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segunda-feira, 10 de julho de 2023

"DÁ-NOS ALGUMAS ESPIGAS ... " "Em 1884, dois colonos que ceifavam trigo em um campo no Abranches, avistaram três meninos que, vindo em sua direção, pediram-lhes algumas espigas do cereal.

 "DÁ-NOS ALGUMAS ESPIGAS ... "
"Em 1884, dois colonos que ceifavam trigo em um campo no Abranches, avistaram três meninos que, vindo em sua direção, pediram-lhes algumas espigas do cereal.


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"DÁ-NOS ALGUMAS ESPIGAS ... "
"Em 1884, dois colonos que ceifavam trigo em um campo no Abranches, avistaram três meninos que, vindo em sua direção, pediram-lhes algumas espigas do cereal. Nem imaginavam os camponeses – e pense na surpresa quando descobriram – que as três crianças eram príncipes, netos de Dom Pedro II. A data era 4 de dezembro e os infantes haviam chegado cinco dias antes a Curitiba, acompanhados de seus pais, princesa Isabel e Conde d'Eu, para conhecer a cidade e fazer a primeira viagem oficial da estrada de ferro, vindos de Paranaguá.
O campo em que D. Pedro, D. Antonio e D. Luís passeavam tratava-se de uma colônia de poloneses provenientes da Prússia Ocidental. Os colonos estavam ali a pouco tempo (desde 1873), após terem conseguido autorização do então presidente da Província do Paraná, Frederico Abranches, para se instalarem a “seis quilômetros” de Curitiba, num espaço estabelecido pela Câmara Municipal. Outros bairros, como Pilarzinho, Santa Cândida, Augusta e Orleans, também foram povoados por poloneses, tornando a capital, a maior colônia destes imigrantes no Brasil. Tudo isso porque o imperador havia adotado uma política de “portas abertas” aos estrangeiros, para minimizar a falta de mão de obra e a escassez de alimentos – a propósito, o bairro Orleans recebeu este nome em homenagem ao Conde d'Eu, Luíz Felipe de Orléans.
Naquela manhã de 1884, a família imperial chegou à colônia às 7h30. “Os colonos aguardavam os augustos visitantes, no adro da igreja que alli ha, em companhia do padre Kuvonski, diretor e parocho na colonia, que é composta de mais de 1,500 pessoas, entre homens, mulheres e crianças, todos polacos e pertencentes á Prussia”, narrou o jornal Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, que enviou um correspondente especialmente para acompanhar a viagem dos príncipes.
Lá, participaram de uma missa e ouviram músicas típicas: “á sahida, os colonos dirigiram um cantico a Suas Altezas, cantando em côro, depois d'isso, o hymno polaco, cantando com eles o Sr. conde d'Eu, que declarou já ter ouvido este hymno na Cracóvia uma vez, e que alli o povo que o ouve e os que o cantam, levantam-se para provar que a Polonia não morreu ainda – o que tambem acreditam. O Sr. conde d'Eu esteve alguns dias na Polonia, e, como tem grande aptidão para as línguas, conseguiu aprender aquelle idioma.”, relatou o correspondente – vinte anos antes, guerras externas travadas pelo exército prussiano impulsionaram a imigração de aldeães de Siolkowice, uma pequena aldeia próximo a Opole, no Sul da Polônia, para as terras brasileiras.
Chama a atenção a descrição que o jornalista carioca faz sobre a aparência dos anfitriões, quase como se não estivessem no mesmo Brasil. “As mulheres n'esta colonia usam todas umas toucas, parecidas com as que se põe nas crianças recém-nascidas, e que lhes dão uma apparencia muito comica. Os homens, e mesmo as mulheres, são feios, predominando o cabello preto em umas cabeças chatas como a dos nossos patricios do Ceará. São de boa indole, muito trabalhadores e sorumbaticos. Custa-se a arrancar uma palavra d'estes polacos, que têm physionomia de quem pensa muito na vida pela certeza da morte.”
Ele relatou ainda que a colônia Abranches era a que ficava mais perto “da cidade de Curityba”, e que ali se cultivava milho, trigo, centeio e batatas. “Muitos outros cereaes alimentícios, e gado suíno, muar e cavallar; não é a colonia mais prospera, mas é uma das melhores da provincia. Em caminho para ella avistam-se grandes campos cobertos de plantação, e todos os lotes de terra bem aproveitados.” Por esta descrição, é possível perceber quão rural e diferente era a região norte da cidade da atualidade.
“Em regresso, os principes D. Pedro, D. Luiz e D. Antonio, avistando em um grande campo dois colonos, que ceifavam trigo, dirigiram-se a elles e pediram algumas espigas d'aquelle cereal, sendo satisfeitos pelos colonos, que não sabiam quem eram aquellas crianças, o que só mais tarde conseguiram, ficando por isso lisongeados”, continuou.
Naquele dia, princesa Isabel escreveria aos pais: “Nas colônias Abranches, Santa Cândida, Pilarzinho e Lamenha, todas polacas e perto de Curitiba, há umas 250 famílias. A única coisa que os colonos se queixam é da exiguidade do lote que destinaram a cada família, no que, com efeito, pareceu-nos terem eles razão”.
Notas sobre os alemães
Os alemães, que também tiveram forte influência cultural em Curitiba, da mesma forma foram alvo de observação por parte dos visitantes, principalmente do correspondente carioca. “Nas colonias, os Srs. Allemães chegaram a afinação de governar e dar leis; e a língua que n'elas se ensina, é a d'aquella nacionalidade, porque o governo não póde com elles, que ás vezes nem conhecem a auctoridade policial e só prestam obediência ao maioral das colonias, que é um rei pequeno.”
“Por toda parte, em todas as ruas, ás janellas de todas as casas, parados ás esquinas, encontram-se indivíduos de cachimbo na bocca, mãos nos bolsos e bonet; não é preciso perguntar, porque se lhe dirigirem a palavra em portuguez, não respondem: - é allemão. E ser-se allemão em Curityba, ou falar um pouco o idioma, já se é alguma cousa.” -(Texto de Michelle Stival da Rocha – jornalista da Diretoria de Comunicação da Câmara Municipal de Curitiba).
Paulo Grani.