sábado, 20 de fevereiro de 2021

Curitiba: 1668, 1693 ou outra data?

 A História tradicional da cidade ainda disputa qual a data efetiva da fundação de Curitiba e quem teria sido seu verdadeiro fundador. A versão predominante do patriarca, na opinião dos primeiros cronistas e nossos historiadores até mais recentes, recai habitualmente em Ébano Pereira, o capitão das canoas de guerra e o entabulador das minas de ouro do distrito do Sul.

As primeiras notícias sobre a fixação do homem branco no planalto de Curitiba remontam aos fins do século XVI e se tem feito coincidir com a origem da Vilinha (depois Vila Velha), situada à margem esquerda do rio Atuba, cuja localização foi feita "in loco" e por pesquisa inédita do historiador Júlio Moreira, de que resultou, em 1972, a criação do Parque Histórico da Cidade, por lei municipal, aberta ao público desde 1985. Conta-se ainda, com sabor de lenda, que das paragens da Vilinha saíram os moradores em 1654 para se instalar no outeiro que divide os rios Belém e Ivo, onde vai surgir a vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, que em 1720 assume o topônimo definitivo de Curitiba.

Na verdade, não há dados que credenciem a adoção da data e do autor da fundação da vila, fora da sua versão oficial, correspondente a 29 de março de 1693, com documentação em ata, que registra a ocasião em que, por solicitação e reunião do povo, foram eleitas as autoridades da vila, encarregadas de sua administração e distribuição da justiça. Porém, por força da legislação vigente, o ato da criação se desdobrou em dois episódios distintos, mas consequentes, que se completam para dar ao povoado o foro de vila. O primeiro correspondeu à ereção do pelourinho, e se perfez através de singela cerimônia realizada na praça central do povoado, presidida pelo capitão-mor de Paranaguá, Gabriel de Lara, na presença de 17 dos seus moradores, isto em data anterior a 4 de novembro de 1668. E o outro, em 1693 (um quarto de século depois), através do qual lhe assegurou o predicamento de vila (civitas). Ao cabo, faltou-lhe apenas a carta régia, como ato originário ou confirmatório da criação da vila, seja oriundo da autoridade real, do donatário ou de preposto deste. Nesse aspecto, porém, ambos os atos foram historicamente validados, porque foram produto da iniciativa do próprio do povo, correspondente à manifestação afirmativa de sua vontade e determinação, reclamando das autoridades os foros tardios do seu reconhecimento político e dos poderes de sua organização permanente.

Um dos segredos, porém, que permeia essa distância entre os dois atos, tem despertado a curiosidade de quantos percorrem essa quadra da nossa história. O que teria levado o capitão-mor Gabriel de Lara a se restringir à ereção do pelourinho da praça e deixar transcorrer tantos anos sem promover a eleição da Câmara, para que o povoado assumisse enfim a condição de vila? Nesse sentido, há diversas sugestões que correm por conta da interpretação de cada historiador. Francisco Negrão, por exemplo, justifica a demora à falta da ordem régia, pois os donatários só tinham autorização para criar vilas ao longo da costa e dos rios que desaguassem nos mares; e, no sertão, a distância seria de 6 léguas uma da outra. Edilberto Trevisan invoca a restauração portuguesa. Quando Portugal pôs fim definitivo à união ibérica com a aclamação do Duque de Bragança, seu rei com o nome de D. João IV (Tratado de Lisboa 1668), o governo da metrópole teria fomentado as iniciativas de avançar o domínio de Portugal sobre as terras da América espanhola, antecipando posições além da linha de Tordesilhas. Por outro lado, porém, há quem desqualifique ambas as datas oficiais, alegando que na ocasião os campos de Curitiba já estavam povoados de gente, principalmente de faiscadores e mineradores de ouro, ocupando arraiais dispersos às margens dos ribeirões auríferos ou das minas de pedra. Havia ainda os que ocupavam os campos férteis para a criação do gado vacum ou o cultivo de lavouras de subsistência. Igual, portanto, às notícias que se tem da existência da Vilinha, como origem de Curitiba, cujo monumento histórico mandado construir tinha anteriormente uma placa oficial indicativa de que ali existiu um povoado, substituída depois por outra confessando que naquele mesmo local teria existido um povoado.

A bem de ver, no entanto, foi a atração do ouro, que provocou o deslocamento humano, espontâneo, ou mesmo induzido, para o planalto curitibano, de aventureiros, famílias inteiras e seus agregados, provindos de São Paulo, S. Vicente, Cananéia e Iguape. Porém, não é a só presença do homem que cria o momento histórico. No caso, o ato da criação deve corresponder a um sentimento definido e comum, em que o grupo manifesta seu intento de se organizar em comunidades para lhe dar expressão orgânica e assegurar sua preservação e a segurança dos seus membros. Observe-se ainda que, segundo as Ordenações Filipinas, para que então o povoado adquirisse a representatividade de vila, além da carta régia, fixando-lhe o termo, deveria ao mesmo tempo erigir o pelourinho e eleger seus juízes e oficias da Câmara. Vale observar, também, que tantas vezes a datação histórica provém de lendas ou foi estabelecida como eleição simbólica. Assim, São Paulo não teve foral nem foi fundada em 25 de janeiro. Essa é a data da missa que os jesuítas rezaram numa tosca cabana levantada nos campos de Piratininga. Anos depois o local passou a sediar a vila de Santo André, fundada em 1553 por Tomé de Souza, porque ela se mostrava desguarnecida. A data e o nome do santo preponderaram. O Rio de Janeiro surgiu no morro do Cão, na península do Pão de Açúcar, mas dois anos depois, mais seguros do assédio dos franceses e dos índios, o núcleo da cidade foi transferido para o morro do Castelo, de defesa mais protegida. Também Salvador da Bahia começou como arraial do Pereira (1536), mas ganhou outra data (1549), quando se tornou capital da Colônia e se preparou para receber o primeiro governador-geral, Tomé de Souza.

Assim, pelo visto, os primeiros habitantes do planalto constituíam uma população aventureira, errante, ocupada em batear ouro de aluvião em mais de 30 ribeiros vistoriados por Gabriel de Lara ou a extrair ouro beda ou de mina, vivendo ainda em arraiais intermitentes, dispersos pelo planalto. Se até então não havia entre eles manifestação de uma forma maior de convivência e organização social, é justo que o historiador, na falta de precedente, procure se fixar apenas nos registros oficiais, a partir de quando a comunidade passou a manifestar seu propósito de assumir modelo político, que é sempre a forma mais duradoura de preservar a vida da sociedade e garantir sua autonomia. 
 

             

Ilustração do autor

 

E quanto a Eleodoro Ébano Pereira, foi ele o patriarca da cidade? Na verdade, seu nome e seu título de preeminência na fundação da cidade constam da nomeação dos que primeiro se ocupavam da origem da cidade, embora sua presença, em geral, esteja registrada em notas breves, sem apoio de documento ou subscrito de autoridade.
 
Assim, seguindo o passo de Maria Cecília Westphalen, teremos por primeiro Pedro Taques de Almeida Paes, da "História da Capitania de S. Vicente" (1772), onde Ébano Pereira aparece como fundador da cidade, mas sem data de referência e sem qualquer menção a outros protagonistas conhecidos do evento. Quanto a Pizarro e Araújo ("Memórias Históricas do Rio de Janeiro", 1820-1822), só repetem a data da fundação e o nome de quem lhe deu origem. O sábio Saint-Hilaire era apenas um viajante estrangeiro e a origem da vila faz parte da sua resenha de viagem, mas sem registro da data da fundação e do nome do fundador. Nosso historiador Vieira dos Santos ("Memória Histórica da Vila de Morretes", 1850) repete o que "os antigos contavam", mas ainda assim menciona a existência da Vilinha e conclui atribuindo a Ébano Pereira a fundação da cidade, datando a fundação de 1654.

No final do século XIX e parte do XX, outros dos nossos melhores historiadores, como Rocha Pombo, Sebastião Paraná, Ermelino de Leão, Francisco Negrão e Romário Martins, em definitivo ou provisoriamente, filiaram-se ou aceitaram a versão de Ébano Pereira. Por sua vez, Rocha Pombo do "Paraná do Centenário" admite a presença de Ébano Pereira entre os fundadores da cidade, mas reduz seu papel ao de preposto do governo de São Vicente. Um aventureiro que não deixou notícia do seu paradeiro. Romário Martins, na primeira edição da "História do Paraná" (1899), acolhe a versão de Vieira dos Santos e o inclui entre os primeiros moradores; fez menção da Vilinha e da sua transferência para o local que passou a ser Curitiba de hoje. Em suas obras posteriores, porém, embora conceda a Ébano Pereira "magna parte na alvorada dos dias históricos dos curitibanos", nega, no entanto, que ele tenha sido realmente um povoador, "no sentido social do termo". Veio ao planalto curitibano em missão oficial e quando o ouro já havia sido descoberto, acrescenta. Nessa altura, porém, a publicação de documentos do interesse da história paranaense, extraídos dos arquivos portugueses e incluídos na obra do historiador Jaime Cortesão, “Pauliceae Lusitana Monumenta Historica", comemorativa do IV Centenário da cidade de São Paulo, vão repercutir sobre o conhecimento dos primeiros tempos da nossa história colonial, particularmente sobre a figura de Eleodoro Ébano Pereira e a existência da Vilinha, como núcleo inicial de Curitiba.

Apesar dessas novas revelações, que motivaram o professor Júlio Moreira a empreender um trabalho inédito de localização originária da tal Vilinha, do Atuba, e no sentido de confirmar a presença de Ébano Pereira nos campos de Curitiba, as informações não permitem atribuir o papel histórico de fundador a Ébano Pereira. Assim é que, mais recentemente, o historiador Ruy Christovam Wachowicz diz textualmente na sua "História do Paraná" que, quanto a Ébano Pereira, "é duvidoso atribuir­-lhe qualquer participação na fundação de Curitiba". Maria Cecília Westphalen afasta também a ideia do fundador, pois, apesar de Baltazar Carrasco dos Reis, Matheus Martins Leme, João Rodrigues Seixas, etc., terem se radicado em Curitiba, com a família e seus interesses, e, doutra parte, Gabriel de Lara e outros, em Paranaguá, Ébano Pereira não possuía família nem parentes na região e, quanto à origem da vila, a notícia da presença de ouro entre nós foi o que atraiu grande número de mineradores e aventureiros provindos de São Paulo e São Vicente para o plateau curitibano, onde se estabeleceram em diversos arraiais, com ânimo provisório ou definitivo. Porém, tão logo chegou a notícia do porte da riqueza do ouro das Gerais, essa população debandou, levada pela ambição da nova riqueza, e então nossa futura capital, com certeza, foi o arraial que permaneceu, com sua população efetiva e as sesmarias que lhes tinham concedido.

A versão é semelhante à que ocorreu em Paranaguá. Revelada a presença do ouro na capitania, o achado atraiu gente de toda a sorte e em bandos tão numerosos que, na imagem de Francisco Negrão,"pareciam cidades ambulantes". Ora, mais recentemente nosso Edilberto Trevisan sustentou essa obra coletiva ou indeterminada de fundação, argumentando que "os mesmos motivos de ordem militar que aconselharam fazer o povoamento de Paranaguá, com o deslocamento de população, para fins estratégicos, deveriam ter se repetido em Curitiba" ("O Centro Histórico da Cidade"). Assim, no fim das contas, resta indagar: quem dessas multidões chegou primeiro? E quem foi o pioneiro que se adiantou aos outros e fincou a bandeira inaugural da vila? Ou ainda sabemos muito pouco, ou quem sabe, jamais chegaremos a saber.

Rui Cavallin Pinto


Bibliografia:
 
BRITTO, Teresa Teixeira de. CURY TUBA e a Epopéia de Balthazar. Gráfica Vitória, 2001.
 
MARTINS, Oliveira. História de Portugal. Tomo I, Guimarães & Cª. Editores, Lisboa, 1951.
 
MARTINS, Romário. História do Paraná. Ed. Guaíra, 3 edição.
 
MOREIRA, Júlio Estrela. Eleodoro Ébano Pereira e a Fundação de Curitiba. Imprensa da UFPR, 1972.
 
NEGRÃO, Francisco. Fundação da Vila de Curityba - 1668 a 1721. Genealogia Paranaense, vol. 1º, 1926.
 
PLAISANT, Alcibíades Cesar. Cenário Paranaense, 1908.
 
SOUSA, Washington Luis Pereira de. Na Capitania de São Vicente. Livr. Martins Fontes Editora, 1956.
 
STRAUBE, Ernani Costa et alii. In: CURITIBA - 315 anos de história. Organizador: Anthony Leayy, em memória de Túlio Vargas. Instituto Memória, Curitiba, 2008.
 
TREVISAN, Edilberto. O Centro Histórico de Curitiba. Gráfica Vicentina, 1996.
 
WACHOWICZ, Ruy Christovam. História do Paraná. Ed. dos Professores, 1967.
 
WESTPHALEN, Cecília Maria. Origens e Fundação de Curitiba. In: CURITIBA. Origens, Fundação, Nome. Boletim Informativo da Casa Romário Martins, vol. 21, número 105, junho/1995.

Praças de Curitiba: Espaços Verdes na Paisagem Urbana

 Aparecida Vaz da Silva Bahls*


Campos ermos, pantanosos e desnivelados. Tal era a paisagem desoladora das áreas hoje ocupadas pelas praças de Curitiba, na segunda metade dos Oitocentos. Entremeados com o casario que gradualmente se estendia pelos limites urbanos, esses campos serviam de passagem para os transeuntes e de pasto para os animais. Ocasionalmente, abrigavam companhias circenses e de touradas, que visitavam a cidade.

Esse quadro começou a se modificar no final do século XIX e início do XX, quando intervenções de nivelamento e aterramento e plantio de árvores deram novo aspecto a alguns desses largos, como as melhorias realizadas pelo prefeito Luís Antonio Xavier, nas praças General Osório e Carlos Gomes, a partir de 1903.

Ações como essas refletiam as mudanças estruturais que começavam a ser implantadas em Curitiba, semelhantes às que ocorriam nas principais capitais brasileiras. Pretendia-se atribuir à urbe uma aparência de progresso e civilidade, segundo o modelo francês de urbanização, o qual priorizava espaços amplos, arejados e arborizados.

Contribuíram para pôr em prática esse projeto o crescimento da economia paranaense, com a exportação de erva-mate, fortalecendo os cofres públicos, e as inovações nas técnicas de construção civil trazidas pelos imigrantes alemães. No lugar onde antes existiam charcos e áreas insalubres, surgiram palacetes, templos e casas de comércio, de apurado estilo eclético. Também foi criado o primeiro parque público da cidade: o Passeio Público, inaugurado em 1886. Sanear e embelezar tornou-se o mote das gestões públicas. Uma das mais eficazes foi a do engenheiro Cândido de Abreu, de 1913 a 1916.

Com o apoio do presidente do Estado, Carlos Cavalcanti, Cândido formou uma Comissão de Melhoramentos, semelhante à que havia em São Paulo, com a prioridade de remodelar a capital paranaense. Destacam-se nesse plano as obras de ajardinamento e de embelezamento executadas nas praças, com a introdução de peças decorativas, e cujo traçado é respeitado até hoje.


*Doutoranda em História/UFPR.

Curitiba antiga -1909

 


Fotografia do Acervo Julia Wanderley da Fundação Cultural de Curitiba.<br><br/>
Palavras-chave: relações de poder, relações culturais, Paraná, Curitiba, século XX.

Fonte: http://bndigital.bn.br/

Fotografia do Acervo Julia Wanderley da Fundação Cultural de Curitiba.

Lange de Morretes - Cataratas do Iguaçu

 


Fotografia do Acervo Julia Wanderley da Fundação Cultural de Curitiba.<br><br/>
Palavras-chave: relações de poder, relações culturais, Paraná, Curitiba, século XX.

Fonte: http://www.pedrohauck.net/

Frederico Lange (Morretes PR 1892 - Curitiba PR 1954). Pintor, desenhista, gravador e professor. Estuda pintura com Alfredo Andersen, em Curitiba, por volta de 1908. Dois anos depois, viaja para Alemanha, onde cursa artes gráficas em Leipzig, freqüenta a Escola Superior de Belas Artes de Munique, de 1915 a 1920, e expõe individualmente em Colônia. De volta ao Brasil, leciona anatomia e fisiologia na Escola de Belas Artes do Paraná, e funda a Escola de Desenho e Pintura, onde leciona até 1932, tendo como alunos Oswald Lopes, Arthur Nísio, Augusto Conte, Kurt Boiger e outros. Ao lado de João Turin e João Ghelfi, luta pela proposição de um estilo característico para a arte paranaense.

Paranaguá - Casa Elfrida Lobo

 


Fotografia do Acervo Julia Wanderley da Fundação Cultural de Curitiba.<br><br/>
Palavras-chave: relações de poder, relações culturais, Paraná, Curitiba, século XX.

Fonte: Multimeios

A Casa Elfrida Lobo está situada na área envoltória do centro Histórico de Paranaguá, no cruzamento da Rua Dr. Leocádio com a Rua Fernando Simas. Sua construção deu-se no final do século XIX e início do século XX. Em estilo eclético, a casa abrigou durante três gerações (1930 a 1970) a família Lobo, o que lhe valeu a designação.Atualmente o casarão pertence à Prefeitura Municipal de Paranaguá, tendo a denominação Casa Elfrida Lobo, figura ilustre da sociedade parnanguara que muito se preocupou com a conservação do imóvel.

Paranaguá - Casa Elfrida Lobo

 


Fotografia do Acervo Julia Wanderley da Fundação Cultural de Curitiba.<br><br/>
Palavras-chave: relações de poder, relações culturais, Paraná, Curitiba, século XX.

Fonte: Multimeios

A Casa Elfrida Lobo está situada na área envoltória do centro Histórico de Paranaguá, no cruzamento da Rua Dr. Leocádio com a Rua Fernando Simas. Sua construção deu-se no final do século XIX e início do século XX. Em estilo eclético, a casa abrigou durante três gerações (1930 a 1970) a família Lobo, o que lhe valeu a designação.Atualmente o casarão pertence à Prefeitura Municipal de Paranaguá, tendo a denominação Casa Elfrida Lobo, figura ilustre da sociedade parnanguara que muito se preocupou com a conservação do imóvel.

Paranaguá - Casa Monsenhor Celso e Brasílio Itiberê

 


Fotografia do Acervo Julia Wanderley da Fundação Cultural de Curitiba.<br><br/>
Palavras-chave: relações de poder, relações culturais, Paraná, Curitiba, século XX.

Fonte: Multimeios

Construído em fins do século XVIII era morada do músico Brasílio Itiberê da Cunha e seu irmão Celso Itiberê da Cunha (Monsenhor Celso). O monumento foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná em 1972. Esta casa está ladeada por um conjunto de construções coloniais. São ao todo três casas térreas e dois sobrados dos quais se destaca um setentista que pode ser considerado a melhor obra de resistência colonial da cidade.

CONHECENDO O ENGENHO SANTA GRAÇA

 Nesta histórica foto de 11/09/1911, vemos um congestionamento de carruagens e assemelhados estacionados à frente do Engenho Santa Graça, ocasionado pela visita de Congressistas à empresa, por ocasião de alguma importante celebração.

O Engenho Santa Graça, de propriedade de Manoel de Macedo, foi fundado em 1900, localizava-se onde hoje é a esquina da Rua Coronel Dulcídio com a Benjamin Lins, bairro Batel, Curitiba.
O livro Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editado em 1913 e impresso na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd., publicou acerca desse empreendedor curitibano:
"Manoel de Macedo - Esta importante firma exportadora de mate foi fundada em 1900 na cidade de Curitiba. Possui uma usina cujos maquinismos são acionados por um motor de 80 hp, e emprega cerca de 30 operários.
O sr. Manoel de Macedo exporta anualmente, em média, 4.000 a 4.500 toneladas de mate, principalmente para o Uruguai, Argentina, Rio de Janeiro, São Paulo e Santos. Tenciona também o sr. Macedo iniciar em breve a fabricação de aniagem, para o que tem já montada uma fábrica.
O sr. Manoel de Macedo é também agente do Brasilianische Bank für Deutschland e do Banco Comércio e Indústria de São Paulo. Possui vários prédios e uma estância que cobre 6 léguas de terras e onde se contam 1.500 cabeças de gado. O sr. Macedo foi fundador e durante 5 anos presidente do Banco do Paraná."
O Engenho Santa Graça foi empresa de grande movimento, tendo exportado 7.000 toneladas de erva beneficiada em 1907. Com a morte de Manoel de Macedo, em 1917, entrou em declínio. Em 1928 foi vendido para a Companhia Industrial Brasileira.
(Foto: Coleção Julia Wanderley - Acervo Paulo José Costa)
Paulo Grani

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RELEMBRANDO A FÁBRICA LUCINDA

 A história dos biscoitos e bolachas da fábrica Lucinda começou um pouco antes da sua criação em 191, conforme veremos:

Paulo Grötzner, seu fundador, nasceu em Curitiba em 15/05/1873 e, desde cedo estudou na Deutsche Schule (Escola Alemã). Ainda adolescente trabalhou na firma do sr. Eduart Engelhard, o qual fabricava cervejas e licores.
Aos 16 ou 17 anos foi morar em São Paulo com o objetivo de apreender os ofícios ligados à panificação e confeitaria. Lá permaneceu por três ou quatro anos como aprendiz e teve excelentes mestres.
Como bom trabalhador, na capital paulista começou pela base entregando pães e congêneres pelos bairros, conforme Atestado de Habilitação nº 1457, emitido pela Câmara M. de São Paulo, o qual autorizava-o a "Dirigir a Carrocinha de Padeiro nº 2198".
Além de ter sido um ótimo aprendiz, foi um empresário nato, fez contato com importadores, conheceu produtos e métodos de fabricação. Foi sobretudo um grande e perspicaz comerciante. Genial sob muitos aspetos.
De volta a Curitiba em 1895, Paulo estabeleceu sua primeira casa comercial na Praça Ozorio, esquina da rua Cabral, dedicando-se além da fabricação de pães e doces, à importação e comércio de produtos alimentícios e outros.
Em 1903, adquiriu a propriedade na Avenida João Pessoa nº 85 (atual Luiz Xavier), inaugurando a padaria Lucinda, onde teve um grande sucesso ao fabricar panifícios com base nos costumes alemães.
Na foto de 1904, vê-se a família Groetzner na sacada do edifício, com destaque para sua filha Lucinda, cujo nome seu pai deu a seus empreendimentos, em sua homenagem.
Com seu grande espírito empreendedor e o conhecimento dos costumes europeus, ele logo criou um sistema de distribuição do panifício através de carrocinhas, as quais podem ser vistas na foto.
Com o sucesso, Paulo comprou um sítio no bairro Juvevê onde montou instalações adequadas a uma grande fábrica que também levou o nome Lucinda.
O “Jornal Reclamo", em sua edição do dia 12 de Janeiro de 1914, publica uma reportagem promocional, abordando uma entrevista com Paulo Grötzner sobre a nova fábrica. A seguir dois destaques:
“A fábrica está estabelecida em uma bem acabada casa de madeira e cimentada por dentro, notando-se em tudo, esmerado asseio.”
Em um compartimento separado, está colocada uma enorme machina a vapor, ingleza, marca <Buston> da firma Procter & Comp. Cuja machina tem força de 20 cavallos.”
“Essa machina fornece também a luz elétrica durante a noite, ao estabelecimento e a vivenda particular do proprietário.”
“A fabrica occupa dois pavimentos: o térreo e o superior e possue differentes apparelhos systemas bem aperfeiçoados, para o fabrico das suas manufacturas: possue também um forno mechanico de mede 14 metros de comprimento, por 3,50 de largura. Esse forno assa 1200 kilos de biscoutos em 24 horas e a sua temperatura é graduada por um pyrometro: o seu valor está calculado em 24:000$000 !”
“A farinha destinada ao fabrico das bolachas, passa primeiramente por uma peneira automática, depois do que, passa por uma batedeira cylindrica, a fim de transformá-la em massa finíssima e com todos os necessários preparos e engredientes.”
“Para que a massa torne-se mais macia e de fino sabor é levada novamente a um outro cylindro automático.”
“Após a massa estar bem macia e em condições de ser moldada, é passada por outro cilyndro afim de extender-se e depois levada para uma enorme mesa. O aparelho cortador com feitios diferentes traz a marca <Bage- Borbeck>, que transforma em pouco tempo centenares de moldes exquisitos e delicados.”
Após relacionar produtos fabricados com seus nomes e preços, bem como tipos de embalagens, continua:
“Por ahi se vê que a fabrica Lucinda acha-se apparelhada para fazer concurrencia a qualquer praça, por mais exigente que seja, não só no Paraná, como nas dos demais Estados do Brasil”.
“Porém, seja-nos permittido referir que os impostos que sobrecarregam as suas indústrias manufactoras, são demaziados, alegações estas do laborioso industrial, que se vê onerado de tantos compromissos perante os differentes cofres arrecadadores.”
A reportagem finaliza:
“O Sr. Paulo Grötzner que na fabrica Lucinda impacou para mais de uma centena de contos de réis, deve merecer de nós, seus patrícios, o nosso apoio, devemos dar preferência aos seus produtos.”
“Biographar a vida do laborioso industrial é dizer que o Sr. Paulo Grötzner desde a sua juventude, isto é, desde que para o Paraná viera (?) se entregára de corpo e alma ao commercio na Capital. Principiando por simples caixeiro, sendo hoje, dono de uma fortuna invejável, conquistada a custa do seu trabalho honesto.”
“O Sr. Grötzner é o exemplo edificante do commerciante industrial.”
A fábrica Lucinda dedicou-se inicialmente à fabricação de biscoitos e bolachas. Em 1916, aumentou sua linha de produção com a fabricação de balas, caramelos, chocolates e confeitos e com a instalação de uma torrefação de café. Três anos depois, montou uma destilaria, iniciando a produção de bebidas.
Em 1925, instalou máquinas para a fabricação de macarrão e talharim. Nos mesmos moldes de outras indústrias auto- suficientes, como a Matarazzo, a Lucinda mantinha, além da linha de produtos, outras indústrias auxiliares, cuja produção era absorvida pela principal.
Contava com fiinilaria, carpintaria, marcenaria, fábrica de caixas e uma oficina mecânica completa, para a assistência ao maquinário. Assim, as caixas de madeira e latas de folha consumidas para o acondicionamento dos produtos eram de fabricação própria. Outra característica da indústria foi a manutenção de um armazém de secos e molhados, aberto em 1937, para atender aos seus empregados.
Contava com vendedores que recebiam por comissão e viajavam pelo interior do Paraná e Santa Catarina. Estes vendiam mercadorias produzidas ou industrializadas pela fábrica, apresentadas em um catálogo em papel couchê, com ilustrações coloridas de todos os produtos.
No início da década de 50, a indústria, agora dirigida pelos filhos do fundador, ocupava uma área dez vezes maior que a inicial e dedicava-se exclusivamente à produção de biscoitos, bolachas e massas alimentícias.
Localizada na Avenida Anita Garibaldi, a fábrica era constituída por um bloco principal, composto de vários pavilhões, e outras construções menores que circundavam o prédio. Dentro do espírito de indústria familiar, os proprietários mantinham algumas casas no terreno da fábrica que eram cedidas aos empregados mais antigos ou àqueles cujo trabalho exigisse uma maior proximidade com a fábrica.
Os produtos da Fábrica Lucinda marcaram época, e Paulo Groetzner se tornou um dos nomes mais expressivos do cenário industrial em Curitiba. A Fábrica de Biscoitos Lucinda funcionou sob este nome até 1980, ao ser incorporada pela indústria de alimentícios Tip Top. Paulo Groetzner faleceu no ano de 1933, em Curitiba e sua importância enquanto empreendedor foi reconhecida com a escolha de seu nome para o batismo de uma via da Cidade Industrial de Curitiba.
Paulo Grani
Em foto de 1904, a antiga Padaria Lucinda na av Luiz Xavier nº 85. A pequena Lucinda aparece na sacada, entre os pais.

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O casal Groetzner em foto feita num atelier de Hamburg, em uma de suas viagens de negócios.

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A família Groetzner chegando próximo ao sítio adquirido onde o grande empreendimento foi instalado no Juvevê (ao fundo uma olaria vizinha). Da direita para a esquerda, Paulo, Lucinda, Ida, Affonso e Alois.

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As primeiras instalações da Fábrica Lucinda. Mesmo instalado nelas, Paulo permaneceu por um bom tempo com a Padaria Lucinda no centro de Curitiba.
Foto: Acervo Casa da Memória de Curitiba

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Nesta foto, vê-se as ampliações havidas pouco tempo depois.
Foto: Acervo Casa da Memória de Curitiba

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Vista aérea da fábrica Lucinda em seu apogeu nos anos 1940.
Foto: Acervo Casa da Memória de Curitiba

Operárias trabalhando na secção de embalagem.
Foto: Acervo Casa da Memória de Curitiba
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AS CARRETEIRAS DE CURITIBA ANTIGAMENTE - PARTE 6

 Paulo José Buso ou simplesmente Paulo Buso. Este foi um dos mais destacados senão o mais importante dos pilotos de carreteira paranaenses, cuja carreira chegou ao auge na década de 1950.

Tri-campeão da prova Curitiba-Ponta Grossa-Curitiba pela antiga estrada pavimentada com saibro, entre outros feitos. Faleceu a 25 de fevereiro de 2002. Não é necessário dizer mais nada.
Simplesmente vamos transcrever crônica que fizemos logo após o seu falecimento: “Senhores, desliguem seus motores. Desliguem todos, por favor, apenas por algum tempo, os de 4, os de 6, principalmente os de 8 em V e, se houver, os de 12 cilindros também. Que se faça silêncio. Que os pistões fiquem quietos, as bielas e os virabrequins descansem em seus mancais e bronzinas.
Deixem que o combustível, como se sangue fosse, permaneça sereno em seu depósito e não circule pelas veias do carro, como de um corpo, levando o alimento que faz pulsar o motor, o coração. Que as bobinas as velas não emitam a centelha que dá vida à máquina.
E que os escapes não cuspam fogo nem fumaça, apenas esperando. Isto porque, as rodas dianteiras da carreteira Ford número 10 não terão mais que acertar, em alta velocidade, os dois pranchões colocados sobre as precárias pontes de madeira de rios como o Barigui, o Passaúna, o Verde e outros, na estrada Curitiba-Ponta Grossa. O combustível preparado com benzol não terá mais que passar pelos três carburadores e derreter as velas do motor Mercury 51, comprimido contra os cabeçotes de alumínio Edelbrock.
O comando de válvulas artesanal, confeccionado com muito trabalho nas altas horas da noite, não será ais acionado. A engrenagem da segunda marcha não terá mais que aguentar todo o esforço do motor para que o carro vença a subida da Serra de São Luiz do Purunã.
Ali, as pedras do chão de macadame permanecerão inertes agora, pois, não serão arremessadas para longe pelas rodas traseiras da carreteira. Nem mais a poeira do saibro será levantada, para depois pousar suavemente, levada pelo vento frio, sobre as folhas verdes das árvores, tingindo-as de branco.
Na verdade, nem mais a água das chuvas terá o trabalho de retirar essa poeira, devolvendo o verde à mata. Mas, se apurarmos o ouvido, talvez ainda seja possível detectarmos o eco refletido pelos paredões rochosos, nas profundezas das grotas, do som grave saído dos escapes do motor.
Mais acima, já nos Campos Gerais, no caminho de Porto Amazonas, as pombas rolas não levantarão vôo e se perderão no horizonte, aos bandos, assustadas pelo barulho de um motor a mais de 6.000 giros.
Saindo das casas à margem da estrada, a gurizada curiosa não subirá mais nos barrancos, para ver passar aquele carro esquisito e barulhento. As touceiras de capim, as paineiras, não se curvarão, como num cumprimento, empurradas pelo ar deslocado pelo carro. Na ponte do Rio dos Papagaios só haverá silêncio, sem derrapagens.
Em Palmeira, ninguém estará esperando para ver quem vem na frente e, dali a Ponta Grossa, nas grandes retas, ninguém mais baterá o recorde de 12 minutos. Aliás, ninguém mais acenará com o boné branco para o público, na pista de Interlagos, nem passará voando sobre os trilhos do trem da rua Marechal Floriano Peixoto, não haverá mais comemoração na chegada, na praça General Osório.
Morreu Paulo Buso, Paulo José Buso, o “gentleman”, o tricampeão. Serenamente, como ele demonstrava ser sereno ao segurar um copo de água com uma das mãos, sem fazer o líquido tremer e dizia: “Piloto de carro de corrida tem que ser assim”.
O Leão da Estrada, como era chamado pelo jornal Paraná Esportivo, não rugirá mais. Calaram-se para sempre, ele e sua carreteira com a imagem do leão pintada nas portas. Disse o seu amigo e companheiro de corridas Paulo Silva: “Parece que Buso não morreu e sim recebeu a bandeirada final”. (Por Ari Moro)
Paulo Grani