes enfeitadas com madeira, tapeçaria e utensílios de cozinha em cobre; [...], a grande lareira enfeitada com ladrilhos sugestivos, o enorme relógio, e as alegres cortinas e folhagens que enfeitam todas aquelas três salas. [...]. O novo restaurante que o casal Emile Decock, em muito boa hora resolveu inaugurar. E se escolheu êste assunto para êste comentário mundano e social, é por julgar que a sociedade fará do 'Ile de France' o seu ponto de reunião, à bôa moda francesa, frente a pratos típicos regados a saborosos vinhos." (CARDOSO, 19fev. 1953).
As colocações acima permitem que se tenha uma idéia de como foi concretizado o ambiente interno do restaurante na época, e se perceba a influência francesa na decoração que, inclusive, se manteve posteriormente, quando o Ile de France, em 1957, mudou para sua sede própria, na praça 19 de Dezembro, 538, onde está até hoje, e conserva muitas das peças decorativas utilizadas na época.
No início, o casal Decock contava com um cozinheiro francês, trazido de São Paulo, mas que não ficou um ano trabalhando. A partir dessa experiência, o sr. Emile resolveu assumir a cozinha, aí ficando até 1968, quando sua esposa faleceu. Ela era quem administrava o salão. Cuidava do caixa, recebia as reservas e os clientes que chegavam na recepção. Dada a necessidade de realizar essa tarefa, o sr. Decock, que já contava com ajudantes, por ele treinados, passou a função de cozinheiro para uma dessas pessoas. A troca não causou problemas, o cozinheiro demonstrou aptidões e, inclusive, está até hoje à frente do fogão do Ile de France.
Continuando essa trajetória, em 1981, o sr. Emile Decock veio a falecer e o Ile de France passou a ser dirigido pelo filho Jean Paul Decock e sua mulher Clara. Em entrevista, ele afirmou que os pratos tradicionais, a maioria criados na época de seus pais, são os que se mantiveram em todos esses anos.
O prato mais pedido pela clientela é o steak au poivre (filé com molho de pimenta moída), seguido do estrogonofe de carne e de camarão. Embora o estrogonofe seja um prato comum hoje em dia, diz Jean Paul, "acho que foram os meus pais que começaram, pelo menos em Curitiba."
Segundo Leônidas Hoffmann, que trabalha no Ile há vinte anos: "O estrogonofe da casa é tão famoso porque é diferente. Só nós fazemos assim. Inclusive já vieram alguns franceses aqui experimentar. O segredo é que em vez do ketchup, que todo mundo usa, nós utilizamos massa de tomate. Só que o resto eu não posso contar...."
Em entrevista, o sr. Jean Paul disse que há muitos clientes que estiveram presentes na inauguração do Ile de France, na rua Dr. Muricy, e que acompanharam a mudança de local e hoje freqüentam o restaurante com seus filhos e netos. E ele observa que os pratos pedidos são sempre os mesmos. Inclusive, os filhos que vêm com suas namoradas, também escolhem no cardápio a mesma coisa que o pai costuma escolher: "Às vezes acontece que a pessoa pede outra coisa e depois diz, ah! não gostei, preferia ter pedido o de sempre! Já acostumou com aquele gosto, comer aquele prato com aquele sabor. Ai experimenta outra coisa e não gosta. Acho que o cliente que vem aqui já sabe o que vai pedir. Pensa: vou ao Ile de France comer aquilo: um filé com aspargos, ou um steak au poivre. Pensa em carne! Ou um peixe, ou um camarão! Ele chega aqui sabendo o que quer: comer aquela determinada comida com o mesmo sabor. Esse é o seu prazer!" (Jean Paul Decock, entrevista).
Os pratos de sucesso no Ile de France e que conquistaram o paladar dos clientes, bem como o cardápio, como um todo, estão inseridos na chamada cozinha tradicional francesa. Jean Paul afirmou que eles sempre procuraram fazer os chamados pratos tradicionais e nunca entraram em modismos, nunca adaptaram alguma coisa da nouvelle cuisine.
Nessa opção pelo sabor da comida, Jean Paul disse que a utilização do fogão à lenha e de panelas de ferro é fundamental: "Vejo muita importância no uso do fogão à lenha. As vezes eu faço o mesmo prato em casa, em panela de alumínio e fogão à gás, fica diferente. 'Panela velha é que faz comida boa'. Alguma coisa tem, não sei porque, mas tem. Principalmente o fogão à lenha, a chapa. Acho que é porque não esquenta tão rápido, alguma coisa assim. As panelas de ferro também, mantém o calor, né?"
Tudo no restaurante é feito no fogão à lenha. O gás é para alguma coisa mais rápida. O sucesso do Ile de France em todos esses anos de sua existência está ligado ao fato de os proprietários realizarem um acompanhamento constante, no dia- a-dia do restaurante, seja na supervisão direta da cozinha, seja na seletividade e controle de qualidade dos produtos utilizados, seja no atendimento personalizado dado ao cliente. Diz Jean Paul: "Faço questão de receber todos os clientes pessoalmente. E um costume que herdei de meus pais, que também faziam assim. A maioria dos clientes eu conheço pelo nome. São de Curitiba. E quando são de fora, muitas vezes dizem: sou do Rio, mas fulano mandou eu vir aqui. [...] Circulo nas mesas, tiro pedidos quando o movimento está intenso, enfim, faço de tudo um pouco. Acho que isso faz a casa!"
Desde o início, o horário de funcionamento do Ile de France é das 19 horas até meia-noite, ou uma hora, dependendo do movimento. Sempre fechou aos domingos e feriados.
"Mas nesses quarenta e dois anos, o Ile de France fechou apenas uma vez, para um determinado grupo comemorar. Foi por ocasião da inauguração do Supermercado Carrefour em Curitiba. Sempre estivemos com as portas abertas para todos os clientes", diz Jean Paul.
(Compilado de: teses.ufpr.gov.br / Maria do Carmo Marcondes Brandão Rolim Bares e Restaurantes de Curitiba)
Paulo Grani
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Em seus quarenta e dois anos de funcionamento o cardápio do Ile de France sofreu poucas modificações. A sua configuração básica é a seguinte:
LE COUVERT
HORS D'OEUVRES: Salades, Melouaujambon (melãocompresunto), Cocktail de crevettes (coquetel de camarão), Crevettes mayonnaise (maionese de camarão).
ENTRÉES: Consommé (caldo de carne), Crème d'asperges (creme de aspargos), Vol au vent (folheado recheado com frango, camarão ou cogumelos), Champignons à la crème, Champignons provençale (cogumelos ao molho de alho), Omelette fines herbes (omelete com salsinha), Omelette champignons, Omelette jambon (omelete com presunto), Moules farcies (mariscos ao molho de alho).
VOLAILLES: Canard aux pommes (pato com maçã), Poulet grillé (frango grelhado), Poulet cocotte grand mère (frango refogado com cebolas e batatas), Poulet Vallée d' Auge (frango com molho queimado com Calvados).
FRUITS DE MER: Crevettes provençale (camarão ao molho de alho), Brochettes de crevettes s/tartare (camarão com molho tártaro), StrogonofF de crevettes (estrogonofe de camarão), Filet de poisson meunière, Filet de poisson aux câpres (filé de peixe com alcaparras), Filet de poisson aux amandes (filé de peixe com amêndoas), Filet de poisson bonne femme (filé de peixe com camarão e cogumelos) Coquille Saint Jacques (vieira), Coquille Normande (concha de peixe e camarão).
LEGUMES: Petits pois à la française (ervilhas com manteiga), Tomates provençale (tomates com cebola e alho), Asperges au beurre (aspargos na manteiga).
VIANDES: Tournedos béarnaise (filé grelhado com molho de manteiga), Filet à la moutarde (filé com molho de mostarda), Filet marchand de vin (filé com vinho e cebolas), Tournedos madère champignons (filé com vinho madeira e cogumelos) Médaillons périgourdine (medalhões com legumes), Boeuf provençale (filezinhos ao alho e óleo), Médaillons congolais (medalhões com pimenta verde e conhaque), Filet Strogonoff, Grenadin de veau Niçoise (filé de vitela com azeitonas), Escalope de veau à la crème (vitela com molho de creme), Côte de porc charcutière (costeleta de porco com molho picante), Civet de lapin (coelho ao vinho), Rognons sauce madère (rins ao molho de vinho madeira), Langue sauce tomate (língua com molho de tomate).
FROMAGES: Camembert.
DESSERTS: Profiterolles au chocolat, Crème caramel (pudim de leite), Pèche melba (pêssego com sorvete), Coupe Armenonville (sorvete com chocolate quente) Glace (sorvete), Fraises chantilly (morangos com nata), Omelette au rhum, Tarte aux pommes (torta de maçãs), Crêpes suzette, Fruits de saison, Ananas surprise.
SPÉCIALITÉS DE LA MAISON: Paté maison (patê da casa), Soupe à l'oignon (sopa de cebola)
Escargots dz 'A dz, Crevettes sauce mornay (camarão gratinado com queijo), Steak au poivre (filé com molho de pimenta moída) Blanquette de veau (vitela ensopada), Coq au vin (frango ao vinho).